23/12/2014

PESOS E MEDIDAS

'O Homem é a medida de todas as coisas, enquanto são, e das coisas que não são, enquanto não são'.
Esta afirmação, feita pelo filósofo grego Protágoras (Século V a.C.) mostra como a ideia de que tudo é relativo surgira muito antes das teorias de Einstein no campo da Física.
Mais próximo do ser humano, Protágoras, entendia com base naquela máxima que as leis, regras, cultura, etc. não podem ser enunciadas por uma só pessoa, já que o que é verdadeiro ou falso para alguns, não o é para outros. Logo, o que tem valor num determinado lugar (no espaço ou no tempo) não é aceite noutro.
Para ele, tudo deve ser resolvido por um conjunto de pessoas, apesar da dificuldade (acrescento eu) que apenas duas pessoas têm em se entenderem. Mesmo que ambas estejam de acordo, se começam a aprofundar o assunto, não tardam a surgir as divergências. Quem viveu o 25 de Abril, deve lembrar-se que, só partidos marxistas-leninistas e afins, surgiram cerca de uma dúzia!

Mas deixemos a Filosofia e a porca da Política e passemos aos factos. Apesar de “cada cabeça, sua sentença”, a verdade é que, por razões tão práticas como necessárias, o homem (e talvez algumas mulheres) inventaram regras de pesos e medidas para normalizar as suas compras, vendas, demarcações de terrenos e outras coisas que, muito mais tarde, ficaram conhecidas como estandardizadas.
É claro que como todo o mundo é uma burla e o homem (e as mulheres) já nasceram burlões, todas as medições são passíveis de ser aldrabadas, apesar de terem uma unidade base acordada internacionalmente. Mas isso é outra história.
O sistema decimal é, como o nome indica, fundamentado na numeração com base dez, o que facilita imenso os cálculos do dia a dia.
Mas, como sempre há quem resista ao fácil pelo complicado. Temos o caso da Inglaterra e Colónias (Escócia, Gales e Irlanda do Norte, para só citar estas) dos Estados Unidos e de outros países que conservam medidas próprias, capazes de por a cabeça a andar à roda quando se comparam com o sistema decimal. Entre elas temos a o pé, a polegada, a jarda, a milha marítima, a milha terrestre, o galão, etc. etc.
Se bem me lembro, foi na década de cinquenta que o Reino Unido, adoptou (ou fingiu que o fez) o sistema decimal. Recordo as parangonas que os jornais fizeram sobre a dificuldade que a rainha desse país, a Isabel nº 2, teria para compreendê-lo. Caramba! A mulher poderia ser burra mas, apesar da minha juventude, concluí que era mais uma manifestação da nossa subserviência a Sua Majestade, que era sempre capa dos nossos jornais, nem que fosse por se ter “descuidado” em público. Pobre mulher!  

Nessa já tão distante época, contava-se entre a rapaziada a seguinte anedota: contemplando a Torre Eiffel, encontravam-se vários turistas que, nas suas diferentes línguas, faziam comentários tais como a Torre Eiffel é linda, imponente, espectacular e outros adjectivos semelhantes.
Entre eles, e como era costume neste tipo de anedotas, estava um português. Pasmado, levantou a cabeça, coçou-a, pôs as mãos nos bolsos e exclamou: “eia, c’o caralho”!

Há já uma dezena de anos, dei comigo a investigar a origem da interjeição carago, tão usual no norte do país. Para isso, consultei o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado, onde encontrei a seguinte indicação: “veja caralho”.
Seguindo aquela indicação, fiquei a saber que aquele vocábulo provem do latim caraculu que, por sua vez, tem origem no grego chárax que significa “estaca, estaca para vinha; …ramo de oliveira cortado e aguçado na base para ser transplantado;
estaca para palissada, palissada; …madeira de construção”.
Continuando a investigar, consultei o “Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”*, onde encontrei, entre outras, estas definições: 1- “muito, demasiado, extremamente: ele é alto como o c.  2- “em profusão: veio gente como o c. à apresentação.


Não há dúvida; os Portugueses têm razão quando o utilizam como medida. Mesmo variando de macho para macho, a sua espectacular capacidade de passar de anão a gigante, de simples penduricalho a aríete, conforme as duas funções que possui, confere-lhe a categoria de ser ele “a medida de todas as coisas”, modificando assim a afirmação de Protágoras.
É claro que como neste mundo nada é perfeito, no macho humano por vezes tem a função de incomodar, quando se trata de arrumá-lo com os respectivos apêndices nas cuecas. Mas isso é, apenas, um pequeno inconveniente. As vantagens são, indubitavelmente, muito superiores, tanto para a maioria das mulheres como para as “bichas” e derivados.
Confesso que fiquei surpreendido com aquela revelação, mas os tempos mudam. E se ontem a anedota sobre o “portuga” pasmado ante a grandeza da Torre Eiffel, era contada às escondidas, hoje quase pode ser considerada uma “anedota de salão”. Mas, por motivos de respeito por certas pessoas, acho de bom-tom interrogá-las primeiro sobre a sua sensibilidade, o que tenho por hábito fazer. 

*Publicado no Brasil em 2001 e, um ano depois em Portugal numa versão adaptada, a este dicionário foi imposta (11 anos depois!) a retirada do mercado pelo governo brasileiro por conter definições racistas. Entre elas encontra-se como sinónimo de cigano aquele “que trapaceia, velhaco e burlador”, como se esta definição não fizesse parte da gíria popular tal como judeu (que também aparece no mesmo dicionário no mesmo contexto) entre tantas outras. Os italianos, por exemplo, chamam portughesi àqueles que tentam entrar sem pagar em locais onde é obrigatório fazê-lo. Por mais que queiram negar, os “amigos de gente” (cito F. Pessoa) deviam aceitar que todas as histórias e lendas têm um fundo de verdade.
Assim, com esta mania de anti-racismo primário, que oficialmente se quer impor como “censura democrática”, qualquer dia teremos de dizer (como escrevi num dos artigos anteriores) “Clara das Neves e os Sete Homens Baixinhos”!
É caso para dizer que é uma coisa do c... (!)


Nota: qualquer comentário escrito segundo o chamado novo acordo ortográfico, será considerado como contendo erros grosseiros e, como tal, corrigido.
PARABÉNS, MAFALDA!

E parabéns também para ti, Quino, o “pai” dela e de todos os seus companheiros.
Neste ano em que se comemoram cinquenta anos do seu aparecimento, quero ainda felicitar toda a equipa que colaborou na realização do álbum “Toda a Mafalda - Edição Comemorativa dos 50 anos”. Embora lançado em Novembro último, já vai em segunda edição.
Além das 1929 (mil novecentas e vinte e nove!) tiras que Quino desenhou e escreveu sobre a Mafalda, o álbum contém cerca de 200 páginas com os mais variados assuntos sobre aquele ícone da banda desenhada. Versando sobre tudo o que lhe está relacionado, até inclui cronologias dos principais acontecimentos históricos da época para melhor compreensão.
As primeiras tiras surgiram em Portugal em 1970 dispersas por pequenos fascículos; três anos depois Quino poria fim à sua maior criação.
Ao relê-las, bem como a muitas que desconhecia, não consigo deixar de rir, embora com uma certa amargura. O mundo continua exactamente na mesma, tanto há cinquenta anos como agora. E, não só há cinquenta como desde sempre e assim continuará.
O que mudou foi a tecnologia e as moscas. Talvez já não falte muito para que ambas destruam tudo aquilo a que chamamos Civilização! Pode ser que outro ciclo comece, como tem acontecido ao longo da História. E, se não acontecer, também não é preciso.
E, depois deste desabafo de pessimista, um grande abraço para ti, Quino. Não te conheço pessoalmente, mas considero-te como se fôssemos grandes amigos. Afinal, vemos o mundo da mesma maneira na sua triste realidade, e rir é o melhor remédio.

Nota: qualquer comentário sobre este artigo escrito segundo o chamado novo acordo ortográfico, será considerado como contendo erros grosseiros e, como tal, corrigido.  


10/12/2014

ÓPERA, NAFTALINA E... PANELEIROS*

(Terceira parte)


A ópera nasceu na Itália no século XVII. Nos primeiros tempos, as figuras e histórias lendárias da Antiguidade Clássica foram os temas preferidos pelos libretistas e compositores. Foi uma consequência do Renascimento, após a “longa noite medieval” onde a crendice e estupidez humanas atingiram na Europa um dos seus pontos mais altos.

Centenas de óperas, não estou a exagerar, foram escritas por muitos compositores, alguns deles tornados célebres, sobre aqueles motivos, tendo a maior parte sido perdida ou esquecida.
Para desempenhar os papeis daqueles heróis, e devido à interdição dos palcos às mulheres, utilizavam-se os castrati, ou seja, homens que, em garotos, tinham revelado excelentes vozes mas que a puberdade iria destruir. Assim, era natural o consentimento dos pais na ablação dos testículos, para manter a mesma qualidade de voz dos filhos bem como do rendimento familiar.
Surgiram, assim, as mais ridículas personagens ornamentadas com plumas e adornos espampanantes de toda a espécie que, com voz de falsete, faziam o papel de um Hércules, de um Aquiles ou de um Ulisses.
Típicas eram também as rivalidades que surgiam entre eles; usando como armas as vozes e atitudes a que hoje dizemos serem próprias de bichas, desrespeitavam as partituras, entrando em disputas canoras pseudo-artísticas que, não raras vezes, conduziam a agressões em pleno palco.
É claro que o público delirava com este tipo de cenas, baixando a ópera a um nível em que o mau gosto aumentava proporcionalmente às exibições. Até a música, se em alguns casos tinha qualidade, descambou em partituras medíocres, razão pela qual a maioria foi esquecida como já foi dito.
Por outro lado formavam-se elites, e era de bom tom os grandes senhores ficarem a conversar fora dos camarotes, permanecendo nestes os criados incumbidos de chamá-los quando se aproximavam as árias ‘ditas’ principais ou mais conhecidas.

Embora com métodos diferentes, existia uma certa analogia com as récitas a que assisti no S. Carlos e em Luanda, conforme relatei nas duas primeiras partes deste artigo. Ir à ópera ia-se tornando um espectáculo de elite, quer se gostasse ou não. Talvez o único país onde isto não aconteceu foi a Itália, sempre pronta a apreciar aquele espectáculo como pertencente aos verdadeiros amantes do belcanto, fossem eles aristocratas ou plebeus. Mas, como é costume dizer-se, ‘os italianos já nascem a cantar’.

Os anos passaram e, devido à minha profissão, assistir a récitas de ópera no S. Carlos iria tornar-se numa rotina. Mas, o trabalho preliminar que tinha de fazer para assegurar a transmissão pela rádio (e também pela RTP onde fiz alguns biscates) permitiram-me penetrar no âmago da “arte suprema”.
Não vou falar de todos aqueles que põem de pé tão grande edifício como é uma récita de ópera. Desde carpinteiros, costureiras, electricistas, encenadores (e tantos outros a quem peço desculpa por não mencionar), até aos músicos, maestros e cantores, lidei com dezenas de profissionais cujo empenho era produzir o melhor que podiam e sabiam.

Mas, deixemos os artífices e passemos à assistência que aprendi a classificar em três grupos:
1º Os verdadeiros amantes de ópera, um tanto incómodos porque aplaudem com os indispensáveis “bravos” o final de uma ária, mantendo uma tradição que, muitas vezes, faz com que não se oiça o que vem a seguir.
2º As elites, que julgo ainda existirem porque os chamados novos-ricos devem ter substituído o que resta da também chamada aristocracia.
3º Finalmente, temos os derivados dos fabricantes de panelas, cientificamente classificados como homossexuais (também conhecidos na linguagem popular como “bichas” e, mais recentemente, como gays!
Em relação à primeira classificação recordo que, há muitos anos, o grande humorista e contestatário brasileiro Juca Chaves fez um trocadilho com primeiro termo dizendo que Omo*sexual era sabão em pó para lavar vaginas.

Os gritos histéricos desses cavalheiros, bem como a sua estranha paixão pelas vozes femininas (de preferência meio-soprano e contralto) ainda hoje ecoam na minha já velha cabeça.
Como exemplo máximo a que pude assistir por várias vezes, destacava-se um tipo cujo nome não vou mencionar, mas que era conhecido no meio pelo cognome de “lombriga maluca”.
Além de ser o tipo de “bicha” que gosta de exibir as suas preferências sexuais, aliava este hábito a defeitos físicos que o obrigavam a deslocar-se de canadianas. Quando andava, salientando o rabo e com todo um conjunto de tiques próprios das “bichas”, até aqueles aparelhos ortopédicos pareciam fazer parte dele. 
Poderá ser triste e até ofensivo mencionar este facto mas, no meu modo de ver, a realidade deve ser revelada por mais cruel que seja.
As atitudes daquela personagem tornaram-se tão incómodas que, segundo consta, implicaram a proibição de entrar no S. Carlos. Se é verdade ou não, declino qualquer responsabilidade, até porque numa conversa recente com um amigo, soube que tão ridícula personagem já faleceu. Se acreditasse na alma, desejar-lhe-ia a paz eterna, até porque dizem que era uma excelente pessoa. Se fosse muçulmano lamentaria as não sei quantas virgens que esperam que apareça um tipo qualquer que as livre de tão vergonhosa situação.

Como conclusão, acrescento que ir à ópera, por vontade ou por motivo profissional, tornou-se uma chatice para mim, não só pela histerias mencionadas, mas também pelas anedóticas encenações que há já bastante tempo infestam o mundo da ópera, como os Nibelungos a escreverem à máquina, Violeta Valery (La Traviata) a morrer tuberculosa mas com uma garrafa de soro fisiológico pendurada a seu lado, ou um personagem vestido de smoking a fazer de Wotan mas que, por necessidade do texto, saca de uma espada.
Mas a ópera é mesmo assim e, com ou sem razão, como em quase tudo, a maioria é que vence. Mas, o que será a razão?!
Posto isto, e como vivo dentro do possível à parte deste mundo, prefiro ver e ouvir, ou só ouvir, conforme seja em DVD ou CD, gozando na tranquilidade da minha casa, todo esse vasto mundo que é a ópera sem ter de aturar os bravos, as tosses e os espirros dos assistentes, bem como as manifestações histéricas dos derivados dos fabricantes de panelas!

*OMO: Um dos primeiros detergentes para lavar roupa. 
(O detergente em pó OMO foi criado pelo grupo inglês Unilever na década de 1930) 

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