08/09/2010

ASTRONOMIA e CARL SAGAN.

ASTROLOGIA e a CRENDICE HUMANA.


COSMOS e… O CAOS DAS TRADUÇÕES!


Há dias resolvi voltar a ver essa espectacular série documental feita pelo astrónomo norte-americano Carl Sagan tão precocemente falecido, vítima de uma rara variedade de cancro, a mielodisplasia. A sua maneira de explicar as coisas, o seu talento como apresentador e o inato sentido pedagógico fizeram-me recordar Leonard Bernstein, essa extraordinária metamorfose humana da Música, e os seus “Concertos para Jovens”.

Entre as várias interrogações que se me puseram, e não foram poucas, começarei por uma mais terra a terra, como se costuma dizer: O que é que a maioria das pessoas que frequentaram o ensino liceal andaram lá a fazer? Bem sei que é impossível recordarmo-nos de tudo o que aprendemos mas, desde criança que me interrogo sobre as por vezes disparatadas respostas que obtinha às minhas chatas dúvidas. E digo chatas porque naqueles tempos as perguntas de uma criança tinham muitas probabilidades de ter como resposta coisas do género " não sei”, “pergunta ao teu pai”, o menino ainda não tem idade para compreender essas coisas” e outras “maravilhas” similares. É claro que nem me passava pela cabeça fazer perguntas sobre sexo. Deus (ou o Diabo, digo hoje) me livrassem de tal coisa! Muito menos também manifestar dúvidas quanto à existência do primeiro, até porque os ensinamentos dos catequistas e dos padres eram inquestionáveis. Um desses senhores, que fui obrigado a aturar, à minha pergunta como é que as chamas do Inferno queimavam eternamente sem consumir, respondeu que era um tipo de fogo que queima mas não consome. E o assunto ficou resolvido! Até parecia (e hoje ainda parece) que esses donos das verdades deles, que se autoproclamam representantes de Deus na Terra, tudo sabem, cumprem e têm o dever de fazer cumprir. Mas não será isso uma espécie de comichão sadomasoquista que os obriga a contagiar os não crentes como uma praga de sarna? De qualquer modo, e que eu saiba, nunca nenhum deles apresentou as suas credenciais autenticadas por Deus autorizando o alastramento da epidemia.
Ora como tive sempre uma grande curiosidade, sobretudo por geografia, astronomia, meteorologia, história universal e ciências físico-químicas, mais virado para as ciências do que para as letras, devorava todos os dicionários, atlas e enciclopédias que, felizmente, havia na casa de meus pais, que tinham estudos muito superiores à média dos portugueses desse tempo. Também as pessoas das suas relações faziam parte desse restrito grupo de eleitos, sendo muitos deles licenciados, principalmente em medicina e engenharia. Nesse tempo, fins dos anos cinquenta, fui classificado pelos oficiais do navio “Carvalho Araújo”, no qual visitei a Madeira e os Açores onde assisti à erupção do Vulcão dos Capelinhos na ilha do Faial, como “filósofo, poeta e cientista”. Hoje, porém, e sem falsa modéstia, julgo que era apenas um chato e um pretensioso com a mania de saber tudo.
Mas, apesar disso vou dar alguns exemplos muito antigos que ainda hoje me põem perplexo e que justifica a pergunta atrás feita: o que é que as pessoas andaram (ou andam) a fazer no liceu?
Desde criança e até ter sido obrigado a fazer o serviço militar obrigatório (!), com a consequente ida para Angola fazer figura de parvo, passava com a minha família as chamadas férias grandes em Oeiras. Seguindo a paixão pela praia herdada de meu pai, olhava, extasiado, os grandes navios que cumpriam os calendários que as rotas marítimas impunham na época, já que viajar de avião era quase uma aventura que metia medo (e ainda hoje mete a muita gente não sei porquê). Assim, ante os meus olhos, entravam e saíam a barra do Tejo dezenas de “gigantes dos mares”, entre os quais cito apenas o italiano “Saturnia”, (engraçada coincidência com o meu apelido) do qual possuo um prospecto publicitário dos anos trinta, herdado do meu avô paterno que era médico na estação marítima da Rocha do Conde de Óbidos em Lisboa. Nessa época, quando um navio chegava, o médico do porto ia numa lancha a bordo informar-se perante o colega embarcado, se havia algum caso de doença contagiosa. Em caso afirmativo era içada a bandeira preta e amarela, e o navio era mantido ao largo de quarentena, palavra usada a partir de 1403 por determinação do Governo de Veneza e que interditava a atracagem antes de se completarem quarenta dias. Ainda hoje o preto e o amarelo avisam que um veículo transporta carga perigosa, enquanto a Natureza dotou algumas rãs com os mesmos tons, alertando assim os predadores para o facto de serem venenosas.
Ora uma vez, quando passava em frente da praia um desses navios, ouvi um amigo do meu pai comentar: é espantoso como um monstro daqueles, feito de ferro, consegue flutuar.
Admirado com o espanto daquele respeitável senhor, comentei para mim próprio: mas
Arquimedes, há mais de dois mil anos, explicou a lei da impulsão bem como a respectiva equação que a determina: I=VD, ou seja, qualquer corpo mergulhado num líquido (ou em qualquer outro fluido) recebe deste uma impulsão debaixo para cima igual à densidade do líquido multiplicado pelo volume do líquido deslocado por esse corpo. Reza a lenda que o grande geómetra e matemático grego, descobriu aquela lei da Física quando se encontrava no banho. Entusiasmado com o seu achado esqueceu-se que estava nu, e correu assim pelas ruas de Atenas, gritando: Eureka! Eureka! (Achei! Achei!)
Na mesma praia, também frequentada pelo meu médico pediatra, parente afastado, ouviu-o “receitar o remédio” para tirar o cerúmen dos ouvidos: deitar álcool dentro deles já que este evaporava-se rapidamente levando consigo a também chamada cera.
Mais uma vez a minha jovem cabeça entrava em curto-circuito, talvez porque algum recôndito neurónio dizia-me: quando um líquido se evapora, deixa tudo o que tem dissolvido como resíduo. É assim, por exemplo, que se extrai o sal da água do mar!
Também nesses já longínquos tempos ouvira alguém dizer que a terra girava sobre si própria várias vezes por segundo. Ora se isso fosse verdade, teríamos uma alternância vertiginosa dos dias e das noites, sem contar com a força centrífuga que faria saltar tudo e todos para fora da Terra, força essa que seria máxima no equador.
Mais recentemente, vai para 10 anos, ouvi na RTP- 2, um rapazola com uma espécie de tacho na cabeça (imagem de marca) afirmar que um professor lhe ensinara que "o preto é a reunião de todas as cores"! Isto veio a propósito de um debate sobre racismo. Na ânsia de utilizar o politicamente correcto contra a realidade dos factos, porque todos nós, seja qual for a etnia, somos racistas em maior ou menor grau, levou esse pateta a inverter a realidade da Física. Ou então foi mal ensinado ou aprendeu mal. Mas para que lhe serviam os miolos que tinha debaixo daquela espécie de tacho? Não me lembro do nome dele. Fixei apenas que era açoriano e pareceu-me tê-lo visto há pouco tempo, de relance, num dos canais da RTP. Julgo que era ele graças à sua imagem de marca.
E poderia continuar a referir mais disparates provenientes de pessoas que, no mínimo de habilitações, tinham o curso completo dos liceus.
É claro que ninguém pode lembrar-se de tudo o que aprendeu. Longe disso. A propósito, aproveito para citar a velha máxima dos cábulas: “quanto mais estudamos, mais aprendemos; quanto mais aprendemos, mais sabemos; quanto mais sabemos, mais esquecemos; quanto mais esquecemos, menos sabemos. Para quê, então, estudar?
Ou a dos deterministas: “se está escrito que hei-de ser um grande filósofo, então serei um grande filósofo; se está escrito que nunca hei-de ser um grande filósofo, então nunca serei um grande filósofo. Logo, não vale a pena estudar.
É claro que tanto aquela máxima como este dilema pecam por exagero. Mas, analisando com pragmatismo pelo menos a primeira, temos de confessar que, em certa medida, não está longe da realidade. Por isso chego a interrogar-me se, de facto, é necessário estudar coisas que, mais tarde, não vamos precisar no desempenho das nossas profissões ou que, pelo menos, não nos despertem interesse. Porque é que um médico terá de se lembrar do teorema de Tales ou da lei de Ohm se, a todo o momento, tem que estudar os avanços da medicina? Francamente, não encontro resposta, porque a cultura geral, que sempre defendi e defendo, encontra-se entre fronteiras tão indefinidas que é impossível fazer…a definição! Mas a verdade é que a Ciência avança a uma tal velocidade que torna impossível o cérebro humano tudo apreender. Longe vai o sincretismo filosófico inicial, que reunia na Antiguidade toda a sapiência dos homens. Mas, para compensar, temos os computadores, onde podemos procurar coisas que esquecemos ou ignoramos.
Mas voltemo ao primeiro tema do título deste blogue: Astronomia e Carl Sagan. Seria impossível mencionar aqui todas as maravilhas dessa ciência, hoje mais desenvolvida devido ao telescópio Hubble, que “vê” o universo sem as perturbações da atmosfera terrestre. Ciência do passado, nascida da fantasiosa astrologia em que ainda hoje muita gente acredita, ela continua a ser do passado, já que tudo o que nos é mostrado pelos diversos instrumentos, provem sempre com o atraso motivado pela invariável velocidade da luz, cerca de 300.000 km. por segundo. Assim, a luz do sol leva quase oito minutos a chegar à Terra, enquanto muitas galáxias são vistas como eram há milhões de anos! Talvez até já não existam. Contudo, e isso é que é importante, é que o número de estrelas calculadas no total das galáxias conhecidas é de dez elevado a sessenta, ou seja, um número formado por sessenta algarismos, mais do que a soma dos grãos de areia de todas as praias da Terra! Mesmo considerando que nem todas as estrelas tenham planetas gravitando à sua volta, a probabilidade da existência destes ainda continua gigantesca. E depois continuam a pretender que só a Terra é habitada e que o mundo que apenas vemos à vista desarmada foi criado pelo Deus da Bíblia, no qual se centra o “Povo Eleito” e a chamada “Terra Prometida”. Como alguém disse, seria um enorme desperdício. E eu acrescento: quão ínfima é a inteligência da esmagadora maioria dos seres humanos que, depois das descobertas astronómicas dos últimos séculos, ainda se encontra tão limitada.
Quem sabe, por exemplo, que houve um pândego de um arcebispo americano chamado James Ussher de Armagh que chegou à "conclusão" que a Terra tinha sido criada por Deus num sábado, 22 de outubro de 2004 a.C., às seis horas da tarde? E que essa data foi sancionada na década de 30 do século XX por um secretário de estado do Partido Democrata norte-americano?
Pela minha parte tive de aturar um colega "Testemunha de Jeová" que, baseado nessa data, ele e os da sua seita previram o fim do mundo (da Terra) para 1973. Apostei com ele que tal não sucederia e, passado esse ano, perante o meu irónico comentário, meteu os pés pelas mãos, justificando a falha como um erro de cálculo. Assim, esse Apocalipse não foi now e foi adiado para 2003. Nunca mais soube desse colega, mas já vamos em 2010. É caso para dizer: que raio de matemáticos possui aquela religião que anuncia o fim do mundo ao qual chama "a boa nova"!
Sem querer, como é óbvio, fazer uma história da astronomia, posso fazer um simples resumo: durante milénios o homem julgou que a Terra era quadrada (daí a frase os quatro cantos do mundo) e que todos os astros giravam à volta dela. Saltando por cima da Grécia Antiga, onde Eratóstenes referiu a esfericidade do nosso planeta, assunto a que já me referi noutro artigo, chegamos ao Renascimento no qual o polaco Nicolau Copérnico e o italiano Galileu Galilei confirmaram o sistema heliocêntrico. A invenção do telescópio, atribuída entre vários nomes ao holandês Hans Lippershey, permitiu a Galileu a descoberta dos quatro maiores satélites de Júpiter, Io, Ganimede, Calixto e Europa, demonstrando assim a existência de outro mundo como centro de um sistema planetário.
Já no início do século XX, o astrónomo americano Edwin Hubble (1889-1953) demonstrou que todas as estrelas visíveis fazem parte de uma única galáxia, a Via Láctea, à qual pertencemos. A chamada nebulosa de Andrómeda observável à vista desarmada, nada tem a ver com as estrelas visíveis, pois trata-se de outra galáxia situada a mais de dois milhões de anos -luz. Como todas as ciências, a Astronomia avançou no século passado com um ritmo alucinante, estendendo os seus horizontes para milhares de milhões de “parsecs”, unidade astronómica equivalente a 3,26 anos-luz. Seguiu-se a descoberta de outros corpos como pulsares, quasares, buracos negros, enquanto a espectroscopia e a radioastronomia abriam mais horizontes até aí inimagináveis.
Chegámos assim à teoria da expansão universal e ao número inconcebível de dez elevado a sessenta! Mas, repito, a mesquinhez do conteúdo dos crânios da maioria dos seres humanos continua a ver apenas a Terra, o Sol, a Lua e pouco mais. É por causa dela e das crendices que os chamados astrólogos, videntes, quiromantes, bruxos e afins vão governando bem a vida constituindo uma seita de vigaristas e charlatães que gera um círculo vicioso o qual, estimulando a crendice, faz com que pululem como bactérias patológicas causadoras do estrangulamento da inteligência. É caso para dizer “Karamba”. (esta é para esse “genial professor” e colegas que nos infestam com a sua propaganda as caixas de correio e “prevêem o futuro”, mas não acertam na lotaria)!
É óbvio que voltar a ensinar essa gente ignorante que infesta o chamado mundo civilizado, mas que completou os estudos liceais, é de fazer perder a paciência a pessoas que, como eu, já nasceu sem ela (é um facto que assumo). Por isso para quê explicar o que é a precessão dos equinócios, que faz com que os falsos signos do Zodíaco recuem na sua posição em cada dois mil anos (entrámos agora na era do Aquário), que as constelações são apenas formas ocasionais na medida em que “desenham” figuras imaginárias sem qualquer relação entre si e nunca mantém o mesmo formato, pela simples razão que todas elas se movem, mas devido à enorme distância a que se encontram, são precisos muitos séculos para se notar as alterações. Este facto pode ser demonstrado em movimento acelerado por qualquer computador, como faz Carl Sagan num dos episódios da sua série “Cosmos”.
Mas para os sapientíssimos astrólogos, tudo está como há quatro mil anos, nem antes nem depois, quando os Assírios e Sumérios estabeleceram as fantasiosas constelações do Zodíaco. Mas esses têm a desculpa da ignorância da sua época. E, por mais incrível que pareça, os nomes atribuídos aos planetas correspondem à sua influência sobre os terrestres quando são aparentemente projectados nas já referidas hipotéticas constelações: Vénus o amor, Marte a guerra, Júpiter qualquer outro disparate e por aí fora! De facto é espantoso como as pessoas embotam as suas inteligências e não fazem o menor esforço para pensar nas incongruências de tudo isto. E como apregoam a torto e a direito que são "Virgens", "Capricórnios", "Carneiros", "Touros", etc., sem ter qualquer noção do que isso significa. Claro que os primeiros são já uma espécie em vias de extinção; mas, quanto aos três últimos, não há motivo de preocupação já que constituem uma grande variedades de seres, tanto bípedes como quadrúpedes. Afinal, tenham a forma que tiverem, todos os cornos são iguais nas suas funções, mesmo nas ornamentais.
Há tempos falava eu com o irmão de um desses senhores, aliás muito conhecido nos meios dessa falsa ciência e, aproveitando a situação, contestei a veracidade da astrologia. Defendeu-se com o argumento de que não tinha conhecimentos científicos para me contradizer, mas que já tinha verificado tantas coincidências que era forçado a acreditar nas previsões do irmão. Pois é, respondi. O problema é que a verdadeira Ciência não se pode basear em coincidências por maiores que sejam. Só a experimentação sistemática e honesta pode levar das hipóteses às teorias e estas, depois de cientificamente comprovadas, conduzem finalmente às Leis ou Princípios. Foi assim que muitos cientistas levaram avante grandes descobertas, recusando peremptoriamente o que ensinavam os livros do passado e creditados como infalíveis.
Não há, contudo, que negar o inestimável contributo que a Astrologia deu para a verdadeira ciência da astronomia. Aconteceu com outras disciplinas, como é normal em tudo que evolui. Citemos a título de exemplo Tycho Brahe, astrólogo dinamarquês (1546-1601) que fez um notável trabalho sobre as posições das estrelas, cometas e, principalmente, dos planetas. Para isso construiu vários aparelhos para as suas observações, anteriores à invenção do telescópio. No final da sua vida teve como aluno, embora durante pouco tempo, aquele que pode ser considerado o primeiro a dar a machadada que separou o mito da razão na ciência dos corpos celestes: o alemão Johannes Kepler (1571-1630), o descobridor das três leis que regulam os movimentos dos planetas. Hoje ainda há quem não lhe perdoe o facto de ter usado a astrologia como ganha-pão para si e para a família, mas são suas estas palavras: “a astrologia não passa de uma filha louca; mas, grande Deus! Onde estaria a astronomia, tão sábia, sem essa filha demente”?
Portanto não podemos negar, como atrás disse, o papel da astrologia, no desenvolvimento da astronomia, tal como a alquimia o foi para a química. Mas o que é lamentável ou, conforme a maneira de ver, pura e simplesmente cómico, é verificar como esses “profissionais do futuro” estão parados no tempo! Afinal não é só a estupidez humana que é maior que o Universo. Também a crendice e a superstição competem com ela. Para quê mais comentários? No fim de contas ainda hoje há muito boa gente que não acredita que o homem chegou à Lua. E por seis vezes. Foram as naves Apolo 11, 12, 14, 15, 16 e 17, a primeira em 1969 e a última em 1973. Falhou a número 13, é verdade, o que constituiu uma "confirmação" para os supersticiosos que sofrem de triscaidecafobia, ou seja medo do número 13. Esta palavra, hoje em desuso, tem a sua lógica, uma vez que deriva do grego trsiskaideka (treze) mais fobos (medo).
E para terminar este artigo vou referir-me ao caos da legendagem. Com efeito, depois de ter visto a série “Cosmos”, termo também derivado do grego kósmos e que significa “ordem”, não posso deixar de pensar no “Caos”, palavra igualmente derivada do grego khaos e usada pelo poeta helénico Hesíodo (séc.VIII a.C.), significando o vazio primordial. Por extensão, na tradição platónica, deu o estado geral e desordenado dos elementos, por oposição ao Cosmos.
Ora enquanto assistimos às explicações da “ordem” do Cosmos, somos obrigados a seguir a legendagem da “desordem” do Caos. Quem terá sido o sapiente tradutor? Tecnicamente, até não se encontram muitos disparates; mas, que português será aquele?
O seu autor será brasileiro, espanhol ou “chinamarquês? Na caixa que contém os discos não há qualquer referência, pelo que sinto-me muito contrafeito por não lhe poder enviar os meus “parabéns”, quanto mais não fosse pelo método de “propulsão a jorro” com ele escreveu?!
Porque ser tradutor é muito complicado. É preciso dominar tanto a língua que é traduzida como aquela para a qual se traduz. Claro que para as traduções do dia a dia, o referido domínio deve centrar-se na correcção e fluência das duas línguas, de modo a que se perceba a ideia original e não se cometam erros grosseiros de gramática como, infelizmente, se vê e ouve nos diferentes canais televisivos. Mas isso constituiu o primeiro texto deste blogue intitulado “Tradutores Incompetentes e Locutores-Papagaios”.
- E já agora aproveito para dizer que tenho uma grande amiga que é tradutora e a quem por vezes pedem que corrija algumas traduções feitas por outros. Já chegou a recusar esse trabalho porque a tradução era tão má que seria preferível fazer tudo de novo! E tem toda a razão. Se todos fossem profissionais como ela, não teríamos de decifrar (nalguns casos é mesmo impossível) certas “instruções” que acompanham alguns produtos contrariando o que a Lei determina, mas a que nenhum Governo dá importância. Aqui vai um exemplo de uma "tradução" que acompanha o que vulgarmente se chama um telefone para chuveiro: "1- Coloque o vedante de borracha no final de cônicas comandante bric flexografia e rosquelo para cucha. 2-colocou outra placa de borracha no outro extremo da flexografia comandante e rosquelo na torneira". Espantoso, não é? Estas notas "explicativas" acompanham o referido produto importado da China por "Antemax Comércio Internacional Unipessoal, Lda". Os meus mais sinceros parabéns.
E a terminar, e porque julgo ser interessante para quem me lê, informo que possuo um exemplar de "Os Lusíadas” traduzidos para francês em rima (!) por um senhor chamado Hyacinthe Garin, e editado em Lisboa pela “Typographia da Companhia Nacional Editora” em 1889. É claro que ao dar este exemplo não pretendo de modo algum que os tradutores sejam tão eruditos. Mas há limites para a ignorância, principalmente quando metemos ombros a uma tarefa.

E até à próxima.

P.S.
Aviso aos terráqueos ignorantes e, em particular a uma certa aldeia gaulesa: a actual conjunção Júpiter-Úrano na constelação do Carneiro, pode fazer com que este dê uma marrada no céu e o faça cair sobre as suas cabeças!!! Que Deus ou Toutatis nos livrem!