14/01/2020


O MAIOR PORTUGUÊS ?! (5)


Havia ORDEM, RESPEITO E SEGURANÇA. Foi assim que terminei o quinto artigo sobre este tema. Nem que de propósito, poucos dias depois soube do assassínio de um engenheiro de 24 anos que transitava no Campo Grande. O facto provocou-me uma grande emoção porque, para além de mais uma tragédia semelhante (uma das conquistas do 25 de Abril ou da “democracia”, como queiram) porque quando andava no liceu, recebia explicações de um professor de matemática que era noctívago como eu.

Morava na rua de Malpique ao Campo Grande (hoje Dr. João Soares) e as explicações eram dadas das três às quatro da manhã!

São inumeráveis as vezes que fiz o trajecto (ida e volta) a pé entre a minha casa na Av. Santa Joana Princesa (por detrás da igreja de S. João de Brito em Alvalade) e a do explicador sem ter tido qualquer tipo de ameaça.

Também são inumeráveis as idas e vindas de minha casa até ao aeroporto madrugada adentro sem o mínimo temor, do mesmo modo que se passeava tranquilamente à noite pelas ruas da Baixa.

Desde criança que passava as férias grandes em Oeiras e costumava ir à noite para o “Lido”, edifício situado na Estrada Marginal, onde havia vários tipos de jogos, entre eles os flippers e matraquilhos. Os meus pais ficavam tranquilos e eu, sem qualquer receio, vinha de noite por um longo caminho mal iluminado.

Para quem não viveu nesse tempo, ainda dou mais alguns exemplos: entre os diversos vendedores ambulante que existiam, havia um que vendia, simplesmente...OURO!!! E lá ia ele de bicicleta com o seu produto numa caixa presa sobre a roda de trás, gritando a plenos pulmões: Ouro! Ouro! E, para se tornar mais notado, accionava uma buzina com pera de borracha.

No Carnaval havia uma brincadeira que consistia num grupo de mascarados irem bater à porta durante a noite de familiares ou amigos.

Como ninguém pensava que fosse um assalto, abria a porta de boa fé, e os mascarados entravam desafiando os donos para uma festa. Normalmente, só depois de uns passos de dança e algumas inocentes diabruras é que se descobriam os embuçados.

Mas, havia ladrões? Claro que havia; eu próprio tive um em casa quando tinha sete ou oito anos. O caso foi este: já há algum tempo que em nossa casa havia uma persiana encravada. A minha mãe todos os dias lembrava o meu pai para arranjar alguém que resolvesse aquele problema.

Finalmente, certa tarde bateu à porta um homem que sabia que tínhamos uma persiana encravada e que vinha arranjá-la. Confiante, e até porque reconheceu que o meu pai lá se lembrara do assunto, levou o homem à divisão onde existia o problema.

Curioso como sempre, fiquei sozinho a ver o homem trabalhar. Começou por abrir a janela e a dar safanões na persiana. Volta e meia virava a cabeça e olhava para mim com ar de poucos amigos. Passado algum tempo, e vendo que eu não arredava pé, disse-me: “vá chamar a sua mãe porque preciso de falar com ela”. Para arrelia dele, não arredei pé e gritei por ela.

Assim que esta apareceu, o tipo declarou que tinha de ir buscar uma ferramenta e que não se demorava muito. O tempo passou sem ele voltar e, à noite, quando chegou o meu pai, a minha mãe contou-lhe a estranha atitude do “operário” (perdão; agora diz-se trabalhador). “Mas eu não mandei vir ninguém arranjar a persiana” disse o meu pai. Palavras para quê?

Mas, com o golpe de estado do 25 da Abril tudo mudou! E não demorou muito tempo. Dois ou três meses depois começaram os assaltos a pessoas nas ruas e em pleno dia e o roubo de automóveis à descarada durante a noite. Quantas vezes assisti da janela do meu quarto a tentativas de roubos de automóveis incluindo o meu. Quando acendi a luz e gritei já não sei o quê, um dos tipos virou-se para os outros, dizendo calmamente: “vamos tentar noutro sítio porque está ali um filho da puta a ver.”

Meses depois, fui assaltado em, plena Estrada Marginal, por quatro tipos que atravessaram o carro deles (roubado, soube depois) à frente do meu. Num ápice vi uma caçadeira de canos serrados apontada à minha cabeça; e lá se foram o relógio de pulso e todo o dinheiro que tinha o que, aliás não era muito.

Senti uma raiva enorme em não ter uma pistola para esvaziar o carregados sobre o carro quando este se afastava. Mas, foi uma sorte. Como vim a saber depois, se tivesse atingido algum dos tipos, teria de prestar contas à justiça passando de vítima a agressor. É esta a situação em que se passou a viver: chegar ao cúmulo de não podermos defender as nossas coisas ou a própria vida. Aliás, esta espantosa situação foi explicada num debate televisivo onde um advogado chamado Arroubas da Silva explicou que uma pessoa que tenha uma pistola legalizada a utilizar contra um agressor que a ameace, por exemplo, com um bastão, isso será “excesso de legítima defesa”! Abençoada democracia onde se mata mulheres a uma média de duas por mês, os assaltos, os sequestros, os roubos, os furtos violentos, as agressões, as intimidações, as chantagens, etc. tornaram-se o pão nosso de cada dia. Uma grande parte da juventude droga-se, embebeda-se nas famigeradas discotecas sob luzes psicadélicas e estridências sonoras, e organiza-se em gangues à moda norte-americana.

Lembro-me que quando se estreou na década de sessenta do século passado o célebre filme musical “West Side Story”, eu e os amigos que o viram, termos ficado espantados como nos Estados Unidos existiam aqueles gangues que se degladiavam sem a polícia poder intervir com firmeza.

Um assalto (e este é só um exemplo) como o que correu já vai para dois anos à Academia do Sporting, seria impossível durante o Estado Novo porque as prisões não eram parecidas com os actuais hotéis de luxo onde até se fazem festas de aniversário. Qualquer delito de direito comum aparecia nos jornais com as seguintes palavras: “o criminoso já se encontra detido nos calabouços do Governo Civil”. Não sei como eram os tais calabouços, mas que eram dissuasores, eram. Aliás, mesmo que aquele assalto se tivesse dado, e perante o flagrante delito existente, o tribunal teria resolvido imediatamente o assunto com mais ou menos anos de pena nos tais calabouços. Reparem, no entanto, que não estou a falar de delito do foro político. Isso era com a “PIDE”, a que me referirei no próximo artigo desta série.


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