05/06/2009

'INGRAVIDEZ'

«INGRAVIDEZ»

Na data em que escrevo, 15 de Maio de 2009, há quatro pessoas que não estão grávidas. Trata-se dos astronautas que estão em órbita a reparar o telescópio Hubble.
O resto da Humanidade encontra-se no chamado estado interessante. (nunca percebi porque é que esse estado reprodutivo tem mais interesse do que outros).

Parece absurdo ou anedota, não é? Mas eu explico:
No primeiro programa sobre montanhas russas transmitido pelo canal Odisseia, com tradução e legendagem feitas pela empresa Via-Satélite, assiste-se a uma demonstração dos efeitos de ausência de gravidade a bordo de um velho Boeing 707 que, para consegui-los, faz uma curva parabólica.
Enquanto os voluntários passageiros se divertem com a ausência de peso, surge na legenda a palavra ?!INGRAVIDEZ!!!. Perante isto, o que é que passsou pela minha cabeça? Li mal, é claro, mas vou aguardar até ao fim do programa para verificar, na gravação que estou a efectuar, se foi dos meus olhos, dos óculos ou de uma estranha maleita que, momentaneamente, me atacou.
Mas não! Vista a gravação ela lá está, desafiante, com um certo ar grotesco na sua horrível fealdade gráfica e consequente fonética: INGRAVIDEZ!
Mas, Deo gratias, desta vez o locutor não foi papagaio, pois disse "gravidade zero". Parabéns!

Embora passar horas a ver televisão não seja um dos meus passatempos favoritos, gosto de ver programas onde, apesar dos meus sessenta e seis anos, posso aprender mais alguma coisa. O problema é ter de suportar estoicamente o suplício de ouvir tantas asneiras num único programa. Assim, e cumprindo o que há dias escrevi, vou extraír mais algumas da já extensa lista que, semana a semana, vou tirando dos programas televisivos.

1º- No canal «Travel» uma tradutora chamada Luísa Lopes escreve o número dos séculos com algarismos árabes, quando este deve ser feito com numeração romana, e põe toda a gente a tratar-se por tu, quando esta forma não é natural entre os portugueses, que só a usam quando têm uma relação próxima com o interlocutor. No entanto tenho que fazer justiça a esta senhora que , para além de se identificar, faz traduções para um português correcto e fluente.
2º- É frequente serem mencionadas na Terra temperaturas de muitas dezenas de graus (por exemplo 90º). Claro que é impossível na escala centígrada ou de Celsius. Será que custa muito dizer Fahrenheit (imploro que não pronunciem em inglês!) ou consultar uma tabela de conversões?
Para quem não saiba, a mais alta temperatura registada na Terra, desde que há medições, ocorreu em El-Aziziá na Líbia, onde os termómetros atingiram 57,8ºC à sombra em 1922.
3º- Esquadra, esquadrilha e esquadrão. Segundo o que aprendi no tempo em que fui militar à força, o que fez com que passasse dois estúpidos anos em Angola, 'esquadra' aplica-se a navios, 'esquadrilha' a aviões e 'esquadrão' à cavalaria que, apesar de se ter tornado motorizada, manteve a tradição nominal. E, mais uma vez para quem não saiba, esclareço que o Exército Português utilizou verdadeiras cargas de cavalaria no leste de Angola em 1966, provocando debandadas gerais entre os indígenas que, nunca tendo visto cavalos, chamaram-lhes «palancas sem cornos».
4º- 'Capitão' como sinónimo de 'comandante de avião', é mais uma tradução à letra do inglês. Será que alguém ao viajar de avião ouviu alguma vez dizer: "o capitão (fulano tal) e a sua tripulação dão as boas-vindas aos seus passageiros"...etc?
Embora no Brasil exista o posto de capitão-aviador, não significa obrigatoriamente que seja este a comandar o avião. Em Portugal 'capitão' é um posto do Exército situado entre tenente e major e, na Armada, há vários postos formando combinações tais como 'capitão de mar e guerra' ou 'capitão de fragata', mas quem manda é o 'comandante', qualquer que seja sua patente, tal como na aviação, seja esta militar ou civil.

Pelo exposto peço aos excelentíssimos tradutores que evitem o suplício de ter de ouvir ou ler constantemente «o capitão do avião» ou «o capitão do navio». Está bem? Muito obrigado!


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