A
EUGENIA (conclusão).
Em
primeiro lugar peço desculpa pela demora em continuar com este tema.
O motivo é a preguiça que cada vez se torna mais forte; por este
motivo, também espero que me perdoem algumas possíveis repetições,
uma vez que não tenho pachorra para reler tudo o que já escrevi. É
que quando me dá para tal, escrevo tudo às prestações, e a
memória vai escasseando. Levei quase três anos a escrever o meu
livro de apenas trezentas e quarenta páginas incluindo fotografias,
e que tem por título “A Minha Ida à Guerra Colonial” ou “Como
Brinquei com a Tropa”. Foram feitos cento e cinquenta exemplares em
edição privada para a família, amigos e antigos colegas. E edição
privada, porquê? Primeiro, porque trata-se de uma história pessoal
que a só mim e àqueles que referi poderá interessar; segundo,
porque nenhuma editora aceitaria publicar um livro sem fazer uma
severa censura (hoje chama-se politicamente correcto) já que ofendo
o “glorioso” Exército Português, os pretos, os brancos e
refiro-me a Angola como “terra vermelha, terra maldita”. Tudo
isto em bom vernáculo vicentino!
Mas,
vamos ao que interessa.
Se
bem me lembro (uso o título daqueles fantásticos programas que
Vitorino Nemésio apresentava na RTP) já afirmei que se um
historiador quisesse escrever uma História do Mundo (o que
conhecemos) sem se referir a guerras e a outros conflitos, o livro
ficaria reduzido a poucas páginas.
No
caso da Europa as guerras fizeram que o seu mapa político variasse
de tal maneira ao longo dos séculos que, comparar um atlas de há
poucas décadas com um actual, encontramos uma profusão de cores que
mudaram de sítio. Devido o meu interesse inato pela Geografia, já
em criança passava horas a ver os atlas pelos quais os meus pais
tinham estudado. Depois, no liceu, confrontei-me com mapas de
geografia política bastante diferentes daqueles que, à força de
tanto ver e rever, tinha decorado; ainda hoje conservo esses atlas
bem como os mapas que desenhava e pintava com aguarelas.
É
óbvio, que nos outros continentes como a África, a situação só
começaria a mudar na segunda metade do século XX mas, como escrevi,
vou referir-me apenas à “soberba” Europa.
Exceptuando
o Sudeste Asiático, onde se encontram magnificas obras
arquitectónicas, acaso poderemos admirar fora da Europa maravilhas
como as que se encontram espalhadas por todo o Continente ,
construidas ao longo de séculos de História conflituosa? Os
monumentos da América Pré-Colombiana podem-se comparar, por
exemplo, ao Parlamento de Budapeste? E na África Negra? Palhotas e
alguns artefactos primitivos para turista comprar.
Poderá
argumentar-se que os pretos (perdão, afro-americanos, neologismo
importado dos EUA), os índios e oa aborígenes da Austrália eram
mais felizes antes da chegada dos europeus; sendo assim, por que é
que adoptaram na sua maioria os costumes e toda a maquinaria criada
pelo génio dos brancos, os tais que “têm o esperto n’os
cabeça”?
A
Eugenia, longe de ser uma ciência, procura responder a esta
pergunta: porque será que certas raças (perdão, etnias) parem
génios (para o melhor e para o pior) e outras não? Sem responder,
como é óbvio, a esta pergunta, cito dois exemplos perigosos que
atingiram o paroxismo no século passado.
Primeiro,
a existência de uma raça superior (a ariana) em detrimento de todas
as outras, destinadas à morte e à escravidão; segundo, o
Comunismo, uma utopia que pretende a igualdade entre todos e que,
posto em prática, teve criar uma polícia política para se manter,
até cair como um castelo de cartas. Karl Marx estava profundamente
enganado, quando afirmou que o Comunismo nasceria entre as classes
evoluídas e industrializadas. Com efeito este só germinou onde
reinava a miséria. Alguém já ouviu falar nos partidos comunistas
de uma Dinamarca ou de uma Suécia? Eu, não. É no Sul da Europa,
desde Portugal à Grécia, que ainda existem alguns pândegos que
acreditam nessa “religião”.
Uns
tempos atrás, um político europeu disse que os povos do Sul da
Europa só pensam em mulheres e vinho. Foi o Diabo! O Mediterrâneo
encapelou-se de vergonha ao ouvir tamanha ofensa, e o tal tipo foi
obrigado a fazer penitência, justificando-se atrás de uma mera
metáfora.
Metáfora,
sim; mas que é uma realidade, é. Pela parte que me diz respeito,
até achei muita graça. No fim de contas, fizemos a mesma figura dos
pretos, para quem é uma espécie de desdém e ofensa serem tratados
como tal. Porque é que isto não acontece quando se chama branco a
um caucasiano? Só quem esteve algum tempo em África é que pode
entender. Mas isso é outra história, e esta retratada no meu livro
“secreto”.
Hoje
a Europa torna-se asilo daqueles pobres diabos que saíram da
escravidão dos brancos para se deixarem escravizar pelos seus
próprios irmãos de cor. Mas, o pior é que a Europa vai ficando
cada vez mais cheia, o que faz com que a extrema-direita vá ganhando
terreno. Como se costuma dizer, cada macaco no seu galho. Se assim
não for, não tarda que comecem a haver graves conflitos.
A
lei do mais forte e do mais apto começa logo com os espermatozoides;
de muitas dezenas de milhões, só poucos conseguem vencer a longa e
difícil caminhada que os espera. E destes, só um consegue o seu
objectivo, fechando imediatamente a “porta” pois não gosta de
concorrências.
É
assim este mundo, desde a mais pequena bactéria à maior das
baleias.
Soberba
e grande em tudo, até serviu para que uma tal Maria (falecida há
dois mil anos) aparecesse em alguns locais do seu território; e
alberga dentro de si, disfarçada de santidade, a maior máfia do
planeta: O VATICANO.
“Eis-aqui
, quasi cume da cabeça
De
Europa toda, o reino Lusitano;
Onde
a terra se acaba, e o mar começa,
E
onde Phebo repousa no Oceano.
Este
quiz o Céo justo que floreça
Nas
armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o
de si fóra; e lá na ardente
África
estar quieto o não consente.”
“Os
Lusíadas”, canto III estância XXI.
Edição
de 1865, propriedade do autor.