17/12/2013

SOCORRO!

SOCORRO!
QUEM NOS SALVA DOS ECONOMISTAS?

Esta noite tive um pesadelo. Vi a troika na sua verdadeira acepção da palavra, isto é, o carro russo montado sobre esquis puxado por três cavalos. Mas, estes, para além de serem homens, não emparelhavam bem no que respeito ao aspecto físico. Um, alto e careca, tinha um ar patibular, outro a cor típica dos monhés e, o terceiro um pouco rechonchudo de estatura média. Em comum, e em vez de arreios, tinham pastas de cabedal recheadas de papeis referentes a acções, obrigações, títulos, empréstimos, câmbios, juros, tesouro, produto interno bruto, IVA (Imposto Validador das Aldrabices), IRS, IRC e todas essas trapalhadas que os economistas inventaram para complicar a vida dos outros, e entreterem-se a calcular se são precisas meia ou uma dúzia de galinhas para valerem um porco. E, o mais curioso é que raramente estão de acordo uns com os outros, o que faz com que nenhum resolve algo que se veja. Até os que ganharam o Prémio Nobel! (Quanto ao povo, ora o povo. Deus ajuda quem tem fé!)
Por seu lado, o carro estava atascado de políticos, deputados, corruptos, ladrões, militares do exército, trabalhadores com falsa baixa médica, trabalhadores em greve por “dá cá aquela palha”,  dirigentes sindicais, cronistas sociais, traficantes e todos os outros parasitas da sociedade amontoados num delirante bacanal ritmicamente marcado por guizos pendurados nas pastas e pescoços dos três tipos que puxavam aquela carripana de perdição. 
Atrás, com ar submisso de bom aluno e mão estendida, implorava, o nosso venerando, sábio e excelentíssimo Presidente da República, com a sua característica voz de asmático agora tão cavernosa que até metia dó.
Mas, para completar este cortejo dantesco, numa massa impossível de descrever, seguia a arraia-miúda de lusitanidade nascida ou malparida, agitando-se numa confusão de ritmos de fado, fandango e, principalmente, de chulas. À sua frente marchava, solene e altaneiro, um chefe. Mas, não era a espada de D. Afonso Henriques que ele empunhava. Autêntica cópia da figura do Zé-Povinho, tal como Rafael Bordado Pinheiro criou, fazia aquele gesto tão gracioso que, por vezes, provoca mais efeito do que as mãos postas em frente da estátua da chamada Virgem Maria que, passados quase dois mil anos, ressuscitou e apareceu em Fátima num tipo de nuvem desconhecido dos meteorologistas. As suas emanações pestíferas mataram uma pobre azinheira mas, em compensação, continuam a fazer entrar muito dinheiro que, despois de analisado pelos economistas, os políticos distribuem com a sua costumada imparcialidade.
E, todo aquele abençoado povo, descendente de santos e heróis, para não destoar dos puxadores da troika, arrastava consigo barris que, em vez de carrascão, estavam também cheios de papeis. Estes, porém, tinham nomes diferentes, tais como, dívida soberana, dívida pública, dívida externa, dívida bancária, dívida à farmácia, dívida à mercearia, dívida ao chulo, enfim, dívidas de todos os tipos e para todos os gostos.
Entretanto, a minha bexiga a abarrotar da santa e omnipresente cerveja, deu sinal de alarme. Mal-humorado por ter de sair do quentinho, e, depois de cumprida a missão de aliviar aquele órgão do seu conteúdo exagerado, voltei a deitar-me. Pus-me de barriga para cima, posição em que costumo entrar nas minhas meditações metafísicas, e a música das finanças começa a martelar-me, de novo a cabeça, desta vez acordado: acções, obrigações, juros, tesouro, dívida pública, dívida soberana, dívida externa, produto interno bruto, etc. etc.
Enquanto isto soava dentro da minha pobre cabeça, comecei a sentir uns estranhos formigueiros pelo corpo. As coisas começaram a baralhar-se mais até que me fixei no chamado produto interno bruto.  A brutalidade deste termo, obrigou-me a por instintivamente a mão numa zona delicada do corpo, como que para a proteger. Sem perceber porquê, lembrei-me ao mesmo tempo do gesto do Zé-Povinho!
Perto do delírio comecei a ver notas de banco a voar, o chamado papel-moeda. Mas, se é papel, não pode ser moeda, pensei. E, se pode, porque não há de haver moeda-papel?
E o ouro, esse elemento metálico que tem mais valor do que os outros, embora haja muitos mais raros! Com as “injeções” de Mandela que os telejornais, lembrei-me que a África do Sul está cheia dele, mas está longe de ser um país rico. Pela minha parte prefiro uma boa feijoada, já que o ouro deve ser muito indigesto. E até perde alguma graça pelo facto de não provocar gases. Por outro lado os países árabes estão ricos graças ao petróleo, crude, brent, ouro negro ou como lhe quiserem chamar. Pelo menos, em termos do número de nomes, vale mais que o ouro amarelo, embora também deva ser terrivelmente indigesto.
Tentei acalmar-me mas não consegui, pelo que resolvi tomar um ansiolítico. Mas, enquanto não fazia efeito, apeteceu-me gritar: acções, obrigações, títulos, câmbios, juros, empréstimos, dívida pública, dívida soberana, divida isto ou aquilo, cifrões, milhões, biliões de cifrões, o Produto Interno Bruto e…aaaa!!! Tive de correr para a casa de banho, e, com uma tremenda explosão, livrei-me daquele famigerado produto! Nem queria acreditar, mas era verdade!
Muito mais aliviado, voltei para o “quentinho” e deitei-me de barriga para baixo como é meu hábito.  Afinal é melhor pensar que tudo isto não passou de um disparatado pesadelo num mundo disparatado, originado pelas lavagens ao cérebro que são os malditos telejornais. Vou deixar de os ver porque a paciência tem limites. É uma utopia, bem sei, mas o melhor é pensar e sonhar que a realidade é outra.
Para mim, e dentro do possível, é muito mais interessante e aprazível saber quando chega a Primavera!




20/11/2013

ARMAS QUÍMICAS!

ONDE ESTÁ O PROBLEMA?


Este artigo vai ser curto por dois motivos: primeiro, porque estou a escrever “A minha ida à guerra colonial”, o que vai levar longos meses; segundo, porque já me referi a assuntos semelhantes no artigo “SERÁ QUE NO SÉCULO XX SÓ HOUVE UM HOLOCAUSTO?”. 
A histeria que se está a criar sobre o uso de armas químicas na Síria é tão hipócrita que poderia ocupar páginas e páginas numa repetição de acontecimentos que toda a gente conhece, e que seria tão fastidioso como inútil.
Assim, e como inútil que é, será apenas como um desabafo de quem há muito não entende este mundo.

Mas depois de muito rir (sim, rir!) sobre este assunto, e como já considerava a estupidez e a crendice humanas como as únicas coisas passíveis de serem maiores do que o Universo, resolvi formar uma trilogia juntando-lhes a HIPOCRISIA!

Que horror! Gasear as pessoas como os Alemães fizeram na Primeira Guerra Mundial? Nem pensar! Por isso, tal tipo de armas foi proibido. Não é suficiente a quantidade de produtos químicos que os exércitos utilizam na arte de matar, como o napalm, as minas, os desfolhantes, a pólvora, etc. etc.? Não chegam estes? Claro que sim, até porque sob certos aspectos os seus efeitos são muito mais requintados, provocando esgares e gritos de dor e não de alucinados. O que vale é que Deus, Alá, Xiva, e todos os seus ‘comparsas’ são grandes…

E, a propósito disto e para terminar, não resisto a transcrever um excerto do livro de Norman Dixon, “A Psicologia da Incompetência dos Militares”:
- «O serviço militar trás consigo muitas privações. A boa comida, o lar, o conforto, a segurança, a vida em família são sacrificados à luta contra um inimigo para o qual muitos dos combatentes sentem pouca animosidade. É dentro deste contexto que eles são obrigados a violar o Quinto Mandamento. Se obedecerem a este comportamento não-cristão, serão recompensados; se desobedecerem, serão punidos. Cabe aos capelães tentar a reconciliação. A sua função será tranquilizar o rebanho militar, dizendo-lhes que, estando Deus do seu lado, é possível ignorar o Quinto Mandamento enquanto dura a guerra. Como conseguem eles reconciliar isto com a consciência que terão de que, muito provavelmente, os soldados inimigos estarão a ouvir o mesmo discurso dos seus capelães, continua a ser um dos mistérios da mentalidade eclesiástica.»

E da minha, também. Por isso, e pedindo muita desculpa, grito: "porra, porra e mais porra, até nas profundezas do Inferno”. Mas, como João Paulo II acabou com ele, apesar de ser uma obra de Deus, transfiro a minha raiva para o Céu - se é que algum futuro papa não vai proceder também à sua extinção. Até acho que seria uma boa ideia, porque São Pedro já não sabe o que fazer com os milhões e milhões de desalojados que agora batem, cheios de frio, à porta do Céu!

24/10/2013

O CURIOSO MUNDO DOS TUBOS DE ESCAPE HUMANOS

Resultado de um estudo aprofundado sobre as emanações gasosas do tubo de escape dos seres humanos, vulgarmente designado por ânus ou cu, conforme o seu estatuto social.
Este estudo fundamentou-se numa análise superficial, mas verdadeira, realizada pelo meu prezado amigo J.P.B., perito neste tema devido ao seu rubicundo traseiro, que é um manancial de emanações pestífero-gasosas. Obviamente, tal tubo de escape é também pertença de todas as criaturas de Deus, e tem como objectivo expulsar os resíduos do que comem.
Segundo ele, e após um longo e cansativo trabalho de observação, mesmo enquanto descansava das suas lides culinárias e as digeria com evidente satisfação, as  ventosidades anais classificam-se em 3 grupos e 2 subgrupos, a saber:

1º TRAQUE
2º PEIDO
3º BUFA
Por sua vez, esta última subdivide-se em dois tipos:

1º BUFA VOLÁTIL  
2º BUFA MAGNÉTICA

Ao tomar conhecimento desta classificação, de inegável interesse científico, fiquei interessado em investigar mais e, como sempre me interessei pelas Ciências Físico-Químicas e possuir alguma veia poética, sempre necessária quando se investiga temas tão delicados e pungentes como este, atirei-me ao exaustivo trabalho de fazer umas análises sobre o assunto, embora com a modéstia suficiente para não pretender a candidatura ao Prémio Nobel. Assim, e depois de muitas observações em que tive de aplicar toda a sensibilidade do meu nariz, dos ouvidos, e até dos olhos, cheguei às seguintes conclusões:

Conceito geral:

Todas as ventosidades anais são o resultado de reacções bioquímicas provocadas por bactérias, que quando trabalham mal ou fazem greve (também têm direito a isso), desencadeiam autênticos tornados intestinais, constituídos por gases repletos de miasmas corrompidos pela má digestão da paparoca ingerida pelo buraco antípoda do ânus, a que se dá a designação de boca. Esta, como é sabido, tem uma língua que não só ajuda a deglutição, como intervêm na fala e ainda serve para lamber coisas como as convexidades de um gelado ou as concavidades mornas e húmidas de certas fissuras mais ou menos saborosas.
Como primeiro resultado da produção gasosa, temos a dilatação da cavidade abdominal que se transforma numa espécie de bombo que rufa com diversos timbres e intensidades, numa sucessão de compassos diferentes que, sem ofensa a esses geniais compositores que tanto admiro, fazem-me lembrar os ritmos de Stravinsky ou as harmonias de Prokofiev.
Esses miasmas corrompidos pela fermentação da caca, passeiam em voluptuosas ondas no intestino grosso, facilmente sensíveis no ventre do possuidor e nos dedos do apalpador. Este último, se tiver uma certa intuição musical, conseguirá até extrair alguns sons que poderá aproveitar para uma futura sinfonia, se carregar em diversos pontos do abdómen e com níveis de pressão diferentes, tal como num piano.
Às vezes, tal como donzelas púdicas, vão fugindo à apalpação, o que provoca doces melodias como que emitidas por fagotes dentro de uma caverna cheia de diarreia.
Mas, como nada nem ninguém gosta de estar preso, o momento culminante, e por vezes dramático, aproxima-se: as ventosidades, até aí vogando num grande espaço, vão ser obrigadas a passar pelo apertado buraco do tubo de escape, o tal designado por ânus ou cu. De notar que o referido tubo não possui a característica panela de escape dos automóveis para reduzir a intensidade dos ruídos que vão acompanhar o autêntico furacão de miasmas fedorentos que se aproxima, capaz de fazer fugir um furão, no caso de se tratar de uma bufa.
Chega assim o grande momento: a largada com a consequente emoção do que virá a sair. Conforme a pressão interna, variável segundo as reacções bio-químicas ocorridas, ou sai traque, peido ou bufa numa das suas divisões, pertencentes ao domínio da Física, e que serão explicadas a seguir.
Consideremos, então, os possíveis efeitos que cada um dos três tipos irá provocar:

1º O TRAQUE.

Possuidor da maior intensidade sonora do grupo, e preenchendo vários graus da escala musical cromática, a nota produzida tende sempre para uma tessitura aguda, com valor metronométrico geralmente muito curto. Possui, também, a subtil propriedade de subir ou descer na escala musical, raramente mantendo a mesma nota.
Por sua vez é muito pobre de odor, que pode até ser nulo, mas provoca uma grande inquietação na pessoa que o imite quando está acompanhada. Assim, se está sentada, obriga as nádegas a uma dança sincopada, tentando demonstrar, inutilmente, que foi a cadeira que rangeu, já que o seu pudico cu jamais emitiria tão incomodativo sinal de alerta.
Se está de pé, é com os sapatos que dança, o que é mais natural, tentando a obtenção do mesmo efeito mediante uns passos da antiga dança chamada raspa.

2º O PEIDO.

Segundo na escala natural das ventosidades anais, o peido revela-se como um ente mais discreto no que respeita à acústica, mas revela um odor muito característico. Como sempre a mãe Natureza não desperdiça energias. Assim, quando ultrapassa a saída do tubo de escape, provoca uma estranha vibração entre as nádegas, semelhante à nota mais grave de um contra-fagote, e que obriga a pessoa que a emite, a uma ligeira mudança de posição se está sentada. Porém, se está acompanhada por pessoas que não sejam muito íntimas, cora um pouco e tenta disfarçar, atirando com a velha desculpa de que os esgotos não estão a funcionar em perfeitas condições. (para si própria sabe, evidentemente, que se trata do seu esgoto) e, se tem a sorte de estar presente um cão, é óbvio que as culpas vão logo para o inocente animal que, no mínimo, será classificado de “inconveniente”. De qualquer modo o peidorreiro fica inquieto, e, se percebe pelos movimentos e ruídos internos do baixo-ventre que outro peido luta pela liberdade, o melhor que tem a fazer é ir soltá-lo na casa de banho. Mas antes tem o cuidado de informar que está com uma pequena indisposição, e solicita que suspendam a conversa até voltar. Amaldiçoando o inoportuno peido, mas aliviado de o ter parido sem afectar os nervos olfactivos dos outros, retoma a conversa antes iniciada, assumindo um ar de que nada de anormal se passou.

3º A BUFA

No que respeita ao odor, é a mais espectacular, fantástica, conspícua, aterradora,  
avassaladora, dramática, agressiva, acutilante, e mais todos os adjectivos do género que se possam aplicar a semelhante fenómeno. Na verdade, tudo que se possa dizer fica muito aquém das pestilências emitidas pelos miasmas super fermentados que fluem, algumas vezes, na forma líquida, emitindo, neste caso, um ruído semelhante ao vapor de água fervente saindo do bico de uma chaleira.
Mas, e isto é que interessa, façamos a análise da sua física gasosa e, principalmente, os efeitos produzidos numa sala onde, para além do bufador, se encontram outras pessoas, um cão, um gato, plantas e moscas.
Tudo começa com um estranho calor que aflora as bordas do cu, provocando no peidorreiro a necessidade de levantar uma das nádegas. Tenta apertar a ventosidade que se aproxima com desesperadas contracções dos esfíncteres anais, o que provoca uma dança de cu, muito diferente da erótica dança do ventre, como se tivesse uma almofada eléctrica por debaixo das nádegas. Mas a bufa é dinamicamente muito mais forte e, assim, abrindo as goelas que a mantinha presa, eis o monstro que sai, subrepticiamente, produzindo apenas um delicadíssimo e suave suspiro, que se transmite à boca como um eco de alívio e o pensamento de: já está!
Depois, tudo parece calmo como os momentos que precedem um furacão. Mas, passados poucos segundos ela aí está, Sua Majestade a BUFA, rainha dos ares pestilenciais e de todos os esgotos do Universo.
A primeira reacção das suas vítimas quando aquela manifestação gasosa invade as fossas nasais, é a palidez. Depois o ar torna-se amarelo e a seguir verde, misturando-se em matizes azul-acinzentados, como os gases pestíferos emanados pelos milhares de cadáveres putrefactos que descem as barrentas e lodosas águas do rio Ganges. Por sua vez o cão começa por farejar o monstro, mas logo a cauda recolhe-se entre as patas traseiras e, com olhos humildes, tenta explicar que não foi ele! Seria incapaz de fazer semelhante coisa! E, no cúmulo do desespero, desata a uivar com uma intensidade capaz de ser ouvido pelos seus ascendentes lobos na Serra da Estrela.
E às plantas, o que é que lhes acontece? Privadas quase instantaneamente de clorofila, as folhas amarelecem e pendem exangues ao longo do caule, perguntando às suas flores já murchas, porque raio a sua semente não foi germinar em cima de um cagalhão deixado por algum herbívoro. Teriam adubo grátis e do melhor.
Quanto às moscas, esperneiam aflitas no solo, amaldiçoando o inventor de semelhante insecticida. Ao menos com os outros, produto da crueldade humana, morrem perfumadas. Sempre é um pouco melhor!
E, a terminar, façamos uma rápida análise das duas variedades com que Sua Majestade a BUFA se pode manifestar, e que são mais destrinçáveis quando andamos na rua.

a) BUFA VOLÁTIL:

Trata-se da bufa que nos larga rapidamente conforme vamos andando, deixando para os que vêm atrás a horrenda tortura de a suportar.


b) BUFA MAGNÉTICA:

Muito territorial e amante do seu produtor, esta variedade persegue-nos durante um certo tempo, num adeus triste e apaixonado, mesmo que estuguemos o passo e sacudamos as saias ou as calças. Os nossos pensamentos baralham-se, e clamam: 'mas porque é que esta gaja não me larga?'

E são estas as conclusões a que cheguei após o doloroso, mas apaixonado, estudo científico a que dediquei muitas noites perdidas, atascado de feijões, favas e outros explosivos legumes, regados com a indispensável e gasosa cerveja.
                                                                               
Nota final:
Tendo comido, depois do referido estudo, um desses característicos queijos da Beira Baixa, tão saborosos como fedorentos, cheguei à conclusão que o seu odor se mistura numa mescla grandiosa de perfumes nauseabundos, capazes de fazer disparar os disjuntores da instalação eléctrica. Felizmente, quando os emiti, tratou-se de peidos e não de bufas. Neste último caso teria sido a hecatombe universal!
Por isso, sugiro à Comunidade Europeia que recomende a colocação nas embalagens do citado queijo o seguinte aviso: «COMA, MAS NÃO PEIDE!»
Mas, por outro lado, esta recomendação poderia provocar incómodos patológicos nos cumpridores, já que, como dizia a minha avó e confirmava a minha tia, 'um peido bem tirado é porco, mas alivia!' Que fazer, então? Não sei! Os políticos, senhores do mundo, que resolvam.
Assim, neste mundo de trampa, e democraticamente falando, digo: cada qual que se desenrasque e não chateie os esfíncteres anais com esforços inúteis. Os outros que se lixem porque, no fim de contas, as ventosidades anais deveriam ser Património Imaterial da Humanidade. Problema para ser resolvido pela UNESCO.
                                          …………………………

Este estudo foi realizado por João Daniel Maia Saturnino no ano da Graça do Senhor de 2010, ao qual agradece o “engenho e arte” com que foi bafejado pelo seu Criador. No fim de contas foi Ele que tudo criou, não tendo olvidado, na sua infinita sabedoria, a importância que tiveram, têm e terão até à eternidade, as tão mal amadas, mas também famosas VENTOSIDADES ANAIS.

AMEN.

Amadora, 21 de Outubro de 2010.

                                                    Visto da

                                SANTA E GERAL INQUISIÇÃO.

                                                Nihil obsta

                                           (IMPRIMATUR)


24/08/2013

O FEÉRICO MUNDO DOS “POPóS”

Prosa satírico/realista escrita depois de mais uma leitura dos poemas ‘Manucure’ e ‘Apoteose’ de Mário de Sá-Carneiro. Peço desculpa à sua memória e a todos os admiradores do grande Poeta, por algum eventual plágio.

Nunca senti o chamado prazer da condução. Para mim trata-se de um autêntico frete, que reconheço tratar-se de uma excepção. Mas, como útil que é, também tenho automóvel, embora o considere meu escravo e não o inverso. Tanto se me dá que esteja à chuva como ao sol. Quero-o simplesmente obediente e que não me atazane a vida com avarias.
Porém, o meu gosto pela mecânica levou-me, muito cedo, a conhecer o funcionamento dessas máquinas. Mas, foi no norte de Angola, quando cumpria o chamado serviço militar obrigatório que, utilizando a teoria, conduzi por curiosidade um camião e comecei a fazer alguns “passeios” de jipe até às fazendas vizinhas pelas picadas existentes naquelas inóspitas paragens. Como é óbvio não havia polícia de trânsito (os polícias éramos nós) e o comandante da companhia, um capitão miliciano que declarava, corajosamente que “se estava nas tintas para a puta da guerra”, tal como todos nós, não se incomodava com os meus talentos automobilísticos sem carta de condução. O que era preciso era esperar que os dias passassem depressa, para mandar a África, Angola e a guerra para longe das nossas 'cacimbadas' cabeças.

Foi só depois do regresso à “Metrópole”, como o Governo e os seus lacaios militares da época “aconselhavam” que se designasse Portugal continental, que o meu pai quase me obrigou a tirar a carta de condução. Foi em Janeiro de 1969. A experiência adquirida com o camião e o jipe, permitiram-me tirar a carta em dez lições e fazer exame num “carocha” de três velocidades. Aliás, o examinador não me deixou passar da segunda e, após duas voltas a esse monumento à crueldade que é a praça de touros do Campo Pequeno, fiquei aprovado. E lá veio a prenda: um ‘Hilmann Himp’ oferecido pelo meu pai que, passado o primeiro entusiasmo, passou a ficar à porta de casa enquanto ia e vinha de transporte público para a Emissora Nacional para a qual tinha entrado meses antes.

Hoje, passados quase quarenta e cinco anos, e quando conduzo apenas o necessário graças à situação de reformado, sinto-me como um operário (agora diz-se trabalhador) numa linha de montagem. Em vez de enfiar parafusos em porcas, numa sucessão de cópulas intermináveis, acelero, travo, piso a embraiagem enquanto meto mudanças e olho para os rotineiros semáforos nas suas vetustas cores, na sua ordem sempre igual por causa dos daltónicos, embora haja quem não seja do Sporting ou do Benfica, e continua em frente, pensando que os que ficaram para trás não passam de uns pobre idiotas cumpridores do código da estrada.

E continuo guiando, desejoso de chegar ao destino e descansar do frete, como aquele que se faz à velhota do lado que, com todo o direito, precisa de assistência social, e julga ter ainda um corpo atraente graças a uma dúzia de operações plásticas que realizou, e lhe permitem ter as mamas plastificadas e a pele repuxada em todos os sítios devido à arte que os cirurgiões plásticos possuem, em alguns aspectos parecida com a dos fabricantes de enchidos. É claro que isto é só para as velhas ricas, como uma tal 'Lili das Canecas', que gostam de exibir os remendos nas revistas dedicadas a esse tipo de gente e a outras falsas celebridades. 

Entretanto, os meus olhos rodopiam olhando o exótico mundo que me rodeia. Reparo num já raro condutor de chapéu, e recordo o conselho do meu pai, depois repetido pelo instrutor das dez lições: "cuidado com os condutores de chapéu; e, quanto aos de boné, fuja deles".
Esquecendo esses já raros espécimes, até porque “é dos carecas de que elas gostam mais”, presto atenção ao carro da frente, normalmente conduzido por uma mulher (perdoem-me este antiquado machismo), que trava por tudo e por nada, ou desce uma rampa sempre com o pé no travão. Talvez seja accionista dos fabricantes de pastilhas de travagem ou ignore, o que é mais provável apesar das múltiplas lições a que hoje os condutores são sujeitos, a função inversa das caixas de velocidades. Seja como for, consegue dar cabo dos nervos de quem vai atrás, que não sabe se travou por emergência ou porque tem um tique nervoso na perna direita, que produz um bailado descompassado no respectivo pé.
Mais à frente, uma fumarada negra invade os meus pulmões e reduz o horizonte que os meus olhos ávidos de espaço procuram. São os restos de um automóvel, outrora o encanto do primeiro dono, que ainda consegue andar poluindo tudo e todos, embora aprovado na inspecção e passando nas barbas da Polícia de Trânsito que finge ignorar a poluição, como ignora, aliás, o barulho dos escapes propositadamente rotos, a que se junta a barulheira da maioria dos motoqueiros. Alguns desses condutores, não satisfeitos com o ruído produzido pela cloaca do motor, ainda acrescentam um infernal “pum-tchim-pum”ou “pum-pum-pum” continuamente repetidos, para afirmar a sua “personalidade” e mostrar que “gosta” de música. É o inato exibicionismo humano. 
E lá vai ele, ultrapassando tudo e todos em manobras arriscadas, contente de ter nascido apenas para possuir a máquina dos seus sonhos e mostrar, pelo menos nesse campo, que é um génio. 

Mas não é só nos carros velhos que se revela esta faceta da mentalidade humana. Naqueles, normalmente vai um pobre diabo cuja única ambição na vida foi ter um automóvel com uma ruidosa aparelhagem e não arranjou dinheiro para mais. Nas carripanas novas topo de gama, muitas vezes adquiridas a crédito por pessoas pouco endinheiradas ou a pronto pagamento pelos novos-ricos que, à custa da política, burlas e corrupção, abundam em Portugal, o que interessa é exibi-las aos vizinhos com vetustas cores ou, o que é melhor, passear ante os basbaques num descapotável com 'frente agressiva' e, de preferência, com uma 'boazona' ao lado. Depois é estacionar a maravilha em frente de uma esplanada, logo a seguir a um sinal de paragem proibida e, enquanto bebe um copo, olhar embevecido para o “popó”, tentando chamar a atenção para o facto de que aquela coisa é dele.

Mas existem também os grandes usuários do vernáculo vicentino. Tudo é motivo para qualquer género de insultos, seja por causa de uma buzinadela ou por um sinal de luzes. Esses são os campeões dos complexos de inferioridade, a que alguns juntam as tradicionais “caralhadas” aliadas à classificação da mãe do outro como trabalhadora da mais velha profissão do mundo. Mais adiante um carro pára e desafia o condutor como um forcado (essa disparatada herança marialva) faz a um touro. E, das duas uma: ou o “touro” é mais forte, quanto mais não seja pelo volume físico, porque os cornos não se vêm, e o primeiro foge, ou dá-se a situação inversa e assistimos a uma cena das simpáticas e cordiais relações humanas. 
Chego, então, a um cruzamento onde, por vezes entre uma multiplicidade de sinais que quase nos faz parar para destrinçar uns dos outros, há um que informa que não tenho prioridade. Porém, da esquerda surge um cidadão cumpridor que, não tendo uma sinalização contrária, provoca a conhecida dança de “ó passas tu ou passo eu”. Isto no caso de ser educado. O mesmo se passa com o sinal “stop”, o mais disparatado sinal de trânsito que existe. “Mesmo no deserto stop é para parar”, mostrava um antigo anúncio. Mas, parar para quê quando, na maior parte das vezes, a visibilidade para os dois lados é total? Qual é a diferença entre o “stop” e o sinal que indica perda de prioridade e quem é que decide entre um e outro? O mais divertido é que é considerado uma infracção muito grave que quase ninguém respeita, incluindo eu. Nem a própria Polícia, posso testemunhar.

Mais adiante chego a um entroncamento e, devido ao respectivo sinal de perda de prioridade, espero que um carro que vem da esquerda passe. Mas ele é conduzido por um egoísta que vira à direita sem fazer o respectivo sinal, o que me permitiria não ficar à espera que sua excelência passasse. 'São feitios', como dizia Raul Solnado. Falta de educação e de civismo, digo eu.
A seguir deparo com outro um cruzamento sem qualquer sinalização, e começa outro tipo de bailado por causa de outro absurdo: a prioridade à direita, patetice existente em Portugal como em quase todos os países, em que a condução se faz pela direita. Senão, analisemos apenas os factos: conduzimos do lado mais afastado da viatura e podemos ter um passageiro ao nosso lado a tirar-nos a visibilidade, e quando surge um carro da direita, este apresenta-se com um ângulo mais pequeno do que os que vêem da esquerda, com a consequente diminuição do ângulo de visão e do tempo de reacção. E ainda outras conclusões lógicas que não vou citar aqui, mas que qualquer simples análise das várias situações consegue demonstrar. Curiosamente, nos países onde se conduz pela esquerda (caso dos ingleses que estão sempre ao contrário do resto do mundo) a prioridade é também da direita. Desta vez até estão certos.

Mas toda esta bizarria desaparece da minha cabeça, quando um festival de luzes desperta os meus olhos, já fatigados de tanta beleza mas cautelosos. É a emoção completa que me faz esquecer o cansaço e o aborrecimento, ao ver os novos popós com desenhos luminosos dos mais diversos feitios, apregoando aos outros condutores criancices do género “o meu é mais bonito que o teu”, ou “o meu parece uma árvore de Natal enquanto o teu se assemelha às estátuas cobertas de crepes na chamada Semana Santa". Ó feéricas luzes que excitam, que embriagam, que resplandecem, rodopiam e começam a faiscar nos meus óculos de lentes progressivas. Como as minhas retinas ficam impressionadas e enviam as suas espectaculares mensagens para os meus neurónios ávidos de beleza.

Mas, agora já é noite e começo a pensar em pôr óculos escuros para não ficar encandeado com os modernos faróis de luz branca azulada que dificultam a admiração provocada pelas traseiras radiantes de luzes vermelhas com os mais diversos desenhos, tornando mais eróticos os rabinhos alçados dos automóveis actuais. E aquela placa horizontal, que mais parece um porta-malas apropriado para transportar os grandes baús que as antigas criadas de servir traziam da província para a capital. Chamam-lhe “ailerons”, como se fossem muito funcionais a velocidades que não podem exceder os 120 quilómetros por hora. Mas imitam os carros da fórmula-1, e isso é que importa. Mas nesses, as tais placas são grandes e móveis, como nos aviões, o que justifica a sua existência.
Mas, olhai senhores, e vejam aqueles conduzem pelo meio da auto-estrada de três faixas, o que até está certo. Nas bermas existem placas que dizem: circule pela direita. Ora, como numa auto-estrada ninguém pode andar em círculos, cada qual pode utilizar a faixa que mais gosta. Por isso, ultrapassa-se pela esquerda ou pela direita, já que eles não saem da faixa central, por mais sinais que lhes façam.
Tudo isto acaba por se tornar num turbilhão onde a fronteira entre normal e psicopata se desmorona. Chego a pensar que sou um pobre idiota por não partilhar tão feérico mundo. Breve começo a falar sozinho, aumentando gradualmente a intensidade da voz: "Ei lá! Olha para aquele carro". É velho mas exibe o tal porta-malas acrescentado e bem levantado que lhe dá, julga ele, toda a segurança necessária para desafiar tudo e todos. "Oh! Cuidado!" Um pouco adiante segue um descapotável com o condutor de óculos escuros afirmando a sua personalidade, aumentada pelo bailado aerodinâmico dos cabelos ao vento da mulher ou da amante que vai a seu lado. Não é preciso ter cabeça. O que é preciso é ter automóvel e afirmá-lo perante a sociedade. 
Mais longe aparece um carro vermelho, outro amarelo gema de ovo, ou ainda um de cor verde de alface cediça. E, também um grande carro de luxo, possivelmente pertencente a um político qualquer, enriquecido pela corrupção e compadrio, ou a um honrado cidadão, coisa que, afinal, ainda existe. Adiante, a pouca distância de um sinal vermelho, um paranóico da velocidade acelera a fundo para logo travar perante o semáforo já pouco antes avistado. Agita-se, enervado, à espera do sinal verde para ser ele o primeiro a arrancar. Deixa traços de pneus queimados no asfalto, mas queixa-se do preço da gasolina, dizendo que é impossível viver assim. Até está certo. Tenta compensar as suas frustrações pela libertação de uma energia cujo preço é superior aos rendimentos que consegue auferir. Que interessa a família? O importante é exibir o automóvel e libertar através dele as energias, as frustrações e os complexos do dia-a-dia. Já que não consegue que lhe ponham umas dúzias de virgens à disposição, usa o pé como substituto.

 Ai! O tipo acabou de bater na erótica traseira do que ia à frente. Pás, catrapás, crac, croc! E começa a trágico-comédia do costume. Mas, que importa? O outro é que é sempre o culpado e a companhia de seguros é que deve resolver o assunto porque, como dizia aquele antigo anúncio (depois proibido): “E agora? Bate-chapas e tintas Robbia…crac”! 
Mas, se entretanto chega a Polícia, a cena torna-se mais demorada, embora plena de beleza. Depois de lerem e relerem as papeladas, palavreado cruzado e perguntas inúteis, os agentes curvam-se para medir, com vetustas fitas métricas, as posições em que ficaram os 'popós'. É o momento solene em que exibem toda a épica majestade dos seus traseiros, em posições iguais às dos Alemães quando perderam a guerra.  

Não tem fim a maravilha!!!

Quase em pânico chego ao destino e tento esquecer e libertar-me daquele mundo louco. Deixo a carripana no primeiro local que encontro, ao sol ou à chuva, sem voltar a olhar para ela, tique que a maioria dos homens tem. 
Ah! Finalmente estou na paz da minha casa, e procuro esquecer todo o apocalipse que me rodeou. Mas não! De súbito, os vidros das janelas vibram por causa de um “pum-tchi-pum” que vem da rua, enquanto os anúncios na televisão apresentam as novas maravilhas no que respeita a popós. Venha ver o novo “cadilata” agora com novo motor que debita muitos cavalos e éguas, de milhares de centímetros cúbicos de cilindrada, computador de bordo, ar condicionado, espremedor de frutas, fornecimento automático de preservativos, pensos higiénicos, sanita para casos urgentes com limpa-ânus e piaçaba eléctricos, máquina de barbear, depilador, vibradores de vários tamanhos e sabores etc. etc... E que até anda, consumindo apenas “n” vírgula nove litros aos cem. Além disto temos ainda alguns extras interessantes que, por uma módica quantia, podem ser adicionados como, por exemplo, um pneu sobresselente para o caso de ter um furo. Visite o nosso concessionário onde poderá adquirir o novo”cadilata” para embasbacar os vizinhos, apenas por noventa e nove mil, novecentos e noventa e nove euros e noventa e nove cêntimos, ou em suaves prestações de uns míseros noves vírgula noventa e nove por mês.
……………………………………………………………………………………………

Depois de umas cervejinhas, deito-me e adormeço após um maior ou menor tempo de leitura. Mas, e talvez por culpa da cerveja, tenho um pesadelo:
Luzes às cores em desenhos feéricos e garridos, rabos alçados, porta-malas vistosos ridiculamente aumentados pelos chamados tunings, cabelos ao vento loiros, pretos, ruivos, azuis e mais cores das tinturarias, carecas luzidias, pum-tchi-puns que nos dão murros no estômago, motoqueiros ruidosos e soberanos da estrada, fumos pretos, cinzentos, brancos perfumando o ar com os odores dos combustíveis....

- Acordo, mas volto a dormir, desta vez acompanhado por um pesadelo pior: 
e a carente vizinha do lado aparece-me com ar sarcástico ameaçando-me com uma espécie de moca, enquanto berra: “O que é que você, tão velho quanto eu, quer? Olhe, sua espécie de castiçal murcho. Comprei isto!”.  E mostra-me um VIBRADOR!!!
…………………………………………………………………………………………….

“Ao ver escoar-se a vida humanamente,
Em suas águas certas eu hesito,
E detenho-me na torrente
Das coisas geniais em que medito”

‘Mário de Sá-Carneiro’

22/07/2013

NOTAS BAIXAS A PORTUGUÊS? O CONTRÁRIO É QUE SERIA DE ADMIRAR!

Já lá vai o tempo em que a RTP, como única estação televisiva, era um exemplo de como falar bem português. Como disse num programa televisivo o meu saudoso colega Artur Agostinho, que conheci quando entrei para a Emissora Nacional, todos éramos obrigados a fazer prova escrita e oral de português, para além das relacionadas com a actividade que iríamos desempenhar.

No meu caso, por exemplo, tive de prestar provas de História da Música, História de Portugal, Organização Política e Administrativa da Nação e Regulamento Interno da Emissora Nacional. Como era candidato a assistente de programas musicais de terceira classe, tive de prestar uma prova prática além da escrita e da oral. E, como 'presunção e água benta cada qual toma a que quer', informo que fiquei classificado em quarto lugar entre cerca de setenta candidatos para sete vagas desse lugar.

Além daquelas provas, havia na chamada “regência de estúdios” um especialista de português, sempre pronto a chamar a atenção e a corrigir qualquer deslize durante as emissões. Eram outros tempos, outras gentes, outra CULTURA.

Ora quando hoje ouvimos os “pontapés” na gramática de muitos dos incontáveis jornalistas que falam (como se fossem locutores profissionais) nos cansativos e repetitivos telejornais, como querem que os jovens saibam um mínimo da sua língua natal? E os textos em “brasileirês” de que a internet está cheia? E as legendagens dos filmes e documentários?
Mas, o pior é que cada um desses senhores fala como quer e não há ninguém que lhes “puxe pelas orelhas”. Grandes imitadores dos Brasileiros, parecem apostados (e isto é só um exemplo) em destruir os verbos reflexos. Apenas um exemplo: fulano reuniu com… e sicrano reuniu-se com… Ora só a segunda frase é que está correcta, já que se trata de um verbo transitivo cuja acção recai sobre o sujeito. No entanto, no mesmo noticiário cada qual diz à sua maneira. Assim, e como qualquer dia também já não saberei ler nem escrever português, não tenho outro remédio senão dar vivas à anarquia que reina na nossa língua e a servidão ao estrangeiro, tão bem expressas na trapalhada que é o chamado acordo ortográfico.

Mas o mais grave é que, sendo a RTP a produtora do programa “Cuidado com a Língua”, são os seus próprios jornalistas que ignoram, propositadamente ou não, os ensinamentos que dele advêm. A este facto já me referi no texto intitulado “Cuidado Com a Língua? Bem Prega Maria Flor…!”, e publicado no dia 5 de Maio de 2010.

Portanto, onde está a admiração por causa das notas baixas obtidas nos últimos exames? O contrário é que seria uma utopia, já que ninguém dá directrizes a entidades que, devido á sua função cultural e social, deviam ser postas na ordem.

E fico por aqui. Como “atual” administrador do prédio onde resido, vou fazer uma “ata” para depois atar às “atas” anteriores.

09/06/2013

MODERNICES LINGUÍSTICAS EM CIMA DA MESA

O “KNOW-HOW” DA “FAST-FOOD” A “LOW-COST”, E OUTRAS MODERNICES LINGUÍSTICAS EM CIMA DA MESA.

(Leia-se: saber como fazer comida rápida a baixo custo e outras modernices linguísticas “on the table”).



Como tenho afirmado noutros artigos deste blogue, os comentários que se seguem não sugerem, de modo algum, que sou contra quaisquer modificações que ocorrem naturalmente em todas as línguas. Estas, como todas as coisas, não são estáticas, senão ainda estaríamos a emitir uivos e guinchos como os primeiros hominídeos. Outrossim é contestar como as línguas evoluem por moda ou por submissão imperialista, como acontece agora, na maioria dos casos, com o inglês. Já aconteceu com o grego, o latim e o francês, e é preciso não esquecer que no antigo bloco de Leste, a língua russa era imposta aos países satélites.

A lista que se segue é fruto do pouco tempo que dedico a ver televisão. No entanto é suficiente para se tornar num suplício ter de ouvir e ler, até à exaustão, a repetição de palavras que quando surgem no nosso vocabulário, parecem ter entrado num aviário de papagaios. (Foi este o tema do meu artigo intitulado “Uma breve história daquilo a que chamo tradutores ignorantes e locutores/papagaios” inserido neste blogue e publicado no dia 10 de Maio de 2009.

E, como presunção e água benta cada qual toma a que quer, chamo a atenção para uma lista de disparates tirados de programas dos canais televisivos, que publiquei a 5 de Junho do mesmo ano. Nessa altura disse que iria continuar a fazer tão aliciante recolha, mas “ostras” plenas de “pérolas” desse género são tantas que perdi a pachorra. Afinal, o principal objectivo deste blogue é, como consta no título, utópico.

Mas, como seguimento dessa lista, vai aqui outra que poderia ser chamada de “modernices linguísticas”, “a subserviência à língua inglesa” ou “a psitacose, doença comum aos papagaios, que também se propaga aos humanos”.

Assim, é comum ouvir-se dizer repetidamente, por vezes até à exaustão, algumas palavras como seguem. Note-se, no entanto, que a maioria destas “modernices” não constituem erros de português, mas sim uma subserviência à língua inglesa, como demonstram as traduções literais, e as mudanças políticas influenciadas por uma certa “esquerda”que rebaixou socialmente o nome de certas profissões, não modificando em nada o trabalho necessário e honesto de cada membro da sociedade em que todos somos precisos.



Bicha – fila (no meio de tantos palavrões que hoje se dizem “à moda do Porto”, bicha é que é feio).

Notável, maravilhoso, grandioso, imponente – dramático (embora aceite pelo dicionário Houaiss, será que soa bem uma frase como “o resultado foi dramático: salvaram-se todos”).

Alcorão – Corão (trata-se de um atentado à influência da língua árabe na cultura peninsular. Quem quiser, procure a historieta que escrevi neste blogue em 1 de Março de 2009).

Ruir, cair, desmoronar, etc. – colapsar (será que os prédios passaram a ter colapsos cardíacos?)



Mãe – progenitora.

Insurrecto – insurgente.

Mortal, mortífero – letal.

Legista – forense.

Serviços secretos – serviços de inteligência (?!)

Hospedeira – assistente de bordo (parece que ser-se hospitaleiro, no sentido de receber bem, está fora de moda).

Montar programas de rádio, etc. – editar (às vezes tenho pena de já não estar na RDP para ter de editar, em vez de montar um programa. Ou será que montar implica complexos a alguns pudicos excêntricos?)

Total, geral – global.

Maciço – massivo (em cinco dicionários da língua portuguesa, não encontrei esta palavra. Talvez naqueles que, entusiástica e “patrioticamente” aderiram a mais um acordo ortográfico).

Comandante de avião, navio, etc. – capitão (quem viaja de avião, alguma vez ouviu dizer: o capitão fulano deseja boas-vindas a bordo?)

Campeonato – liga (e venha a champions).

Conjunto musical – banda (em português, uma banda é basicamente uma orquestra de instrumentos de sopro e percussão).

Criada – empregada doméstica (até parece que servir, todos fazemos ou já fizemos nas diferentes profissões, é uma vergonha).

Folheto ou prospecto que acompanha os medicamentos – bula. (lembro-me de quando a minha mãe pagava bulas à Igreja Católica para podermos comer carne, já não sei a que dias do ano. Isto já depois de três séculos após ter surgido um “herege” chamado Martinho Lutero).

Países em vias desenvolvimento – países emergentes. (estranhos países, principalmente os da África Negra, que apesar das riquezas que possuem, há muitas décadas que não conseguem sair da cepa-torta).

Aviões construídos pela firma canadiana “Bombardier” – Aviões bombardeiros a combater incêndios!!!

Climático, climatológico – climatérico. (que grande confusão entre os fenómenos atmosféricos e femininos. Mesmo depois do professor Anthymio de Azevedo ter criticado este galicismo, a “sapiência” dos chamados media é superior.

Ponto em vez de vírgula a representar números fraccionários – (espero nunca ter de passar por uma ponte em que os engenheiros não distingam, na matemática, um sinal do outro).

E… EM CIMA DA MESA (on the table)! É só ver e ouvir os telejornais. Tudo agora que está em discussão, está em cima da mesa. Até os gravadores de CD ou DVD chamam-se gravadores de mesa!

Ora como em cima de uma mesa pode fazer-se muita coisa, este termo repetido vezes sem conta “no terreno” dos chamados media, já me deu vontade de dar um murro no televisor que, como é óbvio não tem culpa das pessoas estarem a perder

uma das maiores riquezas da língua Portuguesa: a abundância de sinónimos.

Mas, aproveitando o uso e abuso das menções a esta peça de mobiliário, deu-me vontade de enunciar algumas das muitas e utilíssimas funções de tão prático e funcional móvel que o génio do homem inventou, possivelmente após aprofundados estudos de carpintaria e, quem sabe, após longas meditações metafísicas. Eis alguns dos inúmeros usos a que tão simples objecto pode prestar-se:

Comer, jogar cartas, xadrez e outros jogos de mesa, dar murros, escrever, etc. etc. etc. e até fazer amor, mesmo que o tampo seja frio como os de mármore. Com o atrito dos ritmados movimentos causados pelo dito acto, em breve este ficará quente, coisa que, aliás, não preocupa os intervenientes. Afinal, como horizontal que é, a mesa torna-se tão prática como o chão ou uma cama. É possível que haja quem já tenha feito amor (só para reprodução, claro, em cima de um piano de cauda, obtendo assim sonoridades insuspeitadas, numa orquestração que, junta aos suspiros, gritos e outros sons dos actores, fariam inveja a um Rimski-Korsakov, Stravinski ou Ravel.

Mas, para os que preferem a cópula sentada, até um piano vertical pode servir. Neste caso, a posição do que fica por baixo deve estar em cima do teclado com a tampa levantada. Que sons e ritmos espantosos não poderiam ser assim tirados, inspirando alguns génios dos chamados compositores de vanguarda que, como escreveu Sravinski em “Poética da Música”, “estão juramentados perpetuamente a exceder-se a si próprios, pretendendo que a música satisfaça o gosto pela cacofonia absurda”. Afinal, sempre há gostos para tudo, até porque muito poucos têm a coragem de dizer que “o rei vai nu”.

E, mudando de assunto e como tenho umas garrafas de cerveja EM CIMA DA MESA, vou esvaziá-las antes que a morte me surpreenda e seja cumprida a minha última vontade (registada notarialmente) de servir para estudo EM CIMA DA MESA da anatomia. Só tenho pena que entre os estudantes não possa lá estar o “Vasquinho da Anatomia”. Sabem quem foi?



P.S. Já uma vez comentei a mania do “terreno”. Que tal este título que li num dos últimos números jornal “O Correio da Manhã”, que encontrei por acaso EM CIMA DA MESA de um café?

“Polícia Judiciária no terreno (com esta palavra em vermelho!) procura pistas”.





11/04/2013

D. ANÍBAL, “O GRANDE”


D. ANÍBAL, “O GRANDE”,
REI DA BELALÂNDIA

Conto infantil por João Maia-Saturnino
  (Para crianças actuais, obviamente)

Nota: Qualquer semelhança com personagens reais é pura coincidência.

Primeiro capítulo:
O País e o Ministro

Era uma vez um pequeno país chamado Belalândia. O seu nome devia-se à beleza das suas paisagens e à benevolência dos seus habitantes, que se consideravam, muito justamente, como um povo de brandos costumes.
A sua longa História de quase nove séculos, durante os quais os seus navegadores e alguns pedestres percorreram o mundo, era um dos seus maiores orgulhos. No entanto, e talvez por modéstia, tinham a mania de dizer que lá fora (diga-se fora das suas fronteiras) tudo era bom, ao mesmo tempo que, estranhamente, diziam mal de si próprios e da sua terra, apesar de crerem que ela era abençoada por Deus e ter por madrinha a chamada Virgem (?!) Maria. Talvez fosse, para além da referida modéstia, um certa dose de masoquismo.
Também tinha a mania de que falava todas as línguas do mundo, preterindo o seu próprio idioma a favor do francês e, posteriormente, do inglês. Este estranho hábito levava-o muitas vezes a pronunciar a última com um zelo tal, que chegava a atingir palavras de outras línguas que nada tinham a ver com ela.
Mas, adiante. Ninguém é perfeito e os povos também não. Assim, e apesar de guerras, crises, pestes, fomes, terramotos e outras catástrofes acontecidas com a bênção do seu Deus e a cumplicidade da Madrinha, que teve um filho mas tinha o hímen intacto, (o que era a coisa mais importante), o sol dourado, o azul do oceano, e toda uma plêiade de santos e heróis constantes da sua História, a mais bela de todas como se ensinava no regime político anterior àquele em que este conto decorre, continuavam a justificar o nome de Belalândia.
Ora, como todos sabemos, é muito certo o rifão que diz que no melhor tecido pode cair uma nódoa. E, a par dos grandes ladrões de terras do passado (perdão, conquistadores) que criaram um dos maiores impérios mundiais com o pretexto de levar a fé cristã à barbárie, surgiram também uns imbecis capazes de envergonhar todos os chamados grandes do passado.
Entre eles surgiu na história recente da Belalândia um pobre diabo, nascido nas terras mais meridionais do país, que apostou na ideia de um dia vir a ser governante, e se possível fundar uma nova dinastia chamada da “Casa de Bule-e-Queima”, nome do lugarejo onde foi parido por sua mãe, senhora que, segundo consta, era possuidora das mais elevadas virtudes, embora, pelo menos após o parto, não fosse virgem, o que nunca lhe permitiria vir a ser madrinha do país.
Consta que empurrado pelo pai, um vendedor de petróleo refinado para veículos motorizados, achou que o melhor caminho para alcançar tão ambicioso projecto, era tirar um curso de Ciências Económicas e Financeiras. Mesmo que não aprendesse mais nada para além do estritamente necessário, como saber ler, escrever e contar, confiou na máxima de que em terra de cegos quem tem um olho é rei, ou melhor, ser doutor em qualquer matéria fosse como fosse. Até porque na Belalândia, ser-se bacharel ou licenciado abria todas as portas a qualquer cidadão, mesmo que fosse um imbecil.
Assim, lá partiu a caminho de Belaboa, a capital do país, bem instalado numa camioneta, uma vez que os burros quadrúpedes da sua aldeia se recusavam a transportar qualquer burro bípede nas suas costas. Em tudo deve haver um mínimo de respeito e decoro, e aqueles solípedes, apesar do nome que lhes puseram, merecem também o nosso respeito.
Mas, o ambiente da grande cidade, fez-lhe despertar a cobardia que lhe era inata, e  fazia-o esconder-se atrás de um colega para escapar às reprimendas dos mestres, atirando assim com as culpas para os outros. E, tal como os gauleses da aldeia de Astérix, adquiriu a mania que o céu lhe poderia cair em cima da sua obtusa cabeça. Este facto aconteceu quando viu, aterrorizado, que vários monstros voadores passavam sobre a cidade, coisa que não acontecia na sua aldeia, e que fez com que, anos mais tarde, mandasse fechar o espaço aéreo da área da sua residência, não fosse uma daquelas estranhas aves deixar cair um ovo em cima dele. Este facto ofendeu as dezenas de “seguranças” de que sempre se rodeou; então eles não tinham capacidade para dar um chuto num ovo, mesmo que fosse maior do que o de uma avestruz? Mas ele não era homem para se impressionar com protestos e manifestações. Quero, posso e mando era a sua divisa, inspirada pelo medo. Afinal, quem tem rabo também tem medo (de levar umas chicotadas) e, os terrores dele já tinham evoluído para uma autêntica paranóia.
Mas, mesmo os medrosos também têm os seus romances de amor, apesar de o casamento ser uma aventura muitas vezes ingrata, pelo que o povo também lhe chama forca. Assim, o nosso indígena da Bule-e-Queima, meteu temporariamente todas as fobias num saco, e deu o nó com uma prendada senhora chamada Maria, como a maioria das mulheres do país. Enlevados, arranjaram uma moradia e puseram-lhe um nome formado pelas iniciais dos seus nomes. Que romântico! Mas, como escreveu um poeta chamado Fernando Gente, “romantismo sim, mas devagar”. É que o problema surgiu quando a prendada senhora se revelou tanto ou mais megalómana do que o marido, isto é, queria ser a primeira-dama e, se possível, Dª Maria III, esposa de D. Aníbal I “O Grande”, no caso da Belalândia voltar a ser a monarquia que já fora.
Inspirado por sua esposa, conseguiu chegar a ministro das finanças no Governo de um primeiro-ministro chamado Sá Cordeiro, tragicamente desaparecido. Mas, foi sol de pouca dura: pouco tempo depois era corrido como incompetente.
-Ai, Maria! (bufou com a sua voz roufenha). O que vai ser dos nossos belos sonhos de poder. A minha vontade é escavacar a bosta deste pais.
-Não te preocupes, meu amado esposo, afirmou ela com a força esmagadora da sua personalidade de trazer por casa. Não dês cavaco à populaça. Se não serves para ministro, servirás para Chefe do Governo, e só terás, na hierarquia do Estado, duas pessoas acima de ti. Tem calma; lá virá o dia em que serás o mais importante do teu país, e eu subirei a teu lado. Para isso, e para começar, vou passar a dar-te lições de boas maneiras e cultura geral. De modo algum quero voltar a ver-te comer um bolo-rei com a boca aberta, dizer que “Os Belasíadas” têm quatro cantos e que leste “A Utopia” de Tomás Men. Estive a investigar e descobri que Thomas More (e não men) foi um inglês que nasceu no século XV, foi executado por ordem de Henrique VIII e, séculos depois santificado, tornando-se o patrono dos políticos. E tu bem precisas de um patrono, pelo que deves dedicar-lhe as tuas orações. Se, de facto, leste a “A Utopia”, devias saber isto. O outro, Thomas Mann era alemão e foi prémio Nobel da literatura em 1925, e pronuncia-se com se escreve. Estás a ver o que tive de investigar para saber isto? Ai essa falta de cultura! Espero que, ao menos, tenhas aprendido isto e que passes a ler jornais, à falta de melhor. E dizes tu que és um homem que nunca se engana e raramente tem dúvidas!Olha que está a emergir na nossa política um idiota a quem o pai baptisou  Socretino em homenagem a um filósofo que disse “sei apenas uma coisa: é que nada sei”. Cuidado porque ele pode tornar-te a vida negra.
-O quê, Maria, ele disse isso?
-Não foi o português, foi um filósofo grego que esteve cá há pouco tempo a passar férias. Mas, continuemos.Procura, também, corrigir essa horrível pronúncia. Não se diz “purgrama do gurveno”. Até parece que levaste uma purga.
- É um defeito que a minha língua tem desde que nasci.
-Isso sei eu, desde que casei contigo. Não sabes usá-la de maneira nenhuma. Nem a falar nem a comer, entre outras coisas. Portanto, ouve-me e cala-te. Lembra-te, também, que este povo é uma paz de alma. Até fez uma revolução com cravos, o que deixou muita gente encravada. Chegou a altura de aproveitares a situação. E, por hoje, basta. Vamos para a cama para eu te ensinar o que é que os belalandenses têm de fazer para conseguir ter mais filhos. Será que ainda te lembras?

***

Segundo capítulo:
O Primeiro-Ministro

E o tempo passou. Maria foi profeta. Mal informado, ou desiludido com os governantes anteriores, o povo da Belalândia votou no Aníbal de Bule-e-Queima tempos depois de este, medroso como sempre mas oportunista, ter desaparecido da cena política.
E foi eleito Primeiro-Ministro por três vezes, para alegria de uns e tristeza daqueles que viam as tristes figuras que fazia no seu país e no estrangeiro, e olhavam para os seus esgares e ar de idiota, quando aparecia na televisão ou em fotografias nos jornais, muitas vezes tiradas de propósito, nos seus melhores (ou piores) momentos. E, quando ia à praia, mandava afastar os outros banhistas cem metros para cada lado, não fosse alguém perturbar as suas profundas meditações enquanto conduzia o barco do estado, julgava ele, com mão segura. É claro que não tinha culpa; ele era mesmo assim. Mas isto era o menos, comparado com o que estava para vir.
Cumprindo os preceitos que caracterizam os falsos bons alunos, a que juntou a cobardia e a ignorância sobre os debates políticos, aceitou todas as imposições que o clube de países a que pertencia a Belalândia ditou. A troco de dinheiro fácil, mandou abater a frota pesqueira, abandonar a exploração agrícola, destruir a indústria e levar o país a uma dependência quase total do estrangeiro. Além disto criou uma enorme classe de novos-ricos, autorizando alcavalas a quem ganhava mais, como subsídios de gasolina, reformas antecipadas com compra de anos de serviço por meia dúzia de cêntimos, e montes de outros benefícios. Assim, aumentou o fosso entre ricos e pobres, coisa que nem um antigo ditador chamado António Azeitoneira Sal e Azar, que governou o país durante quase quarenta anos, fez. E, apregoava, na sua rude imbecilidade, ser “o homem do leme” ao mesmo tempo que berrava “deixem-me trabalhar”!
Rodeado de ladrões, corruptos e oportunistas, não houve obra cujo orçamento não “derrapasse” do previsto, sem que Aníbal prestasse contas sobre o paradeiro de tanto dinheiro desaparecido, ou mandasse identificar e prender os ladrões.
Finalmente, e após um terceiro (des)governo, perdeu as eleições, o que fez com que desmaiasse durante a tomada de posse do seu sucessor.
Parecia o fim político do “homem do leme”, mas não foi. Sempre cobarde, a perguntas sobre o seu futuro político, respondia que isso era tabu. Mas o plano do casal tinha de ser executado à risca, ou eles não ambicionassem o poder a qualquer preço, mesmo que Aníbal tivesse de se esconder o tempo necessário. Também o seu provincianismo, no mau sentido do termo, obrigou Aníbal a dar razão aos ditados que dizem “nunca peças a quem pediu” e “nunca sirvas a quem serviu”. O que poderia, então, ter como posto mais alto que não fosse o de Presidente da República da Belalândia, e a sua esposa a primeira-dama, já que a monarquia era uma causa perdida?
Assim, concorreu duas vezes a eleições presidenciais, mas em ambas foi derrotado.Voltou, então, aos seus tabus, e desapareceu novamente, esperando por nova oportunidade, que chegou passados dez anos, como vingança sobre a populaça ignorante que o havia renegado.

***

Terceiro capítulo:
O Presidente (1º Mandato)

Nas vésperas da tomada de posse como Presidente da República da Belalândia, em que tentava pôr em ordem os confusos e poucos pensamentos inteligentes que lhe passavam dentro da caixa craniana, pouco superiores aos de um chimpanzé de dois anos, teve de aturar a sua amada esposa que lhe ministrava, mais uma vez, doses maciças de boas maneiras e cultura geral: ó homem, quando voltares a falar em público, lembra-te que no teu anterior reinado tiveste um tipo ligado a essa estúpida coisa chamada cultura, um tal Santa-Ana Popes, que deu bronca quando disse que gostava dos concertos para violino de Xou-Pang.
-Xou quem?
-Xou-Pang, aquele músico chinês do tempo de Mao-Tesão-Dong. E, a propósito de tesão: nas cerimónias oficiais a que terás de presidir, cuida de pôr o nó da gravata direito, mesmo que eu esteja lá para arranjá-lo em frente de toda a gente. E, se voltares a desmaiar, enfio-te uns dentes de alho pelas ventas adentro, para ficares bem teso.
-Ai, Maria! Larga-me a braguilha, pois já não posso aturar os teus sermões.
-Não é só o que está dentro da braguilha, homem. Quero-te todo teso, nem que para isso tenhas de pôr o país no mesmo estado.
-Mas, o país já está todo escavacado, Maria.
-Deixa lá, não foste só tu a fazê-lo. O que é preciso é que agora te portes bem e atires as culpas para os outros, como sempre fizeste. Lembra-te que és o primeiro entre os primeiros. Mas, precisas de mais conselhos. Por exemplo, se um dia fores ver como hoje se ordenham as vacas, não penses que elas estão a sorrir, mas sim a olhar para ti com os cornos apontados em ar de compaixão.
-Mas, Maria, há muitos anos que olho para uma vaca!
-Estás a referir-te a mim, estúpido?
-Não, meu amor. Mas a saudade da minha terra, à qual ordenei que mudassem o nome de Poço de Bule-e-Queima para Fonte de Bule-e Queima, recordou-me  a  Marilú, a vaquinha que o meu pai mungia antes de trocar o leite pela gasolina. É que, na época, havia uma frase que dizia: “tens muito leite”, e que significava ter muita sorte. Mas, apesar da troca de líquidos, o meu pai conseguiu, como sabes, enviar-me para Belaboa, onde me tornei doutor.
-Licenciado, queres dizer.
-Ora. Tu bem sabes que na nossa terra licenciado e doutor é a mesma coisa. Para os segundos inventou-se o título professor doutor, que soa muito melhor. De qualquer modo, também me doutorei e, por isso, sou professor embora não saiba grande coisa de finanças. E hoje sou também doutor honoris causa, como sabes. A propósito: lembras-te daquele escritor chamado José Sal-Amargo a quem deram o Prémio Nobel? O palerma, que nem sabe usar a pontuação naquilo que escreve, disse que quando eu falava era o campeão da banalidade, entre outras cretinices a meu respeito. Pobre idiota. Mas, quando ele morrer, vou vingar-me não indo ao funeral dele. Vais ver como, mesmo depois de morto, vai ficar chateado. Se eu tivesse poder absoluto mandá-lo-ia enterrar na Feialândia.
-Onde fica isso, meu amor?
-Não sei. Mas para um herege que disse que a nossa querida Bíblia é um manual de maus costumes, era uma boa ideia que existisse, já que o Papa Wojtyla acabou com o inferno.
-Cala-te, que é melhor, porque afinal não és lá muito católico. A propósito: quando é que vais à missa?
-Sabes que não gosto de dar nas vistas. Rodeado de seguranças e ter de mandar fechar o espaço aéreo, seria provável que alguém reparasse em mim.
-Então não confias no Deus da Bíblia?
-Confio. Mas, como sou desconfiado, receio que, numa coisa ou outra, o tal Sal-Amargo tenha razão quando disse que esse Deus não é de fiar!
Cala-te, homem. Para pecados já chegam os que tens feito ao teu País. Mas está na altura de escolhermos o fato que vais usar na tomada de posse. É pena não seres militar para ires com a farda coberta de dezenas de fitas com coisinhas de metal penduradas, cordões dourados e tantas outras mariquices de que a tropa tanto gosta. Alguns até as usam no pijama. Mas não te rales. Lembra-te que vais ser o comandante supremo das Forças Armadas, e eu a primeira generala da Belalândia. Vá! Põe-te teso!
-Outra vez, Maria?
-É para teres um ar machista quando passares revista às tropas em parada. Ao menos que seja apenas nessas ocasiões, já que estou farta desses estranhos delinquidos que te dão nas raras vezes que devias portar-te como um homem. Não te esqueças: cabeça erguida olhando aqueles tipos olhos nos olhos. Não quero que faças como um antigo Ministro da Defesa, o Paulito Janelas, que olhava sempre para uma zona mais abaixo.
-Credo mulher, ainda não me passei para o outro lado, embora haja cada vez mais quem faça. Por isso, quando for o Presidente da Belalândia, vou promulgar a lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Esta e muitas outras leis polémicas. E, assim, para a História, ficarei para sempre D. Aníbal “O Grande”. Pena é que, em vez de presidente não possa ser rei mas, apesar disso, confia em mim!
-Rei ou presidente é a mesma coisa. Apesar de não teres sangue azul vamos viver num palácio dos arredores da capital onde fabricam uns pastéis de se lhes tirar o chapéu ou a coroa, conforme a situação. Aliás, com a mania de vir a ser rei já temos o D. Duardos que ostenta, orgulhosamente, aquele espanador das partes íntimas femininas, para além de ter cara de parvo e dificuldades de dicção como tu. Mas deve ser mais culto, o que não é difícil. E lembro-te, mais uma vez, que deves fechar a boca se um dia te apetecer comer em público aqueles famosos pastéis. Também convém que a mantenhas fechada o mais tempo possível, já que quando a abres ou entra mosca ou sai asneira. Lembra-te que da última vez, em vez de asneira, saíram pedaços de bolo-rei. Não queiras que da próxima vez saltem da tua boca migalhas de bolo-presidente.
E chegou o grande dia. D. Aníbal portou-se o melhor que a sua mediocridade permitiu, e agradeceu com os seus esgares usuais as palavras de felicitações que os donos do Poder, como sempre representados pelo clero, políticos, militares e seus lacaios, costumam papaguear tanto para um génio como para um cretino qualquer, o que era o caso. “Dêem-me uma varanda estrategicamente colocada numa grande praça, e colocarei no poder seja quem for”, é uma máxima verdadeira dita por um político de um país da América do Sul chamado Pirum.
Uma vez instalado em tão elevado cargo, não faltaram oportunidades para evidenciar a sua tacanhez bem como a da esposa. Certa vez em que o palácio da terra dos pasteis estava aberto para a populaça poder visitar os aposentos de Sua Excelência, Maria, sempre desejosa de mostrar a subida na hierarquia do país do seu adorado esposo, apontando aos basbaques o gabinete de trabalho, exclamava embevecida: fala aqui a voz da experiência. Referia-se aos muitos anos que Aníbal tivera como primeiro-ministro, o que lhe dera muitos conhecimentos sobre como governar.
Mas, o Presidente dessa época, um bocchechudo com ar impertigado que se julgava dono da democracia após a tal Revolução dos Cravos, embirrava solenemente com ele. Por sua vez, este chamava ao outro "força de bloqueio". Quem diria que, tempos depois, Socretino (o português) havis de provocar a inversão dos papéis. Agora, a tal força era o Aníbal e, enquanto Socretino esbanjava as finanças da Belalândia, mantinha-se calado para mais tarde dizer: eu bem avisei!.
***

Quarto capítulo:
O Presidente (2º Mandato)

E passaram cinco anos, término do seu mandato. Porém, a ambição do casal era muita, como se sabe, o que o levou a recandidatar-se novamente, aproveitando-se da Constituição da Belalândia que permitia dois mandatos consecutivos. A campanha que fez foi hilariante. Acompanhado sempre por sua esposa, tão bem classificada por uma jornalista da TV como o seu GPS, tanto um como outro fizeram as mais tristes e ridículas figuras que, como é óbvio, não conseguiam entender.
Tendo sido reeleito segunda vez, embora com menos votos do que na primeira, coisa que, pelo contrário, não acontecera aos seus três antecessores, isolou-se cada vez mais e, o que foi melhor, procurou não falar muito. Rodeado pelos seus servidores, que por sua vez se serviam das suas limitações, só uma vez por outra aparecia em público, fugindo dos apupos com que era brindado pelo povo.
Lembrando-se de que, quando era primeiro-ministro, tinha sido apupado no estádio de um clube de futebol da capital, o Malfica, fugiu, apavorado, de uma manifestação contra ele organizada por alunos de uma escola que ia visitar.
Chegando a palácio dos pastéis, com os característicos esgares ainda mais acentuados, rosnou (sem ofensa aos cães) para a sua querida esposa: Maria, calcula que um grupo de matulões queria matar-me!
-Credo, meu esposo. Tu não ias apenas visitar uma escola de miúdos?
-Sim, mas cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Por isso ordenei ao motorista a retirada imediata, porque às vezes, as crianças crescem muito depressa. Nunca se sabe o que elas me poderiam fazer. Olha, como já é quase noite, manda apagar todas as luzes do palácio. Tenho sempre medo que alguma coisa nos possa cair sobre a cabeça e é muito chato ter de mandar fechar o espaço aéreo outra vez.
-Ora, não penses mais na aldeia do Astérix. Todos os teus receios são reflexo das fantasias que te meteram na cabeça quando eras criança sobre papões, bruxas, fantasmas, e duendes. Já tens idade para não acreditar nelas e confiar apenas em mim. Repara que quando te dei lições de cultura geral, falei de vaquinhas a sorrir? Não me ligaste nenhuma, e fizeste aquela triste figura na visita que fizeste aos Alhores. Como vês parece que consigo prever o futuro, como aquela gaja chamada Maga que está podre de rica graças à credibilidade das pessoas. E, a propósito de riqueza. Como vamos viver após a tua reforma?
-Ai, Maria, não me lembres isso. Já basta a bronca que dei quando disse que ela mal dava para pagar as despesas quando acabar o tacho que tenho agora. Viste aquela desavergonhada que passou aqui em frente com uma lata na mão a pedir uma esmolinha para nós? E aquela cançoneta que surgiu logo a dizer que vão tirar do buraco um pensionista escavacado? E os comentários e gargalhadas que, e era bom que fosse só isso, provocaram? Será que acabou o respeito a que, tal como à bandeira e ao hino, tenho direito? Começo a pensar que teria feito melhor se tivesse ficado na minha querida terrinha a vender gasolina como o meu pai. Na realidade, não tenho jeito para isto.
-Gasolina e gasóleo, que é mais ordinário. Na verdade, começo a estar arrependida de ter ido atrás dos teus medíocres planos de grandeza. Mais uma vez, prevejo: vais ficar na História do nosso país como uma nódoa, um imbecil, um cretino, um idiota. 
-Então, agora sou tudo isso? E tu também não tens culpas no cartório? Parece que já não te lembras quando, na última campanha eleitoral, me empurraste pelo rabo para um estrado e disseste “gand’Aníbal”. Não me obrigues a zangar. Se tenho medo de todos, de ti não tenho.
-Zangam-se as comadres e descobrem-se as verdades. Afinal, o meu digníssimo esposo, não passa de um medricas. Até, como comandante supremo das Forças Armadas, não conseguiu pôr esses tipos na ordem, e mandar a tropa limpar as matas, colaborar com os bombeiros, ajudar as polícias na protecção do povo, e proibir-lhes as manifestações às quais não têm direito. Até traíste a nossa língua, o belalandês, promulgando um acordo com países estrangeiros. Sabes que mais? Vai à merda!
Esta pacífica conversa foi bruscamente interrompida pelo chefe da casa militar. Como não tinha tido tempo de se fardar completamente, apareceu em cuecas com as medalhas colocadas na dita peça de roupa, exibindo um esquisito bailado em mistura com os penduricalhos naturais, tal era a atrapalhação do pobre lacaio. Mas, apesar da triste figura, não se esqueceu de fazer continência e bater com os calcanhares, como o seu cérebro, programado por anos de caserna, ordenava. Como não estava calçado, sentiu uma dor aguda o que aumentou o berro com que disse: Excelentíssimo e digníssimo Senhor Presidente. Aconteceu uma grande desgraça. Uma ameaça esmagadora, terrível, mortífera, horrível, letal…
-Basta de palavreado. O que foi que aconteceu, guinchou o Aníbal com as nádegas bem apertadas e os habituais esgares na carantonha que se tornara pálida. A tropa revoltou-se e vai matar-me?
-Não é isso, excelência. É bem pior. O Socretino voltou e vai vingar-se de si fazendo comentários na TV pública!
-Aaaaah, exclamou o pobre diabo desmaiando nos braços da sua querida, mas agora odiada, esposa.
E levaram-no para a cama. Deram-lhe uma purga e só não lhe fizeram uma sangria, porque recearam sujar o chão do palácio dos pastéis com o fluido sanguinolento que lhe corria nas veias.
Finalmente, reanimado com água fria despejada sobre a sua inculta cabeça, olhou em volta com ar apático. Jamais conseguiria compreender as tristes figuras que havia feito durante o tempo em que fora poderoso.     
Maria, mais uma vez, foi profeta. O reinado de D. Aníbal, que se julgava grande, acabou mal. Gozado e achincalhado em toda a Belalândia, retirou-se no fim do mandato com a mulher para a sua moradia. Com a idade entrou em delírio e tinha pesadelos horríveis. Via vacas que davam gasolina em vez de leite, julgava estar perante um tribunal da Feialândia acusado de ter sido cúmplice na destruição do seu país, via bebés a ameaçá-lo com biberões e chupetas, ovos a cair do céu, gargalhadas fantasmagóricas daquele que foi o seu povo, choros de todos os corruptos lamentando a sua falta, pedintes com latas a suplicar-lhe uma esmolinha por amor de Deus, mangueiras de bombas de combustível com cornos que diabos lhe enfiavam como clisteres e, horror dos horrores, o Socretino a rir como um possesso com uma forquilha na mão e asas de demónio, a correr atrás dele pronto a dar-lhe uma purga. Enfim, todo um horror de pesadelos que seria inútil e cruel mencionar mais.
Por fim teve um ataque de loucura violenta, mas não foi necessário pôr-lhe um colete-de-forças. Bastou um pequeno pedaço de cordel para o imobilizar, e acabou no chamado País dos Sonhos lançando uma última careta para o céu que, afinal, sempre lhe caiu sobre a cabeça. 
E assim acabou um pobre homem que, incapaz de medir o alcance das suas forças, acabou ridicularizado nos manuais de História que, infelizmente, está cheia deles.
E esta foi mais uma história de contos de fadas que começou com o tradicional “era uma vez”, mas não terminou com o conhecido e estafado “casaram e foram felizes para sempre”. Coisas da vida!          

***
EPÍLOGO MORALISTA

Meus meninos (era assim que se fazia o conceito das histórias no meu tempo). Depois do que lestes, deveis tirar as seguintes lições, tantas vezes badaladas mas raramente cumpridas.
1 - Como foi referido, procura, sempre que a vida o permitir, nunca servir a quem serviu nem pedir a quem pediu.
2 - Nunca queiras ser mais do que as tuas possibilidades permitem. Lembra-te que quem semeia ventos colhe tempestades e, o que é pior, poderás arrastar para o abismo outros que em ti confiaram.
3 - Em tudo que fizeres, põe sempre o teu melhor. Lembra-te que as coisas devem ser feitas o mais perfeito possível, senão não vale a pena perdermos tempo com elas. Há muitos ramos onde podemos aplicar a nossa inteligência, saber e experiência.
4 - Lembra-te sempre que os génios são uma minoria. No entanto, todos somos necessários. Como diz o velho rifão, mais vale um bom sapateiro do que um mau médico.
5 - Se vieres de uma classe socialmente baixa, o que não é de modo algum uma vergonha, educa-te, estuda, lê e aprende para, no caso de subires na vida, não fazeres figuras tristes.
6 - Por maior razão, se tirares um curso não te limites apenas ao necessário. O saber não ocupa lugar.
7 - Se alguma vez estiveres entre várias pessoas, principalmente desconhecidas, e elas estiverem a rir, mantém-te sempre sério. Poderão estar a rir-se de ti e pensa na triste figura que farás se rires também.
8 - Procura não falares daquilo que não sabes e, muito menos, seguir atrás das aparências. Estas enganam muito e estão por detrás de toda a crendice humana. Por isso deves ter sempre espírito de crítica sobre tudo em que acreditas.
9 - Se exerceres o teu direito de votar, pensa sempre que todos os candidatos vão prometer tudo, para depois de eleitos não darem nada. Se fores honesto, só pelo teu esforço conseguirás subir lealmente na vida.
10 - A História ensina que qualquer pessoa, bem ou mal intencionada, pode alcançar o Poder. Porém, os primeiros estão condenados ao fracasso porque são uma minoria de sonhadores, além de não perceberem que os povos não sabem usar a liberdade que lhes querem dar.
11 - A Humanidade é contemplada, de quando em quando, com alguns génios. Estes, porém, tanto podem usar o seu talento no bem como no mal. A História prova que os segundos estão em larga maioria. Se não sabes, (o que é muito provável com o “ensino” que se dá hoje) investiga temas como a Revolução Francesa ou a Revolução de Outubro na Rússia. E, não esqueças também, que a Instituição (dita militar) que fez o "25 de Abril de 1974" foi a mesma que fez o 28 de Maio de 1926".
12 - E poderia dar muitos mais conselhos. Mas, quem sou eu para fazê-lo?
Limito-me apenas a dizer: Se um dia te encontrares num beco sem saída, traído pelos amigos e por todos aqueles que diziam que te amavam, não desanimes. Ergue a voz, e grita bem alto: SOU EU. ESTOU SOZINHO, MAS SOU EU!

FIM

Amadora, 1 de Abril do ano da graça (ou da desgraça) de 2013
Visto pela Santa e Geral Inquirição
    NIHIL OBSTA
              IMPRIMATUR