VERGONHA É NÃO QUERER APRENDER OU, PIOR AINDA, INSISTIR NOS DISPARATES.
Mais um título para este blogue que pouca gente vai ler. Para quê, então, escrevê-lo? Simplesmente porque me dá prazer e, fazendo jus ao cabeçalho, trata-se de mais uma tentativa utópica de corrigir os disparates que todos os dias suportamos nos canais televisivos e que titulei de tradutores ignorantes e locutores papagaios num dos primeiros artigos deste blogue.
Mas, e sem falsa modéstia, quem sou eu para julgar a sapiência ou ignorância dos outros? Sem querer entrar em exageros vou citar a célebre frase de Sócrates (o grego!): “Sei apenas uma coisa: é que nada sei”. É óbvio que este dito pretende apenas fazer com que entendamos a pequenez, e a dificuldade (ou impossibilidade) de alcançarmos aquilo a que, vulgarmente, chamamos verdade. Santo Agostinho disse que “se é verdade que a verdade não existe, logo a verdade existe”. Mas isto sugere-me apenas um jogo de palavras em que o pensamento lógico, criado “oficialmente” por Aristóteles, é fértil e até fecundo, mas que também levou a conclusões absurdas, como o facto das entidades eclesiásticas da Idade Média, impingirem à populaça ignorante a ideia que aquele filósofo tinha resolvido todos os problemas científicos. Logo, quem tentasse investigar ou fazer experiências era classificado de herege, tornando-se assim candidato a churrasco humano.
Mas parece-me também, e dentro dos ínfimos limites que nos condicionam no espaço e no tempo, que Pitágoras tinha razão quando afirmava “ser o homem a medida de todas as coisas”. É notável como este filósofo e matemático grego do século VI AC, ao formular esta ideia, teve uma noção da relatividade que caracteriza o Universo, para mais se atendermos aos limitadíssimos conhecimentos da sua época. E, assim, se compararmos o saber desses tempos antigos com o actual, muito, muitíssimo mesmo, a Humanidade aprendeu à sua custa, com os inevitáveis avanços e recuos, mas com os primeiros a desenvolverem-se de uma maneira extraordinária a partir da chamada Revolução Industrial, iniciada nos princípios do século XIX, e para a qual teve a maior importância a invenção da máquina a vapor, devida entre muitos outros, a Papin, Potter e Stevenson, homens cuja "profissão" era experimentar, aprender e fazer. E acabámos por chegar à Lua, esse grãozinho de pó que gira à volta de um grão um pouco maior chamado Terra.
Porém, e como a dualidade de pólos opostos é a lei do mundo que conhecemos, toda a medalha tem o seu reverso. Fleming, por exemplo, ao descobrir a penicilina e abrindo o caminho para os antibióticos que se seguiram, provocou um enorme desastre ecológico, desencadeando a destruição de bactérias patogénicas que deviam matar não só os humanos como outras espécies que partilham connosco o enigma da vida neste e, possivelmente, em muitos outros planetas além do sistema solar. Também o desenvolvimento vertiginoso da cirurgia e dos medicamentos contribuíram para a longevidade da espécie humana e consequente explosão demográfica que já começou a extinguir outras espécies, tanto animais como vegetais, e essenciais para o equilíbrio ecológico. Pergunto, embora me considere um pacifista, se já não estaríamos a devorarmo-nos uns aos outros, se não continuasse a haver guerras que, no século passado, e também graças ao desenvolvimento da ciência, possivelmente mataram mais seres humanos do que em épocas anteriores, nas quais às guerras se juntavam as epidemias e outras catástrofes naturais que faziam o seu “trabalho de limpeza” eliminando os menos aptos. Porque não tenhamos dúvidas: a vida tal como a conhecemos é escrava da selecção natural, desde o único espermatozóide que entre centenas de milhões consegue chegar ao óvulo, passando pelo macho mais forte ou dotado que derrota o mais fraco para ser ele a copular, até ao homem que vence na vida pela força, inteligência ou esperteza. E mais além, e até porque “somos a medida de todas coisas”, fica o macrocosmos que julgamos conhecer só porque enxergamos uns milhões de galáxias pelos diversos instrumentos de observação astronómica.
Mas lutar por todos os meios pelo prolongamento da vida está presente em cada ser, animal ou vegetal, o que põe sempre a problemática do porquê e para quê. Por sua vez aquela coloca-nos entre a simples explicação de puras reacções químicas, que basicamente nada explicam, e o nebuloso mundo da metafísica onde cada qual pode ver o que quer, até tudo o que lá não está, com o mesmo resultado: a velha interrogação sobre o que apareceu primeiro, o ovo ou a galinha. De tudo isto vem o meu agnosticismo perante a criação de tudo o que existe, mesmo considerando que o chamado “big-bang” pode explicar a origem do Universo tal como hoje o conhecemos, mas não diz como surgiu a primeira partícula que lhe deu origem.
Ora e porque sendo agnóstico recuso a ideia de falar sobre a hipótese de um Deus criador, e até porque ao sabor do prazer de “filosofar” costumo perder o fio à meada, vou regressar ao título deste texto, pedindo desculpa pela diversão (perdão, “faits-divers”). Mas onde é que já ouvi isto? Não me digam que também estou a adquirir o vício de usar e abusar de palavras estrangeiras sem necessidade. Espero que isso nunca me aconteça (perdão, “jamais”, "jamais”!!!). Outra vez!? Bem. Vou fazer uma pausa como acto de contrição. “Deo gratias”!
Continuando:
Sendo o Homem o rei da Natureza pelo direito do bacamarte (in “Eusébio Macário” de Camilo Castelo Branco), poderia, de vez em quando, dedicar-se a aprender alguma coisa quando põe aquele de parte. (Esta rima saiu-me improvisada. Talvez tenha dotes poéticos nalgum recôndito sítio do meu já envelhecido cérebro.)
Ora, e citando a antiga máxima que o saber não ocupa lugar, volto a insistir que seria bom que tradutores, jornalistas e todos os que fazem da comunicação entre as pessoas uma profissão, investigassem os assuntos que desconhecem ou têm dúvidas, afim de não transformarem o disparate numa bola de neve que só serve para propagar a ignorância por este ditoso planeta, até porque quem conta um conto acrescenta um ponto, contribuindo deste modo para a chamada tendência universal da asneira.
É óbvio que errar é humano, mas há situações que se tornam imperdoáveis pela falta de cuidado posta na investigação daquilo que não se sabe, porque ninguém pode saber tudo.
Nem de propósito! Acabo de fazer um intervalo e estive a ver um programa sobre a Lua num dos meus canais de televisão favoritos: Discovery. Não fixei o nome da empresa tradutora, mas era mais um a juntar a tantas que aparecem como formigas. A certa altura surgiu na legendagem uma referência a graus “Calvin!” em vez de Kelvin, o que revela a falta de interesse em aprender e cumprir o dever de bem informar do tradutor. E isto numa época em que temos o precioso e fácil auxílio de uma coisa chamada Internet! Permitam-me então que seja eu a explicar porque, como já disse num artigo anterior, gosto muito de aprender mas também de ensinar.
A temperatura mede-se na maior parte dos países na escala de Anders Celsius , astrónomo e físico sueco do Século XVIII, inventor da escala que tem o seu nome. Já os povos anglo-saxónicos utilizam geralmente a escala de Daniel Fahrenheit (1686-1736) físico alemão que criou a escala também baptizada com o seu nome.
A primeira tem como extremos os pontos de fusão e ebulição da água sob a pressão atmosférica de 760 milímetros de mercúrio, e está dividida em cem graus, (de zero a cem) sendo por isso também chamada centígrada.
A segunda encontra-se também dividida entre os mesmos fenómenos físicos, mas na razão de 1/180, o que dá como resultado que zero graus na escala de Célsius correspondam a 32 graus Fahrenheit e cem a 212. Para converter uma na outra basta resolver as equações: C=5/9 (F-32) ou F=9/5 C+32, em que "C "representa graus Celsius e "F" graus Fahrenheit. Se não quisermos puxar pela cabeça, o que é muito mau, ou se já tivermos esquecido equações, o que é de aceitar, basta consultar uma tabela de conversões.
Quanto á escala de William Thomson Kelvin, físico britânico do século XIX, trata-se da chamada escala absoluta ou do zero absoluto, uma vez que é praticamente impossível fazer descer mais a temperatura de um corpo. Corresponde a 273,15 graus negativos na escala de Célsius e, tal como esta, divide-se em fracções iguais. Fui suficientemente claro? Assim espero, tanto como desejo não voltar a ler Calvin!
E por hoje fico por aqui. Como sempre alonguei-me demasiado, crítica muito pertinente feita por um grande amigo, o mesmo que, tal como eu, andou na Guerra Colonial e que agradecia os pedidos de protecção que a mãe fazia ao chamado Criador, respondendo que como tinha “cunhas” lá ia escapando; os que não tinham é que se “lixavam”.
Para a próxima, e mantendo como base o título deste texto, vou dissertar um pouco sobre pleonasmos, prometendo mas não jurando, que não me alongarei tanto. E não juro porque sinto que escrever muito desintoxica-me o fígado, às vezes agredido por umas cervejinhas a mais (ou a menos). Também acho que puxar pela cabeça dentro do seu ritmo natural talvez possa prevenir a doença de Alzheimer, esse estranho mal que ataca o cérebro, talvez gasto pelo esforço inglório de tentar equacionar tantos disparates, para os quais o meu também contribuiu, como é lógico. Assim o espero.