'O Homem é a medida de todas as coisas,
enquanto são, e das coisas que não são, enquanto não são'.
Esta afirmação, feita pelo filósofo grego Protágoras (Século
V a.C.) mostra como a ideia de que tudo é relativo surgira muito antes das
teorias de Einstein no campo da Física.
Mais próximo do ser humano, Protágoras, entendia com
base naquela máxima que as leis, regras, cultura, etc. não podem ser enunciadas
por uma só pessoa, já que o que é verdadeiro ou falso para alguns, não o é para
outros. Logo, o que tem valor num determinado lugar (no espaço ou no tempo) não
é aceite noutro.
Para ele, tudo deve ser resolvido por um conjunto de
pessoas, apesar da dificuldade (acrescento eu) que apenas duas pessoas têm em
se entenderem. Mesmo que ambas estejam de acordo, se começam a aprofundar o
assunto, não tardam a surgir as divergências. Quem viveu o 25 de Abril, deve
lembrar-se que, só partidos marxistas-leninistas e afins, surgiram cerca de uma
dúzia!
Mas deixemos a Filosofia e a porca da Política e passemos
aos factos. Apesar de “cada cabeça, sua sentença”, a verdade é que, por razões
tão práticas como necessárias, o homem (e talvez algumas mulheres) inventaram
regras de pesos e medidas para normalizar as suas compras, vendas, demarcações
de terrenos e outras coisas que, muito mais tarde, ficaram conhecidas como
estandardizadas.
É claro que como todo o mundo é uma burla e o homem (e
as mulheres) já nasceram burlões, todas as medições são passíveis de ser
aldrabadas, apesar de terem uma unidade base acordada internacionalmente. Mas
isso é outra história.
O sistema decimal é, como o nome indica, fundamentado
na numeração com base dez, o que facilita imenso os cálculos do dia a dia.
Mas, como sempre há quem resista ao fácil pelo
complicado. Temos o caso da Inglaterra e Colónias (Escócia, Gales e Irlanda do
Norte, para só citar estas) dos Estados Unidos e de outros países que conservam
medidas próprias, capazes de por a cabeça a andar à roda quando se comparam com
o sistema decimal. Entre elas temos a o pé, a polegada, a jarda, a milha
marítima, a milha terrestre, o galão, etc. etc.
Se bem me lembro, foi na década de cinquenta que o
Reino Unido, adoptou (ou fingiu que o fez) o sistema decimal. Recordo as
parangonas que os jornais fizeram sobre a dificuldade que a rainha desse país,
a Isabel nº 2, teria para compreendê-lo. Caramba! A mulher poderia ser burra
mas, apesar da minha juventude, concluí que era mais uma manifestação da nossa
subserviência a Sua Majestade, que era sempre capa dos nossos jornais, nem que
fosse por se ter “descuidado” em público. Pobre mulher!
Nessa já tão distante época, contava-se entre a
rapaziada a seguinte anedota: contemplando a Torre Eiffel, encontravam-se vários
turistas que, nas suas diferentes línguas, faziam comentários tais como a Torre
Eiffel é linda, imponente, espectacular e outros adjectivos semelhantes.
Entre eles, e como era costume neste tipo de anedotas,
estava um português. Pasmado, levantou a cabeça, coçou-a, pôs as mãos nos
bolsos e exclamou: “eia, c’o caralho”!
Há já uma dezena de anos, dei comigo a investigar a
origem da interjeição carago, tão
usual no norte do país. Para isso, consultei o Dicionário Etimológico da Língua
Portuguesa de José Pedro Machado, onde encontrei a seguinte indicação: “veja
caralho”.
Seguindo aquela indicação, fiquei a saber que aquele
vocábulo provem do latim caraculu
que, por sua vez, tem origem no grego chárax
que significa “estaca, estaca para vinha; …ramo de oliveira cortado e
aguçado na base para ser transplantado;
estaca para palissada, palissada; …madeira de
construção”.
Continuando a investigar, consultei o “Grande
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”*, onde encontrei, entre outras, estas
definições: 1- “muito, demasiado, extremamente: ele é alto como o c. 2- “em
profusão: veio gente como o c. à
apresentação.
Não há dúvida; os Portugueses têm razão quando o
utilizam como medida. Mesmo variando de macho para macho, a sua espectacular
capacidade de passar de anão a gigante, de simples penduricalho a aríete,
conforme as duas funções que possui, confere-lhe a categoria de ser ele “a
medida de todas as coisas”, modificando assim a afirmação de Protágoras.
É claro que como neste mundo nada é perfeito, no macho
humano por vezes tem a função de incomodar, quando se trata de arrumá-lo com os
respectivos apêndices nas cuecas. Mas isso é, apenas, um pequeno inconveniente.
As vantagens são, indubitavelmente, muito superiores, tanto para a maioria das
mulheres como para as “bichas” e derivados.
Confesso que fiquei surpreendido com aquela revelação,
mas os tempos mudam. E se ontem a anedota sobre o “portuga” pasmado ante a
grandeza da Torre Eiffel, era contada às escondidas, hoje quase pode ser
considerada uma “anedota de salão”. Mas, por motivos de respeito por certas
pessoas, acho de bom-tom interrogá-las primeiro sobre a sua sensibilidade, o
que tenho por hábito fazer.
*Publicado no Brasil em 2001 e, um ano depois em
Portugal numa versão adaptada, a este dicionário foi imposta (11 anos depois!) a
retirada do mercado pelo governo brasileiro por conter definições racistas.
Entre elas encontra-se como sinónimo de cigano aquele “que trapaceia, velhaco e
burlador”, como se esta definição não fizesse parte da gíria popular tal como
judeu (que também aparece no mesmo dicionário no mesmo contexto) entre tantas
outras. Os italianos, por exemplo, chamam portughesi
àqueles que tentam entrar sem pagar em locais onde é obrigatório fazê-lo.
Por mais que queiram negar, os “amigos de gente” (cito F. Pessoa) deviam
aceitar que todas as histórias e lendas têm um fundo de verdade.
Assim, com esta mania de anti-racismo primário, que
oficialmente se quer impor como “censura democrática”, qualquer dia teremos de
dizer (como escrevi num dos artigos anteriores) “Clara das Neves e os Sete
Homens Baixinhos”!
É caso para dizer que é uma coisa do c... (!)
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