Resultado
de um estudo aprofundado sobre as emanações gasosas do tubo de escape dos seres
humanos, vulgarmente designado por ânus ou cu, conforme o seu estatuto social.
Este
estudo fundamentou-se numa análise superficial, mas verdadeira, realizada pelo
meu prezado amigo J.P.B., perito neste tema devido ao seu rubicundo traseiro,
que é um manancial de emanações pestífero-gasosas. Obviamente, tal tubo de
escape é também pertença de todas as criaturas de Deus, e tem como objectivo
expulsar os resíduos do que comem.
Segundo
ele, e após um longo e cansativo trabalho de observação, mesmo enquanto
descansava das suas lides culinárias e as digeria com evidente satisfação, as ventosidades anais classificam-se em 3 grupos
e 2 subgrupos, a saber:
1º
TRAQUE
2º PEIDO
3º BUFA
Por sua
vez, esta última subdivide-se em dois tipos:
1º BUFA
VOLÁTIL
2º BUFA
MAGNÉTICA
Ao tomar
conhecimento desta classificação, de inegável interesse científico, fiquei
interessado em investigar mais e, como sempre me interessei pelas Ciências
Físico-Químicas e possuir alguma veia poética, sempre necessária quando se
investiga temas tão delicados e pungentes como este, atirei-me ao exaustivo
trabalho de fazer umas análises sobre o assunto, embora com a modéstia
suficiente para não pretender a candidatura ao Prémio Nobel. Assim, e depois de
muitas observações em que tive de aplicar toda a sensibilidade do meu nariz,
dos ouvidos, e até dos olhos, cheguei às seguintes conclusões:
Conceito
geral:
Todas as
ventosidades anais são o resultado de reacções bioquímicas provocadas por
bactérias, que quando trabalham mal ou fazem greve (também têm direito a isso),
desencadeiam autênticos tornados intestinais, constituídos por gases repletos
de miasmas corrompidos pela má digestão da paparoca ingerida pelo buraco
antípoda do ânus, a que se dá a designação de boca. Esta, como é sabido, tem
uma língua que não só ajuda a deglutição, como intervêm na fala e ainda serve
para lamber coisas como as convexidades de um gelado ou as concavidades mornas e
húmidas de certas fissuras mais ou menos saborosas.
Como
primeiro resultado da produção gasosa, temos a dilatação da cavidade abdominal
que se transforma numa espécie de bombo que rufa com diversos timbres e intensidades,
numa sucessão de compassos diferentes que, sem ofensa a esses geniais
compositores que tanto admiro, fazem-me lembrar os ritmos de Stravinsky ou as
harmonias de Prokofiev.
Esses
miasmas corrompidos pela fermentação da caca, passeiam em voluptuosas ondas no
intestino grosso, facilmente sensíveis no ventre do possuidor e nos dedos do
apalpador. Este último, se tiver uma certa intuição musical, conseguirá até
extrair alguns sons que poderá aproveitar para uma futura sinfonia, se carregar
em diversos pontos do abdómen e com níveis de pressão diferentes, tal como num
piano.
Às
vezes, tal como donzelas púdicas, vão fugindo à apalpação, o que provoca doces
melodias como que emitidas por fagotes dentro de uma caverna cheia de diarreia.
Mas,
como nada nem ninguém gosta de estar preso, o momento culminante, e por vezes
dramático, aproxima-se: as ventosidades, até aí vogando num grande espaço, vão
ser obrigadas a passar pelo apertado buraco do tubo de escape, o tal designado
por ânus ou cu. De notar que o referido tubo não possui a característica panela
de escape dos automóveis para reduzir a intensidade dos ruídos que vão
acompanhar o autêntico furacão de miasmas fedorentos que se aproxima, capaz de
fazer fugir um furão, no caso de se tratar de uma bufa.
Chega
assim o grande momento: a largada com a consequente emoção do que virá a sair.
Conforme a pressão interna, variável segundo as reacções bio-químicas
ocorridas, ou sai traque, peido ou bufa numa das suas divisões, pertencentes ao
domínio da Física, e que serão explicadas a seguir.
Consideremos,
então, os possíveis efeitos que cada um dos três tipos irá provocar:
1º O
TRAQUE.
Possuidor
da maior intensidade sonora do grupo, e preenchendo vários graus da escala musical
cromática, a nota produzida tende sempre para uma tessitura aguda, com valor metronométrico
geralmente muito curto. Possui, também, a subtil propriedade de subir ou descer
na escala musical, raramente mantendo a mesma nota.
Por sua
vez é muito pobre de odor, que pode até ser nulo, mas provoca uma grande
inquietação na pessoa que o imite quando está acompanhada. Assim, se está
sentada, obriga as nádegas a uma dança sincopada, tentando demonstrar,
inutilmente, que foi a cadeira que rangeu, já que o seu pudico cu jamais
emitiria tão incomodativo sinal de alerta.
Se está
de pé, é com os sapatos que dança, o que é mais natural, tentando a obtenção do
mesmo efeito mediante uns passos da antiga dança chamada raspa.
2º O
PEIDO.
Segundo
na escala natural das ventosidades anais, o peido revela-se como um ente mais
discreto no que respeita à acústica, mas revela um odor muito característico.
Como sempre a mãe Natureza não desperdiça energias. Assim, quando ultrapassa a
saída do tubo de escape, provoca uma estranha vibração entre as nádegas,
semelhante à nota mais grave de um contra-fagote, e que obriga a pessoa que a
emite, a uma ligeira mudança de posição se está sentada. Porém, se está
acompanhada por pessoas que não sejam muito íntimas, cora um pouco e tenta
disfarçar, atirando com a velha desculpa de que os esgotos não estão a
funcionar em perfeitas condições. (para si própria sabe, evidentemente, que se
trata do seu esgoto) e, se tem a sorte de estar presente um cão, é óbvio que as
culpas vão logo para o inocente animal que, no mínimo, será classificado de “inconveniente”.
De qualquer modo o peidorreiro fica inquieto, e, se percebe pelos movimentos e
ruídos internos do baixo-ventre que outro peido luta pela liberdade, o melhor
que tem a fazer é ir soltá-lo na casa de banho. Mas antes tem o cuidado de
informar que está com uma pequena indisposição, e solicita que suspendam a
conversa até voltar. Amaldiçoando o inoportuno peido, mas aliviado de o ter
parido sem afectar os nervos olfactivos dos outros, retoma a conversa antes
iniciada, assumindo um ar de que nada de anormal se passou.
3º A
BUFA
No que
respeita ao odor, é a mais espectacular, fantástica, conspícua, aterradora,
avassaladora,
dramática, agressiva, acutilante, e mais todos os adjectivos do género que se
possam aplicar a semelhante fenómeno. Na verdade, tudo que se possa dizer fica
muito aquém das pestilências emitidas pelos miasmas super fermentados que
fluem, algumas vezes, na forma líquida, emitindo, neste caso, um ruído
semelhante ao vapor de água fervente saindo do bico de uma chaleira.
Mas, e
isto é que interessa, façamos a análise da sua física gasosa e, principalmente,
os efeitos produzidos numa sala onde, para além do bufador, se encontram outras
pessoas, um cão, um gato, plantas e moscas.
Tudo
começa com um estranho calor que aflora as bordas do cu, provocando no
peidorreiro a necessidade de levantar uma das nádegas. Tenta apertar a
ventosidade que se aproxima com desesperadas contracções dos esfíncteres anais,
o que provoca uma dança de cu, muito diferente da erótica dança do ventre, como
se tivesse uma almofada eléctrica por debaixo das nádegas. Mas a bufa é
dinamicamente muito mais forte e, assim, abrindo as goelas que a mantinha
presa, eis o monstro que sai, subrepticiamente, produzindo apenas um
delicadíssimo e suave suspiro, que se transmite à boca como um eco de alívio e
o pensamento de: já está!
Depois,
tudo parece calmo como os momentos que precedem um furacão. Mas, passados
poucos segundos ela aí está, Sua Majestade a BUFA, rainha dos ares
pestilenciais e de todos os esgotos do Universo.
A
primeira reacção das suas vítimas quando aquela manifestação gasosa invade as
fossas nasais, é a palidez. Depois o ar torna-se amarelo e a seguir verde,
misturando-se em matizes azul-acinzentados, como os gases pestíferos emanados
pelos milhares de cadáveres putrefactos que descem as barrentas e lodosas águas
do rio Ganges. Por sua vez o cão começa por farejar o monstro, mas logo a cauda
recolhe-se entre as patas traseiras e, com olhos humildes, tenta explicar que
não foi ele! Seria incapaz de fazer semelhante coisa! E, no cúmulo do desespero,
desata a uivar com uma intensidade capaz de ser ouvido pelos seus ascendentes
lobos na Serra da Estrela.
E às
plantas, o que é que lhes acontece? Privadas quase instantaneamente de
clorofila, as folhas amarelecem e pendem exangues ao longo do caule,
perguntando às suas flores já murchas, porque raio a sua semente não foi
germinar em cima de um cagalhão deixado por algum herbívoro. Teriam adubo
grátis e do melhor.
Quanto
às moscas, esperneiam aflitas no solo, amaldiçoando o inventor de semelhante
insecticida. Ao menos com os outros, produto da crueldade humana, morrem
perfumadas. Sempre é um pouco melhor!
E, a terminar,
façamos uma rápida análise das duas variedades com que Sua Majestade a BUFA se
pode manifestar, e que são mais destrinçáveis quando andamos na rua.
a) BUFA
VOLÁTIL:
Trata-se
da bufa que nos larga rapidamente conforme vamos andando, deixando para os que
vêm atrás a horrenda tortura de a suportar.
b) BUFA
MAGNÉTICA:
Muito
territorial e amante do seu produtor, esta variedade persegue-nos durante um
certo tempo, num adeus triste e apaixonado, mesmo que estuguemos o passo e sacudamos
as saias ou as calças. Os nossos pensamentos baralham-se, e clamam: 'mas porque
é que esta gaja não me larga?'
E são estas
as conclusões a que cheguei após o doloroso, mas apaixonado, estudo científico
a que dediquei muitas noites perdidas, atascado de feijões, favas e outros
explosivos legumes, regados com a indispensável e gasosa cerveja.
Nota
final:
Tendo
comido, depois do referido estudo, um desses característicos queijos da Beira
Baixa, tão saborosos como fedorentos, cheguei à conclusão que o seu odor se
mistura numa mescla grandiosa de perfumes nauseabundos, capazes de fazer
disparar os disjuntores da instalação eléctrica. Felizmente, quando os emiti,
tratou-se de peidos e não de bufas. Neste último caso teria sido a hecatombe
universal!
Por isso,
sugiro à Comunidade Europeia que recomende a colocação nas embalagens do citado
queijo o seguinte aviso: «COMA, MAS NÃO PEIDE!»
Mas, por
outro lado, esta recomendação poderia provocar incómodos patológicos nos
cumpridores, já que, como dizia a minha avó e confirmava a minha tia, 'um peido
bem tirado é porco, mas alivia!' Que fazer, então? Não sei! Os políticos,
senhores do mundo, que resolvam.
Assim,
neste mundo de trampa, e democraticamente falando, digo: cada qual que se
desenrasque e não chateie os esfíncteres anais com esforços inúteis. Os outros
que se lixem porque, no fim de contas, as ventosidades anais deveriam ser
Património Imaterial da Humanidade. Problema para ser resolvido pela UNESCO.
…………………………
Este
estudo foi realizado por João Daniel Maia Saturnino no ano da Graça do Senhor
de 2010, ao qual agradece o “engenho e arte” com que foi bafejado pelo seu
Criador. No fim de contas foi Ele que tudo criou, não tendo olvidado, na sua
infinita sabedoria, a importância que tiveram, têm e terão até à eternidade, as
tão mal amadas, mas também famosas VENTOSIDADES ANAIS.
AMEN.
Amadora,
21 de Outubro de 2010.
Visto da
SANTA E GERAL INQUISIÇÃO.
Nihil obsta
(IMPRIMATUR)
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