FERNÃO DE MAGALHÃES? NÃO ME DIZ
NADA!
Estes são os “deliciosos” comentários de
uma professora, julgo que de línguas, no concurso “Quem quer ser milionário”
transmitido no canal-1 da RTP no passado dia 14 de Fevereiro.
A pergunta era esta: “Quem foi o português,
ao serviço da Espanha, que comandou a primeira viagem de circum-navegação”?
As
hipóteses eram, como de costume, quatro: Sebastião del Cano, Fernão de Magalhães,
Diogo Cão e Vasco da Gama.
A douta professora começou logo por dizer
que nunca tinha ouvido falar no primeiro; quanto ao segundo, declarou que o
nome nada lhe dizia, e de Diogo Cão nem falou. Quanto a Vasco da Gama sabia, apenas,
que não fora ao serviço da Espanha. (É de perguntar se sabe quem foi que
descobriu o caminho marítimo para a Índia).
Enquanto a docente raciocinava para
responder correctamente a tão difícil pergunta, Manuela Moura Guedes parecia
querer disfarçar a sua incredibilidade com uma expressão da grande profissional
que é.
Depois de muitos raciocínios, a professora chegou a
mencionar o Estreito de Magalhães. Mas, saberá onde fica? Tanta ginástica
mental lembrou-me o único raciocínio lógico que Obélix conseguiu fazer em todas
as suas aventuras (para os fans de Astérix, ver a página 23 de “La Grande Traversée”
[A Grande Travessia]). A diferença residiu em não ter deitado fumo, como o gordo
gaulês, provocado pelos curtos-circuitos dos neurónios.
Por fim, e após ter repetido várias vezes
que nunca tinha ouvido falar em Sebastião del Cano, lá concluiu, por exclusão
de partes, que fora Fernão de Magalhães.
Os meus mais sinceros parabéns! Só foi
pena que Manuela Moura Guedes não tivesse dado um lição a essa senhora, explicando
porque o “desconhecido” navegador espanhol também é
lembrado nessa primeira viagem de
circum-navegação.
Mas vieram mais duas perguntas de cultura
geral que atrapalharam a professora, embora tenha conseguido acertar, como na
anterior, após muitos raciocínios confusos e demorados.
Primeira: As auroras, boreais e austrais,
são devidas a: asteroides, magnetismo, satélites de outros planetas, ou buracos
negros?
Perante esta pergunta que, aliás, é um
pouco especializada, revelou, no entanto, o seu desconhecimento básico do
assunto. Interiormente divertida, Manuela Moura Guedes perguntou-lhe o que
responderia a um aluno se a interrogasse sobre o que era um buraco negro.
Naturalmente, respondeu: “diria que é um
buraco negro”.
- "E se ele perguntasse o que era um buraco branco?"
- “Diria que é um
buraco negro!”
Depois deste jogo de palavras, que quero
acreditar não ter passado disso mesmo, a apresentadora perguntou: "já viu alguma
aurora?"
Por entre mais trocadilhos engraçados (haja Deus) disse que não sabia, mas que eram comuns nos países do Norte. O problema estava nas auroras austrais.
Para ajudar a evitar mais confusões (ignorância?), Manuela fez um gesto com as
mãos para mostrar polos opostos. Perante isto, a concorrente perguntou se eram
duas coisas que se encontravam no meio. Finalmente, e mais uma vez por exclusão
de partes, lá acertou no magnetismo.
Segunda: o país mais pequeno do mundo, uma
ilha, é: Madagáscar, Arménia, Nauru ou Jamaica?
É claro que não pretendo que alguém saiba
que a resposta é Nauru.
Embora, e desde criança, eu seja um
apaixonado por geografia, não sabia que era o mais pequeno (em população). Não
ignorava, porém, que faz parte da Micronésia, grande grupo de ilhas dispersas
pelo Pacífico Sul.
Depois de após longo raciocínio ter
eliminado Madagáscar e Jamaica pelas suas dimensões, e mostrar espanto sobre o
que seria a Micronésia, lá acertou na resposta, parecendo que desconhece que a Arménia
não é uma ilha. Nem deve saber onde fica esse país nem o ressentimento que
ainda hoje o seu povo mantém pelo massacre feito pelos Turcos no primeiro quartel do século
XX, e nos últimos tempos recordado na Comunicação Social. Ou, ainda, que só
recobrou a sua independência após a queda da União Soviética.
Se eu fosse o apresentador do concurso,
decerto teria estragado a minha carreira porque seria difícil conter-me perante
a ignorância de quem tem a obrigação de ter um mínimo de cultura geral.
Não sei
quais foram os motivos (falsos ou verdadeiros) que levaram a censura da
ditadura-democrática em que vivemos a afastar durante tanto tempo Manuela Moura
Guedes da sua vida profissional. Mas, para uma pessoa que não tem papas na
língua, conseguiu manter-se séria.
Lembro-me de há alguns ela ter corrigido o
português de um (uma) Secretário de Estado da Cultura, com esta frase: “e é
isto um (uma) Secretário da Cultura; mas eu corrijo." E corrigiu!
A terminar, sugiro à digníssima “sotôra” que
aprofunde os seus conhecimentos antes de se apresentar em público, e não
repreenda os seus alunos se estes gozarem, com o devido respeito, é claro, a
triste figura que fez. E que nunca falte às manifestações contra a avaliação dos
professores porque, e citando o velho provérbio ao contrário, “quem deve teme”!
Nota para os “coca-bichinhos” como eu:
Indonésia, Micronésia, Polinésia e
Melanésia, são grupos de ilhas do oceano Pacífico cujos nomes significam,
respectivamente, ilhas indianas, pequenas ilhas, muitas ilhas e ilhas de pretos.
As etimologias são as seguintes:
O prefixo “indo” deriva do latim e
refere-se à Índia e tudo com ela relacionado. Os outros três, “micro”, “poli” e
“mela” provêm do grego mikós (pequeno) poly (muitos) e ”mélanos” (preto). O
sufixo “nésia” também procede do grego nêsos (ilha, península).
Sebastião del Cano: navegador espanhol que
assumiu o comando da primeira viagem à volta da Terra, após a morte de Fernão
de Magalhães em combate com os indígenas nas Filipinas.
E a propósito:
Quem se lembra de o Pedro
Santana Lopes, ex-Secretário de Estado da Cultura, afirmar que gostava dos
“concertos para violino” de Chopin?...
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