17/05/2015

O FIM DO “PUM-TCHIM-PUM”
NOS AUTOMÓVEIS.

Já repararam que a moda do “pum-tchim-pum” com um nível sonoro capaz de provocar lesões auditivas, além de outros danos físicos causados pela adição dos chamados subwoofers passou a ser uma raridade?
Quando um carro equipado com aquele estúpido sistema passava perto de mim ou fazia vibrar os vidros das janelas, sentia vontade de encurralar a besta do condutor e mantê-lo dentro do carro até ficar surdo de vez. Depois, e porque embora defensor da pena de Talião, não sou mau de todo, pagava-lhe as consultas no otorrinolaringologista.
Agora que este fenómeno social, como tantos outros, passou à história, ocorreu-me escrever um texto sobre aquilo a que, comummente, se chama moda.
Desde criança que nunca compreendi esta faceta da espécie humana tão peculiar aos símios. Será por descendermos de um ramo comum?
É óbvio que apesar de não compreender, em criança tive de usar boina, calças “à golfe” (como o Tim-Tim)*, suspensórios e, mais tarde, a gravata. E é óbvio porque, se recusasse, no mínimo a desobediência resultava numa repreensão com a respectiva ameaça de açoites
Mas, já que tinha de andar “fardado” segundo a idade e a época, gostava, para meu divertimento, de reparar nas mudanças de indumentária à medida que os anos iam passando.
Ao princípio vinha tudo de Paris. Até os bebés, embora viessem todos com o mesmo trajo natural, diferindo apenas no peso e outros atributos naturais, como o que tinham (ou não tinham) entre as pernas.
Depois, tornou-se “chique” comprar as fatiotas numa casa chamada Old England , situada na Rua Augusta, em Lisboa.
Lembro-me dela porque, como filho varão de uma das “boas famílias” lisboetas, andei vestido com as últimas novidades “Made in England”.
Na mesma rua havia a “Casa Africana”, que exibia como reclame um preto carregado de malas. A coisa não incomodava ninguém, até porque era usual dizer-se que “o trabalho era bom para o preto”. Hoje, aquela figura seria considerada como racismo imperdoável, a menos que a casa tivesse mudado o nome para Casa Europeia e o preto fosse substituído por um branco, que naquela época era classificado de galego ou moço de fretes.
Os Portugueses, sempre amantes de tudo o que é estrangeiro, começaram a perceber que o francês estava a ficar fora de moda e adoptaram o inglês, hoje no apogeu da idiotice e servilismo a “Sua Majestade” britânica.
Mas deixo este assunto para o próximo artigo, para desabafar o agastamento que o anúncio da cobertura que a RTP ia fazer (e deve ter feito) das eleições no reino da dita majestade me provocou.
Serão as modas provocadas pela necessidade de imitar, inveja, medo de destoar dos outros, necessidade de afirmação ou tudo junto? E aquelas que são impostas por motivos religiosos? Os sociólogos que respondam. Para mim, estas razões são o motivo para que a grande maioria das pessoas siga os chamados ditames da moda. Mas, reconheço que sou eu quem esteve sempre fora de moda neste mundo. E, para alivio das minhas inquietações metafísicas, oxalá tivesse nascido só com essa preocupação.
Após este desabafo, veio-me à memória alguns aspectos curiosos das modas que fixei, e que ainda hoje me fazem sorrir para alívio das minhas “iscas”.
Era eu ainda criança, quando surgiu a moda dos chapéus com “pára-raios” usados pelas senhoras. (Entenda-se como senhoras as mulheres das classes média e alta). Chamava-se assim aos chapéus ornamentados com uma grande pena de ave colocada quase na vertical. Como nem nos cinemas as senhoras descobriam as cabeças, foi necessária uma determinação governamental a proibir o uso daquele ornamento durante as sessões, para não prejudicar a visão de quem estava atrás.
Algum tempo depois surgiram as saias apertadas, de tal modo que as senhoras pareciam umas 'entrevadinhas', produzindo um “tique-tique” acelerado com os saltos dos sapatos, quando tentavam caminhar mais depressa. Jacques Tati, no filme Play-Time (em português “Tempos Modernos”) parodia com o seu característico humor sem palavras, aquela moda tão ridícula como incómoda.
Muitos anos depois, veio a moda da mini-saia, logo seguida, como não podia deixar de ser, pelo oposto para dar nas vistas: a maxi-saia.
Ainda não estava reformado, quando surgiu a tristemente famosa moda das calças rotas, uma autêntica ofensa a quem é pobre. Recordo o momento em que uma colega descia num dos elevadores do edifício da RDP, então situado nas Amoreiras. Adepta dessa moda, teve o azar de encontrar o presidente do concelho de administração, que descia também.
-“A senhora não tem dinheiro para comprar umas calças?”, perguntou.
O resultado foi uma ida à loja mais próxima comprar outras. Pelo menos naquela casa, aquela moda não pegou.
De há uns anos para cá, temos os cabelos caídos sobre um olho, o que provoca o contínuo sacudir de cabeça ou o afastamento da madeixa com a mão que, como é óbvio, volta a cair. Já dei por mim a fazer o mesmo enquanto via uma entrevista a uma senhora na televisão. É que, tal como os bocejos e a loucura, os tiques são contagiosos.
E, para terminar, porque não falar da autêntica loucura que se vê em lugares públicos de lazer? É rara a pessoa que não tenha um telemóvel, ou outra maquineta do género, e passe o tempo a esfregá-lo com o dedo indicador.
Bem sei que este dedo não tem só a função correspondente ao nome mas, se ele se gastar, como vai poder continuar a esfregar coisas muito mais sensíveis do que um aparelho electrónico? Francamente, não encontro resposta e, a verdade, é que cada um usa o dedo indicador como quer, mesmo que, como se dizia no meu tempo, “não se aponta que é feio”. A partir daí, tabu!

*Em “Tim-Tim e os Pícaros”, último álbum do imortal herói de banda desenhada, Hergé substituiu as calças “à golfe” por jeans. Esta decisão desagradou a muitos dos seus admiradores, embora a história seja fantástica.


                                                                                            

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