CHEGA DE ANTI-RACISMO E XENOFOBIA, PÔRRA! (3)
Nem de propósito. Acabo de ouvir um comentador das dezenas que infectam os canais noticiosos, a falar sôbre a África e dizer, admirado, que os países do Norte desse continente são mais desenvolvidos de que os da África sub-sahariana. (eu chamo África branca ou do Magrebe aos cinco países do Norte, e África negra a toda a barbárie situada a Sul do deserto do Sahará). Mas, adiante:
O culto comentador disse que os primeiros têm petróleo e outras riquezas como o turismo. Nada mais certo mas, e os outros? No caso de Angola, por exemplo, o turismo será escasso mas abundam riquezas incalculáveis que só aproveitam à elite que as explora. Mas, não se trata só de Angola. Como exemplo vou referir apenas mais três países: a Libéria, o Zimbabué, (antiga Rodésia) e a África do Sul.
No século XIX existiam só duas nações independentes em toda a África: a Etiópia (antiga Abissínia) e a Libéria. Esta última foi fundada em 1847 por escravos libertos dos Estados Unidos, onde uma associação filantrópica comprara o território julgo que à Inglaterra. O objectivo, muito louvável, aliás, era devolver a terras africanas os recém-libertados da horrenda condição de escravos. Mas, de boas intenções está o mundo cheio.
Assim que chegaram àquele terra que baptisaram de Libéria (liberdade) bem como a capital de Monróvia (derivado do presidente Norte-Americano James Monroe), os libertos entraram logo em conflito com as tribos locais e formaram uma elite dominadora. Bem diz o velho ditado: “não sirvas a quem serviu, nem peças a quem pediu”.
Hoje, passados quase dois séculos de independência, a Libéria é um dos países mais pobres da África, a que não faltam guerras civis e execuções de presidentes da república. Vale-lhe a enorme quantidade de navios estrangeiros que ostentam a sua bandeira e que foi inspirada na dos Estados-Unidos.
Esta vigarice marítima faz com que muitos navios, de cruzeiro ou de carga, estejam registados em países como a Libéria ou o Panamá, usufruindo de previlégios que não cabe aqui explicar. Em face disto, se pesquisarmos as “frotas” navais destes países, veremos que são “possuidores” de muitos e grandes navios, o que pode surpreender o leigo neste assunto.
Passemos, agora, ao Zimbabué.
Durante séculos este território foi habitado por diversas tribos que se guerreavam entre si e escravizavam os vencidos. Nada de anormal até aqui; trata-se, simplesmente da História da Humanidade no seu todo.
Em 1890 a Inglaterra começou a colonizar a região sob a orientação de um tal Cecil Rhodes, tendo a colónia adoptado o nome de Rodésia em sua homenagem.
Como é sabido, após o termo da Segunda Guerra Mundial, os movimentos independentistas apoiados pelos países comunistas (os tais de “as mais amplas liberdades” desse sinistro Álvaro Cunhal) começaram a varrer o mundo apregoando o direito de todos os povos à auto-determinação e independência. Porém, e como é óbvio, a agitação que provocavam nesses territórios tinha como único objectivo correr com os brancos e instalarem-se lá eles. Simples e eficaz são dois adjectivos próprios da hipocrisia humana.
Em 1965 um movimento da minoria branca liderado por um tipo chamado Ian Smith, proclamou unilateralmente a independência, e fez aprovar uma constituição que denominava o território como “Monarquia Parlamentarista da Rodésia”, facto que não agradou à Inglaterra nem a essa palhaçada designada por “Nações Unidas”. Deixem-me rir; uma organização que representa quase duas centenas de países tem, no chamado Conselho de Segurança, cinco com direito a veto. Mas, adiante.
Depois de um embargo económico e de muitas vicissitudes, incluindo uma guerra civil,um preto chamado Robert Mugabe assumiu o poder que manteria por trinta e sete anos.
O resultado foi, como não podia deixar de ser, uma inflação descontrolada, tentativas de golpes de estado provocados por tribos, como a dos Matabeles, e corrupção generalizada. Mas, o pior ainda estava por vir: a expropriação das terras dos brancos a favor dos antigos combatentes negros das guerras pela independência, atingiu o auge. Todos vimos nos noticiários televisivos do ano 2000, grupos de pretos (muito educados, diga-se de passagem) a explicar aos brancos que, agora, aquelas férteis terras lhes pertenciam. Férteis eram, sem dúvida alguma, mas era preciso cuidar delas como bons lavradores, dotes que os novos proprietários não tinham. Perante esta situação, a maioria dos brancos abandonou o país e as terras (porque seria?) deixaram de ser produtivas.
E, para terminar, um pouco da história da África do Sul.
Foi Bartolomeu Dias o primeiro europeu a contornar a ponta Sul do continente africano descobrindo, assim, a passagem para o Oceano Índico.
Estava aberto o “caminho” para as tão desejadas Índias que Vasco da Gama viria a completar em 1498.
Em meados do século XVII a Companhia Holandesa das Índias Orientais fundou a Cidade do Cabo que viria a caír nas mãos dos Ingleses.
Não tardou que conflitos entre aqueles e os boers (colonos descendentes de holandeses, flamengos e alemães) culminasse no que ficou conhecido como as “Guerras dos Boers”.
Se na primeira os Ingleses levaram um enxerto de porrada de “alguns campónios holandeses” que utilizaram a táctica de guerrilha, já a segunda foi ganha pelos Britânicos, apesar de terem sofrido pesadas baixas. A descoberta de ouro e diamantes iniciou a "Revolução Mineral” e o consequente movimento migratório branco, bem como um grande aumento económico.
Isto intensificou o domínio europeu sobre os povos indígenas (Zulús, Xossas e outros, embora nos primeiros tempos não existisse qualquer segregação racial, podendo os nativos circular livremente.
Com a proclamação pelo Parlamento Britânico, em 1910, da “União Sul- Africana”, ficaram reunidas as antigas colónias holandesas do Cabo e de Natal, bem como as Repúblicas do Estado Livre de Orange e do Transval, mas a “Lei das Terras dos Nativos”, de 1913, restringiu severamente as terras dos negros. Começava, assim, o sistema discriminatório que viria a tornar-se no apartheid (separação).
Em 1931 a União tornou-se definitivamente independente do Reino Unido e o Partido Sul-Africano e o Partido Nacional fundem-se para formar o Partido Unido com vista reconciliar os anglófonos e os africander, ou seja os descendentes dos boers.
A política de apartheid tornou-se oficial e durou cerca de cinquenta anos. Descriminava tanto pretos como mulatos e asiáticos. Ainda me lembro da minha professora de piano, casada com um médico indiano, contar-me o que passou numa visita à África do Sul: pura e simplesmente, e como resultado do apartheid, não podiam andar juntos! Também me contou que, como vingança, um hotel de Bombaim (hoje Mombai) tinha à entrada o seguinte letreiro: “é proibida a entrada a cães e a sul-africanos”. Lamento, pelos cachorros, claro.
Findo o sistema de segregação racial, em 1990, o país depressa entrou no caos: assassinatos de centenas (senão milhares) de brancos, entre os quais muitos portugueses, desemprego, inflação, pobreza, uma elite negra a querer mandar em tudo e todos, etc. etc!
Ora, batatas. Chega-se a pensar que, afinal, o sistema de segregação racial era o mal menor. Pelo menos, e disseram-me alguns emigrantes portugueses com quem contactei, que durante aquele período tanto pretos como brancos viviam melhor, tanto na qualidade de vida, como na segurança.
Não sei. Da África Negra só conheci Angola e, para aturar pretices, chegou-me. No fim de contas, cada macaco no seu galho.
Entretanto o meu “discurso de ódio” vai continuar. Até à próxima.