Acabo de receber imagens, enviadas por um amigo,
de um tsunami num rio do Japão. Não vi, como
esperava, nenhuma “onda gigante”. Esta talvez não chegasse a um metro de
altura, mas os estragos que provocou foram devastadores, coisa que uma onda,
por maior que seja, pode provocar. Mas, a comunicação social é fértil em falar
de “ondas gigantes”, quer se trate das provocadas por um sismo submarino ou das
que, na praia da Nazaré, brindam os surfistas.
Mas, então, porque é que estas últimas estão muito
longe, felizmente, de provocar uma catástrofe?
Vamos a factos concretos.
Uma onda é uma vibração que atravessa qualquer
corpo sólido, líquido ou gasoso. As moléculas dão um “coice” umas nas outras,
mas ficam sempre no mesmo sítio. Toda a gente que toma banhos de mar sabe que,
para lá da rebentação, subimos e descemos sobre as ondas, mas continuamos onde
estamos. O movimento é apenas vertical. O que faz cair (rebentar) a onda, é o
atrito que as moléculas que estão junto ao fundo sofrem, diminuindo a sua
velocidade que não é acompanhada pelas que estão em cima. Gera-se, assim, uma
sucessão de travagens que faz com que a onda desenhe aquela curva tão
característica. Depois dá-se a “explosão” à medida que as partes superiores
encontram um obstáculo sólido, seja areia ou rocha.
No primeiro caso, e conforme a extensão e
inclinação da praia, bem como a altura da onda, esta progride em maior ou menor
distância, recuando logo a seguir.
Quanto ao tsunami, cujo
étimo japonês quer dizer “onda no porto” e não gigante, é provocado por um
desnivelamento dos fundos marinhos que, por vezes, acompanham os sismos
subaquáticos. O que importa é a maré que resulta desse desnivelamento e não as
ondas, maiores ou menores, que a precedem. Estas são empurradas pela maré que,
a uma velocidade muitíssimo maior das marés normais, progridem como resultado
do princípio físico dos vasos comunicantes. Foi isto que aconteceu em Lisboa
aquando do terramoto de 1955. Toda a gente pode ver as inúmeras imagens que
circulam na internet e, se repararem bem, nenhuma
onda se compara às da Nazaré.
Quanto ao uso (e abuso) da palavra tsunami, que se popularizou após a catástrofe que atingiu a
Indonésia e outros países em 2011, declaro que sou neutro, apesar de ter
aprendido a designar o fenómeno por raz de maré,
como consta nas “Lições de Geologia” do antigo terceiro ciclo dos liceus. Isto
é uma resposta às críticas que tenho recebido por causa da minha aversão aos
neologismos e provo, assim, que não sou tão fundamentalista como dizem. Eles só
enriquecem as línguas e as relações entre os povos. Odeio, sim, é a “snobeira”
com que muita gente e a maioria do comércio gostam de se exibir, com os fast-food, take-away, resort, call-center, e um nunca mais
findar de anglicismos inúteis que emporcalham a nossa língua, ignorando que
existem os equivalentes no nosso idioma. Em criança tive de aturar os
galicismos, agora tenho de suportar aqueles e, talvez ainda viva o suficiente
para ver a invasão do mandarim, quanto mais não seja por ser moda.
Nota para os curiosos:
Se quiserem verificar o movimento ondulatório nos
corpos sólidos, façam a seguinte experiência: ponham duas moedas bem encostadas
uma à outra sobre uma mesa. Com um dedo, segurem firmemente uma delas. Depois,
atirem uma terceira moeda de encontro à que não está segura com o dedo. As
ondas de choque vão propagar-se através da moeda fixa e empurrar a que está
encostada, que se detém logo que perde a energia recebida. Simples, não é? Pois
isto é que é uma onda!
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