O MAIOR PORTUGUÊS ?! (6)
Um dos maiores mistérios que
ainda hoje me intrigam foi como em pouco tempo o delito comum
estendeu os seus tentáculos sobre a paz e tranquilidade em que os
Portugueses viviam (não vou escrever já sobre a guerra do
Ultramar). Como citei no final do artigo anterior, a PIDE só se
ocupava dos delitos contra o Estado o que, aliás, era o seu dever;
por isso se chamava Polícia Internacional de Defesa do Estado.
Ora, como não andava atrás
de homicidas e de ladrões, sou forçado a concluir que a
“bandalheira” que em breve se instalou foi que isto a que chamam
“democracia”, retirou imenso poder à PSP e à GNR, bem como um
enorme abrandamento das penas previstas no antigo Código Penal. Num
prospecto turístico sobre Portugal e os Portugueses dos ano 60 pode
ler-se que “a delinquência juvenil não se dá bem por cá”.
Pois não! Havia as casas de correcção onde os “meninos”
aprendiam a portar-se bem em sociedade; isto se os papás não fossem
os primeiros a fazê-lo.
Havia censura, claro que sim.
E agora? Não se omite nos noticiários se um qualquer agressor é
preto ou cigano? Como é que um motorista tem condições
psicológicas para voltar ao trabalho depois da surra que levou dos
amigos ou familiares da preta que o mordeu? E quantos professores
estão de baixa psiquiátrica só por terem dado um piparote num
aluno? E se este for preto ou cigano, cai o Carmo e a Trindade porque
é racista! Basta de hipocrisias! Todos nós fomos crianças e
fizemos as nossas diabruras, mas bastava um pequeno castigo para
resolver a situação. É incrível como os menores de quinze anos
são considerados inimputáveis como se um garoto de doze ou catorze
anos não soubesse o que faz.
Voltando a falar da PIDE,
relatarei três casos de que agora me lembrei. O primeiro ocorreu na
longínqua década de cinquenta do século passado. O
primeiro-ministro da União Indiana, um tal Pandita Nehru, que
pretendia anexar os territórios portugueses de Goa, Damão e Diu.
Como é óbvio, para Salazar aquela pretensão era absolutamente
irrealizável, o que provocou uma tensão política que, em 1961
seria resolvida pela força. (Sobre isto falarei mais adiante.
Ora por essa altura era
locutor, actor e realizador de programas radiofónicos, um fulano
chamado Igrejas Caeiro (mal sabia eu que, muitos anos depois, viria a
tê-lo como colega na Emissora Nacional depois do 25 de Abril).
Numa entrevista dada por esse
cavalheiro, (não me recordo se na rádio ou na imprensa) e uma vez
inquirido sobre qual era o maior estadista do momento, o nosso homem
não achou melhor do que declarar: o Pandita Nehru!
Ora não passa pela cabeça de
ninguém, seja em que regime for, considerar que o maior estadista é
um inimigo do nosso País. São coisas que se pensam mas não se
dizem em público. O resultado foi a suspensão de todos os cargos
públicos, o que o não impediu de continuar a sua vida profissional
no teatro.
O segundo caso passou-se no
Verão de 1960. Uma amiga minha, filha de um médico comunista
fanático, andara a distribuir panfletos do PCP no liceu onde andava.
O resultado não se fez esperar. Certa noite agentes da PIDE bateram
à porta da casa onde vivia e, perante a aflição compreensiva dos
pais, levaram-na para a prisão de Caxias onde permaneceu uma semana
sendo-lhe permitida a visita dos pais. Depois de umas admoestações
libertaram-na sob a promessa de “portar-se bem”. Pode-se não
concordar com isto mas a verdade é que vivíamos num sistema de
partido único e os comunistas eram os mais perseguidos. Lá diz o
ditado: “quem semeia ventos colhe tempestades”. E, já agora,
aproveito para citar o outro ditado (hipócrita) que diz que “se
não podes lutar contra eles, junta-te a eles”; e eu acrescento:
ignora-os e vive o melhor possível porque a política é feita por
politiqueiros. Mas, a verdade é que se não fosse feita por esse
tipo de gente não seria...POLÍTICA!!!
O terceiro caso deu-se comigo
quando estava cumprindo em Angola aquela aberração chamada serviço
militar obrigatório. Tinha regressado de uma aldeola situada no
Norte daquela província ultramarina (colónia, se quiserem) chamada
Nova Caipemba onde passara um ano. Agora tinha que cumprir o resto do
tempo naquela aldeia grande chamada Luanda.
Tinha-me instalado numa pensão
e certo dia, quando estava a almoçar, chamei o criado preto e
dirigi-me a ele nestes termos: “senhor Miguel; veja se pode
servir-me um pouco mais depressa porque já estou atrasado”.
Logo a voz de um dos
comensais, com ar abrutalhado, fez-se ouvir com a educada frase:
“olhe que aqui os pretos tratam-se por tu!”
Irritado, respondi-lhe que os
meus pais me tinham ensinado que as pessoas mais velhas ou
desconhecidas tratavam-se por senhor.
“É
por causa de pessoas como o senhor furriel (eu estava fardado) que
esta guerra nunca mais acaba”, atirou o tal tipo. “Nem sabem
utilizar as armas que, ainda por cima, somos nós que pagamos!”
Esta resposta foi o suficiente
para eu perder a cabeça e responder gritando qualquer coisa como:
“por mim, estou-me nas tintas tanto para a guerra como para esta
terra; vim para cá à força e, se pudesse, mandava já um telegrama
ao meu pai que pagaria a passagem no primeiro avião para Lisboa”.
Por momentos reinou o silêncio
na sala, enquanto dezenas de olhos me observavam como se fosse um
bicho raro. Como o tipo não respondeu, calei-me e, em breve, os
ruídos normais de uma sala de jantar voltaram a fazer-se ouvir. Só
quando acabei de comer e me preparava para sair, é que reparei que
dois sujeitos, um branco e um preto, estavam sentados na esplanada
vizinha olhando fixamente para mim.
Mal transpus a porta, ouvi uma
voz chamar: “ó patrício, venha cá!”
Antes que eu pudesse perguntar
o que ele queria, o tipo indagou: “que conversa foi aquela que eu
estive a ouvir?” “Por menos do que aquilo já prendi muita
gente!”
É claro que os “tomates”
caíram-me aos pés (salvo seja). Não sei como, mas respondi-lhe com
a seguinte bravata: “a mim o senhor não me prende; para isso terá
de chamar a Polícia Militar!” “Além disso, já que esteve tão
atento, deve ter ouvido como tudo começou e ir prender aquele senhor
que ofendeu a tropa e o Portugal multirracial que o nosso Governo
defende”.
O homem engoliu em seco, não
sem antes avisar com ar de poucos amigos:
“tenha
cuidado!”
Já na rua é que caí em mim.
O tipo era da PIDE e, se fizesse queixa de mim, o mais provável era
voltar mais uma ano para o mato, agora que só faltavam quatro meses
para cumprir os dois anos da praxe. Nos dias seguintes, quando o
encontrava na esplanada, passei a cumprimentá-lo com o contumaz:
“Como está? Está bem?” E o caso ficou por ali, para meu alívio.
Por mim, continuava a abominar aquela terra, os pretos e os brancos
que foram para lá.
E hoje fico por aqui. No
próximo artigo desta série, falarei da parte negativa e por vezes
cruel de Salazar. Irra que o diabo do homem ainda hoje dá pano para
mangas. E, possivelmente, ainda virá a dar muito mais!
(Peço desculpa por ocasionais
erros gramaticais e alguma “gralha” involuntária, mas a verdade
é que não tenho paciência para rever o texto).
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