Esta frase, latinizada pelo
historiador romano Plínio, o “Velho” (23dC-79dC), é atribuída a Apeles, pintor
da Grécia Antiga, (352aC-308aC) que tinha por costume esconder-se quando
expunha os seus quadros, mas a distância suficiente para ouvir os comentários
daqueles que os contemplavam.
Certo dia, ouviu um sapateiro criticar
alguns pormenores das sandálias de uma figura presente num dos quadros
expostos. Apeles saiu da sombra e fez as emendas segundo os conselhos do
sapateiro. Este, porém, resolveu apontar outros defeitos no quadro, o que
motivou a resposta do pintor, que hoje continua a ser sinónimo do provérbio que
diz, entre várias versões, “não fales ou não opines sobre assuntos que
desconheces”.
É claro que a maioria das pessoas não
respeita esta máxima. Eu próprio me penitencio porque já o fiz algumas vezes,
quanto mais não fosse pelo gosto de contrariar o interlocutor que, por seu
lado, fazia o mesmo. Contudo, procuro sempre não entrar em assuntos sobre os
quais, infelizmente, pouco ou nada sei como as artes plásticas; ou, se entro, é
para aprender com o interlocutor quando este é versado no assunto.
Este artigo já estava preparado há
algum tempo, e destinava-se a divertir os melómanos com uma série de traduções
que se encontram na minha colecção de catálogos de discos fonográficos. São de
morrer a rir e um autêntico “suplício do disparate”!
Mas isto ficará para próximo tema
pois, como prometi, vou dar uma explicação à senhora Inês Gonçalves sobre a
órbita da Terra.
É pouco provável que a leia, mas fico, como de costume, com o
fígado mais aliviado.
Antes, porém, quero dizer que sobre este assunto, escrevi
há muitos anos para o semanário “Tal e Qual” por causa de uma apresentadora da
“SIC” ter dito o mesmo disparate; a este juntei “pérolas” ditas na mesma altura
na televisão, tais como ‘a Nova Guiné ficar situada na África’, ‘haver tigres
de Benguela’ e, como era Secretário de Estado da Cultura o senhor Santana
Lopes, aproveitei para fazer referência à sua extraordinária e mundialmente
famosa “descoberta” dos ‘concertos para violino de Chopin’. Aquele antigo
semanário deu-me a honra de publicar o meu texto, acompanhado de um cartoon com a legenda “uma coltura de sucesso”!
A primeira das três leis de Kepler
diz o seguinte: as órbitas dos planetas são elipses, ocupando o sol um dos
focos. Ao mencionar isto não pretendo que todos os que andaram no liceu se
recordem daquelas leis espantosamente descobertas pelo célebre astrónomo
quinhentista com os meios rudimentares de que dispunha.
O mais provável é não saberem quem
foi Johannes Kepler nem o que é uma elipse (não confundir com a elipse
gramatical), um dos três tipos de cónicas juntamente com a hipérbole e a
parábola. (Não confundir, também, com as parábolas atribuídas a Jesus
Cristo e, por favor, não deturpem a palavra cónica)!
O facto mais simples e notório que
advém de as órbitas dos planetas serem elipses, é a variação da distância ao
Sol que se verifica nas suas órbitas. Como no caso da Terra a variação é muito
pequena (cerca de dois milhões e meio de quilómetros numa órbita média de pouco
mais de cento e quarenta e nove milhões) a distância, em termos astronómicos,
pode ser considerada quase sem variação. Ora o que faz as diferenças de
temperatura anuais, bem como a duração dos dias e das noites, é a inclinação do
eixo da Terra cuja superfície recebe, por isso, a radiação solar sob ângulos
diferentes. O resultado são as conhecidas estações do ano que todos aprendemos
em criança e que a maioria das pessoas julga serem extensíveis a todo o
planeta, já que as suas mentes não conseguem sair, geograficamente, do local
onde nasceram e vivem.
Se a senhora Inês Gonçalves pensasse um bocadinho não
teria dito aquela asneira, uma vez que no hemisfério sul começava o Inverno! Será
que, por artes mágicas, a outra metade da Terra estava mais afastada do Sol? E
por onde andavam as regiões equatoriais, que não têm estações do ano? Sem
comentários!
Mas, falar primeiro e pensar depois
(se é que pensam) é uma propriedade inata à maioria dos seres humanos. Muitos
animais, como os cães que por vezes rosnam a quem lhes vais dar mimos, ou
abanam a cauda e aproximam-se, prazenteiros, para depois levarem um enxerto de
porrada de algumas bestas humanas, fazem o mesmo. Mas estes, segundo se diz,
são irracionais!
(Nota: Qualquer comentário escrito segundo o chamado 'acordo ortográfico' será considerado como tendo erros grosseiros e, como tal, corrigido).
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