06/02/2014

TSUNAMI

ONDA GIGANTE, MARÉ GIGANTE, MAREMOTO OU RAZ DE MARÉ?


Acabo de receber imagens, enviadas por um amigo, de um tsunami num rio do Japão. Não vi, como esperava, nenhuma “onda gigante”. Esta talvez não chegasse a um metro de altura, mas os estragos que provocou foram devastadores, coisa que uma onda, por maior que seja, pode provocar. Mas, a comunicação social é fértil em falar de “ondas gigantes”, quer se trate das provocadas por um sismo submarino ou das que, na praia da Nazaré, brindam os surfistas.
Mas, então, porque é que estas últimas estão muito longe, felizmente, de provocar uma catástrofe? 
Vamos a factos concretos.
Uma onda é uma vibração que atravessa qualquer corpo sólido, líquido ou gasoso. As moléculas dão um “coice” umas nas outras, mas ficam sempre no mesmo sítio. Toda a gente que toma banhos de mar sabe que, para lá da rebentação, subimos e descemos sobre as ondas, mas continuamos onde estamos. O movimento é apenas vertical. O que faz cair (rebentar) a onda, é o atrito que as moléculas que estão junto ao fundo sofrem, diminuindo a sua velocidade que não é acompanhada pelas que estão em cima. Gera-se, assim, uma sucessão de travagens que faz com que a onda desenhe aquela curva tão característica. Depois dá-se a “explosão” à medida que as partes superiores encontram um obstáculo sólido, seja areia ou rocha.
No primeiro caso, e conforme a extensão e inclinação da praia, bem como a altura da onda, esta progride em maior ou menor distância, recuando logo a seguir.
Quanto ao tsunami, cujo étimo japonês quer dizer “onda no porto” e não gigante, é provocado por um desnivelamento dos fundos marinhos que, por vezes, acompanham os sismos subaquáticos. O que importa é a maré que resulta desse desnivelamento e não as ondas, maiores ou menores, que a precedem. Estas são empurradas pela maré que, a uma velocidade muitíssimo maior das marés normais, progridem como resultado do princípio físico dos vasos comunicantes. Foi isto que aconteceu em Lisboa aquando do terramoto de 1955. Toda a gente pode ver as inúmeras imagens que circulam na internet e, se repararem bem, nenhuma onda se compara às da Nazaré.
Quanto ao uso (e abuso) da palavra tsunami, que se popularizou após a catástrofe que atingiu a Indonésia e outros países em 2011, declaro que sou neutro, apesar de ter aprendido a designar o fenómeno por raz de maré, como consta nas “Lições de Geologia” do antigo terceiro ciclo dos liceus. Isto é uma resposta às críticas que tenho recebido por causa da minha aversão aos neologismos e provo, assim, que não sou tão fundamentalista como dizem. Eles só enriquecem as línguas e as relações entre os povos. Odeio, sim, é a “snobeira” com que muita gente e a maioria do comércio gostam de se exibir, com os fast-food, take-away, resort, call-center, e um nunca mais findar de anglicismos inúteis que emporcalham a nossa língua, ignorando que existem os equivalentes no nosso idioma. Em criança tive de aturar os galicismos, agora tenho de suportar aqueles e, talvez ainda viva o suficiente para ver a invasão do mandarim, quanto mais não seja por ser moda.

Nota para os curiosos:
Se quiserem verificar o movimento ondulatório nos corpos sólidos, façam a seguinte experiência: ponham duas moedas bem encostadas uma à outra sobre uma mesa. Com um dedo, segurem firmemente uma delas. Depois, atirem uma terceira moeda de encontro à que não está segura com o dedo. As ondas de choque vão propagar-se através da moeda fixa e empurrar a que está encostada, que se detém logo que perde a energia recebida. Simples, não é? Pois isto é que é uma onda! 


   

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