MAS O QUE VIMOS E OUVIMOS FOI APENAS… “PRÓS”!
(2ª PARTE)
E depois da malfadada publicidade, lá veio a 2ª parte do programa “Pró-Papa”.
Falou a abrir Pedro Castro, o líder da empresa encarregada da construção dos altares em Lisboa e Porto e de toda a logística para receber o Papa. Ficámos a saber que, como a Igreja não tem dinheiro, foram contactados vários empresários para financiar os custos. Este facto fez-me vir à memória a frase do cardeal Cerejeira quando foi demitido pelo Papa Paulo VI em 1971: “saio tão pobre como entrei, e vou viver das esmolas dos paroquianos”. Na altura fiquei muito preocupado com tanta penúria e, se fosse rico, ter-lhe-ia comprado o “Bentley” que possuía. Mas adiante.
Marcelo Rebelo de Sousa, continuando a papaguear as verdades dele e dominando aquele pseudodebate, referiu a posição de Lisboa no mundo, a evangelização feita pelos Portugueses com uma mensagem que inspirou um dos lances mais felizes da Europa, como seja a propagação da igualdade, da universalidade, da humanidade, do respeito da pessoa, embora muitas vezes com erros e opressões, concluindo que foi Portugal que iniciou a globalização. Deu também a entender que Portugal fez isso sem interesse. (Deve ter sido único na História). Fátima Campos Ferreira ainda contrapôs, que a Igreja nem sempre conseguiu levar a bom termo essa mensagem, mas Marcelo, mais uma vez disse que esta é feita por homens. Com tanta insistência neste tema acabei por ficar sem saber se a dita instituição é de Deus, do Diabo, dos Homens, ou de um desconhecido qualquer!
Por sua vez a irmã Fátima Guimarães disse que sempre conseguiu arranjar dinheiro de anónimos porque há muita gente boa neste país. Disse também que não tem medo de entrar em certos locais porque o Papa disse que no fundo toda a gente, mesmo fazendo asneiras, tem sede de Deus. E continuou dizendo que até já se sentou ao lado de um rapaz às duas da manhã para lhe dizer que Deus o ama e que não tem medo nenhum, até porque tem a Polícia por detrás dela e que a ajuda em caso de necessidade. Este caso provocou o riso na bem-aventurada assistência, extensivos ao comandante da Polícia presente. Ficámos assim a saber, e as palavras são dela, que Deus ama os criminosos, portanto não há que ter receio. Pela minha parte julgo que isto só passou a acontecer quando o Papa anterior encerrou o Inferno e aquela coisa disparatada que era o Limbo, e para o qual iam as indefesas criancinhas não baptizadas. Isto faz nascer a esperança de que um dia o Purgatório seja também banido de tão sábia religião. E a propósito de purgas, lembrei-me que Molière dizia que os médicos só serviam para três coisas: fazer sangrias, dar purgantes e mandar a conta. Felizmente que hoje fazem muito mais do que isso pois os tempos mudam, e pode ser que um dia surja um Papa que determine a existência de um Céu para todos, bons e maus, unidos na infinita misericórdia do Deus da Bíblia que ainda não se lembrou de proibir que nasçam crianças defeituosas.
E a propósito, permitam-me uma anedota: um garoto que nasceu com vários defeitos físicos e psíquicos começou a dizer palavrões a torto e a direito. A mãe, já de si preocupada com o estado do filho, ficou horrorizada ao ouvir o escatológico palavreado que, por entre vários esgares, saia da boca da criança. Por isso resolveu repreendê-lo com o clássico “se continuas a dizer asneiras, Deus Nosso Senhor castiga-te”. O garoto, que apesar dos seus defeitos não era totalmente parvo, perguntou: e o que é que ele me faz? Despenteia-me?
Mas continuando.
Falou depois o comissário Pedro Flor da PSP, encarregado da gigantesca operação desencadeada para proteger o Papa, não fosse Deus estar distraído com assuntos inerentes a outros mundos, e deixar o Diabo cometer um atentado contra o seu representante no planeta Terra. Conclui-se assim que nem Deus nem o ridículo “papamóvel” são já suficientes para proteger Sua Santidade nos alegados tempos perturbados em que vivemos. Afinal, quem tem cu também tem medo!
E poderia continuar com uma análise mais aprofundada do que se disse naquele dogmático programa, mas menciono apenas o facto de Fátima Campos Ferreira ter perguntado a Marcelo Rebelo de Sousa qual era o espaço dos ateus e agnósticos que, nas suas casas, assistiam ao programa. É estranho, ou melhor, sintomático, que só no final do programa se tenha lembrado deles. Por isso pergunto? Porque não convidou alguns, fazendo assim jus ao título do programa que sempre tem respeitado?
Entusiasmado, como sempre, o professor "explicou" que todos têm o seu espaço e deu, como exemplo o Papa, um homem da razão, que chega à fé através dela. Que fácil é, para aqueles que crêem, inverter a realidade das coisas , esquecer, consciente ou inconscientemente, todos os males e catástrofes horrendas que a sua religião provocou, para além de alimentarem-se de deuses, estátuas e coisas afins sem ter a mínima base ou prova científica. No fim de contas, até está certo. A Idade da Razão principiou apenas há três séculos, o que, no contexto histórico, representa apenas uma ínfima fracção de segundo.
Mais uma vez alonguei-me demasiadamente nesta luta inglória contra a ignorância e a crendice, razão de ser deste blogue. Assim vou terminar esta 2ª parte do texto dedicado ao programa “Prós e Contras” do passado dia 10 de Maio do Ano da Graça de 2010, apresentando a minha conclusão: de facto foi um programa especial, como disse Fátima Campos Ferreira no início da transmissão. Assim oro, embora não saiba a quem deva fazê-lo, com esta litania: Abençoada sejas tu RTP que aplicando honestamente o dinheiro oriundo das taxas e da publicidade que te sustenta, nos proporcionaste quase duas horas de falso debate, concordância de ideias, amor entre os homens (e em Cristo, não esqueçamos), e mesmo com bacalhau e mariscada à mistura, todos os intervenientes, bafejados pela mensagem emanada das Sagradas Escrituras e envolvidos na brumosa aura da sua religião, a única verdadeira, e na qual só alguns estúpidos como eu não acreditam, disseram:
SUPERCALISFRAGILISTICEXPIALIDOCIOUS!
E eu acrescento: AMEN!!!
Mas, é claro! O burro sou eu! Mas onde é que já ouvi isto?
COMENTÁRIO FINAL:
Desde que nasci, em 1942, “conheci” seis Papas: Pio XII, João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II e, agora, Bento XVI.
Quando o primeiro morreu, ou antes, foi ter com Deus em 1958, chamaram-lhe “O Papa da Paz”, embora não tenha ganho o respectivo Prémio Nobel. Mas durante o seu pontificado eclodiu a 2ª Guerra Mundial, para só falar desta.
João XXIII tentou aliviar a corrente da âncora que prende a Igreja Católica ao mais abjecto conservadorismo e, decerto modo, conseguiu. Pelo menos começou a viajar para tentar compreender o mundo e as suas mudanças.
Paulo VI fez marcha-atrás, e até veio a Fátima adorar e louvar a estátua da chamada Virgem Maria.
E João Paulo I, o"Papa Sorriso"? Quem é que se lembra dele? Estranhas coincidências rodearam o seu pontificado de trinta e dois dias. Lembro-me muito bem da sua figura que nada tinha de falsa beatificação, dos seus pequenos óculos que não conseguiam esconder a claridade sorridente dos seus olhos, e de ouvi-lo declarar com um verdadeiro ar de humana admiração nunca ter pensado que lhe iria acontecer semelhante coisa: ser eleito Papa. Recusou a coroação formal, ser transportado em liteira e pretendeu acabar com o bolorento conservadorismo que infesta a Igreja Católica.
Também me recordo que a imprensa da época (que agora se chama “os media”) ter mencionado que ele pretendia investigar as finanças do Vaticano, das quais era ministro um bispo do qual não me lembro do nome. Pouco tempo depois apareceu morto na cama, lendo “A Imitação de Cristo”. Coincidências ou acção da Mafia que governa o Vaticano?
Mas isto é uma mera suposição. Àquelas coincidências, seguiram-se outras que parece terem caído no esquecimento. Senão, vejamos:
1º- A Igreja Católica e o comunismo sempre foram antagónicos, e para lá da “cortina de ferro”, ensinava-se e impunha-se o ateísmo, mesmo considerando que Jesus Cristo tenha revelado algumas teses que hoje seriam designadas como marxistas.
2º- Quando foi eleito João Paulo I, na Polónia, país de grandes tradições católicas, o sindicalista Lech Wallesa começava a contestar o “democrático” partido comunista que governava o país, acabando por fundar dois anos depois o sindicato "Solidariedade", que seria o princípio do fim do regime.
3º- A esmagadora maioria dos Papas foi italiana. (lembro o português João XXI, também conhecido por Pedro Hispano, que reinou apenas oito meses no século XIII). Curiosamente, logo após o estranho desaparecimento de João Paulo I, é eleito um Papa…polaco!
4º- Poucos anos depois, em 1985, Mikhail Gorbatchev foi eleito secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética. Daí em diante o mundo ocidental foi confrontado com duas palavras que acabaram por se tornar proféticas: “perestroika” e “glamost”. A primeira referia-se às necessárias e urgentes reformas para restaurar a economia russa, destruída por décadas de colectivização forçada. A segunda referia-se à abertura da vida cultural e aos planos para limitar a censura e encorajar livres debates políticos.
5º- A Igreja Católica aproveitou-se logo da situação, como fizera em 1917 com as chamadas aparições, e quis adaptar um dos especulativos ”segredos” de Fátima à conversão da Rússia. Acrescente-se que a Rússia nunca se desconverteu. O regime, como foi dito, é que reprimia toda e qualquer religião.
6º- João Paulo II “foi o Papa que mudou o mundo”. Mas foi ele, Lech Wallesa, Gorbatchev ou Boris Ieltsine? E será que a mudança foi assim tão grande? Nunca houve outras mudanças até maiores em toda a História?
E termino, finalmente, pedindo desculpa por neste epílogo ter feito suposições capazes de fazer sorrir Sherlock Holmes. "Elementar, meu caro Watson". Ou talvez não!