COM PRETO OU SEM PRETO...
Esta que vou contar passou-se nos já longínquos anos 60 do século passado. Portugal concorria aos “Festivais Eurovisão da Canção”, que viriam a tornar-se na palhaçada que é, e por mais que os nossos melodistas* se aprimorassem, ficava sempre nos últimos lugares. A história era sempre a mesma: dávamos cinco pontos à Espanha e esta, amavelmente, devolvia-nos.
Ora aconteceu que, em 1967, o vencedor caseiro foi um preto de seu nome Eduardo Nascimento. Nada melhor para mostrar ao mundo o Portugal pluri-continental do que enviar à final em Viena um cantor daquela raça. Coincidências!
Por essa altura eu encontrava-me em Nova Caipemba (norte de Angola) a cumprir o serviço militar integrado numa companhia de doidos que, a começar pelo capitão miliciano, estava-se nas tintas para a guerra. Tudo isto está escrito na edição privada do meu livro intitulado “A Minha Ida à Guerra Colonial”. Mas, adiante.
Apesar de em Angola não haver televisão, soube pela rádio que Portugal voltara a ficar entre os últimos países. Por outro lado, quando ouvi a cançoneta, intitulada “O Vento Mudou”, não pude deixar de rir com a discrepância de acentuação rítmica entre a música e a letra. “Oiçam, oiçam”, berrava o pobre do cantor acentuando a última sílaba como se aquela forma do verbo ouvir fosse uma palavra aguda! Tudo isto deu origem a um poema satírico que, à boa maneira portuguesa, gozava com a nossa fraca classificação.
Tenho pena de não o ter fixado, apesar de me recordar de tantas anedotas políticas que publiquei neste blogue como os leitores sabem. Só me recordo do final que era assim: “com preto ou sem preto, ninguém grama a gente”.
Mas, a que propósito vem toda esta lenga-lenga? Muito simplesmente pelo “caso Rui Pinto”. Ficámos a saber que quem denuncia toda a canalha que reina entre os políticos, futebol e outros ladrões que andam a roubar Portugal desde o 25 de Abril**, é que vai ser julgado porque, pasme-se, utilizou meios ilícitos. Então porque é que permitem os agentes infiltrados? E se um cidadão ao olhar para as janelas de um prédio frontal ao seu e assistir a um crime, também será julgado por estar a invadir a privacidade alheia? Encantador “estado de direito”, como apregoam aos sete ventos estes políticos de merda. Assim, com preto (actualmente preta) ou sem preto, a Justiça não funciona!
* Utilizo a palavra melodista e não compositor porque a maioria dos chamados compositores ligeiros pouco mais fazem do que inventar uma melodia (que até pode ser muito bela) deixando para outros o complexo trabalho de harmonizar e orquestrar.
** Se tiverem paciência procurem no “youtube” o debate com o jornalista José Gomes Ferreira intitulado “andam a roubar Portugal desde o 25 de Abril”.
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