10/08/2012

ANEDOTAS POLÍTICAS PORTUGUESAS

ANEDOTAS POLÍTICAS PORTUGUESAS DA ÉPOCA DE SALAZAR



Texto e compilação de João Saturnino.

(Este texto está escrito em português actual, desobedecendo ao famigerado acordo ortográfico imposto pela corja de governantes lacaios dos interesses político-comerciais, que conduziram Portugal ao desgraçado estado em que se encontra.)

Nota preliminar:
A palavra anedota provém do adjectivo grego anékdotos que significa “não entregue”, “não publicado”, “inédito”. Sob o título anédokta, o poeta bizantino Procópio publicou, no século VI, uma obra repleta de pormenores sobre as pessoas e acontecimentos da sua época. No sentido moderno aparece com Voltaire, e terá entrado em Portugal por via francesa.
Trata-se, assim, da narrativa de um episódio histórico curioso e pouco divulgado, que se tornou num conto curto, normalmente de autor desconhecido, com um final inesperado que provoca o riso. Talvez seja o sexo o tema que mais se tem prestado a este tipo de relação humana, embora a política, principalmente quando as coisas correm mal, seja um dos alvos preferenciais.
Também é muito importante o jeito inato que algumas pessoas têm para contar anedotas; de facto, contar uma “boa piada” é algo que exige uma certa arte, já que uma anedota, por mais engraçada que seja, pode perder muito do seu humor intrínseco quando contada por uma pessoa sem aptidão, sendo a situação inversa também verdadeira. Um bom contador pode provocar logo o sorriso, quando interroga: “Vocês já sabem a última?”
Bastante importante é, ainda, a mímica usada quando a anedota se passa simultaneamente no espaço e no tempo. Quando bem desempenhada, aumenta muito o prazer da escuta e a hilaridade que advém no final.

As anedotas que se seguem, ou apenas excertos delas, resultam do que resta na memória das quase sete décadas que já vivi.
Por sugestão de alguns amigos, resolvi fazer uma compilação do nosso costumado e típico humor, tão bem classificado, não sei por quem, com o lema de “pobretes mas alegretes”. Basta ver o que aparece hoje na “Internet” sobre a actual e endémica crise nacional. Para minha satisfação vejo que, pelo menos, o nosso sentido de humor não se perdeu. Valha-nos isso!

Assim, vou relatar as que conservo na mente e gosto tanto de contar, antes que o chamado “Alzheimer” ou a morte me surpreendam.
Por julgar que estas anedotas fazem parte intrínseca do nosso Povo, nada pretendo em troca da sua revelação. Apenas agradecia que, se alguém tomar contacto com este texto, e se lembrar de outras “pérolas” do anedotário político português, entre em contacto comigo, a fim de enriquecer esta grande faceta da nossa cultura.
Estou inteiramente ao dispor através do correio electrónico “jsaturnino8@gmail.com.
Assim, e à medida que mais anedotas surgirem na minha memória, ou devido à colaboração de outras pessoas, estas serão contadas em anexos, a fim de evitar a leitura integral do texto inicial.


Mas, antes de começar, quero testemunhar a minha admiração, que julgo comum a todos os Portugueses, por todos aqueles anónimos que a História nunca assinalará, e que foram os autores deste tão divertido como crítico modo de ver a malfadada política. E, malfadada porquê? Porque é feita por politiqueiros; mas, a verdade é que, se não fosse feita por esse tipo de gente, não seria…política!  
    E, agora, vamos a isto!

01 - Corria o ano de 1951. Tinha sido eleito Presidente da República o General Craveiro Lopes, casado com Berta Ribeiro Artur, conhecida popularmente pela Dona Berta. Como esta senhora usava o cabelo muito encaracolado, surgiu logo a anedota: “PORQUE É QUE O CRAVEIRO NÃO DÁ CRAVOS? POR CAUSA DOS CARACÓIS DA BERTA”!

02 - Dois anos depois, Craveiro Lopes e a mulher foram convidados a visitar o Reino Unido. Foi logo motivo para o aparecimento de duas anedotas.
Assim, contava-se que sabendo que a vogal “i” em inglês normalmente lê-se “ai”, o casal resolveu treinar-se, pronunciando em português todos os “is” como se fossem aquele ditongo.
A primeira conta que, uma noite, Dona Berta acordou o marido, dizendo: “Ó CHAICO! DÁ CÁ O PENAICO QUE EU QUERO FAZER XAI-XAI”!

A segunda ocorre já em Londres. Depois de ter ido à casa de banho, o Presidente quis puxar o autoclismo, mas não conseguiu compreender o que estava escrito na parede. Por isso chamou o camareiro e disse-lhe que não sabia o que, em inglês, significava “paise nâu pídal”.
Solícito, o camareiro retorquiu: «Por amabilidade nós escrevemos a instrução em português. O que está escrito é “PISE NO PEDAL”»

03 - Avancemos até 1957. A Rainha Isabel II de Inglaterra veio visitar Portugal.
Por ordem do Governo de Salazar, os mendigos foram encarcerados para que “Sua Majestade” não visse a miséria do País. A desculpa era que, quando recebemos alguém em nossa casa, procuramos dar-lhe o melhor aspecto possível.
Como cantava José Viana em “O Zé Cacilheiro”, na revista “Zero, Zero, Zé – Ordem Para Pagar”, eram «outros tempos, outras gentes, outra alegria…!»
Mas, nesse ano, as avenidas da República, Fontes Pereira de Melo e da Liberdade tinham as laterais do lado direito (na direcção dos Restauradores) esventradas devido à construção do metropolitano a céu aberto. Por isso faziam-se, apressadamente, obras de disfarce.
Vem, a propósito, explicar a típica expressão “é para inglês ver”. A sua origem parece ter surgido em 1808, aquando da ida da Corte Portuguesa para o Brasil, fugindo das Invasões Francesas. O porto da cidade de Salvador, na altura capital da colónia, iluminou-se para a recepção, o que terá provocado ao príncipe regente, futuro D. João VI, o seguinte comentário: “Isto é para inglês ver”. Referia-se ao almirante inglês, comandante do navio que escoltava os Portugueses. E, assim, a frase perdurou até aos nossos dias, quando nos referimos a uma obra de fachada.
Por este motivo, o basbaque lisboeta da época, farto de ver arrancar árvores, colocar tapumes, e de escorregar no lamaçal que do imenso buraco invadia as avenidas quando chovia, ao contemplar as obras de emergência para disfarçar, o melhor possível, aquele espectáculo, passou a comentar: “ISTO É PARA A INGLESA VER”!

04 - Nessa época era projectado um anúncio nos cinemas (a televisão estava a dar os primeiros passos em Portugal) relativo a um relógio à prova de água. Via-se uma menina de fato de banho inteiro (o biquíni era proibido e o monoquini nem sequer passava pela cabeça de ninguém), lançar-se para dentro de uma piscina. Então uma amiga gritava: “Ó Isabel, olha o relógio”, ao que ela respondia: “Não faz mal; é um ‘Butex’ à prova de água”!
Como réplica à repetição crónica daquele anúncio, que os espectadores tinham de suportar cada vez que iam ao cinema, surgiu logo a seguinte rábula: “Sabem qual vai ser a primeira coisa que o Presidente da República vai dizer à Rainha assim que ela desembarcar? É simples: Aponta para o relógio do arco da Rua Augusta, e diz: “Ó ISABEL, OLHA O RELÓGIO”!

05 - Em 1958 o mandato de Craveiro Lopes terminou. Nesse tempo os mandatos presidenciais duravam sete anos, e o Presidente cessante fora afastado de concorrer novamente devido a divergências com Salazar. A União Nacional, único partido legal, indicou o Almirante Américo Tomás como seu candidato, e perseguiu os outros dois: O General Humberto Delgado e o Dr. Arlindo Vicente, que eram apoiados pela “chamada oposição”, designação que, oficialmente, classificava tudo e todos que se opunham ao regime.
Como se sabe, foi o Almirante Américo Tomás que foi eleito como resultado de uma eleição fraudulenta.
Necessário para a compreensão do texto que vai seguir-se, é saber que o Ministro da Guerra, nesse tempo, era um militarão chamado Fernando de Santos Costa.
Na confusão que se gerou em Portugal por causa do apoio popular ao General Humberto Delgado, cujo assassinato havia de ocorrer, às mãos da “PIDE”(1), sete anos depois, surgiu a inevitável anedota:
«UM CIDADÃO PASSEIA, SEM DESCANSAR, DE UM LADO PARA O OUTRO SEMPRE NO MESMO SÍTIO E OLHANDO PARA O CHÃO. INTRIGADA, OUTRA PESSOA PERGUNTA-LHE O MOTIVO DE TAL AGITAÇÃO, OBTENDO ESTA RESPOSTA: ‘SABE, ESTOU MUITO PREOCUPADO! SE OLHO PARA A FRENTE, VEJO O VICENTE; SE OLHO PARA O LADO, VEJO O DELGADO; SE OLHO PARA TRÁS, VEJO O TOMÁS; SE OLHO PARA O AR, VEJO O SALAZAR; VOU PELA RUA, DOBRO UMA ESQUINA, E ENCONTRO LOGO UMA PESSOA DE QUE NINGUÉM GOSTA QUE É O SANTOS COSTA; E, AGORA, ESTOU A OLHAR PARA O CHÃO PARA VER QUAL É ESTA SITUAÇÃO’ »!
Temos de concordar que as coincidências são extraordinárias. Até parece que os nomes foram escolhidos para as diferentes posições. Mas há mais.
A “Tabaqueira” tinha introduzido um novo cigarro nacional, o “CT FILTRO”, motivo suficiente para surgir uma interpretação da sigla destinada ao novo Presidente: “CARO TOMÁS: FOMOS INTRUJADOS; LISTAS TROCADAS; ROUBARAM (A) OPOSIÇÃO”!

06 - Nessa Primavera de 1958, a fim de intimidar o povo, Salazar mandou colocar alguns carros de assalto na Avenida da Liberdade. O “espectáculo”, com os tapumes das obras do metropolitano como fundo, foi capa de uma revista francesa, julgo que o “Paris Match”, logo apreendida pela “PIDE” (1).  O título da fotografia era o seguinte: “GUERRA MUNDIAL? NÃO! APENAS AS ELEIÇÕES EM PORTUGAL”!

E enquanto a Polícia Política perseguia tudo e todos que esboçassem qualquer gesto ou opinião favoráveis a Humberto Delgado, os estudantes de Coimbra manifestavam-se como podiam. São exemplos dois desfiles protagonizados por eles: No primeiro, um grupo seguia um colega agarrando uma pasta, gritando: “Ó OLIVEIRA, LARGA A PASTA!” (Alusão a Oliveira Salazar)
No segundo, a cena era semelhante, mas o perseguido exibia um pau muito fino, enquanto os outros gritavam: “VIVA O FININHO!” (Alusão a Humberto Delgado)

07 - Em Janeiro de 1961, um grupo armado de portugueses e espanhóis, chefiados pelo Capitão Henrique Galvão, apoderou-se do navio “Santa Maria” em pleno Atlântico, tendo sido interceptado, dias depois, por navios de guerra americanos. Mais uma vez, o episódio deu origem a várias anedotas, entre as quais se destaca a adaptação das duas primeiras estâncias de “Os Lusíadas” ao acontecimento:

“AS ARMAS E OS GALVÕES ASSINALADOS,
QUE DA MAIS ORIENTAL PRAIA VENEZUELANA,
POR MARES JÁ DANTES PIRATADOS,
PASSARAM AINDA ALÉM DE COPACABANA;
EM PERIGOS E GUERRAS ESFORÇADOS,
MAIS DO QUE PERMITIA A FORÇA HUMANA,
ENTRE OS NAVIOS AMERICANOS EDIFICARAM
NOVO GOVERNO QUE TANTO SUBLIMARAM.

E TAMBÉM AS MEMÓRIAS GLORIOSAS
DAQUELES DELGADOS, QUE FORAM DOMINANDO
O VÍCIO, O MEDO; E OUTRAS COISAS ESCANDALOSAS
QUE O MUNDO PORTUGUÊS ANDAVAM DEVASTANDO,
E AQUELES QUE POR OBRAS VALEROSAS
SE VÃO DO CRU ANTÓNIO* LIBERTANDO,
CANTANDO ESPALHAREI POR TODA A PARTE,
SE A “PIDE”ME DEIXAR, E EU TIVER ARTE.

      *António, nome próprio de Salazar.

Mas, relacionado com o sequestro do “Santa Maria”, recordo-me de mais duas histórias. A primeira é outra adaptação, desta vez da oração “Ave-Maria”:

“AVE-MARIA, TRAZ-NOS O SANTA MARIA;
NÃO VÁS EM VÃO, E TRAZ O GALVÃO;
SEM GRANDE PESAR, LEVA O SALAZAR;
VOLTA ATRÁS, E LEVA O TOMÁS;
E NÃO FAZES ASNEIRA SE LEVARES TAMBÉM O CEREJEIRA (2)”.

A segunda conta que o “Santa Maria” estava cheio de pó. E porquê? Porque Salazar tinha mandado a fragata “Pêro Escobar” com ordem para afundar o transatlântico! Assim, tinha enviado o navio de guerra “PARA O ESCOBAR”.

08 - Com o início da Guerra Colonial, em 1961, surgiram duas organizações de mulheres com o fim de dar apoio às tropas portuguesas no Ultramar. Foram a Secção Feminina da Cruz Vermelha, de Amélia Pitta e Cunha, e o Movimento Nacional Feminino fundado por Cecília Supico Pinto. Eram, como se dizia na época, “senhoras bem”.
A respeito da primeira, contava-se a seguinte anedota:
«Numa exposição de pintura estavam expostos quatro quadros, representando, respectivamente, um pote de barro rachado, Amélia Pitta e Cunha com um vestido cheio de folhos, uma pata nadando com os filhotes atrás, e uma sessão de deputados na Assembleia Nacional.
Por baixo de cada um, podia ler-se: «AS FALHAS DO POTE, OS FOLHOS DA PITTA, OS FILHOS DA PATA, e… SEM LEGENDA!»

09 - No mesmo ano de 1961, e depois de fracassada a tentativa dos Generais Botelho Moniz e Craveiro Lopes para derrubar Salazar, seguiram os primeiros contingentes militares para Angola. Mais ou menos por essa altura surgiram os primeiros pacotes individuais de açúcar granulado, servidos juntamente com as ‘bicas’, e que apresentavam a marca “Sempa”. Imediatamente, o humor português tratou de arranjar duas siglas. Uma lida da esquerda para a direita, e a outra da direita para a esquerda: «SALAZAR ENVIA MILITARES PARA ANGOLA» – «ANGOLA PEDE MANDEM EMBORA SALAZAR».

10 - Quando, em 1969, a Administração dos Correios, Telégrafos e Telefones de Portugal foi transformada em Empresa Pública, com o logótipo CTT e um postilhão a cavalo tocando trompa, surgiu logo a inevitável interpretação anedótica:
CONTINUAMOS TODOS TESOS, GAITA! (esta última referia-se à trompa que, tal como a gaita, é um instrumento de sopro).

11 - O tempo corria e o Presidente Américo Tomás, com a sua voz monocórdica e com pausas capazes de adormecer qualquer um que tivesse paciência para ouvir os seus confusos discursos, começava a ser alvo de várias anedotas.
As suas duas filhas, que muito pouco deviam à beleza, eram apelidadas de “OS CANHÕES DA ARMADA”. Lembro-me de algumas anedotas, relacionadas com elas e com o pai, que passo a citar:

1ª) Natália, a filha mais velha, foi à discoteca Valentim de Carvalho comprar um disco. Embaraçada, a empregada informou que não lhe podia vender o disco que ela desejava. A cliente ameaçou-a revelando de quem era filha, mas sem resultado. Despeitada, Natália chegou a casa e fez queixa ao pai. Indignado, Américo Tomás foi à discoteca para esclarecer o assunto. Aflita, a empregada explicou que a sua recusa se baseara no facto de ser um disco pornográfico. O Presidente compreendeu o embaraço, desculpou-se e, chegando a casa, berrou para a filha:
“OUVE LÁ, Ó SUA ESTÚPIDA! ENTÃO QUERIAS COMPRAR UM DISCO PORNOGRÁFICO, SABENDO QUE NÃO TEMOS UM PORNÓGRAFO PARA PODER OUVI-LO?”

2ª) Da mesma Natália, contava-se que ao chegar ao Brasil acompanhando o pai em visita oficial, perguntou como se chamava uma certa planta. Explicaram-lhe que era conhecida como vinha-virgem, ao que Natália comentou: “ENTÃO ESTA É QUE É A VINHA-VIRGEM?" 
"É, SIM", RESPONDEU O INTERPELADO; e acrescentou: "VINHA, E VAI!"

3ª) Ofereceram um automóvel a Américo Tomás. Quando tentou introduzir a chave esta não entrava. Solicito, o representante da marca, esclareceu: é com os dentes para cima, Sr. Presidente. Continuando com a chave na mesma posição, VIROU A CABEÇA PARA CIMA, MOSTROU OS DENTES, E DISSE: "AH! É?"

4ª) Ao tomar conhecimento de que, um dia, iríamos ter televisão a cores, Américo Tomás declarou: “ PARA MIM QUERO UMA AZUL”! 

5ª) O Presidente estava na varanda do Palácio de Belém enquanto Natália passeava pelos jardins. Ouviu-se então a voz da mulher dizendo: Ó Américo, chama a Natália para dentro. INSPIRANDO O AR, GRITOU: Ó NATÁLIA!

6ª) Nesta anedota conta-se que Tomás, já trôpego, tentava atacar um sapato. Porque não põe o pé em cima de uma cadeira, perguntou o mordomo? Tem razão, não me lembrei. E LEVANTANDO O OUTRO PÉ, ACABOU CAINDO NO CHÃO!

12 - É claro que existem muitas mais anedotas relacionadas com Américo Tomás, tendo muitas delas transitado para Samora Machel, primeiro Presidente de Moçambique e, depois, para os alentejanos.
Mas Salazar também era alvo de muitas, e dizia-se que até achava graça quando tomava conhecimento delas. Mas não terá ficado muito satisfeito com os poemas
que Fernando Pessoa lhe dedicou, entre os quais cito este:

“ESTE SENHOR SALAZAR, É FEITO DE SAL E AZAR.
  SE UM DIA CHOVE, A ÁGUA DISSOLVE O SAL,
  E SOB O CÉU FICA SÓ O AZAR. É NATURAL.
  OH! C’OS DIABOS. PARECE QUE JÁ CHOVEU”.

13 - Quando morreu uma das quatro irmãs de Salazar, não me lembro qual delas, se Laura, Maria Leopoldina, Elisa ou Marta, surgiu logo uma anedota respeitante ao funeral:

À FRENTE MARCHARAM AS BANDAS, OS BANDULHOS E OS BANDALHOS; SEGUIA-OS O CAIXÃO DA MORTA COBERTO DE COROAS, MUITAS COROAS* E, LOGO AGARRADO ÀS COROAS, O IRMÃO DA MORTA; ATRÁS DELE MARCHAVA A FORÇA PÚBLICA, SEGUIDA DO PÚBLICO À FORÇA; NO FINAL, SALAZAR COMOVIDO, AGRADECEU DIZENDO “OBRIGADO MEU POVO”, AO QUE ESTE RESPONDEU: "OBRIGADOS FOMOS NÓS!"

* Coroa era o termo popular usado para as moedas de Esc. $50 centavos, também conhecidas por cinco tostões; por analogia, as de Esc. 2$50 eram chamadas cinco coroas ou vinte e cinco tostões.

14 - Outra piada comparava os Governos dos Estados Unidos, da Inglaterra, da então Checoslováquia e de Portugal:
NOS ESTADOS UNIDOS HÁ ELEIÇÕES LIVRES, E NÓS ESTAMOS LIVRES DE ELEIÇÕES; A INGLATERRA TEM UM GOVERNO PARLAMENTAR, E PORTUGAL TEM UM GOVERNO PARA LAMENTAR; NA CHECOSLOVÁQUIA O GOVERNO ESTÁ EM PRAGA, E NÓS TEMOS UMA PRAGA NO GOVERNO!

15 - Após a morte, em 1953, do ditador soviético Estaline, sucedeu-lhe Nikita Krustchov que, apesar de ter feito uma crítica severa sobre os crimes do seu antecessor e amnistiado muitos “dissidentes”, manteve o sistema de ditadura comunista.
A anedota baseia-se numa hipotética visita de Salazar à União Soviética.
Querendo mostrar como o povo estava sob o seu controlo, Krustchov levou Salazar a uma varanda que dava para uma praça apinhada de gente.
QUERES VER, ANTÓNIO, COMO OS TENHO NA MÃO? ENTÃO OUVE. E, VIRANDO-SE PARA O POVO, GRITOU:
QUEM É O VOSSO PAI?
ÉS TU, NIKITA, RESPONDEU A MULTIDÃO
QUEM É A VOSSA MÃE?
É A NOSSA PÁTRIA, A RÚSSIA
QUAL É A VOSSA MAIOR AMBIÇÃO?
ACABAR COM AS FRONTEIRAS, ACABAR COM AS FRONTEIRAS!
Tempo depois, é a vez de Krustchov visitar Portugal. Salazar resolve fazer a mesma demonstração perante o convidado:
QUEM É O VOSSO PAI?
SALAZAR, SALAZAR, É A RESPOSTA
QUEM É A VOSSA MÃE?
É A NOSSA PÁTRIA, PORTUGAL
QUAL É A VOSSA MAIOR AMBIÇÃO?
SER, ÓRFÃOS DE PAI, SER ÓRFÃOS DE PAI!

16 - Naquele tempo os estudantes, que até eram obrigados a estudar, tomavam as suas notas em cadernos de papel ordinário chamados “Sebenta”. Esta palavra originou a seguinte sigla: SALAZAR É BURRO E NÃO TEM ALBARDA.

17 - Mas é no Teatro de Revista que, durante décadas, imperou o humor político português.
Partindo da popularidade de Santo António, e do facto de este ser também o nome próprio de Salazar, são incontáveis os trocadilhos que englobaram ambos. Os censores, zelosos protectores da imagem de Salazar, só depois de várias sessões é que iam percebendo a verdadeira intenção dos textos. Por esse motivo, os espectadores procuravam assistir às estreias, pois os inevitáveis cortes iam surgindo sessão após sessão. E, mesmo assim, muito se perdia, já que os censores assistiam aos ensaios gerais.

Voltando ao fim da década de 50 e às obras do metropolitano, inaugurado em 1959, acho que têm aqui cabimento duas rábulas pertencentes à revista “Não Faças Ondas”, e interpretadas por João Villaret. E escolho estas devido ao facto de possuir uma gravação com excertos dessa revista. Não sei se está reeditada.
Acrescento ainda, por curiosidade, que essa gravação copiei-a de um disco de vinil pertencente à Emissora Nacional, para a qual entrei, como assistente de programas musicais, em 1968.
Chamou-me a atenção o facto de algumas faixas estarem riscadas com lápis de cera amarelo. Era assim que se procedia com as obras gravadas cuja transmissão era proibida, além de, na capa, estar escrito a vermelho: não transmitir!
Com muito cuidado consegui remover as marcas do lápis, que, aliás, não tinham feito grande estrago, copiei para uma bobina, e voltei a riscar o disco do mesmo modo, devolvendo-o depois aos arquivos sonoros da EN.

A primeira chama-se Rosa Araújo, e, para compreensão dos leitores, faço os seguintes esclarecimentos:
José Gregório da Rosa Araújo, foi um presidente da Câmara Municipal de Lisboa na segunda metade do século XIX. Deve-se-lhe, entre outras obras, a construção da Avenida da Liberdade. Teve uma estátua, tal como Alexandre Herculano e Oliveira Martins, na lateral da Avenida da Liberdade, onde foi escavado o túnel do metropolitano, não tendo sido necessário remover a do último.
Foi, também, nessa época que foram afixados uns cartazes muito grandes destinados à campanha para a alfabetização dos adultos.
Também é necessário dizer que, no final do século XIX havia transportes públicos de tracção animal, entre os quais o Rippert, O Chora, O Americano, e uma empresa do ramo cujo proprietário chamava-se Salazar.

“Oiçamos” João Villaret no papel de Rosa Araújo:

FIZ A AVENIDA, E OS EDIS FIZERAM AH!
TIVE A ESTÁTUA ALI ESCULPIDA, QUE AFINAL JÁ LÁ NÃO ESTÁ.
FUGIU PL’O CANO, PORQUE EU DISSE ÀQUELE PRIMOR,
CAVA ATRÁS DA DO HERCULANO PORQUE TU AINDA ÉS PIOR:
SÓ O OLIVEIRA MARTINS FICA NUM TALHÃO;
OS OLIVEIRAS NUNCA SAEM DONDE ESTÃO!

Estribilho:
FIZ A AVENIDA, RASGADA, COMPRIDA, QUAL ESTRADA FLORIDA NUM HINO À CLARIDADE;     
                                                                                                     
NO FIM DE TUDO, CAVARAM, FURARAM, PARA ABRIR UM CANUDO, E FOI-SE A LIBERDADE!   

CÁ NO MEU PLANO NÃO HAVIA, PODEM CRER,
ESTE METROPOLITANO QUE A AVENIDA VAI CONTER;
ISTO É DE AGORA, NO MEU TEMPO E PARA ANDAR,
TINHA O “RIPPERT’INHO” AO CHORA, O AMERICANO E O SALAZAR.
ESTE DOS QUATRO FOI TALVEZ O MAIS VELOZ,
MAS JÁ NÃO ANDA, FAZ-NOS SÓ ANDAR A NÓS!

Estribilho:
FIZ A AVENIDA…

OS HOMENS CULTOS DESTA NOVA GERAÇÃO,
P’RA EDUCAREM OS ADULTOS QUE NÃO TÊM INSTRUÇÃO;
IDEALIZARAM UNS CARTAZES BESTIAIS,
NA AVENIDA OS AFIXARAM A CHAMAR AVÓS E PAIS.
E OS TAIS CARTAZES FORAM ÚTEIS A VALER;
ANALFABETOS, NEM UM SÓ DEIXOU DE OS LER!
      Estribilho repetido para acabar.

Na segunda rábula João Villaret faz o papel de Santo António, e canta:

NOS MEUS ROGOS, NOS MEUS VOTOS, PEÇO A DEUS NO PARAÍSO, QUE ME DÊ MUITOS DEVOTOS, DE VOTOS É QUE EU PRECISO;
QUERO VER O POVO UNIDO NO MEU LINDO PORTUGAL,
QUERO-O JUNTO E NÃO PARTIDO, NA UNIÃO TRADICIONAL.

Estribilho:
SE CONCEDO UM “TACHO” PROTEJO UM NAMORO,
LOGO O POPULACHO VEM CANTAR-ME EM CORO,
MEU RICO SANTINHO EU NÃO SEI, NÃO SEI,
MEU SANT’ANTONINHO ONDE TE POREI!

QUEM ME ENGANA OU CONTRADITA,
APONTO NO MEU CADERNO;
VAI COM UM CARTÃO DE VISITA,
P’RÁS PROFUNDAS DO INFERNO.
DIZEM RIVAIS MEUS OPOSTOS,
MILAGRES SÃO MANIGÂNCIAS,
MEUS MILAGRES SÃO IMPOSTOS,
P’LA FORÇA DAS CIRCUNSTÂNCIAS:

Estribilho:
SE CONCEDO UM “TACHO”…

NO CÉU VIVO SOSSEGADO,
ENTRE OS MEUS QUERIDOS SANTINHOS;
CONSTANTEMENTE INSENSADO,
E EM VOLTA, SÓ VEJO ANJINHOS.
COM MEUS HÁBITOS DE FRADE,
SEMPRE A VISTA NO CHÃO POSTA,
É DESTA MINHA HUMILDADE,
QUE A CORTE DOS SANTOS GOSTA!
     Estribilho para finalizar.

18 - Outra analogia entre os nomes próprios de Santo António e do Presidente do Concelho de Ministros, que quer queiram quer não endireitou as finanças de Portugal, consta esta pequena quadra:

SANTO ANTÓNIO CASAMENTEIRO,
ARRANJA-ME COM QUEM CASAR;
DE UM MAIS UM FAZIAS TRÊS,
COMO FAZ O SALAZAR.

19 - Fora do contexto político, recordo os tempos de criança em que se dizia que os leiteiros aumentavam o volume do leite adicionando-lhe água. Esclareço que, nesse tempo, o leite era distribuído aos consumidores pelos próprios leiteiros, que utilizavam vasilhas para o transporte, e mediam a quantidade requerida pelos clientes em púcaros de diversas capacidades. Esta suspeita levou a uma procura de densímetros pelos clientes, incluindo a minha mãe que reclamou, com algum sucesso, algumas fraudes perante os vendedores. Foi remédio santo, pelo menos no que respeitava à nossa casa.
Mas tempo depois correu o boato (seria mesmo?) que para compensar a baixa densidade, os leiteiros passaram a urinar no leite. Uma vez que a urina é mais densa que a água, a aldrabice poderia ser dificilmente desmascarada.
Verdade ou não, a desconfiança enraizou-se. Por isso, quando pela primeira vez surgiu o leite engarrafado sob a sigla UCAL (julgo que significava União das Cooperativas Abastecedoras de Leite, o Português, desconfiado mas com o seu inalterável sentido de humor, arranjou logo um substituto para a sigla: “URINA COM ALGUM LEITE".                            

20 - Embora não relacionada com Portugal, uma vez que respeita ao já aludido Krustchov e à situação do pós-guerra, e me tenha sido contada por um amigo francês, não resisto a mencionar esta anedota, embora a falta de mímica e a audição das onomatopeias façam muita falta.

FARTO DA POLÍTICA, O DIRIGENTE SOVIÉTICO RESOLVEU VIAJAR INCÓGNITO PARA A SUA QUINTA, AFIM DE DESCANSAR UMAS SEMANAS. ENFIOU UM GRANDE CHAPÉU E METEU-SE NUM VELHO COMBÓIO PUXADO POR UMA LOCOMOTIVA A VAPOR. ENQUANTO O COMBÓIO SE ARRASTAVA LENTAMENTE, CHEGOU-LHE O SONO. MEIO ADORMECIDO PARECEU-LHE OUVIR O “POUCA-TERRA” DA LOCOMOTIVA TRANSFORMADO EM CHANG-KAI-CHEK, CHANG-KAI-CHEK, CHANG- KAI-CHEK…
A SITUAÇÃO REPETIA-SE CADA VEZ QUE DORMITAVA, PELO QUE RESOLVEU SAÍR NA PRIMEIRA ESTAÇÃO E APANHAR UM COMBÓIO RÁPIDO. MAS, DESTA VEZ, NÃO FOI CHANK-KAI-CHEK QUE O PERTUBOU; PARECEU-LHE OUVIR CHURCHIL, CHURCHIL, CHURCHIL…
FURIOSO, E AGORA AINDA MAIS CONVENCIDO QUE ESTAVA A NECESSITAR DE FÉRIAS, SAÍU NA ESTAÇÃO SEGUINTE, CHAMOU UM TÁXI E GRITOU: PARA ROSKOV! ASSUSTADO, PENSANDO QUE O CLIENTTE ERA ALGUM TIPO DA “KGB”, O MOTORISTA ACELEROU BRUSCAMENTE, PROVOCANDO UM RUÍDO QUE PARECEU SOAR COMO “ROOOOOOSEVELT”.
COMPLETAMENTE FORA DE SI, BERROU: PARE IMEDIATAMENTE!
ATERRORIZADO, O MOTORISTA TRAVOU A FUNDO, O QUE MOTIVOU QUE OS PNEUS FIZESSEM “HIIIIIIITLER!
JULGANDO QUE ESTAVA A ENLOUQUECER, NIKITA SAÍU DO TÁXI E PROCUROU UM CAFÉ ONDE PEDIU UMA CERVEJA. MAS, QUANDO ESTAVA A DESPEJÁ-LA NO COPO, JULGOU OUVIR: “DE GAULE, DE GAULE, DE GAULE”…
DE CABEÇA COMPLETAMENTE PERDIDA, ATIROU O COPO E A GARRAFA PARA O CHÃO, QUE PRODUZIRAM O SOM: “STALINE”!


Nota: Esta compilação de anedotas e o texto que as acompanha, foram feitas por João Daniel Maia Saturnino em Dezembro de 2011, com a esperança de que possa ser continuamente aumentada. Para este fim e como atrás disse, serão feitos os anexos necessários, à medida que mais anedotas me venham à memória ou sejam lembradas por outrem.
Também, e por sugestão de um amigo, vou procurar ser mais esclarecedor sobre os personagens visados que, apesar de fazerem parte da nossa História recente (século XX), são desconhecidos da maioria da juventude, graças ao tipo de “ensino” que hoje se pratica.

(1)  “PIDE”: Polícia Internacional e Defesa do Estado, polícia política que investigava, perseguia e prendia os cidadãos suspeitos de se oporem ao “Estado Novo”, o regime vigente instaurado pelo golpe de estado de 28 de Maio de 1926.
(2)  Manuel Gonçalves Cerejeira (1888-1977): Cardeal Patriarca de Lisboa de 1929 a 1971, amigo íntimo de Salazar.

ANEXO – 01
Nota:
Em 1966, a poetisa Natália Correia teve a “ousadia” de organizar e publicar, pela editora “Afrodite”, uma “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”. O resultado foi o julgamento e a condenação, em Tribunal Plenário, da autora, do editor e de outras pessoas ligadas ao assunto. Se os autores dos poemas compilados, desde Martim Soares (séc. XIII), (passando por Camões, Bocage, e tantos outros) a João de Deus, tivessem vivido durante o Estado Novo teriam, decerto, o mesmo destino que Natália Correia e todos os que foram condenados pela Censura, tão zelosa em fazer cumprir a “moral e os bons costumes” da época. Sempre o sexo visto como coisa pecaminosa!
Mas, e como escreveu David Mourão Ferreira no prefácio da “amaldiçoada” primeira edição, “não ter medo das palavras e não recear as realidades que elas exprimem, é, sobretudo, evitar o trânsito pelo consultório de um psiquiatra. Os maiores dos nossos poetas conheceram, desde sempre, esta forma de terapêutica. Difundi-la, eis o que importa (…) mas é provável que também suscite, em meia dúzia de paranóicos, a sádica nostalgia das fogueiras do Santo Ofício”.

E, já agora, vem a propósito lembrar o embaraço com que os professores de português tentavam explicar a “incómoda prenda”, ou seja, “quecas à vontade", dada aos nossos navegantes, no episódio da Ilha dos Amores, constante no nono canto de “Os Lusíadas”, onde a estância LXXII reza assim:

“Outros por outra parte vão topar
Com as deusas despidas, que se lavam:
Elas começam súbito a gritar,
Como que assalto tal não esperavam.
Umas fingindo menos estimar
A vergonha que a força, se lançavam
Nuas por entre o mato, aos olhos dando
O que às mãos cobiçosas vão negando.”

É um exemplo típico da maioria das mulheres, em que o cérebro diz não, mas as hormonas sexuais fazem-no mudar de ideias. Perdoem-me a piada!
Perante isto, e também por incitamento de um amigo, não tenho qualquer rebuço em incluir nesta colectânea, algumas anedotas que possam chocar a tal meia dúzia referida por David Mourão Ferreira.
Mais esclareço que as palavras usadas mais adiante são classificadas, em Linguística, como tabuísmo, isto é, com acepção tabu. São os chamados palavrões e referem-se sobretudo ao metabolismo do corpo, como ‘cagar, mijar', aos órgãos e funções sexuais, 'caralho, foder’, ou disfemismos como ‘puta, paneleiro, cabrão’, etc.

01 - Voltemos a 1961 e ao sequestro do navio “Santa Maria” pelo Capitão Henrique Galvão. Por essa altura dizia-se que o Papa resolvera canonizar o revolucionário português. E porquê? Porque nasceu no Seixal (na data concelho do Barreiro) na Rua SÃO FILIPE NÉRI, no dia de SÃO JOÃO DE BRITO; foi baptizado na Igreja de SANTA CRUZ; foi julgado no Tribunal Militar de SANTA CLARA; esteve doente no Hospital de SANTA MARIA; evadiu-se no dia dos CINCO SANTOS MÁRTIRES DE MARROCOS; assaltou o SANTA MARIA; pôs-lhe o nome de SANTA LIBERDADE; fugiu para as terras de SANTA CRUZ; mora agora em SÃO PAULO; e tudo isto por causa de um homem* que mora em SÃO BENTO e nasceu em SANTA COMBA DÃO!
   *Salazar.

02 - E, usando os chamados palavrões, vou contar estas três anedotas que agora me vieram à mente e que tão bem caracterizam a brejeirice do nosso povo.

1ª - Nas salas de cinema, antes da exibição do filme principal, era hábito projectar os chamados complementos, desenhos animados ou temas informativos, entre os quais as “Actualidades Francesas” (ainda me lembro muito bem do tema musical que servia de indicativo). A cena parece ter ocorrido no cinema S. Jorge, em Lisboa. Numa dessas actualidades foram exibidas algumas jóias da coroa britânica e, a certa altura, o locutor apresentou uma peça, esclarecendo:
E PODEM VER AGORA ESTE BROCHE INTEIRAMENTE FEITO À MÃO. Nisto, ouviu-se alguém gritar: "À MÃO??..."

2ª - Em 1959, aquando da inauguração do monumento a Cristo Rei, em Almada, dizia-se que o Marechal Saldanha, cujo braço direito da estátua na praça do mesmo nome em Lisboa, aponta para a margem sul do Tejo, perguntou:
- HÁ PUTAS DESSE LADO?
Ao que Cristo, de braços abertos, respondeu:
- NÃO SEI. CHEGUEI MESMO AGORA!

3ª - No início de 1962 entrou em vigor a lei que proibia a prostituição em Portugal, com todos os incentivos criminosos e anti-higiénicos que acarretou. Mas Salazar declarou: “já não há prostitutas em Portugal”! O mais espantoso é que esse problema continua hoje a existir no país que legalizou o aborto e os casamentos homossexuais, com todos os problemas que resultam do que é feito na clandestinidade.

Mas passemos à anedota que essa proibição provocou:

Nessa época estavam em voga o fado “Belos Tempos Que Eu Vivi”, cantado por Fernando Farinha, o tango “Esperanza”, interpretado por Niño de Murcia” e a canção “Et Maintenant, Que Vais Je Faire”, criada por Gilbert Bécaud.
Assim, perguntava-se às pessoas:

AGORA QUE A PROSTITUIÇÃO ACABOU, SABEM O QUE OS CHULOS, AS PUTAS E OS PANELEIROS VÃO CANTAR?
POIS É SIMPLES: OS PRIMEIROS CANTARÃO “BELOS TEMPOS”... AS PUTAS “ET MAINTENANT”… E OS PANELEIROS “ESPERANZA”!  

ANEXO – 02
Neste segundo anexo junto mais três anedotas.

1ª- Esta surgiu por volta de 1960. Salazar completara 71 anos, idade avançada para a época, que justifica a anedota que passo a contar:

“NUMA SESSÃO DA ASSEMBLEIA NACIONAL, FOI POSTO À DISCUSSÃO O PROBLEMA DO LOCAL ONDE DEVERIA SER ENTERRADO O DITADOR QUANDO MORRESSE.
-POR MIM, AFIRMOU UM DEPUTADO, JULGO QUE O LUGAR QUE LHE COMPETE SERÁ NO MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS, AO LADO DE CAMÕES E DE OUTRAS GRANDES FIGURAS QUE LÁ REPOUSAM.
-ACHO QUE NÃO, CONTARIOU OUTRO; NA VERDADE O HOMEM TEM SIDO MUITO IMPORTANTE, MAS, A SUA ORIGEM REMETE-O APENAS PARA UM PROVINCIANO NASCIDO EM SANTA COMBA DÃO.
-NESSE CASO, ENTERRA-SE NO MOSTEIRO DA BATALHA, AO LADO DO SOLDADO DESCONHECIDO, OPINOU OUTRO DEPUTADO.
-ISSO TAMBÉM É REBAIXÁ-LO DEMAIS, EXCLAMOU OUTRO, COM AR INDIGNADO; JUNTO A UM SOLDADO QUE, AINDA POR CIMA, NINGUÉM SABE QUEM É!
A DISCUSSÃO CONTINUOU TENDO OS TRABALHOS DA ASSEMBLEIA TERMINADO SEM QUALQUER CONCLUSÃO.
ASSIM, OS DEPUTADOS SAIRAM DE S. BENTO, A PENSAR NO ASSUNTO.
DESCIA UM DELES NO SEU “CADILLAC”, (1) A AVENIDA DA LIBERDADE, QUANDO REPAROU NUM ARDINA (2) APREGOANDO OS JORNAIS. ORDENOU AO MOTORISTA QUE PARASSE E CHAMOU O RAPAZ AFIM DE SABER AS ULTIMAS NOTÍCIAS, E, LEMBRANDO-SE QUE, ÀS VEZES, A VOZ DO POVO TEM GRANDES IDEIAS, PERGUNTOU-LHE:
-OUVE LÁ, MIÚDO: ONDE É QUE TU MANDARIAS ENTERRAR SUA EXCELÊNCIA O SENHOR PROFESSOR DOUTOR OLIVEIRA SALAZAR QUANDO ELE MORRER?
ATRAPALHADO, O MOÇO RESPONDEU: OLHE, EM JERUSALÉM!
ÉS PARVO! MAS QUE DISPARATE. VÊ-SE LOGO QUE NÃO SABES O QUE DIZES.
O DEPUTADO SEGUIU O SEU CAMINHO, ENQUANTO O ARDINA, APAVORADO, CORREU PARA CASA, ONDE GRITOU: PAI! PAI! VOU SER PRESO!
-O QUE FIZESTE?
-CALCULE, QUE HOJE UM TIPO QUE PARECIA SER DO GOVERNO, PERGUNTOU-ME ONDE ENTERRARIA O SALAZAR QUANDO MORRER!
-E TU QUE RESPONDESTE?
-OLHE. COMO NA CAPA DO JORNAL ESTAVA UMA NOTÍCA SOBRE O CONFLITO ISRAELO-ÁRABE, DISSE-LHE A PRIMEIRA COISA QUE ME VEIO À CABEÇA: EM JERUSALÉM!
-AH DESGRAÇADO, MEU GRANDE MALANDRO! ENTÃO NÃO SABES QUE HOUVE UM TIPO QUE MORREU LÁ E RESSUSCITOU AO FIM DO TERCEIRO DIA”?!

        (1) “Cadillac”. Automóvel de luxo norte-americano que, tal como outros da mesma nacionalidade, circulavam em Portugal, como os “Chevrolet”, “Buick”, “Dodge, “Oldsmobile”, “Chrysler”, “De Soto”, “Pontiac”, etc.
Automóveis enormes, eram uma das ostentações da gente rica. Embora a anedota se referisse ao “Cadillac”, a verdade é que Salazar nunca permitiria que qualquer membro do Governo ou deputado fizesse essas exibições, o que não acontece hoje!
Aliás, todos os automóveis pertencentes ao Estado, tinham uma placa com essa indicação, afim de evitar abusos por parte dos seus utilizadores.
       (2) Ardina. Palavra de origem obscura com que se designava em Lisboa os vendedores de jornais ambulantes, geralmente garotos, que percorriam as ruas gritando os títulos dos jornais e revistas que traziam dentro de uma sacola. A sonoridade típica dos seus pregões, transformava muito os nomes dos jornais, mas toda a gente os entendia. Por exemplo, o “Diário Popular” soava, mais ou menos, como “diérepléri”.

E vem a talhe de foice recordar que no jornal “República”, fonte de tantos conflitos após o 25 de Abril de 1974, escrevia um jornalista cujo apelido era Rocha (não me lembro do nome próprio), que dava-se ao luxo de atacar Salazar escapando, não sei como, da Censura. Por este motivo dizia-se: “FALA O ROCHA, O SALAZAR À BROCHA”.
Assim, para chamar a atenção dos compradores sem dar nas vistas, quando saía um artigo dele no “República”, os ardinas apregoavam: “ROCHA NA RÉ”!

2ª - Em Outubro de 1958, após a morte do Papa Pio XII, foi eleito novo Pontífice o cardeal Angello Guiseppe Roncalli, que adoptou o nome de João XXIII. O seu apelido originou a seguinte comparação com que se interrogava as pessoas: 
- "SABES QUAL É A SEMELHANÇA ENTRE SALAZAR E O PAPA? É QUE SALAZAR RESSONA AQUI E O PAPA RONCA ALI”.

3ª - E A SEMELHANÇA ENTRE O PAPA E A “MERCEDES”? É QUE O PAPA ABENÇOA E A MERCEDES BENZ(E).

E, a terminar este segundo anexo, e já que falei de deputados, não resisto em citar a quadra do poeta brasileiro Luiz Vieira, que reza assim:

“SE BICUDO VEM DE BICA,
E SE GROTA (3) VEM DE GRUTA,
CONFORME A PALAVRA INDICA,
DEPUTADO VEM DE PUTA”

        (3) Grota: do italiano grotta” através do latim crypta. Galeria escura, subterrâneo, caverna.

***

ANEXO – 03

Em primeiro lugar quero agradecer a todos os que têm lido e elogiado esta colectânea de anedotas. Em segundo, esclarecer que a longa paragem entre este anexo e o anterior se deve ao facto de não me ter lembrado de mais anedotas. Mas, eis que há dias, algum escondido neurónio da minha estafada cabeça veio “segredar-me” mais duas. Ei-las:

1 - Um leão fugiu do Jardim Zoológico e começou a percorrer a cidade aterrorizando todos os que o viam e ouviam os seus urros. Embora perseguido pela Polícia conseguiu sempre esquivar-se dos tiros, e percorreu Lisboa até à Rotunda do Marquês de Pombal onde finalmente assentou arraiais, talvez devido à presença do “colega” que acompanha a estátua do marquês.
Cercado pela Polícia, GNR e Exército, o leão conseguia sempre esquivar-se, chegando mesmo a ferir e matar alguns mais ousados que se aproximaram dele.
Nisto, do meio da multidão que se juntara e espreitava de longe, surgiu um jovem que, para horror dos presentes, avançou para a fera com a qual iniciou uma luta sangrenta. Finalmente conseguiu estrangular o leão e, embora muito ferido foi levado aos ombros e festejado como um herói nacional.
Uma vez serenado o entusiasmo, um jornalista acercou-se dele e, depois das perguntas disparatadas inerentes à profissão, começou o seguinte diálogo:
-O senhor, tão corajoso e valente, deve pertencer à Mocidade Portuguesa, não é verdade?
-Não. Por acaso não pertenço.
-Ah! Então deve ser da Legião Portuguesa.
-Não. Também não faço parte dessa instituição.
-Mas deve ser aluno do Colégio Militar.
-Também não.
-Mas é da situação, claro.
-Desculpe contradizê-lo, mas também não sou.
Perante isto o jornalista terminou a reportagem.
No dia seguinte, nas páginas interiores dos jornais, saiu esta notícia: 
«LEÃOZINHO BARBARAMENTE ASSASSINADO POR COMUNISTA!»

2 - Os arqueólogos não conseguiam identificar uma múmia descoberta recentemente no Egipto. Enviaram-na para vários países, onde os especialistas mais eminentes em egiptologia a examinaram não conseguindo chegar a nenhuma conclusão. Finalmente, tiveram a ideia de enviá-la para um país com pouca tradição científica onde, por vezes, a esperteza suplantava o conhecimento. O país escolhido foi Portugal. Aqui, andou de mão em mão também sem qualquer resultado até que, por brincadeira, alguém sugeriu que fosse enviada para a sede da PIDE. 
Dias depois a múmia foi devolvida, acompanhada da seguinte mensagem: 
"RAMSÉS II; FALECEU EM 1260 AC; CONFESSOU TUDO! "

 ***

3 comentários:

  1. Nota 20!!! Excelente!!!

    ResponderEliminar
  2. Vou fazer copy paste, porque creio ser a mais engraçada colectânea de anedotas antigas que já vi.. Até que nos tempo Acadamécos sabia uma sobre o Américo Tomas e a Gertrudes: "Porque é que o Tomás não parou na Ilha Terceira quando foi aos Açores"?? Quero dizer o restante, mas já não recordo!Tinha algo de maldoso já naquela época, porém punha-nos todos a rir às escondidas dos professores em plena sala de aulas!! Se souberem ou me ajudarem a relembrar o restante, coloquem neste blogue, porque é mesmo muito engraçada!!!

    ResponderEliminar
  3. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

    ResponderEliminar

Nota: qualquer comentário a este artigo escrito segundo o chamado 'novo acordo ortográfico', será considerado como tendo erros grosseiros e, como tal, corrigido.