01/02/2013

ACORDO ORTOGRÁFICO? CADÊ A LÍNGUA PORTUGUESA?

ACORDO ORTOGRÁFICO? CADÊ A LÍNGUA PORTUGUESA? PERAÍ, MUIÉ. EU FALA PRA VOCÊ, MAS NÃO ESQUEÇA: EU TÔ FORA DESSA!


Este poderia ser um dos muitos textos que se lêem na internet, escrito por brasileiros!
Por isso, pergunto: Que raio de português se ensina no Brasil, ou o que é que os brasileiros aprendem se o resultado é este? É que não se trata só de pessoas que, em princípio, revelam pouca cultura. Isto ouve-se até da boca de grandes artistas nas telenovelas brasileiras. Claro que falar não é a mesma coisa que escrever. Nós também dizemos “Caixodré” e escrevemos Cais do Sodré. É o normal, em qualquer língua, na fluência usada na conversação. O problema está, no caso do Brasil e das outras ex-colónias portuguesas, no facto de a grafia se adaptar à pronúncia, ao bel-prazer de cada um, o que reforça a minha pergunta inicial: Que raio de português, “brasileirês” ou “pretuguês” é que se ensina, ou se aprende, nos diversos estados brasileiros? É óbvio que num país tão vasto e com tanta mistura de raças (agora diz-se etnias), deve ser muito difícil impor uma grafia única. Mas, façam-no ou não, o problema é deles e deve ser respeitado. Nós, os verdadeiros culpados deste famigerado “acordo”, parece querermos impedir que, no futuro, apareça uma verdadeira Língua Brasileira cuja origem estará apenas no português de Portugal, seu berço natural. É como se os antigos Romanos quisessem perpetuar o latim sem as suas derivações que deram origem ao Português, Castelhano, Francês, Italiano e Romeno.
As telenovelas e a nossa mania de imitar tudo que vem de fora fazem-nos, mais uma vez, fazer acordos que mais nenhum país faz. Mas o pior é que a imitação vai para além da ortografia. Embora não seja oficial (por enquanto) os verbos reflexos perdem-se, como “o barco virou”! (Para bombordo, estibordo ou de quilha para o ar?) ou a “comissão reuniu” (com quem?) Também a primeira pessoa do plural do pretérito perfeito, apesar de (ainda) levar acento agudo, é pronunciada como este não existisse: “acabâmos” e não acabámos!
E não é só com a língua. Basta recordar a nossa História e lembrarmo-nos do Ultimato de 1890 com que o Reino Unido nos “brindou” para nos obrigar a ceder-lhe o território entre Angola e Moçambique. Vinte e sete anos depois, entrámos na Grande Guerra por nos recusarmos a fechar os nossos portos aos navios ingleses. Como é bela a centenária aliança que tem mais de seis séculos!
Em relação à linguística, parece inquestionável que uma das características do modo de falar, não respeitando a concordância gramatical de género e número (ainda há pouco tempo ouvi na TV um senhor brasileiro engravatado dizer “seis milhão”), provém dos escravos pretos (agora diz-se negros; se um dia não podermos dizer brancos e outras coisas, agora tornadas ofensivas, teremos a história de “Clara de Neve e os Sete Homens Baixinhos”). Quem viveu alguns anos em Angola, como eu, sabe que isto é verdade. Trata-se de uma estranha realidade que séculos de colonização, para o bem e para o mal, não conseguiram corrigir. E, de facto, também não era necessário, já que línguas e dialectos não faltam em África, tal como o quimbundo em Angola. Quem ouve os emigrantes das ex-colónias a falar entre eles, já terá notado que, a maior parte das vezes, não utilizam a nossa língua.
Porque será? Talvez por hábito ancestral e respeito pelas línguas dos seus antepassados ou porque não aceitam as dos colonizadores, agora impostas oficialmente pelos governantes dos seus novos países. Na verdade, é um facto muito estranho que os povos invadidos, colonizados e escravizados por Portugueses, Espanhóis, Ingleses e Franceses, tenham adoptado como língua oficial a dos seus antigos “donos”.
Também é paradoxal que, depois da chamada “pendance” (deformação da palavra francesa indépendance, introduzida em Angola após a independência do Congo Belga), os povos das ex-colónias europeias emigrem, alguns desesperadamente, para os países dos seus odiados colonizadores, já que a riqueza das suas terras está agora nas mãos de meia-dúzia de exploradores oriundos dos seus próprios povos.
Sob certos aspectos, pode-se fazer uma comparação com os ucranianos, que receberam as tropas de Hitler como libertadoras do jugo de Estaline. Sempre a velha história de ir de Herodes para Pilatos, tão repetida através dos tempos.
Mas o mundo é assim. A História de Portugal (a mais linda de todas!) é feita de “heróis” e de “santos” na sua luta contra os “infiéis” e incumbidos de propagar a “Fé e o Império”, mesmo que para isso fosse preciso matar, roubar e escravizar, já que os Portugueses tinham um mandato divino e a protecção da Virgem. Por seu lado, Angola converteu o dia 11 de Fevereiro em feriado nacional, para comemorar o início da luta armada contra Portugal, dia esse que, em 1961, começou com o massacre de civis, mulheres violadas e esventradas, jogos de “bola” com cabeças de bebés, etc.
Mas tudo isto está certo. Da História não se deve pedir desculpa, e todos os povos têm culpas no cartório, como é costume dizer-se.   
Mas, voltando ao chamado acordo, vi e ouvi, finalmente, a conferência online em que os doutores Margarita Correia e Pedro Ferreira tentam fundamentar as suas teses, por motivos sócio económicos (pasme-se). Com um ar de quem é dono da verdade imposta pelo Governo, Margarita Correia começa por explicar que o “acordo” visa apenas a ortografia (é óbvio; por isso se chama ortográfico!).
Continuou afirmando que quem conheça as convenções entre os grafemas e os sons da língua italiana pode pronunciá-la com bastante correcção (mas esqueceu-se de referir a enorme quantidade de palavras com consoantes dobradas que caracteriza aquele idioma), dizendo depois que o mesmo não acontece com o francês e o inglês em que não há correspondência entre os sons e os grafemas (no francês, senhora doutora?)
Que eu saiba, as regras são claras: “ou” lê-se “u”, “u” é igual a “ü” “ai” lê-se “é”, “aï” pronuncia-se “aí” (naïf), etc. etc. O mesmo acontece com o alemão. Portanto refira-se apenas o inglês, onde é necessário decorar a pronúncia das palavras, tais como em “enough” e “though”).
Disse depois que a grande reforma ortográfica de 1911 foi feita sem qualquer acordo com o Brasil. (E porque é que tínhamos de fazê-lo? Os Brasileiros só em 1944 é que aceitaram essa reforma, como atesta a colecção das obras de Júlio Verne, que possuo, impressas no Brasil em data anterior.
Continuou, depois de dizer que o “acordo” foi aprovado em conselho de ministros e que, pela primeira vez, aquele tem uma base legal (!), fazendo uma recapitulação das mudanças ortográficas das últimas décadas, sob o lema “primeiro estranha-se, depois entranha-se”. (De facto a tendência universal para a asneira propaga-se rapidamente, tal como o hábito faz o monge. E, a propósito de base legal, pergunto: a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras, que oficializaram o acordo de 1944, são ilegais?)
As consoantes que não se pronunciam, vão ser omitidas. Mas será que todos os portugueses não as articulam? Eu, por exemplo, por vezes digo acto pronunciando o “c”. Serei obrigado a corrigir este “defeito de pronúncia”? Por esta ordem de ideias, se amanhã alguém começar a dizer “de fato”, virão logo os eruditos (ou um governo) a mandar retirar o “c” da grafia?
Será que esses doutores não percebem que o “c” e o “p” servem para abrir a vogal que se lhes segue, facto de que os brasileiros não necessitam porque já abrem as vogais naturalmente? Esta questão é explicada pelo linguista brasileiro António Houaiss, co-autor do Dicionário da Língua Portuguesa que porta o seu nome, publicado em 2002, e está disponível na internet.
É claro que estes doutores não ignoram estes factos, que a maioria do nosso Povo, bem como grandes nomes da nossa cultura, não quer aceitar.
Processem-me se quiserem, mas sou obrigado a chamar-lhes os “Miguel de Vasconcelos”* da Língua Portuguesa e submissos lacaios do poder representado (salvo raras excepções) por uma corja de deputados oportunistas e ignorantes.
Cancelar este acordo seria apaziguar as relações entre os Portugueses, tão deterioradas nos tempos que correm.
Não há dúvida que somos um povo paradoxalmente sem personalidade. Senão, vejamos: vamos fazer 900 anos de História e temos as fronteiras mais antigas da Europa, senão do mundo. Perdemos a independência durante 60 anos e, quando a maioria dos Portugueses já tinha nascido “espanhola”, reconquistámos a liberdade, retomámos a posse do Brasil e de Angola (ocupadas pelos Holandeses) e aguentámos a chamada Guerra da Restauração que durou vinte e oito anos.

E vou terminar.
Quem ler este texto, e se pertencer a uma certa “esquerda” que Fernando Pessoa tão bem apelidou de “amigos de gente” ou “os pregadores de verdades deles”, vou ser acusado de racista, fascista, xenófobo de patriota, o que hoje parece ser um crime contra a Humanidade, excepto em relação ao futebol, claro.. Mas, também já me chamaram tanta coisa, desde comunista a idiota, de social-democrata a imbecil, de direitista a reaccionário… Mas, curiosamente, esta palavra só é atribuída aos “direitistas”; será que na Rússia actual, não serão os comunistas que ainda há por lá, que reagem ao novo regime, tornando-se assim reaccionários?
Toda esta baralhada fez-me recordar um dos meus “mentores espirituais”, que é, (pasme-se) o grande humorista brasileiro Juca Chaves. Afinal, rir é o melhor remédio. Fazendo minhas as suas palavras, passo a citar:

Não sou homem de direita,
Nem numa de esquerda eu entro;
E, como ninguém me aceita,
Eu sou mesmo é contra o centro.

E, a propósito, cito também uma rábula feita ao jornalista João Coito, já falecido, que durante o governo de Marcelo Caetano tentou ‘dar uma no cravo e outra na ferradura’:

Uns dizem que eu sou das esquerdas,
Outros afirmam que eu sou das direitas;
É tudo falso, porque o coito
Sempre se deu no centro.



*Miguel de Vasconcelos:

Traidor português, ao serviço de Espanha, que foi encontrado escondido dentro de um armário durante a Revolução de 1640. Depois de ter sido morto a tiro, foi atirado pala janela para o Terreiro do Paço.

Francamente! Longe de mim a ideia de querer fazer o mesmo aos que defendem o chamado acordo ortográfico. Limitar-me-ia a uma defenestração, atirando primeiro com um nativo de Boliqueime chamado Aníbal, mas tendo o cuidado de pôr uns colchões muito fofinhos em baixo. E isto porque, normalmente, não costumo ser agressivo, mas o facto é que andei na guerra em Angola. Perdão, "nos guerra". 



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