05/06/2009

A MANIA DO GLOBAL, DO TERRENO, E MAIS ALGUNS DISPARATES


Hoje tudo é global! É o aquecimento, é a crise (desde que me conheço sempre ouvi falar nela), é o desemprego, é a pobreza (ou a riqueza, pois tudo é relativo), são as alterações climáticas, é a gripe suína (a última foi a das aves e a próxima talvez seja a asinina, sem ofensa aos burros, claro), enfim, é todo um conjunto de coisas ou situações em que o termo 'global' parece ter feito desaparecer dos dicionários palavras como mundial, geral ou total.
Até já ouvi num canal televisivo, não me lembro qual, chamar à guerra de 1939-1945, a Segunda Guerra Global!!.
E a deliciosa frase «estar no terreno»? A primeira vez que chamou a minha atenção foi quando da tragédia da ponte de Entre-os-Rios, em que uma jornalista dizia que «as buscas no terreno continuavam», embora estas estivessem a ser feitas no rio por mergulhadores apoiados por lanchas.
A partir daí, e tal como numa comunidade de papagaios, tudo passou a 'estar no terreno', seja qual for o sítio: terra, mar ou ar (e, quem sabe, qualquer dia no espaço).
A palavra 'local' e a expressão latina «in loco» desapareceram: «O ministro deixou o seu gabinete e foi para o terreno», «há três televisões no terreno a disputar a supremacia», (esta é de Marcelo Rebelo de Sousa), «os inspectores da ONU no terreno já abandonaram o país» etc., etc., etc..
Ora como já dei por mim a dizer em voz alta as palavras global e terreno, antecipando toda a verborreia que os senhores jornalistas despejam nos telejornais para preencher, seja de que maneira fôr, o excessivo tempo que lhes é concedido, começo a pensar seriamente em consultar um psiquiatra para tentar evitar que a minha pobre cabeça fique 'globalmente enterrada e aterrada no terreno global' !
Ora se é um facto que as línguas não são estáticas e, consequentemente, evoluem, pela minha parte considero que a repetição exaustiva de palavras provoca o desaparecimento de sinónimos, uma das riquezas de qualquer idioma.

Mas deixemos isto.

Segue-se mais uma pequena lista de algumas «pérolas» linguísticas apanhadas aqui e ali nos diferentes canais televisivos. A seguir a cada uma vai o meu comentário.
1º- Quadrigas de dois cavalos: Deve tratar-se de uma nova Diane criada pela Citroën.
2º- Golfinhos com formas aerodinâmicas: Que saudade eu tenho do tempo em que eles voavam em bandos no estuário do Tejo
3º- Sapinhos como filhos de répteis: Os batráquios (hoje chamados anfíbios) foram promovidos a répteis.4º- Pássaro aplicado a tudo o que seja ave: Ali vai um bando de avestruzes.
5º- As ventoínhas dos motores de avião: Como é fresquinho voar.
6º- Tigres de Benguela: De facto nunca alguém viu um tigre usar bengala
7º- Medicalização de doentes: Não lhes basta a situação patologica, têm de engolir pílulas de disparates.
8º- Pintos como filhos de todas as aves: Cuidado não pisem as crias dos colibris.9º- Avião estacionado na pista: Devido ao impedimento desta, os outros aviões passaram a descolar e a aterrar na placa.
10º- Cachalotes, narvais, golfinhos e outros mamíferos marinhos classificados como baleias: Deve ser mais um fruto da globalização.
11º- Nevão sobre Lisboa: Sempre os exageros da Comunicação Social.(perdão, dos midia, dos media, dos média... Como quiserem).
12º- 'Tsunami' como onda gigante: A tradução exacta do japonês é 'onda no porto'. Aliás, um maremoto não implica só uma onda, mas também uma subida muito rápida do nível das águas, como aconteceu nas costas orientais da Índia e do Sri-Lanka. Segundo aprendi no livro «Lições de Geologia» para o antigo terceiro ciclo do ensino liceal e do qual conservo um exemplar, este fenómeno denomina-se em português raz de maré.
13º- Fauna animal: Quando olho para uma planta fico na dúvida se esta pertence à flora vegetal.
14º- Navio infundável: Deve ter saído do estaleiro sem fundamento.
15º- Mamíferos de sangue quente: Depois de congelados perdem essa qualidade.
16º- Traças como todos os insectos alados: Os estupores das vespas roeram as minhas cuecas.
17º- Aerofobia como medo de viajar de avião: Quando se abre as janelas faz uma tremenda ventania.
18º- Quando é atacado o pangolim enrola-se ficando totalmente impregnável: Por isso é considerado a melhor esponja que existe.
19º- O general Eisenhower, sargentos e praças a tratarem-se por tu: No exército norte-americano sempre houve uma grande camaradagem, principalmente quando se trata de invadir outros países.
20º- Todos os comandos reunidos num único, permite ao piloto fazer o avião virar, subir, descer e andar para trás: O problema é a falta de espelhos retrovisores.
21º- Tempestades de gelo: Ainda havemos de ter granizo em cubos.
22º- Mamíferos fazendo o ninho: Finalmente vamos ter ovos de vaca, de coelha e de porca, já que de burros e de burras temos com fartura.
23º- Dromedários chamados de camelos: Basta comparar umas fotos para distinguir as diferenças entre uns e outros: Só os "camelos "é que não notam.
24º- Após tantos cuidados com aqueles animais, o resultado foi dramático: salvaram-se todos: Com a mania do "dramático" e de outras palavras traduzidas literalmente do inglês, qualquer dia teremos qualquer coisa do género: o resultado do acidente foi dramático, já que todas as pessoas se salvaram!!!
25º- Quem foi o autor da Sexta Sinfonia? Esta disparatada pergunta foi feita num concurso da RTP. Como amante de música e antigo funcionário da Antena 2 lembrei-me logo de uma dúzia de compositores que escreveram seis ou mais sinfonias. Mas pergunto: será que daria muito trabalho, e até porque a RDP e a RTP se encontram agora juntas, perguntar a quem sabe quando se trata de alusões à chamada música clássica?
26ºA ave pernalta grou rebatisada de "gru": Será que as vogais juntas "ou" passaram a ser lidas à francesa?
27º- Altura como altitude e vice-versa. Cuidado! Quando subirem a um ponto alto poderão ficar sem oxigénio a poucos metros de altura.
28º- "Xitina" como parte integrante do exoesqueleto dos insectos. Sabem tanto inglês mas desconhecem que "chitin" se lê como começasse por"K" e que em português é quitina.

E fico por aqui, mas "o programa segue dentro de momentos". Vou entrar em «stand by» (leia-se setandebai), o que traduzido dá qualquer coisa como «fica por»! Entretanto vou vendo mais um pouco de televisão, mas não muito, não vá a lista anterior chegar ao milhar.

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