02/12/2010

O DISPARATE DO “PUM-TCHI-PUM”

OU "AO QUE TU CHEGASTE, MÚSICA".
           (1ª parte)

Pum-tchi-pum-tchi-pum-tchi-pum. Parará-tchi-pum-pararáthci-tchi-pum. Pum-pum-pum-pum-pum - (Mais alto! Puxem pela artilharia dos amplificadores e apontem bem os altifalantes com o máximo de decibéis e infra-sons)
PUM-PUM-PUM-TCHICRAQUE!!!CATAPUMPUMPUM………


E “PRONTOS”! Rebentaram as colunas sonoras, os amplificadores, as vidraças e… os tímpanos de quem ainda não está surdo! Eis a chamada música ligeira de hoje (salvo as excepções, como é óbvio).

Maravilha das maravilhas. Estamos dentro de casa e, de repente, as vidraças começam a vibrar porque, lá fora, um tipo que deve ser surdo conduz um carro disparando “decibéis” a torto e a direito. Ou, se ainda não é surdo, para lá caminha, quanto mais não seja para mostrar aos outros que a sua aparelhagem é a melhor, ou seja, a mais potente do que a dos outros já que, possivelmente, a potência lhe falta nalgum ponto mais importante.
Mas a maravilha acústica continua. Saímos para a rua e somos bombardeados com o ruído das motoretas e automóveis com os tubos de escape propositadamente rotos, conduzidas no primeiro caso por garotos que querem mais velocidade do que a pobre bicicleta motorizada pode dar e, no segundo, por um certo tipo de cidadãos que necessita ouvir o motor a fim de perceber que a carripana está a andar ou, o que é pior, afirmar a sua personalidade. Normalmente são esses tipos (curiosamente todos machos) que põem todas as nossas pilosidades em pé com os guinchos estridentes de pneus a derrapar no asfalto, seja por arranques ou por travagens escusadas. E ainda dizem que a gasolina e os pneus estão caros. É a crise!
E os meninos das moto-4 com escape também roto, gentil oferta dos paizinhos tornados novos-ricos nascidos após o 25 de Abril e oferecidas como prémio às suas geniais crias por terem passado de ano com um fantástico medíocre. E os agentes da autoridade de costas, fingindo não ouvir a chinfrineira, terem de pregar uma boa multa conforme manda a Lei, e ouvir depois um raspanete do chefe com a frase clássica: você está louco? Não sabe quem é o pai do garoto que multou?
E continuando com o rol de decibéis ainda muito incompleto, entramos num supermercado (perdão, num shopping) e ela lá está, a chamada música do “pum-tchi-pum” ou do “parará-tchi-pum” a matraquear-nos os ouvidos no meio do vozear da multidão obstinada em gastar o que tem e não tem, comprando produtos inúteis e que, às vezes, até não sabe para que servem. Mas não faz mal; enquanto os Bancos emprestarem uns cobres para todos os desvarios, a vida continua apesar da “crise”. Então não é ao Estado (e não a nós?!) que compete pagar o que importamos? Até parece que há muita gente que julga que os produtos alimentares já nascem enlatados nos supermercados, pelo que deveriam estar ao preço da uva mijona. Abaixo os agricultores! Viva o admirável mundo novo!
Depois é ir ao parque de estacionamento subterrâneo procurar o carro que já não sabemos onde deixámos, mas não faz mal: até aí o “pum-tchi-pum” nos acarinha como um bálsamo activador de memória, sossegando-nos com o velho ditado de 'quem procura sempre alcança'.
No tempo de praia, nos barracões com esplanadas improvisadas, pintados com as mais vetustas cores e 'imperiais' a quatro euros para atrair turistas, somos atingidos por chutos e pontapés de todo o tipo, enquanto, por debaixo das ondas que fazem rolar as pedras, submarinos U-2, no valor de milhões de euros, espreitam o momento de dar o golpe final nos nossos esfrangalhados tímpanos. Já nem podemos conversar. Abrir a boca é só para berrar pelo atrapalhado empregado de ocasião, normalmente brasileiro, e pedir que nos traga alguma coisa para engolir, sólida ou líquida, tanto faz, para usarmos a boca numa das suas várias funções. Mas fica a dúvida se poderemos engolir, já que o estômago vibra que nem um possesso ao ritmo dos infra-sons do “pum-tchi-pum”. Por isso, e perante a dúvida de termos de ir ao vomitorium para não ficarmos com soluços, levantamo-nos e vamo-nos embora. Isto, claro, pela parte que me respeita. Mas, justiça seja feita, encontrei uma esplanada nas praias da Costa de Caparica (deve ser a única na zona), onde podemos conversar, comer e beber em sossego, ouvindo o marulhar das ondas e ver os bandos de gaivotas que recolhem ao pôr-do-sol. Felizmente há sempre uma excepção que, normalmente, confirma a pobreza de espírito da maioria da populaça, já que coloca a 'cultura de massas' (como lhe chamam os pândegos da chamada extrema-esquerda) sob a divina graça de uma das chamadas bem-aventuranças atribuídas ou, à falta de melhor, a Jesus Cristo. No fim de contas trata-se de um meio infalível para entrar no Reino dos Céus.
Mas deixemos o sarcasmo e falemos mais seriamente.
Não porque o que atrás foi dito seja mentira, mas simplesmente porque gosto de ver as coisas muito claras e bem explicadas, para além de, modéstia aparte, julgar possuir alguma autoridade sobre o assunto. Por isso vou impingir um breve resumo da minha vida musical. Mas isso fica para a segunda parte deste artigo.