23/12/2014

PESOS E MEDIDAS

'O Homem é a medida de todas as coisas, enquanto são, e das coisas que não são, enquanto não são'.
Esta afirmação, feita pelo filósofo grego Protágoras (Século V a.C.) mostra como a ideia de que tudo é relativo surgira muito antes das teorias de Einstein no campo da Física.
Mais próximo do ser humano, Protágoras, entendia com base naquela máxima que as leis, regras, cultura, etc. não podem ser enunciadas por uma só pessoa, já que o que é verdadeiro ou falso para alguns, não o é para outros. Logo, o que tem valor num determinado lugar (no espaço ou no tempo) não é aceite noutro.
Para ele, tudo deve ser resolvido por um conjunto de pessoas, apesar da dificuldade (acrescento eu) que apenas duas pessoas têm em se entenderem. Mesmo que ambas estejam de acordo, se começam a aprofundar o assunto, não tardam a surgir as divergências. Quem viveu o 25 de Abril, deve lembrar-se que, só partidos marxistas-leninistas e afins, surgiram cerca de uma dúzia!

Mas deixemos a Filosofia e a porca da Política e passemos aos factos. Apesar de “cada cabeça, sua sentença”, a verdade é que, por razões tão práticas como necessárias, o homem (e talvez algumas mulheres) inventaram regras de pesos e medidas para normalizar as suas compras, vendas, demarcações de terrenos e outras coisas que, muito mais tarde, ficaram conhecidas como estandardizadas.
É claro que como todo o mundo é uma burla e o homem (e as mulheres) já nasceram burlões, todas as medições são passíveis de ser aldrabadas, apesar de terem uma unidade base acordada internacionalmente. Mas isso é outra história.
O sistema decimal é, como o nome indica, fundamentado na numeração com base dez, o que facilita imenso os cálculos do dia a dia.
Mas, como sempre há quem resista ao fácil pelo complicado. Temos o caso da Inglaterra e Colónias (Escócia, Gales e Irlanda do Norte, para só citar estas) dos Estados Unidos e de outros países que conservam medidas próprias, capazes de por a cabeça a andar à roda quando se comparam com o sistema decimal. Entre elas temos a o pé, a polegada, a jarda, a milha marítima, a milha terrestre, o galão, etc. etc.
Se bem me lembro, foi na década de cinquenta que o Reino Unido, adoptou (ou fingiu que o fez) o sistema decimal. Recordo as parangonas que os jornais fizeram sobre a dificuldade que a rainha desse país, a Isabel nº 2, teria para compreendê-lo. Caramba! A mulher poderia ser burra mas, apesar da minha juventude, concluí que era mais uma manifestação da nossa subserviência a Sua Majestade, que era sempre capa dos nossos jornais, nem que fosse por se ter “descuidado” em público. Pobre mulher!  

Nessa já tão distante época, contava-se entre a rapaziada a seguinte anedota: contemplando a Torre Eiffel, encontravam-se vários turistas que, nas suas diferentes línguas, faziam comentários tais como a Torre Eiffel é linda, imponente, espectacular e outros adjectivos semelhantes.
Entre eles, e como era costume neste tipo de anedotas, estava um português. Pasmado, levantou a cabeça, coçou-a, pôs as mãos nos bolsos e exclamou: “eia, c’o caralho”!

Há já uma dezena de anos, dei comigo a investigar a origem da interjeição carago, tão usual no norte do país. Para isso, consultei o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado, onde encontrei a seguinte indicação: “veja caralho”.
Seguindo aquela indicação, fiquei a saber que aquele vocábulo provem do latim caraculu que, por sua vez, tem origem no grego chárax que significa “estaca, estaca para vinha; …ramo de oliveira cortado e aguçado na base para ser transplantado;
estaca para palissada, palissada; …madeira de construção”.
Continuando a investigar, consultei o “Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”*, onde encontrei, entre outras, estas definições: 1- “muito, demasiado, extremamente: ele é alto como o c.  2- “em profusão: veio gente como o c. à apresentação.


Não há dúvida; os Portugueses têm razão quando o utilizam como medida. Mesmo variando de macho para macho, a sua espectacular capacidade de passar de anão a gigante, de simples penduricalho a aríete, conforme as duas funções que possui, confere-lhe a categoria de ser ele “a medida de todas as coisas”, modificando assim a afirmação de Protágoras.
É claro que como neste mundo nada é perfeito, no macho humano por vezes tem a função de incomodar, quando se trata de arrumá-lo com os respectivos apêndices nas cuecas. Mas isso é, apenas, um pequeno inconveniente. As vantagens são, indubitavelmente, muito superiores, tanto para a maioria das mulheres como para as “bichas” e derivados.
Confesso que fiquei surpreendido com aquela revelação, mas os tempos mudam. E se ontem a anedota sobre o “portuga” pasmado ante a grandeza da Torre Eiffel, era contada às escondidas, hoje quase pode ser considerada uma “anedota de salão”. Mas, por motivos de respeito por certas pessoas, acho de bom-tom interrogá-las primeiro sobre a sua sensibilidade, o que tenho por hábito fazer. 

*Publicado no Brasil em 2001 e, um ano depois em Portugal numa versão adaptada, a este dicionário foi imposta (11 anos depois!) a retirada do mercado pelo governo brasileiro por conter definições racistas. Entre elas encontra-se como sinónimo de cigano aquele “que trapaceia, velhaco e burlador”, como se esta definição não fizesse parte da gíria popular tal como judeu (que também aparece no mesmo dicionário no mesmo contexto) entre tantas outras. Os italianos, por exemplo, chamam portughesi àqueles que tentam entrar sem pagar em locais onde é obrigatório fazê-lo. Por mais que queiram negar, os “amigos de gente” (cito F. Pessoa) deviam aceitar que todas as histórias e lendas têm um fundo de verdade.
Assim, com esta mania de anti-racismo primário, que oficialmente se quer impor como “censura democrática”, qualquer dia teremos de dizer (como escrevi num dos artigos anteriores) “Clara das Neves e os Sete Homens Baixinhos”!
É caso para dizer que é uma coisa do c... (!)


Nota: qualquer comentário escrito segundo o chamado novo acordo ortográfico, será considerado como contendo erros grosseiros e, como tal, corrigido.
PARABÉNS, MAFALDA!

E parabéns também para ti, Quino, o “pai” dela e de todos os seus companheiros.
Neste ano em que se comemoram cinquenta anos do seu aparecimento, quero ainda felicitar toda a equipa que colaborou na realização do álbum “Toda a Mafalda - Edição Comemorativa dos 50 anos”. Embora lançado em Novembro último, já vai em segunda edição.
Além das 1929 (mil novecentas e vinte e nove!) tiras que Quino desenhou e escreveu sobre a Mafalda, o álbum contém cerca de 200 páginas com os mais variados assuntos sobre aquele ícone da banda desenhada. Versando sobre tudo o que lhe está relacionado, até inclui cronologias dos principais acontecimentos históricos da época para melhor compreensão.
As primeiras tiras surgiram em Portugal em 1970 dispersas por pequenos fascículos; três anos depois Quino poria fim à sua maior criação.
Ao relê-las, bem como a muitas que desconhecia, não consigo deixar de rir, embora com uma certa amargura. O mundo continua exactamente na mesma, tanto há cinquenta anos como agora. E, não só há cinquenta como desde sempre e assim continuará.
O que mudou foi a tecnologia e as moscas. Talvez já não falte muito para que ambas destruam tudo aquilo a que chamamos Civilização! Pode ser que outro ciclo comece, como tem acontecido ao longo da História. E, se não acontecer, também não é preciso.
E, depois deste desabafo de pessimista, um grande abraço para ti, Quino. Não te conheço pessoalmente, mas considero-te como se fôssemos grandes amigos. Afinal, vemos o mundo da mesma maneira na sua triste realidade, e rir é o melhor remédio.

Nota: qualquer comentário sobre este artigo escrito segundo o chamado novo acordo ortográfico, será considerado como contendo erros grosseiros e, como tal, corrigido.  


10/12/2014

ÓPERA, NAFTALINA E... PANELEIROS*

(Terceira parte)


A ópera nasceu na Itália no século XVII. Nos primeiros tempos, as figuras e histórias lendárias da Antiguidade Clássica foram os temas preferidos pelos libretistas e compositores. Foi uma consequência do Renascimento, após a “longa noite medieval” onde a crendice e estupidez humanas atingiram na Europa um dos seus pontos mais altos.

Centenas de óperas, não estou a exagerar, foram escritas por muitos compositores, alguns deles tornados célebres, sobre aqueles motivos, tendo a maior parte sido perdida ou esquecida.
Para desempenhar os papeis daqueles heróis, e devido à interdição dos palcos às mulheres, utilizavam-se os castrati, ou seja, homens que, em garotos, tinham revelado excelentes vozes mas que a puberdade iria destruir. Assim, era natural o consentimento dos pais na ablação dos testículos, para manter a mesma qualidade de voz dos filhos bem como do rendimento familiar.
Surgiram, assim, as mais ridículas personagens ornamentadas com plumas e adornos espampanantes de toda a espécie que, com voz de falsete, faziam o papel de um Hércules, de um Aquiles ou de um Ulisses.
Típicas eram também as rivalidades que surgiam entre eles; usando como armas as vozes e atitudes a que hoje dizemos serem próprias de bichas, desrespeitavam as partituras, entrando em disputas canoras pseudo-artísticas que, não raras vezes, conduziam a agressões em pleno palco.
É claro que o público delirava com este tipo de cenas, baixando a ópera a um nível em que o mau gosto aumentava proporcionalmente às exibições. Até a música, se em alguns casos tinha qualidade, descambou em partituras medíocres, razão pela qual a maioria foi esquecida como já foi dito.
Por outro lado formavam-se elites, e era de bom tom os grandes senhores ficarem a conversar fora dos camarotes, permanecendo nestes os criados incumbidos de chamá-los quando se aproximavam as árias ‘ditas’ principais ou mais conhecidas.

Embora com métodos diferentes, existia uma certa analogia com as récitas a que assisti no S. Carlos e em Luanda, conforme relatei nas duas primeiras partes deste artigo. Ir à ópera ia-se tornando um espectáculo de elite, quer se gostasse ou não. Talvez o único país onde isto não aconteceu foi a Itália, sempre pronta a apreciar aquele espectáculo como pertencente aos verdadeiros amantes do belcanto, fossem eles aristocratas ou plebeus. Mas, como é costume dizer-se, ‘os italianos já nascem a cantar’.

Os anos passaram e, devido à minha profissão, assistir a récitas de ópera no S. Carlos iria tornar-se numa rotina. Mas, o trabalho preliminar que tinha de fazer para assegurar a transmissão pela rádio (e também pela RTP onde fiz alguns biscates) permitiram-me penetrar no âmago da “arte suprema”.
Não vou falar de todos aqueles que põem de pé tão grande edifício como é uma récita de ópera. Desde carpinteiros, costureiras, electricistas, encenadores (e tantos outros a quem peço desculpa por não mencionar), até aos músicos, maestros e cantores, lidei com dezenas de profissionais cujo empenho era produzir o melhor que podiam e sabiam.

Mas, deixemos os artífices e passemos à assistência que aprendi a classificar em três grupos:
1º Os verdadeiros amantes de ópera, um tanto incómodos porque aplaudem com os indispensáveis “bravos” o final de uma ária, mantendo uma tradição que, muitas vezes, faz com que não se oiça o que vem a seguir.
2º As elites, que julgo ainda existirem porque os chamados novos-ricos devem ter substituído o que resta da também chamada aristocracia.
3º Finalmente, temos os derivados dos fabricantes de panelas, cientificamente classificados como homossexuais (também conhecidos na linguagem popular como “bichas” e, mais recentemente, como gays!
Em relação à primeira classificação recordo que, há muitos anos, o grande humorista e contestatário brasileiro Juca Chaves fez um trocadilho com primeiro termo dizendo que Omo*sexual era sabão em pó para lavar vaginas.

Os gritos histéricos desses cavalheiros, bem como a sua estranha paixão pelas vozes femininas (de preferência meio-soprano e contralto) ainda hoje ecoam na minha já velha cabeça.
Como exemplo máximo a que pude assistir por várias vezes, destacava-se um tipo cujo nome não vou mencionar, mas que era conhecido no meio pelo cognome de “lombriga maluca”.
Além de ser o tipo de “bicha” que gosta de exibir as suas preferências sexuais, aliava este hábito a defeitos físicos que o obrigavam a deslocar-se de canadianas. Quando andava, salientando o rabo e com todo um conjunto de tiques próprios das “bichas”, até aqueles aparelhos ortopédicos pareciam fazer parte dele. 
Poderá ser triste e até ofensivo mencionar este facto mas, no meu modo de ver, a realidade deve ser revelada por mais cruel que seja.
As atitudes daquela personagem tornaram-se tão incómodas que, segundo consta, implicaram a proibição de entrar no S. Carlos. Se é verdade ou não, declino qualquer responsabilidade, até porque numa conversa recente com um amigo, soube que tão ridícula personagem já faleceu. Se acreditasse na alma, desejar-lhe-ia a paz eterna, até porque dizem que era uma excelente pessoa. Se fosse muçulmano lamentaria as não sei quantas virgens que esperam que apareça um tipo qualquer que as livre de tão vergonhosa situação.

Como conclusão, acrescento que ir à ópera, por vontade ou por motivo profissional, tornou-se uma chatice para mim, não só pela histerias mencionadas, mas também pelas anedóticas encenações que há já bastante tempo infestam o mundo da ópera, como os Nibelungos a escreverem à máquina, Violeta Valery (La Traviata) a morrer tuberculosa mas com uma garrafa de soro fisiológico pendurada a seu lado, ou um personagem vestido de smoking a fazer de Wotan mas que, por necessidade do texto, saca de uma espada.
Mas a ópera é mesmo assim e, com ou sem razão, como em quase tudo, a maioria é que vence. Mas, o que será a razão?!
Posto isto, e como vivo dentro do possível à parte deste mundo, prefiro ver e ouvir, ou só ouvir, conforme seja em DVD ou CD, gozando na tranquilidade da minha casa, todo esse vasto mundo que é a ópera sem ter de aturar os bravos, as tosses e os espirros dos assistentes, bem como as manifestações histéricas dos derivados dos fabricantes de panelas!

*OMO: Um dos primeiros detergentes para lavar roupa. 
(O detergente em pó OMO foi criado pelo grupo inglês Unilever na década de 1930) 

Nota: qualquer comentário a este artigo escrito segundo o chamado acordo ortográfico será considerado como tendo erros grosseiros e, como tal, corrigido


19/11/2014


ÓPERA, NAFTALINA E... PANELEIROS*

(Segunda parte)
 

Curiosamente, seria em Angola que iria assistir alguns dos mais caricatos espectáculos de ópera. Corria o ano de 1966 e encontrava-me em Luanda cumprindo essa aberração chamada “serviço militar obrigatório”, agora modificada num ridículo dia intitulado “de defesa nacional” só para justificar a existência da tropa.
E, já agora, uma coisa que nunca entendi é a razão a existência de ministérios da defesa, comum a quase todos os países (honra seja feita à Costa Rica que não possui forças armadas) quando nenhum outro tem ministério do ataque! (Sou muito ingénuo, não sou?)
Mas voltemos à vaca-fria, neste caso a ópera. 
O episódio que se segue já está mencionado na história da minha ida à guerra que, lentamente, continuo a escrever; já tem perto de duzentas páginas e ainda vou nos primeiros meses em Nova Caipemba. Sabem onde fica? Procurem num mapa.

O meu grande amigo José Manuel Serra Formigal fundara nesse ano a Companhia Portuguesa de Ópera em colaboração com a FNAT (Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, a que o bom humor lusitano logo classificou de 'Famintos Nacionais Agarrados ao Tacho'). *
Curiosamente, aquela Companhia, sedeada no Teatro da Trindade em Lisboa, e onde, por um preço módico, se podia assistir a um boa récita feita por artistas portugueses, foi extinta a seguir ao 25 de Abril por conotações com o fascismo. Foi um dos curiosos resultados daquela revolução que derrubou uma ditadura para quase instalar outra, acabando por conduzir à ditadura da democracia em que vivemos. Como diz o velho ditado, "a merda é a mesma, as moscas é que mudam".
Nesse mesmo ano da sua fundação, e para tentar, por todos os meios, impingir ao mundo que as colónias eram Portugal, o Governo decidiu enviar a Companhia Portuguesa de Ópera a Luanda. A acompanhá-la foram também o coro do Teatro de S. Carlos e a Orquestra de Ópera da Emissora Nacional.
“Silêncio que está a cantar ópera”, como diz António Silva no papel de burguês rico em “O Pátio das Cantigas”, é o que mais se aproxima da reacção da elite branca (perdão, clara) luandense ao acontecimento; quanto aos pretos (perdão, negros) provavelmente interrogaram-se sobre que diabo de feitiço ou de remédio seria mais aquela “branquice”.
Mas, para mim, foi uma alegria enorme, principalmente por reencontrar o meu velho amigo “Zé” (Serra Formigal) e a mulher, que andara comigo ao colo. Passei bons momentos com eles, além de ter tido a possibilidade de assistir a alguns ensaios.
A representação das três óperas do cartaz, La Bohème, Lucia di Lammermoor e Rigoletto deu-se no Cine-Teatro Restauração, única sala com um mínimo de possibilidades para o evento, mas que não eram suficientes. Porém, devido à arte do desenrasca inata no nosso povo, a coisa funcionou. Apenas a mudança de cenários entre os actos prolongou os intervalos, muito animados pelos sons de carpintaria que se ouviam para lá do pano de boca. Tratava-se de desfazer e refazer os cenários a que o palco improvisado obrigava.
Quanto às récitas, recordo o desencontro vocal entre o soprano Ana Lagoa e o tenor João Rosa, no final do primeiro quadro de La Bohème. Tratou-se de um problema mal resolvido nos ensaios, que não cabe explicar neste contexto. Aqui teria resultado numa grande pateada; lá, foi muito aplaudido.
Já no Rigoletto gozei à farta com os “aaahs!” do público quando, finalmente, chegou a área La donna è mobile.  Pareceu um alívio semelhante ao que fazemos quando, à espera de qualquer coisa, ela chega finalmente. O entusiasmo foi tal, que o maestro Jaime Silva (filho) resolveu bisá-la. Depois, houve que aguardar que aquela 'chatice' acabasse.**

Mas, o melhor de tudo foi observar os trajes da assistência. Muitos homens foram de smoking enquanto as senhoras primavam pela exuberância dos colares, das pulseiras, dos brincos e de vestidos mais ou menos decotados, não tendo esquecido, algumas, casacos de peles!
Assim, além do cheiro da naftalina, juntou-se o do suor inutilmente disfarçado, ou melhor, misturado com perfumes. Para completar, e por razões óbvias, faltava o ingrediente catinga. Tudo misturado, talvez tivesse afugentado qualquer canídeo esfomeado que por lá aparecesse.
Quanto aos comentários da imprensa local sobre tão pomposo acontecimento, destaco o semanário “Notícia” que, sem se meter em apreciações musicais, gozou à farta com as fardamentas surgidas naquela cidade, onde se escorre suor de manhã até à noite. Tenho pena de não ter guardado o respectivo exemplar daquela revista, considerada por irreverente nos meios luandenses da época.
Hoje, e passados tantos anos, permito-me afirmar com alguma nostalgia, que o que aconteceu não foi ópera, mas sim “silêncio que se está a cantar ópera”!

Nota: brevemente será publicada a terceira e última parte, dedicada aos fabricantes de panelas e seus derivados.

*Este trocadilho está mencionado na minha antologia de anedotas políticas do tempo de Salazar.
**A interpretação do Rigoletto demora cerca de duas horas e, aquela que é, talvez, a ária mais conhecida de Verdi, só surge pouco depois do início do terceiro e último acto.


   

07/11/2014

ÓPERA, NAFTALINA E... PANELEIROS*

(Primeira parte)

“A ópera é o espectáculo supremo. Nele se fundem todos os grandes géneros artísticos, realçados pela expressão transcendente da música. Dir-se-ia que o homem se inspirou nos eternos elementos da Natureza, conjugando as vozes do mar, do vento, das aves e da tempestade, para criar tantas páginas imortais do lirismo, de harmonia e do canto!”
Este texto é a introdução de uma longa nota feita pelo empresário Ricardo Covões que, durante muitos anos, esteve à frente dos destinos do Coliseu dos Recreios.
Encontra-se num programa da temporada de ópera de 1947 e é uma resposta a uma nota do Governo de Salazar, que proibia a realização de espectáculos de ópera no Coliseu dos Recreios, nos meses de Abril e Maio, em favor do Teatro Nacional de S. Carlos.
A nota governamental está reproduzida integralmente no programa**, seguida de comentários para a época muito corajosos, que relatam os prejuízos causados e o que foi possível fazer para cumprir, dentro do possível, a presença dos artistas em datas diferentes das estipuladas nos contratos já feitos. O programa que mencionei faz parte da colecção que possuo, onde também constam as temporadas de 1922/23. São herança dos meus avós paternos.
“A ópera é o espectáculo supremo”, escreveu Ricardo Covões”! Não tenho a menor dúvida; e eu especifico os elementos da Natureza por ele citados, como a música, o teatro, a pintura, a poesia e até o bailado nalgumas delas.
Mas, na minha juventude, quando comecei a interessar-me
pela música disparatadamente classificada como “clássica”, os meus conhecimentos sobre a “arte suprema” eram mais que rudimentares. Apenas os nomes das mais conhecidas e a audição de fragmentos em discos de 78 rotações na velha grafonola que existia lá em casa.

Um dia, tinha eu catorze anos e já era uma apaixonado pela  música “clássica”, deu-se o caso de jantar na casa de uns tios muito ricos. E seria nessa mesma noite que iria, pela primeira vez, assistir à representação de uma ópera. Mas, antes de contar porque tal aconteceu, é preciso relatar o ambiente que na época, rodeava a ópera.
A respectiva temporada, realizava-se no Teatro de S. Carlos e no Coliseu dos Recreios. Ao primeiro ia a elite lisboeta que tinha a obrigação social assistir a todos os espectáculos da temporada porque era ser “bem”, como se dizia na época, gostar de ópera.
Até Salazar, aquando da visita da Isabel nº 2 (mais conhecida por Sua Majestade a Rainha Isabel 2ª de Inglaterra) a Portugal, teve de acompanhá-la a uma récita. Se era rainha tinha de gostar de ópera e Salazar, como anfitrião, teve que cumprir o protocolo imposto para a visita de tão importante personagem.
Para os outros, onde se encontrava a maioria dos verdadeiros amantes de ópera, estava destinado o Coliseu. Os bilhetes eram muito mais baratos e, apesar da péssima acústica que tinha, a sala enchia-se de um público entusiasmado.

Depois deste esclarecimento, vou voltar à minha história.
Nessa noite os meus tios iam ao S. Carlos onde, todos os anos, mandavam o motorista comprar a assinatura. A ideia parecia não vir do meu tio, engenheiro civil, pessoa muito modesta, que confessava não apreciar muito aquele tipo de espectáculo.
Mas, sob a pressão da mulher e do filho, lá cumpria o que a alta sociedade determinava. (Recordo uma vez em que me confessou, quase a medo, que só não ia às óperas de Wagner porque o tempo que demoravam fazia-lhe doer o rabo).
O jantar estava a acabar quando o meu primo teve a feliz  ideia de propor que eu fosse também, sugestão que aceitei, entusiasmado. É claro que, naquele tempo, mesmo que dissesse que não queria, teria de ir na mesma. Mas, surgiu um problema: os homens só podiam entrar nas soirés daquele teatro de elite vestidos de smoking.
O problema foi resolvido com a dita (e ridícula) peça de roupa, emprestada pelo meu primo e que, com um puxa daqui estica dali, serviu para o efeito. Acabou por me ser oferecida e, depois de melhor adaptada, viria a utilizá-la noutras récitas.
Entre os vários automóveis que o meu tio possuía, constava um Rolls-Royce. Por isso, não me espantou a respeitosa intervenção de uma das várias criadas, dizendo que um dos dois motoristas desejava saber qual o carro que nos levaria ao S. Carlos.   
Simples como era, o meu tio respondeu que seria o Peugeot, logo interrompido pelo meu primo que exclamou: “Oh, pai! Para o S. Carlos tem de ir o Rolls-Royce!"  
E lá fomos.
Chegados ao largo, o automóvel, com o seu emblema alado abrindo caminho por entre outros carros de luxo que já lá se encontravam, parou debaixo da arcada. Como era regra, o motorista, de boné na mão, abriu-nos as portas e saímos do carro. Depois, foi procurar um lugar para estacionar, enquanto o desfile automobilístico prosseguia sob aquela mítica arcada.
Assim que entrei no foyer daquele teatro que só conhecia por fora, e tentando acomodar-me o melhor possível dentro da “armadura” a que me tinham sujeito, comecei a admirar todo aquele luxo.
Depois de entrar e admirar a sala de espectáculos, e de reparar nos sumptuosos casacos de peles das senhoras e na 'fardamenta' rigorosamente igual dos cavalheiros, tal como a minha, sentei-me no meu lugar. 
Foi, então, que o meu olfacto detectou um estranho cheiro. Farejando, disfarçadamente, o ar, consegui identificá-lo: tratava-se de naftalina! É claro que, nessa altura, não percebi a relação com as indumentárias presentes. Até porque no que estava mais interessado, era assistir ao primeiro espectáculo de ópera da minha vida.
Tratava-se do Werther de Massenet, compositor que só conhecia de nome, e cujo enredo ignorava completamente.
Quando a representação terminou, a minha tia disse-me que não tinha gostado muito porque a “música não entrava no ouvido”!
Contrapus dizendo que, pelo contrário, fora o que mais tinha gostado. Depois, pensei cá para mim: a partir de agora sei que vou passar a assistir de borla a muitas óperas. 
Causas? Eram fáceis de determinar: ou faziam doer o rabo ou não entravam no ouvido. E assim aconteceu.

    Notas:
*Paneleiro: fabricante de panelas; armário onde se guardam panelas. Por tabuísmo, homossexual, gay. (in Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.)

**Para os que gostam de História, aqui vai a nota transcrita conforme o original:

Lisboa, 15 de Novembro de 1946.

Ex.mo Senhor Ricardo Covões, Coliseu dos Recreios-Lisboa.

      Para conhecimento de V.Exª comunico que, por despacho de Sua Excelência o Presidente do Conselho, de 12 do corrente,

     “Não é permitida a realização de espectáculos de ópera no Coliseu dos Recreios no período de 1 de Março a 30 de Abril de 1947, para não haver sobreposição de espectáculos de ópera e ser dada a preferência ao Teatro de S. Carlos.

A Bem da Nação
                                                                 O Inspector-Chefe
                                                               a) Óscar de Freitas.

                                                       *****







30/09/2014

O TERCEIRO SEGREDO DE FÁTIMA

                   
Nota preliminar  
                                                                                   
Os textos que se seguem foram transcritos para computador por João Daniel G. Maia Saturnino a partir de fotocópias dos manuscritos do seu autor, que no início de cada uma das duas partes diz chamar-se Edgar de Vilas Boas Veloso Leite e que as assina de modo pouco legível.
Foram respeitadas, dentro do possível, tanto a disposição gráfica como a ortografia originais. 
O transcritor informa que não conhece o autor, nem se lembra como as referidas fotocópias chegaram às suas mãos. Esclarece, contudo, que está completamente de acordo com o que está escrito e aproveita para felicitar o autor, um dos poucos com coragem para desafiar essa sinistra instituição chamada Igreja Católica Apostólica Romana que, como as outras religiões, é alimentada pela crendice humana que cega até as maiores inteligências. Quem estiver interessado nestes mitos, e na posição agnóstica do transcritor, poderá consultar alguns textos sobre o assunto no seu blogue que tem por título “O Suplício do Disparate”.
Por outro lado dá os seus parabéns ao autor pela interessante e sarcástica mistura de palavras eruditas com termos de gíria, o que provoca um franco sorriso, apesar da importância do tema abordado. 
Aproveita ainda para dizer que ignora as referências bíblicas indicadas no nº2 da Iª parte.
Quanto ao Cardeal Marcinkus (nº8 da 2ª parte) esclarece que se trata de Paul Casimir Marcinkus, norte-americano de origem lituana, que protagonizou um dos maiores escândalos financeiros da década de 80 do século passado. Ligado à máfia siciliana, calcula-se que tenha desviado mais de mil milhões de dólares para “paraísos fiscais” e outras situações que se desconhecem. Foi sempre protegido pelo Papa João Paulo II, sob o pretexto de imunidade diplomática! Ficou conhecido pela alcunha de “ O Banqueiro de Deus”.
Para mais informações procurar o nome Marcinkus na internet.

                   Amadora, 24 de Setembro de 2010 *
                                O transcritor:
                   João Daniel Gomes Maia Saturnino

Segue-se o texto original.

***
  
Edgar de Vilas Boas Veloso Leite                Barros Brancos, 8/5/2000
Nº 266- E. n.125-8400-453                           Lagoa
Porches

                           Revelação do terceiro “Segredo de Fátima”
                                                 - Outras Verdades -

Parte 1ª:
                         1. Deus, afinal, não é tão poderoso como se diz. Precisa de segredos. E precisa dos seres humanos para os guardar, a fim de poder continuar a “existir”. A Igreja Católica ao protagonizar e promover o mais descarado exemplo de como invocar o santo nome de deus, em vão – doutrina sua – arvorou-se, levianamente, em guardiã dos “segredos de deus”, e meteu-se numa alhada dos diabos. Não sabe, agora, como descalçar a bota. O inqualificável embuste das “aparições” de Fátima enredou a Católica num labirinto de contradições insanáveis, as quais, apesar dos aturados e sublimes exercícios de congeminência teológica e doutrinária, a cargo de autênticos mestres da lábia e astúcia na arte de baralhar, não encontram saída nem fuga possível, menos ainda explicação racional. A inteligência, bem supremo dos seres humanos normais e livres, não verga, antes repudia, as patranhas intragáveis e o ardil insidioso da agressão absurda dos dogmas e da mentira.

                                                         OS FACTOS: 
                        2. Vamos por partes: a “senhora” de Fátima exprimiu-se em português? No dialecto de Ourém? Mas ela, a ter existido, analfabeta, mãe de 14 filhos e filhas, descendente de três vezes três gerações – Bíblia He 2.1.7. e Me 12. 46.50 – terá vivido 2000 anos antes da era actual, numa altura em que Portugal ainda não existia.
                        3. Só depois de fenícios, gregos, cartagineses, romanos, celtas, godos, visigodos e vândalos – sobretudo vândalos! – nos terem caldeado e, segundo Aquilino Ribeiro,  mestre de português e investigador rigoroso, terem tomado as nossas melhores terras e casas e as melhores mulheres (via sinuosa), deixando para a maralha o refugo da ralé - as feias, as fáceis e as pobres - só depois Portugal se começou a desenhar! Isto cerca de 1200 anos após a “senhora” ser levada no space shuttle “Assunção”. Ora o modo de falar dos tempos da Fundação e mesmo muito depois, era bem diferente do de agora.
                       -“Acudam ao Mestre que matam!”
Em que escola andou ela? No Colégio Moderno?
                       4. A “senhora” mandou rezar o terço?
Mas há 2000 anos o único terço então conhecido, na Judeia, era o terço das coortes romanas, sob cuja férrea lei foram crucificados os três ladrões: O Bom, o Mau e o do Meio!
                                   NA VERDADE:
                        5. Na verdade, as “aparições” foram urdidas e levadas a cabo, de conluio com o pároco, por uma professora primária de Ourém ajudada pelo chulo dela. Estes são os factos por demais conhecidos da Igreja Católica. Há, pelo menos, um livro editado próximo da época, que relata, situa e documenta os acontecimentos da trama engendrada na Cova da Iria. Os historiadores sabem-no. Não falam, porém. Não se atrevem. Por medo, pactuam. Ou porque são sequazes da padralhada e pagos para se calarem.
                        6. Ora acontece que a tal professora primária, com verdade ou sem ela, tinha má reputação e, para a disfarçar, logrou insinuar-se entre os privados do então Bispo de Leiria, um pederasta bastante badalado na região, embora mais comedido que o Cardeal Cerejeira, que esse, toda a gente sabe, foi um paneleiro ardoroso, incontinente e desbragado. Chegou mesmo a zangar-se com Salazar, porque o Salazar gostava de fazer minette. Isto também é histórico. O Salazar, à sua maneira, gostava de mulheres.
                         7. A tal megera primária teve papel importante na morte prematura dos pastorinhos Francisco e Jacinta. Visitava-os com frequência e mantinha-os sob coacção, com o apoio e conluio de Lúcia, já mula sabida, cuja tarefa consistia em corroborar a veracidade da farsa, influenciando e envolvendo os primos em afirmações que convinham à credibilidade da fraude, empurrando-os assim para sessões de violentas e pródigas cargas de porrada dadas pelos pais, pelo regedor, pelo pároco e pelos esbirros do Bispo de Leiria. Os meninos enfardavam que era obra!
Não foi só a tuberculose que os vitimou, não! A tuberculose surge como efeito e desfecho dos insuportáveis maus-tratos e serve de desculpa e encobrimento aos torcionários da Igreja.
Se, de facto, por absurda hipótese, tivesse sido a mãe de Jesus a aparecer àquelas crianças, jamais se poderá pressupor ou aceitar que ela permitisse a tortura ignóbil dos seus interlocutores.
Mas, como pode aparecer o que não existe? A “senhora” era outra, bem mais terrena e maculada!
                         8. Esta é, pois, a autêntica verdade verdadeira da 1ª parte do famigerado 3º “segredo”. A Igreja Católica bate o mea culpa e reconhece que as “aparições” foram uma fraude grosseira e indigna. Trata-se, porém, de uma fraude de sucesso irrecusável, uma verdadeira mina de ouro inexaurível, um manancial magnífico, um rendimento que, embora despudorado, assegura refazer o rombo colossal perpetrado pelo Cardeal Marcinkus do Banco Ambrosiano. Estranho deus e estúpida religião que precisam de usar a má-fé e o logro, para extorquir dos simples, dos pobres, dos deserdados da vida, as esmolas retiradas do magro mealheiro, penosamente guardado para, sob o óbolo da desgraça, ostentarem fausto e opulência!
                         9. É sintomático que as “aparições” e os “milagres” ocorram em países atrasados e miseráveis, económica e culturalmente indigentes. Portugal era, à época, uma nação de mendigos, país exportador de imigrantes analfabetos, exaurido por uma cáfila de safados instalados no Poder e por um esforço de guerra iníquo, que devorou, em terra estranha, os sonhos, as famílias e as vidas de milhares de moços bisonhos, mal equipados, mal preparados e mal comandados. E desmotivados, também. Nem um sequer da corja de pulhas que detinham o Poder, pôs os pés na Flandres ou em La Lys para combater.
Foi neste país desgraçado, num clima vil e mesquinho de chicana política e entre ignorantes, que a Igreja Católica encontrou ambiente para programar, organizar e levar à prática o medonho embuste.
                        10. Por paradoxal que pareça, o panorama não mudou muito. A Igreja Católica nunca beneficiou de tantos privilégios e benesses como agora. As honras, os cargos, as ajudas, os subsídios, as doações, as isenções de impostos, o compadrio e a promiscuidade de poderes nunca atingiram grau tão elevado de desvergonha e escândalo, nem mesmo nos tempos da Ditadura.
A Igreja, em Portugal, tomou o freio nos dentes e possui uma organização tentacular, bem organizada e muito mais poderosa do que 100 Al Capones todos juntos. Os métodos são mais subtis, mais sinuosos, mais maléficos e audaciosos.
Curiosamente, a denúncia de Fátima e do seu pagode, surgiu no seio da própria Igreja, feita por dois homens íntegros e bons: O Bispo do Porto – Bispo do Porto só há um, D. António Ferreira Gomes e mais nenhum – e o padre Mário.
O Bispo do Porto a escorraçar os vendilhões do Templo e a abjurar o infame comércio de Fátima, abjurando-o. O padre Mário desmascarando a cabala e usando a verrina exemplar e admirável da sua frontalidade, ao romper com a indecorosa extorsão aos crentes, perpetrada pela suja súcia do Episcopado e pela voracidade insaciável da Cúria romana.
Mas o dinheiro pode muito mais do que as vozes incómodas de dois Homens honrados, ainda que sacerdotes.
                          11. Os tempos, mesmo assim, são outros. A circunspecção e processos mais racionais deram lugar à hipocrisia de amigo, à humildade simulada, ao discurso ecuménico. Os beleguins do Vaticano sabem que já não podem recorrer aos autos-de-fé. Quando o Papa pede desculpa, está a praticar um exercício de teologia retrógrada, forçada pela evolução que lhe escapa, nunca por convicção ou arrependimento. Verte, apenas, tretas que, por não reflectirem uma contrição genuína, podem considerar-se obscenas, pois não restituem as vidas ceifadas nem balsamizam as torturas inenarráveis dos condenados ao cárcere e às fogueiras; menos ainda devolvem os bens que a Igreja lhes roubou.

                             … Onze vezes de folhas revestida,
                                  Onze vezes de flores adornada,
                                  Onze vezes de frutos carregada,
                                  Te vi, ameixieira, aqui nascida.
                                  
                                  Outras tantas também te vi despida,
                                  De folhas, flores, frutos despojada, 
                                  Pelo rigor do Inverno saqueada,
                                  E a seco tronco toda reduzida.

                                  Também a mim me vi já revestido,
                                   De folhas, flores, frutos adornado,
                                   De amigos e parentes assistido.

                                   De todos eis-me aqui tão desprezado,
                                   Mas tu voltas a ter o que hás perdido,
                                   E eu não terei jamais o antigo estado!

António Serrão de Castro. “ Estendido no potro e atado de pés e mãos, foi-lhe protestado pelo notário”
                              “ que se ele morresse no tormento, quebrasse algum membro, perdesse algum sentido, a culpa seria sua e não dos Senhores Inquisidores que o julgavam ao dito tormento, segundo o merecimento do seu processo”
                    -Episódios dramáticos da Inquisição Portuguesa – António Baião, Presidente da Secção de História da Academia das Ciências de Lisboa. Director do Arquivo da Torre do Tombo -.

                              “ Denunciou tudo. Denunciou todos! Na cabeça do rol, denunciou os próprios filhos!!”
                                 Foram-lhe confiscados os bens. Dos seus quatro filhos, dois foram condenados à fogueira; os outros, entre eles uma rapariga de 18 anos, Teresa de Jesus, assediada e violentada, perderam a razão e ficaram dementes.
Os assassínios, os roubos e os estupros foram de muitos e muitos milhares…
A Igreja Católica é herdeira contumaz desses assassínios hediondos, precedidos, todos eles, de tortura infame. E não tem emenda.
Olhai Pio XII que não foi, pròpriamente, um lírio do campo. Os nossos governantes avalizam e agraciam os perpetuadores dos facínoras e cumulam-nos de distinções e favores. A Católica não mudou. Os tempos é que mudaram.
Porém, a peçonha da víbora continua letal.
                            12. Aproxima-se uma revisão da Concordata. Por quê uma Concordata? Que deve Portugal a Roma? O que é que faz correr o Governo? Que obrigações nos acorrentam? Que direitos especiais terão de ser dados? Porquê?
Os padres não se consideram cidadãos dos países onde nascem. Só invocam a cidadania  para exigirem privilégios  Escapam aos seus deveres quando os interesses do Vaticano falam mais alto.
O descaro é tão acintoso e o topete tão descarado, que os Bispos se atrevem a marcar a agenda e a estabelecer condições prévias para a revisão.
E como temos um Governo jesuíta, teremos de rastejar. É bem verdade, para nosso pesar que, com o PSD, as coisas não nos correriam melhor.
Triste sina a nossa! Perdemos a dignidade. A Comunicação Social do Estado é vomitiva. Vivemos numa Democracia fascista. Todos os desmandos são permitidos, porque são democráticos.
                                     (assinatura do autor)

                                              SAÍU-NOS NA RIFA
Depois de andar,                                                               No céu prometida
De cú para o ar,                                                                 Uma vida simbólica.
A Beijar meio mundo,                                                       E na Terra? Ardida,
É preciso saber                                                                  Porém, mal parida,
O que vem cá fazer                                                           A seca fodida
O Marcinkus Segundo!                                                     Da igreja Católica?

Consolar as freiras,                                                           Bênçãos e Orações
Dengosas, matreiras,                                                         O Papa a rezar,
E, mesmo às feias,                                                            Com fé nos milhões
Num gesto de gula,                                                           Que vem cá sacar!
Por baixo das saias,
Meter-lhes a bula?                                                     Arre, porra, que é de mais:
                                                                           Esta não rima, mas é verdade.
Ou então, maravilha
De Fé, genial!
Inaugurar a bilha                                                       (assinatura do autor)
A um Cardeal?
                                                                                  Barros Francos, Lagoa
O Inferno se lh’abra                                                    8/5/2000
Se ele ainda fode,
Fazer a uma cabra
O que faz um bode!

Ó Deus, se é que sois
E podeis muito mais
Que uma junta de bois,
Que sorte nos dais?                      

                                                 ………………………..

Revelação do Terceiro “Segredo” de Fátima
                                  O “Segredo” – Parte 2.

O terceiro “segredo” de Fátima é um manancial de surpresas, Como se viu, na parte 1ª, a Igreja Católica está a ser compelida a tirar “o véu diáfano da fantasia” e a enfrentar “ a nudez forte da verdade”, ao ter de reconhecer, até ao pormenor mais insólito, as tramas que forjou e que estiveram por detrás do embuste que suscitou e alimentou a crença de que algo de sobrenatural teria acontecido, em 1917, na Cova da Iria.
Nesta parte 2ª do “segredo” o espanto não é menor. Com efeito, o 3º “segredo” contém, no seu epílogo, matéria que abala, profundamente, a hierarquia e ameaça fazer desabar, desde os alicerces, toda a estrutura da Igreja de Roma.
A mensagem expressa no documento escrito com base nas declarações da “vidente” que resta é muito corrosiva e demolidora. Mexe até ao âmago das entranhas –caramba!- com a praxis romana e com a autoridade dos papas, ao ponto de os tribunais pontifícios, depois de haverem decretado o adiamento da revelação durante tantos anos, terem ponderado, muito seriamente, a destruição pura e simples do malfadado testemunho de Lúcia, que mais parece um esquiço dos diabos.
Porém, acabou por prevalecer o bom senso: o parto é doloroso, mas a Igreja jamais poderia ensaiar e muito menos concretizar um aborto em matéria de Fé. Eis, então, como a professora primária de Ourém, o tal vasculho que se entroixou num lençol branco para se fazer passar por santa, encavalitada na azinheira, eis então como baralhou os dados e ditou, para a Lúcia, contar ao “Visconde de Montelo” – na verdade o Cónego Manuel Nunes Formigão – a versão autêntica da mensagem de Fátima: “Que a Igreja Católica, pelo muito que fez sofrer tantos seres humanos inocentes, designadamente índios no Brasil e noutros países subjugados pela ferocidade da Fé imposta aos naturais, nomeadamente pelos missionários que acompanharam Cabral, Cortez e Pizarro e, principalmente, pelos missionários enviados para o continente africano na época dos Descobrimentos e da Conquista, onde mataram, deceparam, queimaram ou, por outras formas desvairadas, sacrificaram e assassinaram os “gentios”, erguendo sarcàsticamente a Cruz e mandando para o Diabo do Inferno os que agonizavam de tormentos indescritíveis, imaginados e perpetrados com o intuito de  fazer prolongar a dor; e ainda pelo envolvimento decisivo da Igreja no saque e na caça às populações nativas durante os tempos da escravatura.
Que a Igreja Católica humildemente implore, a um Cardeal de raça negra ou índia, a aceitação de fazer sair fumo branco da negra chaminé do Vaticano, para o que a Cúria e o Conclave haverão de formalizar convite especial, com a eleição assegurada”.
Este é o tema genuíno da parte 2ª do 3º “segredo” de Fátima. É de embasbacar!
Um índio ou um preto a mandar nos brancos, arianos de raça pura, nazi-fascistas do jaez de Pio XII, é do caneco!
                                                  Será que se atrevem?
Parece que sim. Sabe-se já que a Conferência Episcopal Portuguesa e a sua congénere Torquemada estão de acordo e vão apoiar não só a divulgação do 3º “segredo”, como defender o seu conteúdo “com unhas e dentes”. Esta “com unhas e dentes” foi o que transpirou de “fontes habitualmente bem informadas”, designadamente a Rádio e a TV do Estado.
                                                  É de ficar varado!
Temos Igreja! Habemus Papa!

São insondáveis os desígnios do senhor! Deus é grande! Glória nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade!

                                                    Post Scriptum
Para a Igreja Católica, homens de boa vontade são os do género do Idi Amin, do Bokassa, Mobutu, Salazar, Hitler, Mossulini, Pinochet, Stalin, Mão-Tse-Tung e Pol Pot.
Embora os três últimos suscitem fortes dúvidas ao Papa actual. Mas que o João Paulo I gostava deles, ninguém duvide. Dizem que morreu assassinado pelos Bórgias. Vá!
                                                   
                                                  IMPRIMATUR
                                                  (ass. ilegível)


Nota do transcritor: Segue-se uma fotografia de dois mamíferos ( talvez um bode e uma cabra) a copular, à qual o autor atribuiu o comentário e quadra seguintes:

- Recepção protocolar, infalível, dada pelo Papa, nos jardins do Vaticano a todos os Chefes de Estado e de Governo, Ministros e outros Corruptos notáveis que o visitam. Pelo seu estilo e mais alta posição, se distingue e destaca o Papa do papado. O Papa “confraterniza” muito com todos eles. Ternamente, trata-os por fratelo. Ora:
                                           
                                                Fratelo é sê-lo de irmão feito a martelo,
                                                Bastardo sombrio e difuso, sem contornos;
                                                De incesto gerado em ventre profanado,
                                                Ou fruto dum sublime e valente par de cornos!

                                                                          IMPRIMATUR
                                                                       (assinatura do autor)        
                                                                                           Lagoa, 10/5/2000


*Passados quatro anos após a transcrição deste texto, e não tendo conseguido identificar o autor, resolvi publicá-lo sem a sua autorização. Estou, no entanto, certo que como apóstolo da busca da verdade, compreenderá e apoiará este meu atrevimento se dele tiver conhecimento.
                        


25/09/2014

SE EU TIVESSE NASCIDO PRÍNCIPE

Agora que a conceituada e isentíssima imprensa (também chamada os media), sempre preocupada em noticiar os acontecimentos “importantes” em grandes parangonas, e relegar para terceiro plano factos relacionados com pessoas verdadeiramente dignas de primeira página dei por mim, mais uma vez mergulhado (antes de conseguir adormecer) nas minhas meditações transcendentais, a pensar no que faria se tivesse nascido príncipe.   
Para tornar as coisas mais folclóricas, escolhi para berço, entre as poucas coroas que já restam no planeta, a inglesa. Razões?
Primeiro, por ter sido proprietária do maior império que existiu.
Segundo, por ter tido uma rainha, uma tal Vitória, também imperatriz da Índia, que reinou (mas não governou) sobre todas as suas “quintas” durante sessenta e quatro anos, durante os quais a hipocrisia humana atingiu alguns dos seus múltiplos paroxismos.
Terceiro, porque os “escândalos” que começaram com o pedido da mão (e não só) da Margarida, irmã da Isabel Nº 2, por um “reles” fotógrafo. Para poder penetrar, com rígida nobreza a principesca vagina, foi primeiro promovido a lorde, não se sabendo se as partes “fodengas” foram examinadas por peritos e preparadas para tão colossal como principesco efeito.
Quarto, porque tive notícia que ia nascer mais um bebé real, acontecimento a que já me referi no último artigo.
Quinto, e último, pela embirração biológica que tenho por quase tudo o que é inglês. Não há nada a fazer! São feitios, como dizia o nosso grande e saudoso Raul Solnado.

Divertido, comecei a idealizar o momento em que o espermatozóide de raça real, penetrou o óvulo irrigado de sangue azul da receptora, enquanto os amantes extasiados suspiravam fazendo o menor ruído possível. Receavam que ouvidos indiscretos captassem qualquer som, envergonhados como estavam depois de terem dançado um frenético e ruidoso minuete. Se alguém tivesse dado por tal, não haveria mais nenhuma notícia que coubesse na imprensa, nem que fosse para anunciar o fim do mundo.
Finalmente, depois do embrião se ter desenvolvido naquele útero forrado de seda cravejada de pedras preciosas, chegou o tão ansiado dia da parição.
Fora do palácio, onde o grande e raro acontecimento ia acontecer, uma multidão de imbecis e jornalistas, tinha acampado olhando para as janelas, como se esperassem a vinda de outro Cristo que, mesmo que o fosse, não resolveria nada dos problemas do mundo, tal como o primeiro.
É um macho, é um macho, começou a berrar a multidão ao saber que a nova cria tinha algumas excrescências entre as pernas. Vai ser o próximo rei, porque as mulheres só servem para rainhas quando não há um “piludo” para o efeito, e nós os seus súbditos dedicados e obedientes. E tudo isto 'graças a Deus'; como ele é grande!

Divertido com estes pensamentos, dei comigo a imaginar como seria a minha educação, necessariamente diferente dos outros humanos, já que pertencia a uma raça rara e em vias de extinção. Mas, como todas as crianças, a curiosidade impunha-se às palhaçadas que me obrigavam a fazer (protocolos, chamavam-lhes os meus tutores) e dei por mim, num misto de vergonha e chacota, a ver um filme sobre aquilo a que chamavam 'a coroação da minha mãe'.
Sem ofensa aos palhaços, profissão que muito admiro porque é muito mais fácil fazer chorar do que rir, interroguei-me como era possível uma pessoa sujeitar-se a fazer semelhante figura.
Sentada num cadeirão a que chamam trono, com uma espécie de turbante cravejado de pedras cintilantes, um pau na mão (chamam-lhe ceptro) e uma capa com uma cauda de muitos metros de comprimento.
Com ar aparvalhado, esteve ali sentada durante horas, rodeada por uma multidão, também mascarada, ouvindo os inúteis e hipócritas discursos que alguns vomitavam em adulações e elogios capazes de fazer perder a paciência ao Diabo.
Depois entrou para um coche, puxado por cavalos bem ajaezados e conduzido por criados de libré. Cá fora a populaça, que tanto aplaude um Robespierre, um Hitler ou um Estaline, comprimia-se em delírio, em êxtases, em transe (talvez até com orgasmos) para ver a sua nova proprietária, classificada de 'sua majestade', termo que ainda hoje é usado pela nossa imprensa, sempre subserviente a tudo o que é inglês.
Dentro do coche, a nova dona dos Ingleses, Escoceses e Galeses, mantinha a mão direita levantada, como mandava o protocolo, num gesto de gratidão aos seus súbditos que nem sequer tinham votado para que ocupasse aquele cargo.
(Quando o meu delírio chegou a este ponto recordei o facto de a ter visto em Lisboa quando tinha catorze anos. Para pormenores remeto o leitor para o artigo “O Disparatado Planeta das Falsas Celebridades”, publicado em 23 de Maio de 2011).

Findo isto, resolvi pensar no que faria se tivesse nascido príncipe, herdeiro ou não.
Primeiro teria de cumprir o protocolo, com vista a aumentar, ao máximo possível, os rendimentos que me caberiam por ser tão estudioso e disciplinado. Depois, e isso seria o principal, tornar-me o mais hipócrita possível, tanto nos actos como nas palavras. É uma norma banal felicitar todos os sabujos que, mesmo fazendo figas, aplaudem os seus donos (excepto os cães quando abanam a cauda).
Assistir a recepções, mascarado com uma farda ornamentada de condecorações herdadas de um antepassado qualquer que, por sua vez, as tinha herdado de outro. Viajar tanto pelo país como pelo estrangeiro, sempre com o sorriso protocolar e a mão a acenar à populaça contente de ter nascido só para me ver. “Comer” com os olhos as belas sonhadoras que adorariam que fosse eu o seu príncipe encantado, mesmo que fosse vesgo ou capado. Admirar os vestidos espampanantes e os rostos retocados das muitas senhoras que não aceitam o natural envelhecimento, mesmo que a pele e as mamas tenham sofrido várias operações 'ditas estéticas' (porque será que me lembrei da vila de Caneças?) e já estavam próximas do umbigo.
Enfim: todo um manancial de chatices das quais viria, no futuro, a procurar uma indemnização paga pela cretinice humana.
Para isso teria juntado muitos milhões nos chamados paraísos fiscais, e assim que achasse conveniente, pisgar-me-ia para uma ilha distante, gritando bem alto: "obrigado meu povo, pelas vossas contribuições e impostos. Agora arranjem outro ou governem-se sozinhos!"

Nota: qualquer comentário a este artigo escrito segundo o chamado novo acordo ortográfico, será considerado como tendo erros grosseiros e, como tal, corrigido.