'Mas aqui é que a porca torce o rabo', foi como acabei a primeira parte do tema referente ao maior português. No entanto, vou deixar essa expressão idiomática “em cima da mesa”, e referir mais alguns aspectos da política de Salazar. Isto porque chegou-me às mãos um número do semanário “Visão” em que faz referência às grandes obras do Estado Novo. Curiosamente, só se referiu à época e obra de Duarte Pacheco, omitindo tudo o que se realizou posteriormente, como se a obra de Salazar tivesse parado. (Se posteriormente o referido semanário continuou com o assunto, peço desculpa pois não compro qualquer tipo de revistas ou jornais).
Assim, a obra do Estado Novo criada por Salazar continuou e de que são exemplos as barragens para aproveitamento hidro-eléctrico, a Siderurgia Nacional, a “Lisnave”, a “Sorefame”, os “Cabos d’Ávila”, a “Efacec”, o gigantesco hospital de Santa Maria (pouca gente sabe que a sua arquitectura em “H” destina-se para, em tempo de guerra, mostrar que aquele edifício, é um hospital, a Mague, a “Sugal”, as pontes sobre o Tejo em Vila Franca e a vergonhosamente chamada “25 de “Abril” em Lisboa, e tudo o mais que a memória já não me consente.
No entanto, tenho bem vivos certos acontecimentos ocorridos durante a minha infância e juventude relacionados com aquelas obras.
Um tio meu, Eng. Bernardo Moniz da Maia natural de Azambuja onde hoje, justamente, tem uma artéria como o seu nome, foi o fundador da “Mague” em parceria com um colega de apelido Vaz Guedes. Mas, não ficou por aí, tendo colaborado em grandes obras como as autos-estradas Lisboa-Cascais e Lisboa-Vila Franca de Xira, a ampliação do porto do Funchal e a barragem de Cambambe em Angola. (Mal empregada).
Recordo-me bem, quando tinha oito ou nove anos, de ele me explicar para que servia a barragem de Castelo do Bode, e a economia que daí resultaria na importação de carvão do Reino Unido. Mas, deixemos as grandes obras e falemos um pouco de outros aspectos positivos da ditadura do Estado Novo.
Para já, era uma ditadura assumida, explicada na quarta classe da instrução primária. Hoje temos uma ditadura democrática onde não se pode dizer 'preto', 'raça', etc. deputados que declaram viver mais longe do chamado Parlamento para receberem mais subsídios de deslocação sem serem imediatamente expulsos, um enorme nível de corrupção e outras coisas muito “democráticas”.
A educação começava pela aludida instrução primária dividida em quatro classes. Seguia-se os primeiros, segundos e terceiros ciclos (este último encaminhava já para os diversos ramos das universidades).
As aulas começavam obrigatoriamente no início de Outubro no mesmo dia, e os livros estavam sempre prontos e numerados pelo Ministério da Educação Nacional, não faltando a indicação do seu preço e o respectivo carimbo do Ministério. Hoje faz-se publicidade no sentido da loja que vende mais barato e exige-se um autêntico arsenal de material escolar que a miudagem carrega em ridiculamente grandes mochilas. Não é de admirar que haja tanta publicidade a medicamentos para as dores nas costas!
Não havia a contumaz “guerra” de colocação dos professores e, facto curioso, durante todo o ano lectivo era raro que faltassem. Chego a pensar que eram imunes às gripes ou constipações!
Mas, havia o hábito de bater nos alunos? Claro que sim; era outra época e, por vezes, uma estalada era muito bem dada.
Pela minha parte, só levei uma nos onze anos escolares. A razão foi a seguinte: o professor acabara de explicar que os caracóis tinha a cloaca colocada no dorso. Armado em parvo, comentei sorrindo: segundo percebi, senhor doutor, o caracol caga-se pelas costas abaixo. Sorrindo também, o “soutôr”, como se diz agora, postou-se em frente de mim, e disse: tira os óculos. Obedeci e levei uma valente chapada. Depois, sempre sorrindo, ordenou: põe os óculos. Voltei a obedecer de imediato e a aula continuou como se nada tivesse acontecido. É claro que não disse nada aos meus pais. Se fosse hoje, os papás teriam ido pedir explicações ao professor ou, até, processá-lo, não fosse o rico filhinho ficar com sequelas psicológicas para o resto da vida.
Como é óbvio, também se faziam partidas e havia cenas de mau comportamento; mas, bastava muitas vezes um simples olhar severo do professor para o caso ficar resolvido.
Recordo, até, uma cena que costumo contar com uma certa saudade. Após uma cena de que não me lembro, um colega foi expulso com a seguinte frase: “põe-te no meio da rua”, ordem que foi logo cumprida. Pouco tempo depois, ouviu-se uma voz que gritava do lado de fora da janela: “senhor doutor, já estou no meio da rua. Diga-me o que devo fazer a seguir senão ainda vem um automóvel e atropela-me!”
Apanhado de surpresa, o professor foi à janela e chamou o aluno. E tudo terminou com risos e uma palmadinha nas costas.
É que nessa longínqua década de cinquenta do século passado e nas chamada Avenidas Novas de Lisboa, a passagem de um automóvel dava-se, quando muito, de cinco em cinco minutos. Eram “outros tempos, outras gentes, outra alegria”, como dizia o actor José Viana.
E agora, mais uma vez, o programa segue, não dentro de momentos, mas quando me apetecer. Entretanto, vou despejar mais umas garrafinhas de cerveja.
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