QUE CRITÉRIO?
Conta-se que Sócrates (o grego!) estava sentado numa rua de Atenas, quando viu passar, correndo, um homem seguido por outro, que gritava desesperadamente: agarra que é um assassino!
Perante este quadro, o “nosso” filósofo ficou impávido e sereno. Ofegante e desesperado, o homem censurou-o por nem sequer ter esboçado um gesto para deter o perseguido. Ele é um assassino, berrou!
Continuando impávido, Sócrates (o grego!) pediu-lhe que explicasse o que significava essa palavra. Mas você não sabe, indignou-se o outro? É uma pessoa que mata outras, um homicida!
Ah! Exclamou Sócrates (o grego!); trata-se de um soldado.
-Não! É um homem que mata em tempo de paz.
-Um carrasco?
-Não! Uma pessoa que mata os caminhantes para roubar.
-Um ladrão?
-Não! Alguém que mata as pessoas em casa.
-Um médico?
Perante esta indefinição tão evidente (excepto à luz daquilo a que se chama Direito, que a maior parte das vezes é torto), o outro foi-se embora, possivelmente cheio de curto-circuitos nos seus pobres neurões.
Mas, porquê esta história, possivelmente lendária, para iniciar este artigo? Simplesmente porque a notícia da queixa contra o senhor Ratzinger, actual Papa, entregue no Tribunal Penal Internacional, deu-me vontade de rir. Um riso amargo, como é óbvio. E a razão da minha hilaridade baseia-se na convicção de que daí nada vai resultar. Durante cerca de quatro décadas, esse senhor foi feroz guardião do documento Crimen Sollicitationes, que punia com excomunhão e outras penas idiotas, nas quais muito boa gente acredita, quem denunciasse os crimes sexuais do Vaticano.
E não vai resultar porquê? Primeiro porque um decreto do Papa Pio IX (século XIX) proclamou, pasme-se, o dogma da infalibilidade dos Papas; portanto o senhor Ratzinger está dentro da razão, seja ela divina ou diabólica. (convém não esquecer que o Diabo foi criado por Deus, já que foi este o chamado Criador de tudo o que existe).
Mas, na nossa ditosa Pátria também temos um senhor, de seu nome próprio Aníbal, que foi eleito Presidente da República, tendo antes, como Primeiro-Ministro, declarado que “nunca se engana, e raramente tem dúvidas”. Ao menos salva-se o “raramente”; já não é mau! Mas esse senhor não pertence, longe disso, à corja que, volta e meia, aparece a mandar nalguma parte do mundo, com o apoio da populaça, que tanto aplaude um Hitler como um Estaline, as ditaduras ou as chamadas democracias. É óbvio que houve, há e haverá sempre mandões que, em nome do povo (o que será esse bicharoco?) que se aproveita da credibilidade humana, o que, aliás, até está certo porque o mundo é dos espertos, e, por vezes, até dos inteligentes. Assim, o caso pode tornar-se grave, ou então cómico, porque, segundo o poeta chinês Li-Tai-Po (701/762), “a miséria do mundo deve provocar o riso nas nossas almas”. Porém, quando alguns desses senhores usam e abusam do poder que, por golpe de estado ou eleições, assumem o comando desse tal bicharoco, para quem o poder, aliás, é relativo, as coisas podem transformar-se num paradoxo, capaz de fazer inveja a Zenão de Eleia* e a outras contradições, mais ou menos absurdas, que infestam as cabeças dessas pobres criaturas chamadas humanas, criadas, segundo as religiões, por um não menos absurdo Deus ou Deuses. Depende das crendices, concepção de promiscuidade, e, o que é mais lógico, dos interesses e da esperteza de cada para se aproveitarem das primeiras.
Assim sendo, em que ficamos? O que são os chamados crimes contra a Humanidade?
Fuzilar uma população inteira e ser condenado, ou passar com um avião por cima, fazer o mesmo, e depois ser condecorado? Ao menos o primeiro teve a coragem de ver a cara das vítimas.
Matar em fogo cruzado, ou colocar minas, esperando que alguém as pise, o que pode acontecer muito tempo depois do fim das chamadas hostilidades? E já que falámos de minas, há que “elogiar” o requinte daquelas que, uma vez pisadas, emitem apenas um clique. Depois, há que decidir: ou mantém-se o pé em cima ad eternum ou, na melhor das hipóteses, fica-se sem pernas. Temos que admitir que, como tortura psicológica, foi uma invenção genial!
E o napalm, e os desfolhantes? E o senhor Mugabe que expulsou os fazendeiros brancos do Zimbabué, lançando o seu país na fome e na miséria? Porque é que os norte-americanos, os “Polícias do Mundo”, não intervieram? É óbvio que se tivesse sido ao contrário, brancos a expulsarem pretos, seria um acto de intolerável racismo. Deus nos livre de tamanho descaramento. Racismo é apenas coisa de brancos!
E o antropófago Idi Amin, mais todos os tiranos africanos que, a pretexto de “libertar” os seus povos da opressão dos colonos, fizeram-nos passar de Herodes para Pilatos?
E a segunda bomba atómica lançada sobre Nagazáqui, apenas três dias após a de Hirochima, sem dar tempo a uma reacção dos japoneses?
Segundo os crentes, ao Homem foi dado livre arbítrio sobre as suas acções. Mas Deus como ser omnisciente, que dizem ser, tem andado a jogar com os comportamentos dos entes que criou? E as catástrofes naturais: são culpa dos Homens ou de Deus? Responda quem souber. Por mim, e como sempre afirmei, sou agnóstico. Não me venham é impingir o Deus de qualquer religião, seja ela qual for.
Mas hoje, e ironicamente falando, temos um mundo muito melhor. Existe a maravilhosa organização apelidada “Nações Unidas”, em que os mais poderosos têm direito a veto, como mandam as leis da chamada Democracia. A descoberta da etimologia desta palavra (do grego dêmos, povo, e kratia, poder, sistema político em que o poder é exercido pelo povo)), provocou a hilaridade da Mafalda, a genial personagem criada pelo cartoonista argentino Quino. Deve ser a palavra que mais interpretações tem.
E depois desta lengalenga, faço votos para que os promotores da acção contra o senhor Ratzinger, consigam levar a água ao seu moinho, o que, como já disse, duvido. Mas vale sempre a pena tentar.
E agora vou pensar, tranquilamente, em coisas mais interessantes. De resto. a minha tranquilidade assenta no facto de existir esse Tribunal, e saber que todos os países têm um Ministério da Defesa, embora não saiba para quê, já que nenhum tem o Ministério do Ataque!
Um conselho: façam como Sócrates (o grego, não se esqueçam).
*Zenão de Eleia.
Para quem não sabe quem foi, e por causa da minha mania de ensinar o pouco que sei (isto não é falsa modéstia), esclareço:
Foi um filósofo grego (mais um), que nasceu entre 490 e 495 A.C. na colónia grega de Eleia, situada na actual Itália, e agora designada por Vélia.
Ficaram célebres os seus paradoxos, com que procurou provar a inexistência do movimento. Um dos mais conhecidos é o de “Aquiles e a tartaruga”, que passo a explicar.
Aquiles está parado a 10 metros de uma tartaruga, também imóvel. O herói da Ilíada anda dez vezes mais do que o réptil. Assim que começam a andar, torna-se lógico que, quando Aquiles percorre dez metros, a tartaruga percorre um metro; quando Aquiles percorre essa distância, o animal percorre um decímetro; e após Aquiles ter percorrido esse intervalo, a tartaruga afasta-se um centímetro; e depois de um centímetro, um milímetro; e após um milímetro, temos um décimo; e assim por diante ad infinitum.
Portanto, apesar de mais veloz do que a tartaruga, Aquiles nunca consegue apanhar a tartaruga, ou melhor, só a alcançaria no infinito.
A solução desta “intrincada” situação, só ficaria matematicamente resolvida mais de dois mil anos depois, graças ao Cálculo Diferencial, desenvolvido por Leibniz e Newton. Na verdade Aquiles alcança a tartaruga ao fim de 11,111… metros.
Conta-se que Sócrates (o grego!) estava sentado numa rua de Atenas, quando viu passar, correndo, um homem seguido por outro, que gritava desesperadamente: agarra que é um assassino!
Perante este quadro, o “nosso” filósofo ficou impávido e sereno. Ofegante e desesperado, o homem censurou-o por nem sequer ter esboçado um gesto para deter o perseguido. Ele é um assassino, berrou!
Continuando impávido, Sócrates (o grego!) pediu-lhe que explicasse o que significava essa palavra. Mas você não sabe, indignou-se o outro? É uma pessoa que mata outras, um homicida!
Ah! Exclamou Sócrates (o grego!); trata-se de um soldado.
-Não! É um homem que mata em tempo de paz.
-Um carrasco?
-Não! Uma pessoa que mata os caminhantes para roubar.
-Um ladrão?
-Não! Alguém que mata as pessoas em casa.
-Um médico?
Perante esta indefinição tão evidente (excepto à luz daquilo a que se chama Direito, que a maior parte das vezes é torto), o outro foi-se embora, possivelmente cheio de curto-circuitos nos seus pobres neurões.
Mas, porquê esta história, possivelmente lendária, para iniciar este artigo? Simplesmente porque a notícia da queixa contra o senhor Ratzinger, actual Papa, entregue no Tribunal Penal Internacional, deu-me vontade de rir. Um riso amargo, como é óbvio. E a razão da minha hilaridade baseia-se na convicção de que daí nada vai resultar. Durante cerca de quatro décadas, esse senhor foi feroz guardião do documento Crimen Sollicitationes, que punia com excomunhão e outras penas idiotas, nas quais muito boa gente acredita, quem denunciasse os crimes sexuais do Vaticano.
E não vai resultar porquê? Primeiro porque um decreto do Papa Pio IX (século XIX) proclamou, pasme-se, o dogma da infalibilidade dos Papas; portanto o senhor Ratzinger está dentro da razão, seja ela divina ou diabólica. (convém não esquecer que o Diabo foi criado por Deus, já que foi este o chamado Criador de tudo o que existe).
Mas, na nossa ditosa Pátria também temos um senhor, de seu nome próprio Aníbal, que foi eleito Presidente da República, tendo antes, como Primeiro-Ministro, declarado que “nunca se engana, e raramente tem dúvidas”. Ao menos salva-se o “raramente”; já não é mau! Mas esse senhor não pertence, longe disso, à corja que, volta e meia, aparece a mandar nalguma parte do mundo, com o apoio da populaça, que tanto aplaude um Hitler como um Estaline, as ditaduras ou as chamadas democracias. É óbvio que houve, há e haverá sempre mandões que, em nome do povo (o que será esse bicharoco?) que se aproveita da credibilidade humana, o que, aliás, até está certo porque o mundo é dos espertos, e, por vezes, até dos inteligentes. Assim, o caso pode tornar-se grave, ou então cómico, porque, segundo o poeta chinês Li-Tai-Po (701/762), “a miséria do mundo deve provocar o riso nas nossas almas”. Porém, quando alguns desses senhores usam e abusam do poder que, por golpe de estado ou eleições, assumem o comando desse tal bicharoco, para quem o poder, aliás, é relativo, as coisas podem transformar-se num paradoxo, capaz de fazer inveja a Zenão de Eleia* e a outras contradições, mais ou menos absurdas, que infestam as cabeças dessas pobres criaturas chamadas humanas, criadas, segundo as religiões, por um não menos absurdo Deus ou Deuses. Depende das crendices, concepção de promiscuidade, e, o que é mais lógico, dos interesses e da esperteza de cada para se aproveitarem das primeiras.
Assim sendo, em que ficamos? O que são os chamados crimes contra a Humanidade?
Fuzilar uma população inteira e ser condenado, ou passar com um avião por cima, fazer o mesmo, e depois ser condecorado? Ao menos o primeiro teve a coragem de ver a cara das vítimas.
Matar em fogo cruzado, ou colocar minas, esperando que alguém as pise, o que pode acontecer muito tempo depois do fim das chamadas hostilidades? E já que falámos de minas, há que “elogiar” o requinte daquelas que, uma vez pisadas, emitem apenas um clique. Depois, há que decidir: ou mantém-se o pé em cima ad eternum ou, na melhor das hipóteses, fica-se sem pernas. Temos que admitir que, como tortura psicológica, foi uma invenção genial!
E o napalm, e os desfolhantes? E o senhor Mugabe que expulsou os fazendeiros brancos do Zimbabué, lançando o seu país na fome e na miséria? Porque é que os norte-americanos, os “Polícias do Mundo”, não intervieram? É óbvio que se tivesse sido ao contrário, brancos a expulsarem pretos, seria um acto de intolerável racismo. Deus nos livre de tamanho descaramento. Racismo é apenas coisa de brancos!
E o antropófago Idi Amin, mais todos os tiranos africanos que, a pretexto de “libertar” os seus povos da opressão dos colonos, fizeram-nos passar de Herodes para Pilatos?
E a segunda bomba atómica lançada sobre Nagazáqui, apenas três dias após a de Hirochima, sem dar tempo a uma reacção dos japoneses?
Segundo os crentes, ao Homem foi dado livre arbítrio sobre as suas acções. Mas Deus como ser omnisciente, que dizem ser, tem andado a jogar com os comportamentos dos entes que criou? E as catástrofes naturais: são culpa dos Homens ou de Deus? Responda quem souber. Por mim, e como sempre afirmei, sou agnóstico. Não me venham é impingir o Deus de qualquer religião, seja ela qual for.
Mas hoje, e ironicamente falando, temos um mundo muito melhor. Existe a maravilhosa organização apelidada “Nações Unidas”, em que os mais poderosos têm direito a veto, como mandam as leis da chamada Democracia. A descoberta da etimologia desta palavra (do grego dêmos, povo, e kratia, poder, sistema político em que o poder é exercido pelo povo)), provocou a hilaridade da Mafalda, a genial personagem criada pelo cartoonista argentino Quino. Deve ser a palavra que mais interpretações tem.
E depois desta lengalenga, faço votos para que os promotores da acção contra o senhor Ratzinger, consigam levar a água ao seu moinho, o que, como já disse, duvido. Mas vale sempre a pena tentar.
E agora vou pensar, tranquilamente, em coisas mais interessantes. De resto. a minha tranquilidade assenta no facto de existir esse Tribunal, e saber que todos os países têm um Ministério da Defesa, embora não saiba para quê, já que nenhum tem o Ministério do Ataque!
Um conselho: façam como Sócrates (o grego, não se esqueçam).
*Zenão de Eleia.
Para quem não sabe quem foi, e por causa da minha mania de ensinar o pouco que sei (isto não é falsa modéstia), esclareço:
Foi um filósofo grego (mais um), que nasceu entre 490 e 495 A.C. na colónia grega de Eleia, situada na actual Itália, e agora designada por Vélia.
Ficaram célebres os seus paradoxos, com que procurou provar a inexistência do movimento. Um dos mais conhecidos é o de “Aquiles e a tartaruga”, que passo a explicar.
Aquiles está parado a 10 metros de uma tartaruga, também imóvel. O herói da Ilíada anda dez vezes mais do que o réptil. Assim que começam a andar, torna-se lógico que, quando Aquiles percorre dez metros, a tartaruga percorre um metro; quando Aquiles percorre essa distância, o animal percorre um decímetro; e após Aquiles ter percorrido esse intervalo, a tartaruga afasta-se um centímetro; e depois de um centímetro, um milímetro; e após um milímetro, temos um décimo; e assim por diante ad infinitum.
Portanto, apesar de mais veloz do que a tartaruga, Aquiles nunca consegue apanhar a tartaruga, ou melhor, só a alcançaria no infinito.
A solução desta “intrincada” situação, só ficaria matematicamente resolvida mais de dois mil anos depois, graças ao Cálculo Diferencial, desenvolvido por Leibniz e Newton. Na verdade Aquiles alcança a tartaruga ao fim de 11,111… metros.
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