ANEDOTAS POLÍTICAS PORTUGUESAS DA ÉPOCA DE SALAZAR
Texto e compilação de
João Saturnino.
(Este texto está escrito em português actual,
desobedecendo ao famigerado acordo ortográfico imposto pela corja de
governantes lacaios dos interesses político-comerciais, que conduziram Portugal
ao desgraçado estado em que se encontra.)
Nota preliminar:
A palavra anedota provém
do adjectivo grego anékdotos que
significa “não entregue”, “não publicado”, “inédito”. Sob o título anédokta, o poeta bizantino Procópio publicou,
no século VI, uma obra repleta de pormenores sobre as pessoas e acontecimentos
da sua época. No sentido moderno aparece com Voltaire, e terá entrado em
Portugal por via francesa.
Trata-se, assim, da
narrativa de um episódio histórico curioso e pouco divulgado, que se tornou num
conto curto, normalmente de autor desconhecido, com um final inesperado que
provoca o riso. Talvez seja o sexo o tema que mais se tem prestado a este tipo
de relação humana, embora a política, principalmente quando as coisas correm
mal, seja um dos alvos preferenciais.
Também é muito
importante o jeito inato que algumas pessoas têm para contar anedotas; de facto,
contar uma “boa piada” é algo que exige uma certa arte, já que uma anedota, por
mais engraçada que seja, pode perder muito do seu humor intrínseco quando
contada por uma pessoa sem aptidão, sendo a situação inversa também verdadeira.
Um bom contador pode provocar logo o sorriso, quando interroga: “Vocês já sabem
a última?”
Bastante importante
é, ainda, a mímica usada quando a anedota se passa simultaneamente no espaço e
no tempo. Quando bem desempenhada, aumenta muito o prazer da escuta e a
hilaridade que advém no final.
As anedotas que se
seguem, ou apenas excertos delas, resultam do que resta na memória das quase sete
décadas que já vivi.
Por sugestão de
alguns amigos, resolvi fazer uma compilação do nosso costumado e típico humor,
tão bem classificado, não sei por quem, com o lema de “pobretes mas alegretes”.
Basta ver o que aparece hoje na “Internet” sobre a actual e endémica crise
nacional. Para minha satisfação vejo que, pelo menos, o nosso sentido de humor
não se perdeu. Valha-nos isso!
Assim, vou relatar as
que conservo na mente e gosto tanto de contar, antes que o chamado “Alzheimer”
ou a morte me surpreendam.
Por julgar que estas
anedotas fazem parte intrínseca do nosso Povo, nada pretendo em troca da sua
revelação. Apenas agradecia que, se alguém tomar contacto com este texto, e se lembrar
de outras “pérolas” do anedotário político português, entre em contacto comigo,
a fim de enriquecer esta grande faceta da nossa cultura.
Estou inteiramente ao
dispor através do correio electrónico “jsaturnino8@gmail.com.
Assim, e à medida que
mais anedotas surgirem na minha memória, ou devido à colaboração de outras
pessoas, estas serão contadas em anexos, a fim de evitar a leitura integral do
texto inicial.
Mas, antes de
começar, quero testemunhar a minha admiração, que julgo comum a todos os
Portugueses, por todos aqueles anónimos que a História nunca assinalará, e que foram
os autores deste tão divertido como crítico modo de ver a malfadada política. E,
malfadada porquê? Porque é feita por politiqueiros; mas, a verdade é que, se
não fosse feita por esse tipo de gente, não seria…política!
E, agora, vamos a
isto!
01 - Corria o ano de
1951. Tinha sido eleito Presidente da República o General Craveiro Lopes,
casado com Berta Ribeiro Artur, conhecida popularmente pela Dona Berta. Como esta senhora usava o
cabelo muito encaracolado, surgiu logo a anedota: “PORQUE É QUE O CRAVEIRO NÃO
DÁ CRAVOS? POR CAUSA DOS CARACÓIS DA BERTA”!
02 - Dois anos depois,
Craveiro Lopes e a mulher foram convidados a visitar o Reino Unido. Foi logo
motivo para o aparecimento de duas anedotas.
Assim, contava-se que
sabendo que a vogal “i” em inglês normalmente lê-se “ai”, o casal resolveu
treinar-se, pronunciando em português todos os “is” como se fossem aquele
ditongo.
A primeira conta que,
uma noite, Dona Berta acordou o
marido, dizendo: “Ó CHAICO! DÁ CÁ O
PENAICO QUE EU QUERO FAZER XAI-XAI”!
A segunda ocorre já em
Londres. Depois de ter ido à casa de banho, o Presidente quis puxar o
autoclismo, mas não conseguiu compreender o que estava escrito na parede. Por
isso chamou o camareiro e disse-lhe que não sabia o que, em inglês, significava
“paise nâu pídal”.
Solícito, o camareiro
retorquiu: «Por amabilidade nós escrevemos a instrução em português. O que está
escrito é “PISE NO PEDAL”»
03 - Avancemos até
1957. A Rainha Isabel II de Inglaterra veio visitar Portugal.
Por ordem do Governo
de Salazar, os mendigos foram encarcerados para que “Sua Majestade” não visse a
miséria do País. A desculpa era que, quando recebemos alguém em nossa casa,
procuramos dar-lhe o melhor aspecto possível.
Como cantava José
Viana em “O Zé Cacilheiro”, na revista “Zero, Zero, Zé – Ordem Para Pagar”,
eram «outros tempos, outras gentes, outra alegria…!»
Mas, nesse ano, as
avenidas da República, Fontes Pereira de Melo e da Liberdade tinham as laterais
do lado direito (na direcção dos Restauradores) esventradas devido à construção
do metropolitano a céu aberto. Por isso faziam-se, apressadamente, obras de
disfarce.
Vem, a propósito,
explicar a típica expressão “é para inglês ver”. A sua origem parece ter
surgido em 1808, aquando da ida da Corte Portuguesa para o Brasil, fugindo das
Invasões Francesas. O porto da cidade de Salvador, na altura capital da
colónia, iluminou-se para a recepção, o que terá provocado ao príncipe regente,
futuro D. João VI, o seguinte comentário: “Isto é para inglês ver”. Referia-se
ao almirante inglês, comandante do navio que escoltava os Portugueses. E,
assim, a frase perdurou até aos nossos dias, quando nos referimos a uma obra de
fachada.
Por este motivo, o
basbaque lisboeta da época, farto de ver arrancar árvores, colocar tapumes, e de
escorregar no lamaçal que do imenso buraco invadia as avenidas quando chovia, ao
contemplar as obras de emergência para disfarçar, o melhor possível, aquele
espectáculo, passou a comentar: “ISTO É PARA A INGLESA VER”!
04 - Nessa época era
projectado um anúncio nos cinemas (a televisão estava a dar os primeiros passos
em Portugal) relativo a um relógio à prova de água. Via-se uma menina de fato
de banho inteiro (o biquíni era proibido e o monoquini nem sequer passava pela
cabeça de ninguém), lançar-se para dentro de uma piscina. Então uma amiga
gritava: “Ó Isabel, olha o relógio”, ao que ela respondia: “Não faz mal; é um ‘Butex’
à prova de água”!
Como réplica à
repetição crónica daquele anúncio, que os espectadores tinham de suportar cada
vez que iam ao cinema, surgiu logo a seguinte rábula: “Sabem qual vai ser a
primeira coisa que o Presidente da República vai dizer à Rainha assim que ela
desembarcar? É simples: Aponta para o relógio do arco da Rua Augusta, e diz: “Ó
ISABEL, OLHA O RELÓGIO”!
05 - Em 1958 o mandato
de Craveiro Lopes terminou. Nesse tempo os mandatos presidenciais duravam sete
anos, e o Presidente cessante fora afastado de concorrer novamente devido a
divergências com Salazar. A União Nacional, único partido legal, indicou o
Almirante Américo Tomás como seu candidato, e perseguiu os outros dois: O
General Humberto Delgado e o Dr. Arlindo Vicente, que eram apoiados pela
“chamada oposição”, designação que, oficialmente, classificava tudo e todos que
se opunham ao regime.
Como se sabe, foi o
Almirante Américo Tomás que foi eleito como resultado de uma eleição
fraudulenta.
Necessário para a compreensão
do texto que vai seguir-se, é saber que o Ministro da Guerra, nesse tempo, era
um militarão chamado Fernando de Santos Costa.
Na confusão que se
gerou em Portugal por causa do apoio popular ao General Humberto Delgado, cujo
assassinato havia de ocorrer, às mãos da “PIDE”(1), sete anos depois, surgiu a
inevitável anedota:
«UM CIDADÃO PASSEIA,
SEM DESCANSAR, DE UM LADO PARA O OUTRO SEMPRE NO MESMO SÍTIO E OLHANDO PARA O
CHÃO. INTRIGADA, OUTRA PESSOA PERGUNTA-LHE O MOTIVO DE TAL AGITAÇÃO, OBTENDO
ESTA RESPOSTA: ‘SABE, ESTOU MUITO PREOCUPADO! SE OLHO PARA A FRENTE, VEJO O
VICENTE; SE OLHO PARA O LADO, VEJO O DELGADO; SE OLHO PARA TRÁS, VEJO O TOMÁS;
SE OLHO PARA O AR, VEJO O SALAZAR; VOU PELA RUA, DOBRO UMA ESQUINA, E ENCONTRO LOGO
UMA PESSOA DE QUE NINGUÉM GOSTA QUE É O SANTOS COSTA; E, AGORA, ESTOU A OLHAR
PARA O CHÃO PARA VER QUAL É ESTA SITUAÇÃO’ »!
Temos de concordar
que as coincidências são extraordinárias. Até parece que os nomes foram
escolhidos para as diferentes posições. Mas há mais.
A “Tabaqueira” tinha
introduzido um novo cigarro nacional, o “CT FILTRO”, motivo suficiente para
surgir uma interpretação da sigla destinada ao novo Presidente: “CARO TOMÁS:
FOMOS INTRUJADOS; LISTAS TROCADAS; ROUBARAM (A)
OPOSIÇÃO”!
06 - Nessa Primavera
de 1958, a
fim de intimidar o povo, Salazar mandou colocar alguns carros de assalto na
Avenida da Liberdade. O “espectáculo”, com os tapumes das obras do
metropolitano como fundo, foi capa de uma revista francesa, julgo que o “Paris
Match”, logo apreendida pela “PIDE” (1). O título da fotografia era o seguinte:
“GUERRA MUNDIAL? NÃO! APENAS AS ELEIÇÕES EM PORTUGAL”!
E enquanto a Polícia
Política perseguia tudo e todos que esboçassem qualquer gesto ou opinião
favoráveis a Humberto Delgado, os estudantes de Coimbra manifestavam-se como
podiam. São exemplos dois desfiles protagonizados por eles: No primeiro, um
grupo seguia um colega agarrando uma pasta, gritando: “Ó OLIVEIRA, LARGA A PASTA!”
(Alusão a Oliveira Salazar)
No segundo, a cena
era semelhante, mas o perseguido exibia um pau muito fino, enquanto os outros
gritavam: “VIVA O FININHO!” (Alusão a Humberto Delgado)
07 - Em Janeiro de
1961, um grupo armado de portugueses e espanhóis, chefiados pelo Capitão
Henrique Galvão, apoderou-se do navio “Santa Maria” em pleno Atlântico, tendo sido
interceptado, dias depois, por navios de guerra americanos. Mais uma vez, o
episódio deu origem a várias anedotas, entre as quais se destaca a adaptação das
duas primeiras estâncias de “Os Lusíadas” ao acontecimento:
“AS ARMAS E OS
GALVÕES ASSINALADOS,
QUE DA MAIS ORIENTAL
PRAIA VENEZUELANA,
POR MARES JÁ DANTES
PIRATADOS,
PASSARAM AINDA ALÉM
DE COPACABANA;
EM PERIGOS E GUERRAS
ESFORÇADOS,
MAIS DO QUE PERMITIA
A FORÇA HUMANA,
ENTRE OS NAVIOS
AMERICANOS EDIFICARAM
NOVO GOVERNO QUE
TANTO SUBLIMARAM.
E TAMBÉM AS MEMÓRIAS
GLORIOSAS
DAQUELES DELGADOS, QUE FORAM DOMINANDO
O VÍCIO, O MEDO; E OUTRAS COISAS ESCANDALOSAS
DAQUELES DELGADOS, QUE FORAM DOMINANDO
O VÍCIO, O MEDO; E OUTRAS COISAS ESCANDALOSAS
QUE O MUNDO PORTUGUÊS
ANDAVAM DEVASTANDO,
E AQUELES QUE POR
OBRAS VALEROSAS
SE VÃO DO CRU ANTÓNIO*
LIBERTANDO,
CANTANDO ESPALHAREI
POR TODA A PARTE,
SE A “PIDE”ME DEIXAR,
E EU TIVER ARTE.
*António, nome
próprio de Salazar.
Mas, relacionado com
o sequestro do “Santa Maria”, recordo-me de mais duas histórias. A primeira é
outra adaptação, desta vez da oração “Ave-Maria”:
“AVE-MARIA, TRAZ-NOS
O SANTA MARIA;
NÃO VÁS EM VÃO, E
TRAZ O GALVÃO;
SEM GRANDE PESAR,
LEVA O SALAZAR;
VOLTA ATRÁS, E LEVA O
TOMÁS;
E NÃO FAZES ASNEIRA
SE LEVARES TAMBÉM O CEREJEIRA (2)”.
A segunda conta que o
“Santa Maria” estava cheio de pó. E porquê? Porque Salazar tinha mandado a
fragata “Pêro Escobar” com ordem para afundar o transatlântico! Assim, tinha
enviado o navio de guerra “PARA O ESCOBAR”.
08 - Com o início da
Guerra Colonial, em 1961, surgiram duas organizações de mulheres com o fim de
dar apoio às tropas portuguesas no Ultramar. Foram a Secção Feminina da Cruz
Vermelha, de Amélia Pitta e Cunha, e o Movimento Nacional Feminino fundado por
Cecília Supico Pinto. Eram, como se dizia na época, “senhoras bem”.
A respeito da
primeira, contava-se a seguinte anedota:
«Numa exposição de
pintura estavam expostos quatro quadros, representando, respectivamente, um
pote de barro rachado, Amélia Pitta e Cunha com um vestido cheio de folhos, uma
pata nadando com os filhotes atrás, e uma sessão de deputados na Assembleia
Nacional.
Por baixo de cada um,
podia ler-se: «AS FALHAS DO POTE, OS FOLHOS DA PITTA, OS FILHOS DA PATA, e… SEM
LEGENDA!»
09 - No mesmo ano de
1961, e depois de fracassada a tentativa dos Generais Botelho Moniz e Craveiro
Lopes para derrubar Salazar, seguiram os primeiros contingentes militares para
Angola. Mais ou menos por essa altura surgiram os primeiros pacotes individuais
de açúcar granulado, servidos juntamente com as ‘bicas’, e que apresentavam a
marca “Sempa”. Imediatamente, o humor português tratou de arranjar duas siglas.
Uma lida da esquerda para a direita, e a outra da direita para a esquerda: «SALAZAR
ENVIA MILITARES PARA ANGOLA» – «ANGOLA PEDE
MANDEM EMBORA SALAZAR».
10 - Quando, em 1969, a Administração dos
Correios, Telégrafos e Telefones de Portugal foi transformada em Empresa
Pública, com o logótipo CTT e um postilhão a cavalo tocando trompa, surgiu logo
a inevitável interpretação anedótica:
CONTINUAMOS TODOS
TESOS, GAITA! (esta última referia-se à trompa que, tal como a gaita, é
um instrumento de sopro).
11 - O tempo corria e
o Presidente Américo Tomás, com a sua voz monocórdica e com pausas capazes de
adormecer qualquer um que tivesse paciência para ouvir os seus confusos
discursos, começava a ser alvo de várias anedotas.
As suas duas filhas,
que muito pouco deviam à beleza, eram apelidadas de “OS CANHÕES DA ARMADA”.
Lembro-me de algumas anedotas, relacionadas com elas e com o pai, que passo a
citar:
1ª) Natália, a filha
mais velha, foi à discoteca Valentim de Carvalho comprar um disco. Embaraçada,
a empregada informou que não lhe podia vender o disco que ela desejava. A
cliente ameaçou-a revelando de quem era filha, mas sem resultado. Despeitada,
Natália chegou a casa e fez queixa ao pai. Indignado, Américo Tomás foi à
discoteca para esclarecer o assunto. Aflita, a empregada explicou que a sua
recusa se baseara no facto de ser um disco pornográfico. O Presidente
compreendeu o embaraço, desculpou-se e, chegando a casa, berrou para a filha:
“OUVE LÁ, Ó SUA
ESTÚPIDA! ENTÃO QUERIAS COMPRAR UM DISCO PORNOGRÁFICO, SABENDO QUE NÃO TEMOS UM
PORNÓGRAFO PARA PODER OUVI-LO?”
2ª) Da mesma Natália,
contava-se que ao chegar ao Brasil acompanhando o pai em visita oficial,
perguntou como se chamava uma certa planta. Explicaram-lhe que era conhecida
como vinha-virgem, ao que Natália comentou: “ENTÃO ESTA É QUE É A VINHA-VIRGEM?"
"É, SIM", RESPONDEU O INTERPELADO; e acrescentou: "VINHA, E VAI!"
"É, SIM", RESPONDEU O INTERPELADO; e acrescentou: "VINHA, E VAI!"
3ª) Ofereceram um
automóvel a Américo Tomás. Quando tentou introduzir a chave esta não entrava.
Solicito, o representante da marca, esclareceu: é com os dentes para cima, Sr.
Presidente. Continuando com a chave na mesma posição, VIROU A CABEÇA PARA CIMA,
MOSTROU OS DENTES, E DISSE: "AH! É?"
4ª) Ao tomar
conhecimento de que, um dia, iríamos ter televisão a cores, Américo Tomás
declarou: “ PARA MIM QUERO UMA AZUL”!
5ª) O Presidente
estava na varanda do Palácio de Belém enquanto Natália passeava pelos jardins.
Ouviu-se então a voz da mulher dizendo: Ó Américo, chama a Natália para dentro.
INSPIRANDO O AR, GRITOU: Ó NATÁLIA!
6ª) Nesta anedota
conta-se que Tomás, já trôpego, tentava atacar um sapato. Porque não põe o pé
em cima de uma cadeira, perguntou o mordomo? Tem razão, não me lembrei. E
LEVANTANDO O OUTRO PÉ, ACABOU CAINDO NO CHÃO!
12 - É claro que
existem muitas mais anedotas relacionadas com Américo Tomás, tendo muitas delas
transitado para Samora Machel, primeiro Presidente de Moçambique e, depois,
para os alentejanos.
Mas Salazar também era
alvo de muitas, e dizia-se que até achava graça quando tomava conhecimento
delas. Mas não terá ficado muito satisfeito com os poemas
que Fernando Pessoa
lhe dedicou, entre os quais cito este:
“ESTE SENHOR SALAZAR,
É FEITO DE SAL E AZAR.
SE UM DIA CHOVE, A ÁGUA DISSOLVE O SAL,
E SOB O CÉU FICA SÓ O AZAR. É NATURAL.
OH! C’OS DIABOS. PARECE QUE JÁ CHOVEU”.
13 - Quando morreu uma
das quatro irmãs de Salazar, não me lembro qual delas, se Laura, Maria
Leopoldina, Elisa ou Marta, surgiu logo uma anedota respeitante ao funeral:
À FRENTE MARCHARAM AS
BANDAS, OS BANDULHOS E OS BANDALHOS; SEGUIA-OS O CAIXÃO DA MORTA COBERTO DE
COROAS, MUITAS COROAS* E, LOGO AGARRADO ÀS COROAS, O IRMÃO DA MORTA; ATRÁS DELE
MARCHAVA A FORÇA PÚBLICA, SEGUIDA DO PÚBLICO À FORÇA; NO FINAL, SALAZAR
COMOVIDO, AGRADECEU DIZENDO “OBRIGADO MEU POVO”, AO QUE ESTE RESPONDEU: "OBRIGADOS FOMOS NÓS!"
* Coroa era o termo
popular usado para as moedas de Esc. $50 centavos, também conhecidas por cinco
tostões; por analogia, as de Esc. 2$50 eram chamadas cinco coroas ou vinte e
cinco tostões.
14 - Outra piada
comparava os Governos dos Estados Unidos, da Inglaterra, da então
Checoslováquia e de Portugal:
NOS ESTADOS UNIDOS HÁ
ELEIÇÕES LIVRES, E NÓS ESTAMOS LIVRES DE ELEIÇÕES; A INGLATERRA TEM UM GOVERNO
PARLAMENTAR, E PORTUGAL TEM UM GOVERNO PARA LAMENTAR; NA CHECOSLOVÁQUIA O
GOVERNO ESTÁ EM PRAGA, E NÓS TEMOS UMA PRAGA NO GOVERNO!
15 - Após a morte, em
1953, do ditador soviético Estaline, sucedeu-lhe Nikita Krustchov que, apesar
de ter feito uma crítica severa sobre os crimes do seu antecessor e amnistiado
muitos “dissidentes”, manteve o sistema de ditadura comunista.
A anedota baseia-se
numa hipotética visita de Salazar à União Soviética.
Querendo mostrar como
o povo estava sob o seu controlo, Krustchov levou Salazar a uma varanda que
dava para uma praça apinhada de gente.
QUERES VER, ANTÓNIO,
COMO OS TENHO NA MÃO? ENTÃO OUVE. E, VIRANDO-SE PARA O POVO, GRITOU:
QUEM É O VOSSO PAI?
ÉS TU, NIKITA,
RESPONDEU A MULTIDÃO
QUEM É A VOSSA MÃE?
É A NOSSA PÁTRIA, A
RÚSSIA
QUAL É A VOSSA MAIOR
AMBIÇÃO?
ACABAR COM AS FRONTEIRAS,
ACABAR COM AS FRONTEIRAS!
Tempo depois, é a vez
de Krustchov visitar Portugal. Salazar resolve fazer a mesma demonstração
perante o convidado:
QUEM É O VOSSO PAI?
SALAZAR, SALAZAR, É A
RESPOSTA
QUEM É A VOSSA MÃE?
É A NOSSA PÁTRIA,
PORTUGAL
QUAL É A VOSSA MAIOR
AMBIÇÃO?
SER, ÓRFÃOS DE PAI,
SER ÓRFÃOS DE PAI!
16 - Naquele tempo os
estudantes, que até eram obrigados a estudar, tomavam as suas notas em cadernos
de papel ordinário chamados “Sebenta”. Esta palavra originou a seguinte sigla:
SALAZAR É BURRO E NÃO TEM ALBARDA.
17 - Mas é no Teatro
de Revista que, durante décadas, imperou o humor político português.
Partindo da
popularidade de Santo António, e do facto de este ser também o nome próprio de
Salazar, são incontáveis os trocadilhos que englobaram ambos. Os censores,
zelosos protectores da imagem de Salazar, só depois de várias sessões é que iam
percebendo a verdadeira intenção dos textos. Por esse motivo, os espectadores
procuravam assistir às estreias, pois os inevitáveis cortes iam surgindo sessão
após sessão. E, mesmo assim, muito se perdia, já que os censores assistiam aos
ensaios gerais.
Voltando ao fim da
década de 50 e às obras do metropolitano, inaugurado em 1959, acho que têm aqui
cabimento duas rábulas pertencentes à revista “Não Faças Ondas”, e interpretadas
por João Villaret. E escolho estas devido ao facto de possuir uma gravação com
excertos dessa revista. Não sei se está reeditada.
Acrescento ainda, por
curiosidade, que essa gravação copiei-a de um disco de vinil pertencente à
Emissora Nacional, para a qual entrei, como assistente de programas musicais,
em 1968.
Chamou-me a atenção o
facto de algumas faixas estarem riscadas com lápis de cera amarelo. Era assim
que se procedia com as obras gravadas cuja transmissão era proibida, além de,
na capa, estar escrito a vermelho: não transmitir!
Com muito cuidado
consegui remover as marcas do lápis, que, aliás, não tinham feito grande
estrago, copiei para uma bobina, e voltei a riscar o disco do mesmo modo,
devolvendo-o depois aos arquivos sonoros da EN.
A primeira chama-se
Rosa Araújo, e, para compreensão dos leitores, faço os seguintes
esclarecimentos:
José Gregório da Rosa
Araújo, foi um presidente da Câmara Municipal de Lisboa na segunda metade do
século XIX. Deve-se-lhe, entre outras obras, a construção da Avenida da
Liberdade. Teve uma estátua, tal como Alexandre Herculano e Oliveira Martins,
na lateral da Avenida da Liberdade, onde foi escavado o túnel do metropolitano,
não tendo sido necessário remover a do último.
Foi, também, nessa
época que foram afixados uns cartazes muito grandes destinados à campanha para
a alfabetização dos adultos.
Também é necessário
dizer que, no final do século XIX havia transportes públicos de tracção animal,
entre os quais o Rippert, O Chora, O Americano, e uma empresa do ramo cujo
proprietário chamava-se Salazar.
“Oiçamos” João
Villaret no papel de Rosa Araújo:
FIZ A AVENIDA, E OS
EDIS FIZERAM AH!
TIVE A ESTÁTUA ALI ESCULPIDA,
QUE AFINAL JÁ LÁ NÃO ESTÁ.
FUGIU PL’O CANO,
PORQUE EU DISSE ÀQUELE PRIMOR,
CAVA ATRÁS DA DO
HERCULANO PORQUE TU AINDA ÉS PIOR:
SÓ O OLIVEIRA MARTINS
FICA NUM TALHÃO;
OS OLIVEIRAS NUNCA
SAEM DONDE ESTÃO!
Estribilho:
FIZ A AVENIDA,
RASGADA, COMPRIDA, QUAL ESTRADA FLORIDA NUM HINO À CLARIDADE;
NO FIM DE TUDO,
CAVARAM, FURARAM, PARA ABRIR UM CANUDO, E FOI-SE A LIBERDADE!
CÁ NO MEU PLANO NÃO
HAVIA, PODEM CRER,
ESTE METROPOLITANO QUE
A AVENIDA VAI CONTER;
ISTO É DE AGORA, NO
MEU TEMPO E PARA ANDAR,
TINHA O
“RIPPERT’INHO” AO CHORA, O AMERICANO E O SALAZAR.
ESTE DOS QUATRO FOI
TALVEZ O MAIS VELOZ,
MAS JÁ NÃO ANDA,
FAZ-NOS SÓ ANDAR A NÓS!
Estribilho:
FIZ A AVENIDA…
OS HOMENS CULTOS
DESTA NOVA GERAÇÃO,
P’RA EDUCAREM OS
ADULTOS QUE NÃO TÊM INSTRUÇÃO;
IDEALIZARAM UNS
CARTAZES BESTIAIS,
NA AVENIDA OS
AFIXARAM A CHAMAR AVÓS E PAIS.
E OS TAIS CARTAZES
FORAM ÚTEIS A VALER;
ANALFABETOS, NEM UM
SÓ DEIXOU DE OS LER!
Estribilho repetido
para acabar.
Na segunda rábula
João Villaret faz o papel de Santo António, e canta:
NOS MEUS ROGOS, NOS
MEUS VOTOS, PEÇO A DEUS NO PARAÍSO, QUE ME DÊ MUITOS
DEVOTOS, DE VOTOS É QUE EU PRECISO;
QUERO VER O POVO
UNIDO NO MEU LINDO PORTUGAL,
QUERO-O JUNTO E NÃO
PARTIDO, NA UNIÃO TRADICIONAL.
Estribilho:
SE CONCEDO UM “TACHO”
PROTEJO UM NAMORO,
LOGO O POPULACHO VEM CANTAR-ME EM CORO,
LOGO O POPULACHO VEM CANTAR-ME EM CORO,
MEU RICO SANTINHO EU
NÃO SEI, NÃO SEI,
MEU SANT’ANTONINHO
ONDE TE POREI!
QUEM ME ENGANA OU
CONTRADITA,
APONTO NO MEU
CADERNO;
VAI COM UM CARTÃO DE
VISITA,
P’RÁS PROFUNDAS DO
INFERNO.
DIZEM RIVAIS MEUS
OPOSTOS,
MILAGRES SÃO
MANIGÂNCIAS,
MEUS MILAGRES SÃO
IMPOSTOS,
P’LA FORÇA DAS
CIRCUNSTÂNCIAS:
Estribilho:
SE CONCEDO UM
“TACHO”…
NO CÉU VIVO SOSSEGADO,
ENTRE OS MEUS
QUERIDOS SANTINHOS;
CONSTANTEMENTE
INSENSADO,
E EM VOLTA, SÓ VEJO
ANJINHOS.
COM MEUS HÁBITOS DE
FRADE,
SEMPRE A VISTA NO
CHÃO POSTA,
É DESTA MINHA
HUMILDADE,
QUE A CORTE DOS
SANTOS GOSTA!
Estribilho para finalizar.
Estribilho para finalizar.
18 - Outra analogia
entre os nomes próprios de Santo António e do Presidente do Concelho de
Ministros, que quer queiram quer não endireitou as finanças de Portugal, consta
esta pequena quadra:
SANTO ANTÓNIO
CASAMENTEIRO,
ARRANJA-ME COM QUEM
CASAR;
DE UM MAIS UM FAZIAS
TRÊS,
COMO FAZ O SALAZAR.
19 - Fora do contexto
político, recordo os tempos de criança em que se dizia que os leiteiros
aumentavam o volume do leite adicionando-lhe água. Esclareço que, nesse tempo,
o leite era distribuído aos consumidores pelos próprios leiteiros, que
utilizavam vasilhas para o transporte, e mediam a quantidade requerida pelos
clientes em púcaros de diversas capacidades. Esta suspeita levou a uma procura
de densímetros pelos clientes, incluindo a minha mãe que reclamou, com algum
sucesso, algumas fraudes perante os vendedores. Foi remédio santo, pelo menos
no que respeitava à nossa casa.
Mas tempo depois
correu o boato (seria mesmo?) que para compensar a baixa densidade, os
leiteiros passaram a urinar no leite. Uma vez que a urina é mais densa que a
água, a aldrabice poderia ser dificilmente desmascarada.
Verdade ou não, a
desconfiança enraizou-se. Por isso, quando pela primeira vez surgiu o leite
engarrafado sob a sigla UCAL (julgo que significava União das Cooperativas
Abastecedoras de Leite, o Português, desconfiado mas com o seu inalterável
sentido de humor, arranjou logo um substituto para a sigla: “URINA COM
ALGUM LEITE".
20 - Embora não
relacionada com Portugal, uma vez que respeita ao já aludido Krustchov e à
situação do pós-guerra, e me tenha sido contada por um amigo francês, não
resisto a mencionar esta anedota, embora a falta de mímica e a audição das onomatopeias
façam muita falta.
FARTO DA POLÍTICA, O
DIRIGENTE SOVIÉTICO RESOLVEU VIAJAR INCÓGNITO PARA A SUA QUINTA, AFIM DE
DESCANSAR UMAS SEMANAS. ENFIOU UM GRANDE CHAPÉU E METEU-SE NUM VELHO COMBÓIO
PUXADO POR UMA LOCOMOTIVA A VAPOR. ENQUANTO O COMBÓIO SE ARRASTAVA LENTAMENTE,
CHEGOU-LHE O SONO. MEIO ADORMECIDO PARECEU-LHE OUVIR O “POUCA-TERRA” DA
LOCOMOTIVA TRANSFORMADO EM CHANG-KAI-CHEK, CHANG-KAI-CHEK, CHANG- KAI-CHEK…
A SITUAÇÃO REPETIA-SE
CADA VEZ QUE DORMITAVA, PELO QUE RESOLVEU SAÍR NA PRIMEIRA ESTAÇÃO E APANHAR UM
COMBÓIO RÁPIDO. MAS, DESTA VEZ, NÃO FOI CHANK-KAI-CHEK QUE O PERTUBOU;
PARECEU-LHE OUVIR CHURCHIL, CHURCHIL, CHURCHIL…
FURIOSO, E AGORA
AINDA MAIS CONVENCIDO QUE ESTAVA A NECESSITAR DE FÉRIAS, SAÍU NA ESTAÇÃO
SEGUINTE, CHAMOU UM TÁXI E GRITOU: PARA ROSKOV! ASSUSTADO, PENSANDO QUE O
CLIENTTE ERA ALGUM TIPO DA “KGB”, O MOTORISTA ACELEROU BRUSCAMENTE, PROVOCANDO
UM RUÍDO QUE PARECEU SOAR COMO “ROOOOOOSEVELT”.
COMPLETAMENTE FORA DE
SI, BERROU: PARE IMEDIATAMENTE!
ATERRORIZADO, O
MOTORISTA TRAVOU A FUNDO, O QUE MOTIVOU QUE OS PNEUS FIZESSEM “HIIIIIIITLER!
JULGANDO QUE ESTAVA A
ENLOUQUECER, NIKITA SAÍU DO TÁXI E PROCUROU UM CAFÉ ONDE PEDIU UMA CERVEJA.
MAS, QUANDO ESTAVA A DESPEJÁ-LA NO COPO, JULGOU OUVIR: “DE GAULE, DE GAULE, DE
GAULE”…
DE CABEÇA
COMPLETAMENTE PERDIDA, ATIROU O COPO E A GARRAFA PARA O CHÃO, QUE PRODUZIRAM O
SOM: “STALINE”!
Nota: Esta compilação de
anedotas e o texto que as acompanha, foram feitas por João Daniel Maia
Saturnino em Dezembro de 2011, com a esperança de que possa ser continuamente
aumentada. Para este fim e como atrás disse, serão feitos os anexos
necessários, à medida que mais anedotas me venham à memória ou sejam lembradas
por outrem.
Também, e por
sugestão de um amigo, vou procurar ser mais esclarecedor sobre os personagens
visados que, apesar de fazerem parte da nossa História recente (século XX), são
desconhecidos da maioria da juventude, graças ao tipo de “ensino” que hoje se
pratica.
(1)
“PIDE”:
Polícia Internacional e Defesa do Estado, polícia política que investigava,
perseguia e prendia os cidadãos suspeitos de se oporem ao “Estado Novo”, o
regime vigente instaurado pelo golpe de estado de 28 de Maio de 1926.
(2)
Manuel
Gonçalves Cerejeira (1888-1977): Cardeal Patriarca de Lisboa de 1929 a 1971,
amigo íntimo de Salazar.
ANEXO – 01
Nota:
Em 1966, a poetisa
Natália Correia teve a “ousadia” de organizar e publicar, pela editora
“Afrodite”, uma “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”. O
resultado foi o julgamento e a condenação, em Tribunal Plenário, da autora, do
editor e de outras pessoas ligadas ao assunto. Se os autores dos poemas
compilados, desde Martim Soares (séc. XIII), (passando por Camões, Bocage, e
tantos outros) a João de Deus, tivessem vivido durante o Estado Novo teriam,
decerto, o mesmo destino que Natália Correia e todos os que foram condenados
pela Censura, tão zelosa em fazer cumprir a “moral e os bons costumes” da
época. Sempre o sexo visto como coisa pecaminosa!
Mas, e como escreveu
David Mourão Ferreira no prefácio da “amaldiçoada” primeira edição, “não ter
medo das palavras e não recear as realidades que elas exprimem, é, sobretudo,
evitar o trânsito pelo consultório de um psiquiatra. Os maiores dos nossos
poetas conheceram, desde sempre, esta forma de terapêutica. Difundi-la, eis o
que importa (…) mas é provável que também suscite, em meia dúzia de paranóicos,
a sádica nostalgia das fogueiras do Santo Ofício”.
E, já agora, vem a
propósito lembrar o embaraço com que os professores de português tentavam explicar
a “incómoda prenda”, ou seja, “quecas à vontade", dada aos nossos navegantes,
no episódio da Ilha dos Amores, constante no nono canto de “Os Lusíadas”, onde
a estância LXXII reza assim:
“Outros por outra
parte vão topar
Com as deusas
despidas, que se lavam:
Elas começam súbito a
gritar,
Como que assalto tal
não esperavam.
Umas fingindo menos
estimar
A vergonha que a
força, se lançavam
Nuas por entre o
mato, aos olhos dando
O que às mãos
cobiçosas vão negando.”
É um exemplo típico
da maioria das mulheres, em que o cérebro diz não, mas as hormonas sexuais
fazem-no mudar de ideias. Perdoem-me a piada!
Perante isto, e também
por incitamento de um amigo, não tenho qualquer rebuço em incluir nesta
colectânea, algumas anedotas que possam chocar a tal meia dúzia referida por
David Mourão Ferreira.
Mais esclareço que as
palavras usadas mais adiante são classificadas, em Linguística, como tabuísmo,
isto é, com acepção tabu. São os chamados palavrões e referem-se sobretudo ao
metabolismo do corpo, como ‘cagar, mijar', aos órgãos e funções sexuais, 'caralho, foder’, ou disfemismos como ‘puta, paneleiro, cabrão’, etc.
01 - Voltemos a 1961 e
ao sequestro do navio “Santa Maria” pelo Capitão Henrique Galvão. Por essa
altura dizia-se que o Papa resolvera canonizar o revolucionário português. E
porquê? Porque nasceu no Seixal (na data concelho do Barreiro) na Rua SÃO FILIPE
NÉRI, no dia de SÃO JOÃO DE BRITO; foi baptizado na Igreja de SANTA CRUZ;
foi julgado no Tribunal Militar de SANTA CLARA; esteve doente no
Hospital de SANTA MARIA; evadiu-se no dia dos CINCO SANTOS MÁRTIRES
DE MARROCOS; assaltou o SANTA MARIA; pôs-lhe o nome de SANTA
LIBERDADE; fugiu para as terras de SANTA CRUZ; mora agora em SÃO PAULO;
e tudo isto por causa de um homem* que mora em SÃO BENTO e nasceu em SANTA
COMBA DÃO!
*Salazar.
02 - E, usando os
chamados palavrões, vou contar estas três anedotas que agora me vieram à mente
e que tão bem caracterizam a brejeirice do nosso povo.
1ª - Nas salas de
cinema, antes da exibição do filme principal, era hábito projectar os chamados
complementos, desenhos animados ou temas informativos, entre os quais as
“Actualidades Francesas” (ainda me lembro muito bem do tema musical que servia
de indicativo). A cena parece ter ocorrido no cinema S. Jorge, em Lisboa. Numa
dessas actualidades foram exibidas algumas jóias da coroa britânica e, a certa
altura, o locutor apresentou uma peça, esclarecendo:
E PODEM VER AGORA
ESTE BROCHE INTEIRAMENTE FEITO À MÃO. Nisto, ouviu-se alguém gritar: "À MÃO??..."
2ª - Em 1959, aquando
da inauguração do monumento a Cristo Rei, em Almada, dizia-se que o Marechal
Saldanha, cujo braço direito da estátua na praça do mesmo nome em Lisboa,
aponta para a margem sul do Tejo, perguntou:
- HÁ PUTAS DESSE LADO?
Ao que Cristo, de
braços abertos, respondeu:
- NÃO SEI. CHEGUEI
MESMO AGORA!
3ª - No início de 1962
entrou em vigor a lei que proibia a prostituição em Portugal, com todos os
incentivos criminosos e anti-higiénicos que acarretou. Mas Salazar declarou:
“já não há prostitutas em Portugal”! O mais espantoso é que esse problema
continua hoje a existir no país que legalizou o aborto e os casamentos
homossexuais, com todos os problemas que resultam do que é feito na
clandestinidade.
Mas passemos à
anedota que essa proibição provocou:
Nessa época estavam
em voga o fado “Belos Tempos Que Eu Vivi”, cantado por Fernando Farinha, o
tango “Esperanza”, interpretado por Niño de Murcia” e a canção “Et Maintenant,
Que Vais Je Faire”, criada por Gilbert Bécaud.
Assim, perguntava-se
às pessoas:
AGORA QUE A
PROSTITUIÇÃO ACABOU, SABEM O QUE OS CHULOS, AS PUTAS E OS PANELEIROS VÃO
CANTAR?
POIS É SIMPLES: OS
PRIMEIROS CANTARÃO “BELOS TEMPOS”... AS PUTAS “ET MAINTENANT”… E OS PANELEIROS
“ESPERANZA”!
ANEXO – 02
Neste segundo anexo
junto mais três anedotas.
1ª- Esta surgiu por
volta de 1960. Salazar completara 71 anos, idade avançada para a época, que
justifica a anedota que passo a contar:
“NUMA SESSÃO DA
ASSEMBLEIA NACIONAL, FOI POSTO À DISCUSSÃO O PROBLEMA DO LOCAL ONDE DEVERIA SER
ENTERRADO O DITADOR QUANDO MORRESSE.
-POR MIM, AFIRMOU UM
DEPUTADO, JULGO QUE O LUGAR QUE LHE COMPETE SERÁ NO MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS, AO
LADO DE CAMÕES E DE OUTRAS GRANDES FIGURAS QUE LÁ REPOUSAM.
-ACHO QUE NÃO,
CONTARIOU OUTRO; NA VERDADE O HOMEM TEM SIDO MUITO IMPORTANTE, MAS, A SUA
ORIGEM REMETE-O APENAS PARA UM PROVINCIANO NASCIDO EM SANTA COMBA DÃO.
-NESSE CASO,
ENTERRA-SE NO MOSTEIRO DA BATALHA, AO LADO DO SOLDADO DESCONHECIDO, OPINOU
OUTRO DEPUTADO.
-ISSO TAMBÉM É
REBAIXÁ-LO DEMAIS, EXCLAMOU OUTRO, COM AR INDIGNADO; JUNTO A UM SOLDADO QUE,
AINDA POR CIMA, NINGUÉM SABE QUEM É!
A DISCUSSÃO CONTINUOU
TENDO OS TRABALHOS DA ASSEMBLEIA TERMINADO SEM QUALQUER CONCLUSÃO.
ASSIM, OS DEPUTADOS
SAIRAM DE S. BENTO, A PENSAR NO ASSUNTO.
DESCIA UM DELES NO
SEU “CADILLAC”, (1) A AVENIDA DA LIBERDADE, QUANDO REPAROU NUM
ARDINA (2)
APREGOANDO OS JORNAIS. ORDENOU AO MOTORISTA QUE PARASSE E CHAMOU O RAPAZ AFIM
DE SABER AS ULTIMAS NOTÍCIAS, E, LEMBRANDO-SE QUE, ÀS VEZES, A VOZ DO POVO TEM
GRANDES IDEIAS, PERGUNTOU-LHE:
-OUVE LÁ, MIÚDO: ONDE
É QUE TU MANDARIAS ENTERRAR SUA EXCELÊNCIA O SENHOR PROFESSOR DOUTOR OLIVEIRA
SALAZAR QUANDO ELE MORRER?
ATRAPALHADO, O MOÇO
RESPONDEU: OLHE, EM JERUSALÉM!
ÉS PARVO! MAS QUE
DISPARATE. VÊ-SE LOGO QUE NÃO SABES O QUE DIZES.
O DEPUTADO SEGUIU O
SEU CAMINHO, ENQUANTO O ARDINA, APAVORADO, CORREU PARA CASA, ONDE GRITOU: PAI!
PAI! VOU SER PRESO!
-O QUE FIZESTE?
-CALCULE, QUE HOJE UM
TIPO QUE PARECIA SER DO GOVERNO, PERGUNTOU-ME ONDE ENTERRARIA O SALAZAR QUANDO
MORRER!
-E TU QUE
RESPONDESTE?
-OLHE. COMO NA CAPA
DO JORNAL ESTAVA UMA NOTÍCA SOBRE O CONFLITO ISRAELO-ÁRABE, DISSE-LHE A
PRIMEIRA COISA QUE ME VEIO À CABEÇA: EM JERUSALÉM!
-AH DESGRAÇADO, MEU
GRANDE MALANDRO! ENTÃO NÃO SABES QUE HOUVE UM TIPO QUE MORREU LÁ E RESSUSCITOU
AO FIM DO TERCEIRO DIA”?!
(1) “Cadillac”. Automóvel de luxo
norte-americano que, tal como outros da mesma nacionalidade, circulavam em
Portugal, como os “Chevrolet”, “Buick”, “Dodge, “Oldsmobile”, “Chrysler”, “De
Soto”, “Pontiac”, etc.
Automóveis enormes,
eram uma das ostentações da gente rica. Embora a anedota se referisse ao “Cadillac”,
a verdade é que Salazar nunca permitiria que qualquer membro do Governo ou
deputado fizesse essas exibições, o que não acontece hoje!
Aliás, todos os
automóveis pertencentes ao Estado, tinham uma placa com essa indicação, afim de
evitar abusos por parte dos seus utilizadores.
(2) Ardina. Palavra de origem obscura
com que se designava em Lisboa os vendedores de jornais ambulantes, geralmente
garotos, que percorriam as ruas gritando os títulos dos jornais e revistas que
traziam dentro de uma sacola. A sonoridade típica dos seus pregões,
transformava muito os nomes dos jornais, mas toda a gente os entendia. Por
exemplo, o “Diário Popular” soava, mais ou menos, como “diérepléri”.
E vem a talhe de foice recordar que no jornal “República”, fonte de tantos conflitos após o 25 de Abril de 1974, escrevia um jornalista cujo apelido era Rocha (não me lembro do nome próprio), que dava-se ao luxo de atacar Salazar escapando, não sei como, da Censura. Por este motivo dizia-se: “FALA O ROCHA, O SALAZAR À BROCHA”.
Assim, para chamar a
atenção dos compradores sem dar nas vistas, quando saía um artigo dele no
“República”, os ardinas apregoavam: “ROCHA NA RÉ”!
2ª - Em Outubro de
1958, após a morte do Papa Pio XII, foi eleito novo Pontífice o cardeal Angello
Guiseppe Roncalli, que adoptou o nome de João XXIII. O seu apelido originou a
seguinte comparação com que se interrogava as pessoas:
- "SABES QUAL É A SEMELHANÇA ENTRE SALAZAR E O PAPA? É QUE SALAZAR RESSONA AQUI E O PAPA RONCA ALI”.
- "SABES QUAL É A SEMELHANÇA ENTRE SALAZAR E O PAPA? É QUE SALAZAR RESSONA AQUI E O PAPA RONCA ALI”.
3ª - E A SEMELHANÇA
ENTRE O PAPA E A “MERCEDES”? É QUE O PAPA ABENÇOA E A MERCEDES BENZ(E).
E, a terminar este
segundo anexo, e já que falei de deputados, não resisto em citar a quadra do
poeta brasileiro Luiz Vieira, que reza assim:
“SE BICUDO VEM DE
BICA,
E SE GROTA (3)
VEM DE GRUTA,
CONFORME A PALAVRA
INDICA,
DEPUTADO VEM DE PUTA”
(3) Grota: do italiano grotta” através do latim crypta. Galeria escura, subterrâneo,
caverna.
***
ANEXO – 03
Em primeiro lugar quero agradecer a todos os que
têm lido e elogiado esta colectânea de anedotas. Em segundo, esclarecer que a
longa paragem entre este anexo e o anterior se deve ao facto de não me ter
lembrado de mais anedotas. Mas, eis que há dias, algum escondido neurónio da
minha estafada cabeça veio “segredar-me” mais duas. Ei-las:
1 - Um leão fugiu do Jardim Zoológico e começou a
percorrer a cidade aterrorizando todos os que o viam e ouviam os seus urros.
Embora perseguido pela Polícia conseguiu sempre esquivar-se dos tiros, e
percorreu Lisboa até à Rotunda do Marquês de Pombal onde finalmente assentou arraiais,
talvez devido à presença do “colega” que acompanha a estátua do marquês.
Cercado pela Polícia, GNR e Exército, o leão
conseguia sempre esquivar-se, chegando mesmo a ferir e matar alguns mais
ousados que se aproximaram dele.
Nisto, do meio da multidão que se juntara e
espreitava de longe, surgiu um jovem que, para horror dos presentes, avançou
para a fera com a qual iniciou uma luta sangrenta. Finalmente conseguiu
estrangular o leão e, embora muito ferido foi levado aos ombros e festejado
como um herói nacional.
Uma vez serenado o entusiasmo, um jornalista
acercou-se dele e, depois das perguntas disparatadas inerentes à profissão,
começou o seguinte diálogo:
-O senhor, tão corajoso e valente, deve pertencer
à Mocidade Portuguesa, não é verdade?
-Não. Por acaso não pertenço.
-Ah! Então deve ser da Legião Portuguesa.
-Não. Também não faço parte dessa instituição.
-Mas deve ser aluno do Colégio Militar.
-Também não.
-Mas é da situação, claro.
-Desculpe contradizê-lo, mas também não sou.
Perante isto o jornalista terminou a reportagem.
No dia seguinte, nas páginas interiores dos
jornais, saiu esta notícia:
«LEÃOZINHO BARBARAMENTE ASSASSINADO POR COMUNISTA!»
2 - Os arqueólogos não conseguiam identificar uma
múmia descoberta recentemente no Egipto. Enviaram-na para vários países, onde
os especialistas mais eminentes em egiptologia a examinaram não conseguindo
chegar a nenhuma conclusão. Finalmente, tiveram a ideia de enviá-la para um
país com pouca tradição científica onde, por vezes, a esperteza suplantava o
conhecimento. O país escolhido foi Portugal. Aqui, andou de mão em mão também
sem qualquer resultado até que, por brincadeira, alguém sugeriu que fosse
enviada para a sede da PIDE.
Dias depois a múmia foi devolvida, acompanhada da
seguinte mensagem:
"RAMSÉS II; FALECEU EM 1260 AC; CONFESSOU TUDO! "
***
Nota 20!!! Excelente!!!
ResponderEliminarVou fazer copy paste, porque creio ser a mais engraçada colectânea de anedotas antigas que já vi.. Até que nos tempo Acadamécos sabia uma sobre o Américo Tomas e a Gertrudes: "Porque é que o Tomás não parou na Ilha Terceira quando foi aos Açores"?? Quero dizer o restante, mas já não recordo!Tinha algo de maldoso já naquela época, porém punha-nos todos a rir às escondidas dos professores em plena sala de aulas!! Se souberem ou me ajudarem a relembrar o restante, coloquem neste blogue, porque é mesmo muito engraçada!!!
ResponderEliminarEste comentário foi removido por um gestor do blogue.
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