22/07/2019

A EUGENIA (continuação)

“Entre a zona, que o Cancro senhoreia,
Meta Septentrional do Sol luzente,
E aquella, que por fria se arreceia
Tanto, como a do meio por ardente,
Jaz a soberba Europa; a quem rodeia
Pela parte do Arcturo, e do Occidente
Com suas salsas ondas o Oceano,
E pela Austral, o mar Mediterraneo.”*

* “Os Lusíadas”, canto III estância VI.
(Edição de 1865 propriedade do autor)

A soberba Europa! Já Camões a classificava de soberba porque expandia pela força as suas potencialidades. Mas, não será o ser humano apenas um pouco mais do que um animal partilhando os comportamentos instintivos e primitivos? Será falsa a teoria da lei do mais forte e a sobrevivência dos mais aptos? É óbvio que, pelo menos socialmente, aqueles comportamentos são condenáveis, mas a História mostra-nos o contrário.
Nós, Portugueses, chegámos a África e ao Brasil onde encontrámos os diversos povos num tal estado de primitivismo que tornou fácil dominá-los e, depois, escravizá-los durante séculos.
Os Espanhóis, por seu turno, desvairados por uma incomensurável obsessão pelo ouro, destruíram as civilizações pré-colombianas (Aztecas, Incas e Maias) com as suas armas de fogo e o uso de cavalos que era um animal desconhecido dos Índios.
Os Ingleses fizeram o mesmo na América do Norte e na Austrália, tendo enfrentado no primeiro caso a heroica resistência oferecida pelas tribos autóctones, acabando quase por exterminá-las, vivendo hoje os poucos descendentes dos que sobreviveram em reservas para turista ver. E tudo isto sob o beneplácito do Cristianismo e seus derivados. Só poucos tentaram atenuar a ferocidade da “soberba Europa”, como foi o caso do nosso padre António Vieira.
Por outro lado, e já que anteriormente falei na ocidentalização da Rússia, lembrei-me agora que Ataturk fez o mesmo na Turquia, chegando ao ponto de entre dezenas de reformas para “europeizar” o seu país, ressaltarem a proibição do uso do fez pelos homens e do véu islâmico pelas mulheres e a substituição do alfabeto árabe pelo alfabeto latino. É obra!
Mas, o mais curioso é que por vontade própria ou por imitação, japoneses, pretos e outros passaram a usar fato e gravata como os ocidentais. Isto de um modo geral, como é óbvio. Só os árabes é que mantém o tradicional albornoz.
Insistindo no adjectivo com que Camões presenteou o Velho Continente, vou referir três casos que considero paradigmáticos.
Em 1821, uma sociedade filantrópica norte-americana adquiriu cerca de 111.000 quilómetros quadrados na costa ocidental de África, para que os ex-escravos negros que quisessem poderem fundar aí um novo país. Em 1847 a nova nação tornou-se totalmente independente e passou a denominar-se Libéria. Sem querer entrar em pormenores históricos como seja que foi o primeiro país independente de África e que não foi vítima da colonização europeia, salto para a época actual para dizer que, apesar das riquezas naturais e das centenas de navios que utilizam a sua bandeira (as chamadas bandeiras de conveniência) é um dos países mais miseráveis do mundo.
Em 1949, cinco anos após o termo da Segunda Guerra Mundial, foi fundado na Palestina o estado de Israel como uma espécie de compensação pelo extermínio de seis milhões de judeus pelos “civilizados” alemães.
Raça sempre perseguida durante milénios, mas que se considerou sempre o “povo eleito” do seu Deus, a meu ver o cúmulo do optimismo, mas que conseguiu manter sempre uma grande união graças à sua cultura e crença religiosa.
Atacado várias vezes pelos países árabes, Israel soube sempre resistir com uma resposta que reforça a teoria da sobrevivência dos mais aptos, ao mesmo tempo que transformava a aridez do seu território num autêntico pomar. Não é por acaso (será eugenia?) que aquele povo foi sempre considerado como “fazedor” de dinheiro. Até nos seus nomes avultam apelidos como Goldberg que significa monte de ouro! Para além do ódio paranoico que Hitler nutria pelos Judeus, o facto é que grande parte da economia alemã estava nas mãos deles. A frase “não faças judiarias” tem nesse motivo uma origem centenária.
Ao contrário destes, os pretos ou negros revelam-se incapazes de progredir sozinhos. Depois de colonizados pelos brancos, colonizam-se a si próprios sob a pata daqueles que, tal como os brancos, têm “o esperto nos cabeça”.
Veja-se o que se passou no Zimbabué quando os fazendeiros brancos foram expulsos das suas terras pelo presidente Mugabe. Um território (antiga Rodésia) que era praticamente auto-suficiente, caiu como todas as ex-colónias na inflação galopante, na pobreza e na imundice que proporcionaram o reaparecimento de doenças consideradas erradicadas de vez. É claro que a expulsão dos brancos não foi uma atitude racista; porém se tivesse sido ao contrário, caía o Carmo e a Trindade como se costuma dizer! Quem estiver interessado veja o documentário no youtube intitulado “ser negro em Angola” e a reportagem do New York Times a que já me referi num artigo anterior.
Se a muita gente incomoda aquele quadro que não tem fim de crianças de ventre inchado e que nem sacodem as moscas, à espera que apareça um médico branco para as ajudar, confesso que hoje já não me aflige. Afinal, e como escreveu Fernando Pessoa “...tudo o mais é ter fome e não ter que vestir, mas mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece...”

Nota: sobre a eugenia escreverei mais um artigo que espero seja o último que versará este tema. Falarei sobre a “soberba Europa” que também tem muito que contar.

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