POR FAVOR, NÃO DIGAM CORÃO!
No primeiro artigo deste blogue inventei
um pequeno texto sobre este tema e expliquei porque é que o artigo invariável
árabe “al” é um prefixo que não pode ser omitido nas cerca de seiscentas palavras
portuguesas derivadas daquela língua.
Até o Dr. Suleiman Valy Mamede,
presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, explicou isso no prefácio da
edição do Alcorão que possuo.
Mas, volta e meia, temos de ouvir muitos
jornalistas a omitirem aquele prefixo, imitando, como sempre, o que ouvem
noutras línguas. Excepto em espanhol, como é evidente por razões históricas.
Trata-se de mais alguns “apátridas da
língua”, como tão bem classificou Pacheco Pereira em relação aos que adoptaram
o chamado acordo ortográfico.
É gente mais papista que o papa ou
ignorante, uma vez que (julgo eu, pois já não sei nada) tal asneira não faz
parte das outras que proliferam no aludido acordo.
Sei que muitos jornalistas estão contra
mais esta traição à nossa língua, mas têm de cumprir as ordens dos directores,
por sua vez lacaios do Poder. No fim de contas, é preciso ganhar a vida.
Num exemplar de “O Correio da Manhã”
que, como já escrevi, folheio uma vez por semana num clube que frequento, li um
artigo do excelentíssimo vice-director daquele jornal, onde dizia que “era
preciso acabar com a distinção entre os que seguem, ou não, a ‘nova ortografia’”.
Mas, quem é esse senhor para emitir semelhante opinião? Cumpra as ordens e não
critique os outros, ou talvez fosse melhor ir plantar batatas, porque há muita
fome no mundo.
Hoje telefonei a uma velha amiga, ‘velha’
de mais de cinquenta anos, que reside no Brasil e aproveitei para saber o que
por lá se diz sobre o assunto.
Fiquei a saber que cada qual escreve
como quer (incluindo a imprensa) e, como já calculava pelo que se lê na Internet a maioria não acerta numa palavra.
Falei depois com outra amiga que é
tradutora, e que tem recebido reclamações do estrangeiro devido aos supostos
“erros” que estão a surgir nas traduções. Quando esclarecidos, os Ingleses acham tudo muito estranho e confuso!
E concluiu: “o que diriam os
norte-americanos, os australianos e demais países de língua oficial inglesa, se
a Inglaterra modificasse a sua grafia e quisesse chegar a acordo com eles?” O
mais provável era fazerem 'aquele gesto' bem português atribuído a Rafael Bordalo
Pinheiro.
Querem apostar que nos países da chamada
Comunidade de Povos de Língua Portuguesa, acaba por ficar tudo em águas de
bacalhau, pois não é com a assinatura de um político que se impõe uma língua ou
um modo de escrever?
Se isso acontecer, lá ficaremos mais uma
vez “orgulhosamente sós” impregnados de saudade e empenhados, não só em
dinheiro, mas em arranjar outro modo de voltarmos ao tempo das caravelas.
Nota:
Para quem não queira procurar no blogue
o que escrevi a respeito da palavra ‘Alcorão’, vejam o excerto a seguir.
“Presunção
e água benta, cada qual toma a que quer”, lá diz o velho rifão.
(Excerto)
Uma
vez resolvi passar um fim-de-semana em ‘Bufeira, no ‘Garve.
Assim,
abandonei cedo as ‘mofadas, vesti uma camisola de ‘godão, meti algum dinheiro
na’gibeir, e lá fui na minha carripana.
Passei
o vale de ‘Cântara, atravessei a ponte dita 25 de Abril, e deixei ‘Mada para
trás.
Chegado
a ‘Cácer do Sal, parei para comer umas ‘môndegas de ‘catra, acompanhadas de com
salada de ‘face temperada com um excelente ‘zeite*.
Prossegui
viagem, e tendo passado por ‘Justrel, aproveitei para beber uma cerveja sem ‘cool
e ver uma antiga ‘zenha*
Finalmente
cheguei a ‘Bufeira onde, para meu espanto, não encontrei nenhum odor
relacionado com essa palavra, a qual parece mais empestar a Língua Portuguesa
do que as narinas dos cidadãos!
*O alfabeto árabe distingue dois tipos
de consoantes, as lunares e as solares.
Se a primeira consoante for lunar soará
“al”. (Ex. al-qaçr);
Se for solar, o “l” passa a “z”. (Ex.
az-zait).
Pois é, mas os ingleses nunca ousariam sequer permitir-se pensar em adulterar a escrita da sua língua amada e soberana!
ResponderEliminarE depois fala-se do suposto «orgulho da pátria lusa»... este tema do AO já passou de patético para 'simplesmente triste'.