03/02/2020


O MAIOR PORTUGUÊS ?! (6)


Um dos maiores mistérios que ainda hoje me intrigam foi como em pouco tempo o delito comum estendeu os seus tentáculos sobre a paz e tranquilidade em que os Portugueses viviam (não vou escrever já sobre a guerra do Ultramar). Como citei no final do artigo anterior, a PIDE só se ocupava dos delitos contra o Estado o que, aliás, era o seu dever; por isso se chamava Polícia Internacional de Defesa do Estado.
Ora, como não andava atrás de homicidas e de ladrões, sou forçado a concluir que a “bandalheira” que em breve se instalou foi que isto a que chamam “democracia”, retirou imenso poder à PSP e à GNR, bem como um enorme abrandamento das penas previstas no antigo Código Penal. Num prospecto turístico sobre Portugal e os Portugueses dos ano 60 pode ler-se que “a delinquência juvenil não se dá bem por cá”. Pois não! Havia as casas de correcção onde os “meninos” aprendiam a portar-se bem em sociedade; isto se os papás não fossem os primeiros a fazê-lo.
Havia censura, claro que sim. E agora? Não se omite nos noticiários se um qualquer agressor é preto ou cigano? Como é que um motorista tem condições psicológicas para voltar ao trabalho depois da surra que levou dos amigos ou familiares da preta que o mordeu? E quantos professores estão de baixa psiquiátrica só por terem dado um piparote num aluno? E se este for preto ou cigano, cai o Carmo e a Trindade porque é racista! Basta de hipocrisias! Todos nós fomos crianças e fizemos as nossas diabruras, mas bastava um pequeno castigo para resolver a situação. É incrível como os menores de quinze anos são considerados inimputáveis como se um garoto de doze ou catorze anos não soubesse o que faz.
Voltando a falar da PIDE, relatarei três casos de que agora me lembrei. O primeiro ocorreu na longínqua década de cinquenta do século passado. O primeiro-ministro da União Indiana, um tal Pandita Nehru, que pretendia anexar os territórios portugueses de Goa, Damão e Diu. Como é óbvio, para Salazar aquela pretensão era absolutamente irrealizável, o que provocou uma tensão política que, em 1961 seria resolvida pela força. (Sobre isto falarei mais adiante.
Ora por essa altura era locutor, actor e realizador de programas radiofónicos, um fulano chamado Igrejas Caeiro (mal sabia eu que, muitos anos depois, viria a tê-lo como colega na Emissora Nacional depois do 25 de Abril).
Numa entrevista dada por esse cavalheiro, (não me recordo se na rádio ou na imprensa) e uma vez inquirido sobre qual era o maior estadista do momento, o nosso homem não achou melhor do que declarar: o Pandita Nehru!
Ora não passa pela cabeça de ninguém, seja em que regime for, considerar que o maior estadista é um inimigo do nosso País. São coisas que se pensam mas não se dizem em público. O resultado foi a suspensão de todos os cargos públicos, o que o não impediu de continuar a sua vida profissional no teatro.
O segundo caso passou-se no Verão de 1960. Uma amiga minha, filha de um médico comunista fanático, andara a distribuir panfletos do PCP no liceu onde andava. O resultado não se fez esperar. Certa noite agentes da PIDE bateram à porta da casa onde vivia e, perante a aflição compreensiva dos pais, levaram-na para a prisão de Caxias onde permaneceu uma semana sendo-lhe permitida a visita dos pais. Depois de umas admoestações libertaram-na sob a promessa de “portar-se bem”. Pode-se não concordar com isto mas a verdade é que vivíamos num sistema de partido único e os comunistas eram os mais perseguidos. Lá diz o ditado: “quem semeia ventos colhe tempestades”. E, já agora, aproveito para citar o outro ditado (hipócrita) que diz que “se não podes lutar contra eles, junta-te a eles”; e eu acrescento: ignora-os e vive o melhor possível porque a política é feita por politiqueiros. Mas, a verdade é que se não fosse feita por esse tipo de gente não seria...POLÍTICA!!!
O terceiro caso deu-se comigo quando estava cumprindo em Angola aquela aberração chamada serviço militar obrigatório. Tinha regressado de uma aldeola situada no Norte daquela província ultramarina (colónia, se quiserem) chamada Nova Caipemba onde passara um ano. Agora tinha que cumprir o resto do tempo naquela aldeia grande chamada Luanda.
Tinha-me instalado numa pensão e certo dia, quando estava a almoçar, chamei o criado preto e dirigi-me a ele nestes termos: “senhor Miguel; veja se pode servir-me um pouco mais depressa porque já estou atrasado”.
Logo a voz de um dos comensais, com ar abrutalhado, fez-se ouvir com a educada frase: “olhe que aqui os pretos tratam-se por tu!”
Irritado, respondi-lhe que os meus pais me tinham ensinado que as pessoas mais velhas ou desconhecidas tratavam-se por senhor.
É por causa de pessoas como o senhor furriel (eu estava fardado) que esta guerra nunca mais acaba”, atirou o tal tipo. “Nem sabem utilizar as armas que, ainda por cima, somos nós que pagamos!”
Esta resposta foi o suficiente para eu perder a cabeça e responder gritando qualquer coisa como: “por mim, estou-me nas tintas tanto para a guerra como para esta terra; vim para cá à força e, se pudesse, mandava já um telegrama ao meu pai que pagaria a passagem no primeiro avião para Lisboa”.
Por momentos reinou o silêncio na sala, enquanto dezenas de olhos me observavam como se fosse um bicho raro. Como o tipo não respondeu, calei-me e, em breve, os ruídos normais de uma sala de jantar voltaram a fazer-se ouvir. Só quando acabei de comer e me preparava para sair, é que reparei que dois sujeitos, um branco e um preto, estavam sentados na esplanada vizinha olhando fixamente para mim.
Mal transpus a porta, ouvi uma voz chamar: “ó patrício, venha cá!”
Antes que eu pudesse perguntar o que ele queria, o tipo indagou: “que conversa foi aquela que eu estive a ouvir?” “Por menos do que aquilo já prendi muita gente!”
É claro que os “tomates” caíram-me aos pés (salvo seja). Não sei como, mas respondi-lhe com a seguinte bravata: “a mim o senhor não me prende; para isso terá de chamar a Polícia Militar!” “Além disso, já que esteve tão atento, deve ter ouvido como tudo começou e ir prender aquele senhor que ofendeu a tropa e o Portugal multirracial que o nosso Governo defende”.
O homem engoliu em seco, não sem antes avisar com ar de poucos amigos:
tenha cuidado!”
Já na rua é que caí em mim. O tipo era da PIDE e, se fizesse queixa de mim, o mais provável era voltar mais uma ano para o mato, agora que só faltavam quatro meses para cumprir os dois anos da praxe. Nos dias seguintes, quando o encontrava na esplanada, passei a cumprimentá-lo com o contumaz: “Como está? Está bem?” E o caso ficou por ali, para meu alívio. Por mim, continuava a abominar aquela terra, os pretos e os brancos que foram para lá.
E hoje fico por aqui. No próximo artigo desta série, falarei da parte negativa e por vezes cruel de Salazar. Irra que o diabo do homem ainda hoje dá pano para mangas. E, possivelmente, ainda virá a dar muito mais!


(Peço desculpa por ocasionais erros gramaticais e alguma “gralha” involuntária, mas a verdade é que não tenho paciência para rever o texto).






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