24/10/2013

O CURIOSO MUNDO DOS TUBOS DE ESCAPE HUMANOS

Resultado de um estudo aprofundado sobre as emanações gasosas do tubo de escape dos seres humanos, vulgarmente designado por ânus ou cu, conforme o seu estatuto social.
Este estudo fundamentou-se numa análise superficial, mas verdadeira, realizada pelo meu prezado amigo J.P.B., perito neste tema devido ao seu rubicundo traseiro, que é um manancial de emanações pestífero-gasosas. Obviamente, tal tubo de escape é também pertença de todas as criaturas de Deus, e tem como objectivo expulsar os resíduos do que comem.
Segundo ele, e após um longo e cansativo trabalho de observação, mesmo enquanto descansava das suas lides culinárias e as digeria com evidente satisfação, as  ventosidades anais classificam-se em 3 grupos e 2 subgrupos, a saber:

1º TRAQUE
2º PEIDO
3º BUFA
Por sua vez, esta última subdivide-se em dois tipos:

1º BUFA VOLÁTIL  
2º BUFA MAGNÉTICA

Ao tomar conhecimento desta classificação, de inegável interesse científico, fiquei interessado em investigar mais e, como sempre me interessei pelas Ciências Físico-Químicas e possuir alguma veia poética, sempre necessária quando se investiga temas tão delicados e pungentes como este, atirei-me ao exaustivo trabalho de fazer umas análises sobre o assunto, embora com a modéstia suficiente para não pretender a candidatura ao Prémio Nobel. Assim, e depois de muitas observações em que tive de aplicar toda a sensibilidade do meu nariz, dos ouvidos, e até dos olhos, cheguei às seguintes conclusões:

Conceito geral:

Todas as ventosidades anais são o resultado de reacções bioquímicas provocadas por bactérias, que quando trabalham mal ou fazem greve (também têm direito a isso), desencadeiam autênticos tornados intestinais, constituídos por gases repletos de miasmas corrompidos pela má digestão da paparoca ingerida pelo buraco antípoda do ânus, a que se dá a designação de boca. Esta, como é sabido, tem uma língua que não só ajuda a deglutição, como intervêm na fala e ainda serve para lamber coisas como as convexidades de um gelado ou as concavidades mornas e húmidas de certas fissuras mais ou menos saborosas.
Como primeiro resultado da produção gasosa, temos a dilatação da cavidade abdominal que se transforma numa espécie de bombo que rufa com diversos timbres e intensidades, numa sucessão de compassos diferentes que, sem ofensa a esses geniais compositores que tanto admiro, fazem-me lembrar os ritmos de Stravinsky ou as harmonias de Prokofiev.
Esses miasmas corrompidos pela fermentação da caca, passeiam em voluptuosas ondas no intestino grosso, facilmente sensíveis no ventre do possuidor e nos dedos do apalpador. Este último, se tiver uma certa intuição musical, conseguirá até extrair alguns sons que poderá aproveitar para uma futura sinfonia, se carregar em diversos pontos do abdómen e com níveis de pressão diferentes, tal como num piano.
Às vezes, tal como donzelas púdicas, vão fugindo à apalpação, o que provoca doces melodias como que emitidas por fagotes dentro de uma caverna cheia de diarreia.
Mas, como nada nem ninguém gosta de estar preso, o momento culminante, e por vezes dramático, aproxima-se: as ventosidades, até aí vogando num grande espaço, vão ser obrigadas a passar pelo apertado buraco do tubo de escape, o tal designado por ânus ou cu. De notar que o referido tubo não possui a característica panela de escape dos automóveis para reduzir a intensidade dos ruídos que vão acompanhar o autêntico furacão de miasmas fedorentos que se aproxima, capaz de fazer fugir um furão, no caso de se tratar de uma bufa.
Chega assim o grande momento: a largada com a consequente emoção do que virá a sair. Conforme a pressão interna, variável segundo as reacções bio-químicas ocorridas, ou sai traque, peido ou bufa numa das suas divisões, pertencentes ao domínio da Física, e que serão explicadas a seguir.
Consideremos, então, os possíveis efeitos que cada um dos três tipos irá provocar:

1º O TRAQUE.

Possuidor da maior intensidade sonora do grupo, e preenchendo vários graus da escala musical cromática, a nota produzida tende sempre para uma tessitura aguda, com valor metronométrico geralmente muito curto. Possui, também, a subtil propriedade de subir ou descer na escala musical, raramente mantendo a mesma nota.
Por sua vez é muito pobre de odor, que pode até ser nulo, mas provoca uma grande inquietação na pessoa que o imite quando está acompanhada. Assim, se está sentada, obriga as nádegas a uma dança sincopada, tentando demonstrar, inutilmente, que foi a cadeira que rangeu, já que o seu pudico cu jamais emitiria tão incomodativo sinal de alerta.
Se está de pé, é com os sapatos que dança, o que é mais natural, tentando a obtenção do mesmo efeito mediante uns passos da antiga dança chamada raspa.

2º O PEIDO.

Segundo na escala natural das ventosidades anais, o peido revela-se como um ente mais discreto no que respeita à acústica, mas revela um odor muito característico. Como sempre a mãe Natureza não desperdiça energias. Assim, quando ultrapassa a saída do tubo de escape, provoca uma estranha vibração entre as nádegas, semelhante à nota mais grave de um contra-fagote, e que obriga a pessoa que a emite, a uma ligeira mudança de posição se está sentada. Porém, se está acompanhada por pessoas que não sejam muito íntimas, cora um pouco e tenta disfarçar, atirando com a velha desculpa de que os esgotos não estão a funcionar em perfeitas condições. (para si própria sabe, evidentemente, que se trata do seu esgoto) e, se tem a sorte de estar presente um cão, é óbvio que as culpas vão logo para o inocente animal que, no mínimo, será classificado de “inconveniente”. De qualquer modo o peidorreiro fica inquieto, e, se percebe pelos movimentos e ruídos internos do baixo-ventre que outro peido luta pela liberdade, o melhor que tem a fazer é ir soltá-lo na casa de banho. Mas antes tem o cuidado de informar que está com uma pequena indisposição, e solicita que suspendam a conversa até voltar. Amaldiçoando o inoportuno peido, mas aliviado de o ter parido sem afectar os nervos olfactivos dos outros, retoma a conversa antes iniciada, assumindo um ar de que nada de anormal se passou.

3º A BUFA

No que respeita ao odor, é a mais espectacular, fantástica, conspícua, aterradora,  
avassaladora, dramática, agressiva, acutilante, e mais todos os adjectivos do género que se possam aplicar a semelhante fenómeno. Na verdade, tudo que se possa dizer fica muito aquém das pestilências emitidas pelos miasmas super fermentados que fluem, algumas vezes, na forma líquida, emitindo, neste caso, um ruído semelhante ao vapor de água fervente saindo do bico de uma chaleira.
Mas, e isto é que interessa, façamos a análise da sua física gasosa e, principalmente, os efeitos produzidos numa sala onde, para além do bufador, se encontram outras pessoas, um cão, um gato, plantas e moscas.
Tudo começa com um estranho calor que aflora as bordas do cu, provocando no peidorreiro a necessidade de levantar uma das nádegas. Tenta apertar a ventosidade que se aproxima com desesperadas contracções dos esfíncteres anais, o que provoca uma dança de cu, muito diferente da erótica dança do ventre, como se tivesse uma almofada eléctrica por debaixo das nádegas. Mas a bufa é dinamicamente muito mais forte e, assim, abrindo as goelas que a mantinha presa, eis o monstro que sai, subrepticiamente, produzindo apenas um delicadíssimo e suave suspiro, que se transmite à boca como um eco de alívio e o pensamento de: já está!
Depois, tudo parece calmo como os momentos que precedem um furacão. Mas, passados poucos segundos ela aí está, Sua Majestade a BUFA, rainha dos ares pestilenciais e de todos os esgotos do Universo.
A primeira reacção das suas vítimas quando aquela manifestação gasosa invade as fossas nasais, é a palidez. Depois o ar torna-se amarelo e a seguir verde, misturando-se em matizes azul-acinzentados, como os gases pestíferos emanados pelos milhares de cadáveres putrefactos que descem as barrentas e lodosas águas do rio Ganges. Por sua vez o cão começa por farejar o monstro, mas logo a cauda recolhe-se entre as patas traseiras e, com olhos humildes, tenta explicar que não foi ele! Seria incapaz de fazer semelhante coisa! E, no cúmulo do desespero, desata a uivar com uma intensidade capaz de ser ouvido pelos seus ascendentes lobos na Serra da Estrela.
E às plantas, o que é que lhes acontece? Privadas quase instantaneamente de clorofila, as folhas amarelecem e pendem exangues ao longo do caule, perguntando às suas flores já murchas, porque raio a sua semente não foi germinar em cima de um cagalhão deixado por algum herbívoro. Teriam adubo grátis e do melhor.
Quanto às moscas, esperneiam aflitas no solo, amaldiçoando o inventor de semelhante insecticida. Ao menos com os outros, produto da crueldade humana, morrem perfumadas. Sempre é um pouco melhor!
E, a terminar, façamos uma rápida análise das duas variedades com que Sua Majestade a BUFA se pode manifestar, e que são mais destrinçáveis quando andamos na rua.

a) BUFA VOLÁTIL:

Trata-se da bufa que nos larga rapidamente conforme vamos andando, deixando para os que vêm atrás a horrenda tortura de a suportar.


b) BUFA MAGNÉTICA:

Muito territorial e amante do seu produtor, esta variedade persegue-nos durante um certo tempo, num adeus triste e apaixonado, mesmo que estuguemos o passo e sacudamos as saias ou as calças. Os nossos pensamentos baralham-se, e clamam: 'mas porque é que esta gaja não me larga?'

E são estas as conclusões a que cheguei após o doloroso, mas apaixonado, estudo científico a que dediquei muitas noites perdidas, atascado de feijões, favas e outros explosivos legumes, regados com a indispensável e gasosa cerveja.
                                                                               
Nota final:
Tendo comido, depois do referido estudo, um desses característicos queijos da Beira Baixa, tão saborosos como fedorentos, cheguei à conclusão que o seu odor se mistura numa mescla grandiosa de perfumes nauseabundos, capazes de fazer disparar os disjuntores da instalação eléctrica. Felizmente, quando os emiti, tratou-se de peidos e não de bufas. Neste último caso teria sido a hecatombe universal!
Por isso, sugiro à Comunidade Europeia que recomende a colocação nas embalagens do citado queijo o seguinte aviso: «COMA, MAS NÃO PEIDE!»
Mas, por outro lado, esta recomendação poderia provocar incómodos patológicos nos cumpridores, já que, como dizia a minha avó e confirmava a minha tia, 'um peido bem tirado é porco, mas alivia!' Que fazer, então? Não sei! Os políticos, senhores do mundo, que resolvam.
Assim, neste mundo de trampa, e democraticamente falando, digo: cada qual que se desenrasque e não chateie os esfíncteres anais com esforços inúteis. Os outros que se lixem porque, no fim de contas, as ventosidades anais deveriam ser Património Imaterial da Humanidade. Problema para ser resolvido pela UNESCO.
                                          …………………………

Este estudo foi realizado por João Daniel Maia Saturnino no ano da Graça do Senhor de 2010, ao qual agradece o “engenho e arte” com que foi bafejado pelo seu Criador. No fim de contas foi Ele que tudo criou, não tendo olvidado, na sua infinita sabedoria, a importância que tiveram, têm e terão até à eternidade, as tão mal amadas, mas também famosas VENTOSIDADES ANAIS.

AMEN.

Amadora, 21 de Outubro de 2010.

                                                    Visto da

                                SANTA E GERAL INQUISIÇÃO.

                                                Nihil obsta

                                           (IMPRIMATUR)


Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: qualquer comentário a este artigo escrito segundo o chamado 'novo acordo ortográfico', será considerado como tendo erros grosseiros e, como tal, corrigido.