O
MAIOR PORTUGUÊS ?! (5)
Havia ORDEM, RESPEITO E
SEGURANÇA. Foi assim que terminei o quinto artigo sobre este tema.
Nem que de propósito, poucos dias depois soube do assassínio de um
engenheiro de 24 anos que transitava no Campo Grande. O facto
provocou-me uma grande emoção porque, para além de mais uma
tragédia semelhante (uma das conquistas do 25 de Abril ou da
“democracia”, como queiram) porque quando andava no liceu,
recebia explicações de um professor de matemática que era
noctívago como eu.
Morava na rua de Malpique ao
Campo Grande (hoje Dr. João Soares) e as explicações eram dadas
das três às quatro da manhã!
São inumeráveis as vezes que
fiz o trajecto (ida e volta) a pé entre a minha casa na Av. Santa
Joana Princesa (por detrás da igreja de S. João de Brito em
Alvalade) e a do explicador sem ter tido qualquer tipo de ameaça.
Também são inumeráveis as
idas e vindas de minha casa até ao aeroporto madrugada adentro sem o
mínimo temor, do mesmo modo que se passeava tranquilamente à noite
pelas ruas da Baixa.
Desde criança que passava as
férias grandes em Oeiras e costumava ir à noite para o “Lido”,
edifício situado na Estrada Marginal, onde havia vários tipos de
jogos, entre eles os flippers e matraquilhos. Os
meus pais ficavam tranquilos e eu, sem qualquer receio, vinha de
noite por um longo caminho mal iluminado.
Para quem não viveu nesse
tempo, ainda dou mais alguns exemplos: entre os diversos vendedores
ambulante que existiam, havia um que vendia, simplesmente...OURO!!! E
lá ia ele de bicicleta com o seu produto numa caixa presa sobre a
roda de trás, gritando a plenos pulmões: Ouro! Ouro! E, para se
tornar mais notado, accionava uma buzina com pera de borracha.
No Carnaval havia uma
brincadeira que consistia num grupo de mascarados irem bater à porta
durante a noite de familiares ou amigos.
Como ninguém pensava que
fosse um assalto, abria a porta de boa fé, e os mascarados entravam
desafiando os donos para uma festa. Normalmente, só depois de uns
passos de dança e algumas inocentes diabruras é que se descobriam
os embuçados.
Mas, havia ladrões? Claro que
havia; eu próprio tive um em casa quando tinha sete ou oito anos. O
caso foi este: já há algum tempo que em nossa casa havia uma
persiana encravada. A minha mãe todos os dias lembrava o meu pai
para arranjar alguém que resolvesse aquele problema.
Finalmente, certa tarde bateu
à porta um homem que sabia que tínhamos uma persiana encravada e
que vinha arranjá-la. Confiante, e até porque reconheceu que o meu
pai lá se lembrara do assunto, levou o homem à divisão onde
existia o problema.
Curioso como sempre, fiquei
sozinho a ver o homem trabalhar. Começou por abrir a janela e a dar
safanões na persiana. Volta e meia virava a cabeça e olhava para
mim com ar de poucos amigos. Passado algum tempo, e vendo que eu não
arredava pé, disse-me: “vá chamar a sua mãe porque preciso de
falar com ela”. Para arrelia dele, não arredei pé e gritei por
ela.
Assim que esta apareceu, o
tipo declarou que tinha de ir buscar uma ferramenta e que não se
demorava muito. O tempo passou sem ele voltar e, à noite, quando
chegou o meu pai, a minha mãe contou-lhe a estranha atitude do
“operário” (perdão; agora diz-se trabalhador). “Mas eu não
mandei vir ninguém arranjar a persiana” disse o meu pai. Palavras
para quê?
Mas, com o golpe de estado do
25 da Abril tudo mudou! E não demorou muito tempo. Dois ou três
meses depois começaram os assaltos a pessoas nas ruas e em pleno dia
e o roubo de automóveis à descarada durante a noite. Quantas vezes
assisti da janela do meu quarto a tentativas de roubos de automóveis
incluindo o meu. Quando acendi a luz e gritei já não sei o quê, um
dos tipos virou-se para os outros, dizendo calmamente: “vamos
tentar noutro sítio porque está ali um filho da puta a ver.”
Meses depois, fui assaltado
em, plena Estrada Marginal, por quatro tipos que atravessaram o carro
deles (roubado, soube depois) à frente do meu. Num ápice vi uma
caçadeira de canos serrados apontada à minha cabeça; e lá se
foram o relógio de pulso e todo o dinheiro que tinha o que, aliás
não era muito.
Senti uma raiva enorme em não
ter uma pistola para esvaziar o carregados sobre o carro quando este
se afastava. Mas, foi uma sorte. Como vim a saber depois, se tivesse
atingido algum dos tipos, teria de prestar contas à justiça
passando de vítima a agressor. É esta a situação em que se passou
a viver: chegar ao cúmulo de não podermos defender as nossas coisas
ou a própria vida. Aliás, esta espantosa situação foi explicada
num debate televisivo onde um advogado chamado Arroubas da Silva
explicou que uma pessoa que tenha uma pistola legalizada a utilizar
contra um agressor que a ameace, por exemplo, com um bastão, isso
será “excesso de legítima defesa”! Abençoada democracia onde
se mata mulheres a uma média de duas por mês, os assaltos, os
sequestros, os roubos, os furtos violentos, as agressões, as
intimidações, as chantagens, etc. tornaram-se o pão nosso de cada
dia. Uma grande parte da juventude droga-se, embebeda-se nas
famigeradas discotecas sob luzes psicadélicas e estridências
sonoras, e organiza-se em gangues à moda
norte-americana.
Lembro-me que quando se
estreou na década de sessenta do século passado o célebre filme
musical “West Side Story”, eu e os amigos que o
viram, termos ficado espantados como nos Estados Unidos existiam
aqueles gangues que se degladiavam sem a polícia
poder intervir com firmeza.
Um assalto (e este é só um
exemplo) como o que correu já vai para dois anos à Academia do
Sporting, seria impossível durante o Estado Novo porque as prisões
não eram parecidas com os actuais hotéis de luxo onde até se fazem
festas de aniversário. Qualquer delito de direito comum aparecia nos
jornais com as seguintes palavras: “o criminoso já se encontra
detido nos calabouços do Governo Civil”. Não sei como eram os
tais calabouços, mas que eram dissuasores, eram. Aliás, mesmo que
aquele assalto se tivesse dado, e perante o flagrante delito
existente, o tribunal teria resolvido imediatamente o assunto com
mais ou menos anos de pena nos tais calabouços. Reparem, no entanto,
que não estou a falar de delito do foro político. Isso era com a
“PIDE”, a que me referirei no próximo artigo desta série.
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