O FIM DO “PUM-TCHIM-PUM”
NOS AUTOMÓVEIS.
Já repararam que a moda do “pum-tchim-pum”
com um nível sonoro capaz de provocar lesões auditivas, além de outros danos
físicos causados pela adição dos chamados subwoofers
passou a ser uma raridade?
Quando um carro equipado com aquele
estúpido sistema passava perto de mim ou fazia vibrar os vidros das janelas,
sentia vontade de encurralar a besta do condutor e mantê-lo dentro do carro até
ficar surdo de vez. Depois, e porque embora defensor da pena de Talião, não sou
mau de todo, pagava-lhe as consultas no otorrinolaringologista.
Agora que este fenómeno social, como
tantos outros, passou à história, ocorreu-me escrever um texto sobre aquilo a
que, comummente, se chama moda.
Desde criança que nunca compreendi esta
faceta da espécie humana tão peculiar aos símios. Será por descendermos de um
ramo comum?
É óbvio que apesar de não compreender,
em criança tive de usar boina, calças “à golfe” (como o Tim-Tim)*, suspensórios
e, mais tarde, a gravata. E é óbvio porque, se recusasse, no mínimo a
desobediência resultava numa repreensão com a respectiva ameaça de açoites
Mas, já que tinha de andar “fardado”
segundo a idade e a época, gostava, para meu divertimento, de reparar nas
mudanças de indumentária à medida que os anos iam passando.
Ao princípio vinha tudo de Paris. Até os
bebés, embora viessem todos com o mesmo trajo natural, diferindo apenas no peso
e outros atributos naturais, como o que tinham (ou não tinham) entre as pernas.
Depois, tornou-se “chique” comprar as
fatiotas numa casa chamada Old England ,
situada na Rua Augusta, em Lisboa.
Lembro-me dela porque, como filho varão
de uma das “boas famílias” lisboetas, andei vestido com as últimas novidades
“Made in England”.
Na mesma rua havia a “Casa Africana”,
que exibia como reclame um preto carregado de malas. A coisa não incomodava
ninguém, até porque era usual dizer-se que “o trabalho era bom para o preto”.
Hoje, aquela figura seria considerada como racismo imperdoável, a menos que a
casa tivesse mudado o nome para Casa Europeia e o preto fosse substituído por
um branco, que naquela época era classificado de galego ou moço de fretes.
Os Portugueses, sempre amantes de tudo o
que é estrangeiro, começaram a perceber que o francês estava a ficar fora de
moda e adoptaram o inglês, hoje no apogeu da idiotice e servilismo a “Sua
Majestade” britânica.
Mas deixo este assunto para o próximo
artigo, para desabafar o agastamento que o anúncio da cobertura que a RTP ia
fazer (e deve ter feito) das eleições no reino da dita majestade me provocou.
Serão as modas provocadas pela
necessidade de imitar, inveja, medo de destoar dos outros, necessidade de
afirmação ou tudo junto? E aquelas que são impostas por motivos religiosos? Os
sociólogos que respondam. Para mim, estas razões são o motivo para que a grande
maioria das pessoas siga os chamados ditames da moda. Mas, reconheço que sou eu
quem esteve sempre fora de moda neste mundo. E, para alivio das minhas
inquietações metafísicas, oxalá tivesse nascido só com essa preocupação.
Após este desabafo, veio-me à memória
alguns aspectos curiosos das modas que fixei, e que ainda hoje me fazem sorrir
para alívio das minhas “iscas”.
Era eu ainda criança, quando surgiu a
moda dos chapéus com “pára-raios” usados pelas senhoras. (Entenda-se como
senhoras as mulheres das classes média e alta). Chamava-se assim aos chapéus
ornamentados com uma grande pena de ave colocada quase na vertical. Como nem
nos cinemas as senhoras descobriam as cabeças, foi necessária uma determinação
governamental a proibir o uso daquele ornamento durante as sessões, para não
prejudicar a visão de quem estava atrás.
Algum tempo depois surgiram as saias
apertadas, de tal modo que as senhoras pareciam umas 'entrevadinhas', produzindo
um “tique-tique” acelerado com os saltos dos sapatos, quando tentavam caminhar
mais depressa. Jacques Tati, no filme Play-Time
(em português “Tempos Modernos”) parodia com o seu característico humor sem
palavras, aquela moda tão ridícula como incómoda.
Muitos anos depois, veio a moda da
mini-saia, logo seguida, como não podia deixar de ser, pelo oposto para dar nas
vistas: a maxi-saia.
Ainda não estava reformado, quando
surgiu a tristemente famosa moda das calças rotas, uma autêntica ofensa a quem
é pobre. Recordo o momento em que uma colega descia num dos elevadores do
edifício da RDP, então situado nas Amoreiras. Adepta dessa moda, teve o azar de
encontrar o presidente do concelho de administração, que descia também.
-“A senhora não tem dinheiro para
comprar umas calças?”, perguntou.
O resultado foi uma ida à loja mais
próxima comprar outras. Pelo menos naquela casa, aquela moda não pegou.
De há uns anos para cá, temos os cabelos
caídos sobre um olho, o que provoca o contínuo sacudir de cabeça ou o
afastamento da madeixa com a mão que, como é óbvio, volta a cair. Já dei por
mim a fazer o mesmo enquanto via uma entrevista a uma senhora na televisão. É
que, tal como os bocejos e a loucura, os tiques são contagiosos.
E, para terminar, porque não falar da
autêntica loucura que se vê em lugares públicos de lazer? É rara a pessoa que
não tenha um telemóvel, ou outra maquineta do género, e passe o tempo a
esfregá-lo com o dedo indicador.
Bem sei que este dedo não tem só a
função correspondente ao nome mas, se ele se gastar, como vai poder continuar a
esfregar coisas muito mais sensíveis do que um aparelho electrónico?
Francamente, não encontro resposta e, a verdade, é que cada um usa o dedo
indicador como quer, mesmo que, como se dizia no meu tempo, “não se aponta que
é feio”. A partir daí, tabu!
*Em “Tim-Tim e os Pícaros”, último álbum
do imortal herói de banda desenhada, Hergé substituiu as calças “à golfe” por jeans. Esta decisão desagradou a muitos
dos seus admiradores, embora a história seja fantástica.
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