06/12/2009

CAIM…CAIM…CAIM…! (2)

DE FACTO A MAIOR CEGUEIRA É A DE QUEM NÃO QUER VER!

Continuando a pensar na disparatada polémica entre José Saramago e a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, de seu nome completo, ocorreu-me uma frase do escritor grego Nikos Kazantzaki na sua novela “Alexis Zorba”, publicada em português como “O Bom Demónio” e levada ao cinema com o título de “Zorba, o Grego”: Tens fé, e uma lasca de uma porta velha transforma-se na santa cruz; não tens fé, e a santa cruz inteirinha transforma-se numa lasca de uma porta velha. É claro que quem leu o livro e depois viu o filme, notou que as muitas “heresias” constantes no primeiro, não aparecem no segundo, o que não é de estranhar, uma vez que o livro esteve no “índex”, esse censor da referida Igreja, à qual não convém que as pessoas abram os olhos. Creste porque viste; felizes os que creram e não viram. Ou ainda: bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Mas, e lembrando Vasco Santana no filme “O Pátio das Cantigas”, pergunto: onde é que já li isto? Mas que memória a minha! Na Bíblia, é claro, e também ouvi várias vezes quando era obrigado a assistir à Missa, até porque se faltasse a essa chatice cairia em pecado mortal, tal como um vulgar homicida não arrependido. Estranha equiparação de castigos! Mas era necessário manter a clientela, quanto mais não fosse para recolher esmolas, já que era uma vergonha os fiéis não darem nem que fosse um tostão, que sempre ajudava para mais umas dúzias de velas, hóstias, vinho e despesas afins. E já agora duas pequenas histórias da minha infância relacionadas com as missas. Como a crise continuava (e continua) presente, o prior da Igreja de Nossa Senhora de Fátima em Lisboa, informou os fiéis que no domingo seguinte seria ele, e não o sacristão, a pedir a clássica esmola. Temos de concordar que a ideia foi genial. E assim lá passou ele entre as pessoas, muito curvado e com ar humilde, enquanto as moedas prateadas e até notas de vinte escudos, uma pequena fortuna para a época, iam caindo na bandeja. Não me recordo da quantia que a minha mãe deu, mas os meus olhos seguiram-na a pensar nos chupa-chupas e rebuçados que poderia comprar, enquanto o prior possivelmente iria gastá-la naquelas rodelas de pão achatado que tínhamos de engolir sem mastigar e se colavam ao céu da boca, e numas garrafas de vinho.

A segunda história relaciona-se com o já referido pecado mortal que era faltar a essa chata cerimónia. Corria, se bem me lembro, o ano de 1958. Como era costume passava com a família as férias de Verão em Santo Amaro de Oeiras e, tal como em Lisboa, tinha que ir assistir à missa, sempre à espera do desejado "ite, missa est". Ora aconteceu que fomos convidados por uns amigos para um piquenique na praia do Guincho, exactamente num domingo. Dividida entre o "sacrifício" e o "prazer", a minha mãe foi pedir dispensa da missa desse domingo ao pároco da Igreja Matriz, já que o meu pai não se metia nesses assuntos. Assim obtivemos todos a respectiva autorização do senhor padre, ficando todos livres do fogo do Inferno desde que fosse só por essa vez. Como não havia "internet", ou "fax" e o alcance dos telefones era muito limitado, ainda hoje estou para saber como é que a cunha chegou ao Céu. Mas voltando atrás lembrei-me também de Albero Caeiro, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, quando no poema “O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia”, diz que navega nele ainda, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, a memória das naus, e ainda quando satiriza o Menino Jesus tradicional e cria o seu próprio, infantil, real e humano. Há um número infindável de casos que provam que cada pessoa, muitas vezes, só vê o que quer, seja por medo, por crença, por educação, ou por simples misticismo, ilusão, ignorância ou estupidez. A demagogia e a intolerelância surgem quando se acerba qualquer tipo de crendice e mergulha-se no fundamentalismo irracional, situação que se pode tornar dramática quando uma instituição ou alguém tenta impor aos outros os dogmas dos quais não quer ou não consegue libertar-se, seja por convicção ou por conveniência. Temos assim a profissão de missionário, ou seja, os pregadores das verdades deles, como escreveu Fernando Pessoa. Aí a razão e o positivismo cedem lugar às mais absurdas superstições, que podem ir da astrologia ao espiritismo, da quiromancia à vidência, até às religiões e crenças mais disparatadas. A magia, por exemplo, aparece como sendo a interpretação dada pelo homem aos fenómenos de força anímica na qual se revê. Só quando se vai afastando do mito para a razão e provando cientificamente a verdade dos factos, sem cair na aparência falsa ou pretendendo ver as coisas como quer, é que há progresso. A explicação científica é um produto da reflexão humana mas, infelizmente, só uma minoria nasce com esse dom e, devido à dualidade cósmica, tanto cai em boas como em más mãos. Quantas pessoas saberão, por exemplo, que no terceiro século antes de Cristo, o grego Eratóstenes, para além de afirmar que a Terra era redonda, determinou com um erro de apenas 114 Km. o perímetro do meridiano terrestre? Porém, o reino da ignorância humana voltou a imperar, vindo como sempre de todos lados. Na Europa a Igreja Católica, essa grande castradora das mentes, apoiando-se nas teorias de Pitágoras e Platão que recusaram a experimentação científica iniciada por Tales de Mileto e seguida por tantos outros como Demócrito, e durante pouco tempo restaurada por Aristarco de Samos três séculos depois, impôs a falsa doutrina geocêntrica durante toda a Idade Média, que por isso também é chamada “A Noite de Mil Anos”. Só uns poucos, como o frade inglês Roger Bacon, conseguiram brilhar nas trevas. Mas na realidade essa “noite” prolongou-se por muito mais de dez séculos, terminando "oficialmente" para a Igreja Católica, e no que respeita ao sistema solar, só no final do século passado quando o papa João Paulo II redimiu Galileu da sua "herética" teoria heliocêntrica. Espantoso! Tudo no Céu é estúpido como a Igreja Católica, escreveu Fernando Pessoa. Mas também no Inferno, no Purgatório ou no Limbo não reina a inteligência de um Deus omnipotente, omnisciente, e detentor de todos os “omnis” que lhe queiram atribuir, seja no Bem ou no Mal. Tudo isto são, após uma análise racional, interpretações da Bíblia, onde cada qual pode ver o que quiser ou até não ver nada, embora salte à vista a existência de um Deus criado à imagem e semelhança do Homem, como todos os outros Deuses, e não o contrário. Sempre a tendência, aliás muito natural, para todos tipos de antropomorfismos. Afinal não é o Homem "a medida de todas as coisas"? Mas o que é a Bíblia senão uma colectânea de narrativas, compiladas sem nexo e comprimidas num tempo e num espaço geográficos? Tendo como referência apenas o Antigo Testamento, facilmente se conclui que este foi escrito por um ou mais filósofos de um povo, que obviamente se intitulava e intitula o “Povo Eleito”, e que procurava explicar o início do mundo com os precários conhecimentos da época. É natural e existe em todas as crenças. Pretende também organizar a genealogia de Jesus Cristo, surgido como o salvador do seu povo tantas vezes oprimido, situação que em maior ou menor grau todos os povos passaram, mas que acabou por entregá-lo aos seus dominadores. Por bem fazer, mal haver. Como de costume, e em relação ao livro de José Saramago, apareceram logo os fundamentalistas a apregoar que este "tirou o texto bíblico do contexto histórico". Mas acho que ninguém nega que a Bíblia opoia-se em factos históricos e verdadeiros, como acontece com todas as lendas e textos da antiguidade. Quem conhece a “Ilíada” ou a “Odisseia” sabe que a primeira descreve a Guerra de Tróia e a segunda o atribulado regresso de Ulisses a casa, onde o esperava a sua fiel esposa Penélope e o filho Telémaco. As duas obras estão impregnadas das mais imaginativas fantasias, como as da Bíblia, próprias da época e da região onde os possíveis factos terão ocorrido. Já no Renascimento tornou-se vulgar adornar os poemas com as divindades dos chamados tempos mitológicos, e daí o nome desse período histórico. Também Camões em “Os Lusíadas” usou do mesmo processo, tendo até recebido o parecer favorável da Inquisição, cujo texto de um tal frei Bertholameu Ferreira termina assim: …toda via como isto he Poesia e fingimento, e o autor como poeta não pretende mais que ornar o estilo poetico, não tivemos por inconveniente ir esta fábula dos deuses na obra, conhecendo-a por tal, e ficando sempre salva a verdade da nossa santa fé, que todos os Deuses dos Gentios sam Demónios. E por isso me pareceu o livro digno de imprimir… Mas aqui surge a velha questão: se os deuses dos gentios são demónios, ou os muçulmanos são “infiéis”, o que é que nos pode obrigar a crer que só a Bíblia e o seu Deus são verdadeiros? Porque será que temos de acreditar sem hesitações nesse Deus e não num Marduk, num Osíris, num Zeus ou num Wotan,? Por serem personagens de religiões politeístas? Mas, tal como nessas crenças existe sempre um chefe e toda uma hierarquia à imagem e semelhança das sociedades humanas. A ideia de um só Deus surgiu no Egipto cerca de 1350 antes de Cristo, portanto antes de Moisés, quando o faraó Amenófis IV impôs uma religião monoteísta, tomando para si o nome de Akhenaton que, em egípcio antigo, significa “o espírito actuante de Aton“, sendo Aton o disco solar, símbolo da vida, da verdade e do amor. Esta concepção opunha-se à religião oficial, dominada por um clero que formava um estado dentro do estado, situação que se vem repetindo ao longo dos séculos e em todos os lugares. Como é óbvio pouco tempo durou, até porque um romance com um só personagem desperta pouco interesse. Falta-lhe toda uma trama de intrigas, ódios e paixões, vinganças e perdões, guerras e tréguas, tão do agrado da espécie humana. E talvez seja por isso que surgiu o chamado mistério da Santíssima Trindade, dogma fundamental da Igreja Católica para fazer as pessoas acreditarem no sobrenatural. Como escreveu Nikos Kazantzakis na obra supracitada, os profetas só têm para transmitir aos seus seguidores uma mensagem imprecisa; e quanto mais imprecisa for essa mensagem, maior será o profeta. Não é preciso muito esforço para concluir (cada qual pode ver as coisas como quiser) que a religião católica é politeísta; senão, vejamos: Há um só Deus em três pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo que, talvez por mera coincidência, são todos machos. Depois temos o Belzebu do Novo Testamento, um Deus do Mal, também chamado Diabo ou Demónio, mas criado pelo tal Deus infinitamente bom, e toda uma “tropa” de anjos, arcanjos, querubins, serafins, santos, santas, Maria (as mulheres finalmente aparecem) e, já na terra, o papa, os cardeais, os bispos, os priores, os sacerdotes, etc...etc. (que me perdoem os que foram omitidos). Até houve gigantes que, segundo a Bíblia, …depois que os filhos de Deus tiveram comércio com as filhas dos homens, geraram estas filhos, que foram homens possantes e afamados no século. (Génesis Cap.6 nº 4). Também na mitologia escandinava temos gigantes representados por Fasolt e Fafner, personagens da Tetralogia de Wagner “O Anel do Nibelungo”. Na verdade todo o Céu da Bíblia assemelha-se ao paganismo de um Walhalla ou de um Olimpo. Deve ser por ter de aceitar a referida “tropa” que quando entramos numa igreja católica vemos aquele espectáculo deprimente de todo o tipo de estátuas, relíquias e caixinhas a pedir esmola para os santos e santas que o Vaticano inventou para aliciar os crentes, e que os seus funcionários apoiam e aproveitam. Que diferença entre uma igreja protestante, onde normalmente o pároco é casado, e se vê respeitado o mandamento que diz: Não farás para ti imagem de esculptura, nem figura alguma de tudo o que ha em cima no céu, e do que ha em baixo da terra, nem de coisa, que haja nas aguas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto: porque eu sou o Senhor teu Deus, o Deus forte, e zeloso, que vinga a iniquidade dos paes nos filhos até á terceira, e quarta geração d’aquelles que me aborrecem: E que usa de misericórdia até mil gerações d’aquelles que me amam, e que guardam os meus preceitos. (transcrição dos números 4 a 6 do capítulo 20 do Êxodo, na edição da Bíblia de 1913 aprovada em 1842 por Dª Maria II e traduzida da Vulgata Latina pelo padre António Pereira de Figueiredo). Temos aqui um dos muitos exemplos vingativos e adulatórios do Deus da Bíblia, bem como da hipocrisia da Igreja Católica. Deve ter sido na vingança hereditária que La Fontaine se inspirou ao escrever a fábula “ O Lobo e o Cordeiro”. Surge a propósito a velha história do pecado original que foi confirmado no Concílio de Trento realizado de 1545 a 1563, e que entre outras medidas para combater a Reforma de Martinho Lutero, reorganizou a Inquisição e fixou o texto da Bíblia, que foi traduzida da versão grega para latim por S. Jerónimo no século IV, passando a ser designada por Vulgata. Considerando a antiguidade da Bíblia, é caso para perguntar o que resta do texto original depois de tantas cópias e traduções, sujeitas aos erros mais grosseiros devidos a falhas, pressões ideológicas ou conveniências político-sociais. Dirão os crentes que as mãos dos que a escreveram foram sempre orientadas por Deus. É sempre a velha desculpa quando não se encontra explicação para aquilo em que se acredita e se tem, aliás muito humanamente, a razão ofuscada pela fé ou pela ignorância cega. Tive um colega “Testemunha de Jeová” que apostou comigo que o mundo acabaria em 1973, segundo “cálculos” efectuados após um estudo aprofundado da Bíblia. Também afirmava que o mundo tinha sido criado por Deus apenas há seis mil anos e que a datação da idade dos fósseis pelo carbono 14 era falsa! E ficou indiferente após a trágica morte de uma filha de quinze anos, já que após a ressurreição voltariam a encontrar-se e viver eternamente! Outro ainda, comunista faccioso e falecido antes da queda da União Soviética, trouxe uma porção de terra quando visitou a Rússia, dizendo que era “terra sagrada”. Estes dois exemplos mostram como a cegueira humana pode relegar a mente para as crenças mais fundamentalistas, mesmo que o tempo venha provar que são absurdas e ridículas, seja em que campo for. O corpo de Lenine foi embalsamado e exposto para adoração dos seus fiéis como a Igreja faz com as relíquias dos seus santos e das suas estátuas. Ainda me lembro, julgo que há cerca de cinquenta anos, da fantochada que foi a trasladação de um braço de S. Francisco Xavier da Índia para Portugal. E, ainda este ano, quando o cimento do Cristo-Rei em Almada recebeu de braços abertos (é óbvio que a rigidez do betão não lhe permitiu fechá-los) o gesso da chamada Senhora de Fátima, continuando a violar o mandamento já aludido. E depois querem impingir-nos a superioridade do espírito sobre a matéria. De facto, maior que o universo só a estupidez humana. Mas será que estou a chamar estúpidos àqueles que acreditam em Deus? De modo algum. Leibniz e Einstein, para só citar estes, foram crentes convictos, tendo o primeiro afirmado, que sendo o mundo a obra de um deus infinitamente bom, tudo o que existe tem de ser perfeito, concluindo assim que "tudo corre pelo melhor no melhor dos mundos possíveis". Este dogma absurdo, denominado "O Optimismo", foi severamente criticado por Voltaire que, após ter conhecimento do terramoto de Lisboa de 1755, escreveu uma pequena obra intitulada “Candide” na qual ataca, entre outros poderes como o militar, o da Igreja Católica, que não hesitava em queimar os hereges afim de evitar catástrofes naturais. Este livro deu origem à genial ópera homónima de Leonard Bernstein composta em 1952. Por sua vez Einstein lutou até morrer para encontrar uma teoria que conciliasse a Relatividade com a Teoria Quântica, já que Deus nunca poderia ter criado um universo onde a improbabilidade existe. Se tivesse vivido mais alguns anos, teria assistido às primeiras aplicações práticas da mecânica quântica, como os transistores, os computadores e os telecomandos. Como se vê, até as maiores inteligências podem ser bloqueadas pela fé. Afirma-se, para desculpar Deus das imperfeições do mundo que criou, que ao homem foi dada a faculdade de actuar segundo a sua consciência. Mas se Deus é omnisciente já sabia como ele iria proceder. Qualquer pessoa, mesmo ignorante, sabe que brincar com o fogo pode conduzir a resultados desastrosos. Mas de entre vários factos narrados na Bíblia que contrariam o livre arbítrio do homem há aquele que relata as chamadas sete pragas do Egipto, e que passo a transcrever tal como vem na já referida edição de 1913: E disse o Senhor a Moysés: eis ahi te constitui deus de Pharaó, e Arão teu irmão será o teu propheta… e elle falará a Pharaó, para que deixe sair os filhos de Israel da sua terra. Mas eu endurecerei o seu coração, e multiplicarei os meus prodígios e maravilhas na terra do Egypto. E não vos ouvirá: e eu estenderei a minha mão sobre o Egypto, e farei sair de lá os filhos de Israel… (números 1 a 4 do capítulo 7 do Êxodo). E assim Deus endureceu e amoleceu o coração do faraó, jogando a seu bel-prazer com avanços e recuos a libertação do “seu” povo, cuja situação de escravatura já durava há 400 anos, e depois de mais peripécias como o pilar de fogo e a abertura do mar Vermelho com os egípcios sempre no encalce, situações dignas de um filme de “suspense”, fê-lo caminhar durante 40 anos pelo deserto à procura da chamada Terra Prometida, finalmente “encontrada” após a Segunda Guerra Mundial, com todos os problemas que daí advieram. Até já sabia que o faraó, na altura Ramsés II, não os ouviria. Como referência a um Deus infinitamente perfeito, esta história está muito mal contada. E temos depois a subida de Moisés ao Monte Sinai para receber os Dez Mandamentos, muito depois da criação do homem, do dilúvio, e por aí fora. Assim Deus foi emendando a sua obra reconhecendo que estava muito longe de ser perfeita.

Concluíndo: Ao fim de milhões de anos de evolução e com o homem já "pronto" havia muito tempo, Deus reparou finalmente que este se portava mal e, depos de muito matutar, resolveu intervir com dilúvios, mandamentos, persiguições, ameaças, castigos, etc. que, curiosamente, só atingiam uma pequena parcela da Terra, onde vivia o "seu povo", o chamado Povo Eleito. Enfim; são apenas parcialidades! Como isto não deu resultado, séculos depois enviou o seu filho (seria mesmo?) outra vez para a Palestina para que, morrendo cruxificado, levasse com ele todos os pecados do mundo e nos salvasse não sei de quê, já que a morte, como consequência necessária da vida terrena, foi por ele criada. Mas, "Deo gratias": Cristo ressuscitou ao fim do terceiro dia e a guerra, a fome, a miséria, a maldade e todos os horrores que Deus na sua omnisciência sabia que iriam seguir-se à criação do mundo, desapareceram para sempre na cegueira daqueles que não querem ver ou, pior ainda, que só vêm o que querem . Apenas alguns, já com a vista cansada, tentam meter cunhas agora à chamada virgem Maria, e cantam hinos do género faz com que a guerra se acabe na terra. De facto, a Jesus por Maria é uma frase muito ouvida da boca das entidades eclesiásticas. E, pela minha parte poderei acrescentar: A Deus por Jesus, seu filho, já que o primeiro se encontra muitas vezes distraído ou preocupado com outros assuntos, e precisa que lhe chamem a atenção para quem necessita dos seus préstimos, situações pouco próprias de um ser infinitamente perfeito. Trata-se de uma espécie de Concílio dos Deuses onde, no primeiro canto de “Os Lusíadas”, Vénus intercede perante Júpiter pelo sucesso da viagem de Vasco da Gama. Um dos meus melhores amigos, que tal como eu esteve na África durante a Guerra Colonial, conta que a mãe lhe escrevia dizendo que rezava muito por ele. Como resposta, e certamente para horror e escândalo da bondosa e saudosa senhora, o meu amigo respondia que como tenho uma cunha lá vou escapando; aqueles que a não têm é que se "lixam". É claro que isto só em parte é verdade, já que muitos se “lixaram” apesar das cunhas em que os portugueses são mestres. Basta pensar que quando há uma tragédia os que se salvaram foi graças a Deus. Ninguém diz o mesmo em relação aos que morrem., apesar de irem para a vida eterna. Mas e seguindo uma análise histórica simplista, quem foi Jesus Cristo, e todos outros ungidos deste mundo? (a palavra Cristo vem do grego “kristós” e significa ungido, untado, o que deu posteriormente “o que recebeu a santa unção”, “o Ungido do Senhor”). Tudo indica, a crer nos Evangelhos, que foi um homem que através de um certo misticismo tentou levantar o seu povo contra a dominação romana, tal como Moisés fizera séculos antes em relação aos egípcios, embora haja muitas dúvidas históricas sobre a permanência no Egipto de judeus na condição de escravos. Ele próprio intitulava-se rei do seu povo, mas o seu poder persuasivo foi tão pequeno que acabou por ser entregue ao governador romano Pôncio Pilatos. Este, apesar de ser tão criticado pelos crentes, fez o que podia, embora o Direito Romano tal não consentisse. Mas Roma estava longe e, como bom político que era, lavou as mãos de uma responsabilidade que, de facto, não era sua. Como lenda temos o seu poético nascimento sobre as palhinhas de um estábulo, parido por uma “virgem” (sempre o gravíssimo problema do hímen feminino), perante o olhar contemplativo do pai que afinal não era pai dele. Como prémio de consolação promoveram o carpinteiro a santo, o que não costuma acontecer com aqueles cuja testa fica maior. Mas adiante. Os funcionários da Igreja Católica têm a mania de condenar quem não acredita na ressurreição de Jesus Cristo. Mas será que ele morreu na cruz? A crucificação, normalmente destinada aos escravos, foi um dos mais cruéis suplícios inventados para a execução lenta de uma pessoa. Aquele aparentemente simples pormenor de colocar um apoio debaixo dos pés, servia para o condenado encontrar algum “alívio” para as dores que os pregos lha causavam. Assim que a cruz era erguida começava o verdadeiro suplício. Não podendo suportar o corpo com os braços, com os pregos a lacerarem-lhe os pulsos, onde estes na realidade eram cravados, tentava apoiar-se nos pés e, assim, era invadido por outra onda de dor. Começava então a tremenda luta para manter a mesma posição, o que se tornava impossível devido à fadiga muscular. Surgiam então as cãibras, a infecção das feridas e todo um conjunto inenarrável de sofrimentos tão do agrado da “Santa” Inquisição, embora sob outras formas não menos cruéis. Como é óbvio seria um pecado grave aplicar aos hereges os mesmos sofrimentos de que Cristo padeceu, tendo sido talvez por isso que a crucificação não fazia parte do catálogo dos inquisidores, ou então porque o assado de um ser humano vivo, acompanhado de horríveis contorções e gritos lancinantes, era muito mais espectacular e mais limpo do que sangue, suor, fezes e urina a escorrerem de uma cruz. Finalmente, e ao fim de três ou quatro dias, o desgraçado acabava por morrer por asfixia se antes não lhe quebrassem as pernas, não fosse estar vivo num dia de sábado. Ora e segundo os Evangelhos, a crucificação dos três condenados ocorreu numa sexta-feira e a morte de Jesus ocorreu entre três a seis horas após o seu início. Será possível que um homem de 33 anos, mesmo depois dos espancamentos a que foi sujeito, morra tão rapidamente enquanto aos dois ladrões foi necessário fracturar as pernas para não estarem vivos no dia seguinte? E a esponja impregnada em vinagre, que tem algumas propriedades analgésicas e era muitas vezes utilizado para atenuar o sofrimento dos crucificados, não teria uma droga qualquer que fez com que Cristo parecesse morto? É certo que da ferida provocada pela lança do soldado jorrou sangue e água, prova da morte por colapso pulmonar. Mas esse efeito poderia ter sido resultado de um simples truque ao alcance de qualquer prestidigitador. O que de facto interessa é que os quatro Evangelhos concordam em que a morte ocorreu imediatamente após a ingestão do vinagre, tendo Jesus dito que tudo estava consumado. Já em relação à ruptura do véu do templo e aos fenómenos que aconteceram logo após a morte não há consenso. S. João a nada se refere e, por outro lado, S. Mateus chega a dizer que nesse momento abriram-se as sepulturas; e muitos corpos de santos, que eram mortos, ressurgiram. Sempre as trapalhadas do costume! Mas mesmo que tivessem ocorrido, tratou-se apenas de fenómenos locais, não observados em mais nenhuma parte do mundo. Melhor do que isto só a famosa “dança do sol” vista apenas em Fátima em Outubro de 1917 . Assim que morreu ou ficou narcotizado houve a preocupação de o tirar rapidamente da cruz, e veio José de Arimathéa, illustre senador, que também elle esperava o reino de Deus, e foi com toda a resolução a casa de Pilatos, e pediu-lhe o corpo de Jesus. E Pilatos se admirava de que Jesus morresse tão depressa. E chamando o centurião, perguntou-lhe se era já morto. E depois que o soube do centurião, deu o corpo a José. E José, tendo comprado um lençol, e tirando-o da cruz, amortalhou-o no lençol, e depositou-o num sepulchro que estava aberto em rocha, e arrimou uma pedra à bocca do sepulchro . Entretanto Maria Mgdalena, e Maria mãe de José, estavam observando onde elle se depositava. (Números 43 a 47 do capítulo 15 do Evangelho segundo S. Marcos da edição supracitada). É óbvio que cada um pode interpretar este relato como quiser, mas se acrescentarmos que José de Arimateia teve a preocupação de levar consigo folhas de aloé, conhecidas pelo seu poder cicatrizante, e não ervas para embalsamamento, começa a tornar-se evidente que a crucificação foi um embuste genial para salvar Jesus Cristo da morte. Aliás, mesmo que tivesse morrido e ressuscitado, teria sido facílimo para o seu omnipotente pai realizar esse milagre. Mas, mesmo que tenha morrido e voltado à vida, o que é que o mundo lucrou com isso? Em Roma bem como em todo o mundo, incluindo os então desconhecidos povos americanos, a vida continuou como até hoje com todas as perfeições e imperfeições que a caracterizam. Já Eça de Queiroz em “A Relíquia” satiriza a encenação que foi a crucificação de Cristo, e hoje cada vez se encontram mais provas de que Jesus (que obviamente só terá aparecido aos seus discípulos) conseguiu fugir da Palestina com a mãe, os irmãos e Maria Madalena, com quem acabou por casar. Surgem porém dúvidas para onde terá fugido. Duas hipóteses baseadas em tradições e lendas locais apontam, com um certo fundamento, para Caxemira ou para a Gália, a actual França. Embora esta última seja a mais verosímil, segundo os actuais estudiosos, surge a objecção de a Gália estar na altura sob a dominação romana, o que equivalia a uma mais que provável crucificação, desta vez a sério. A menos que tenha conseguido chegar a uma aldeia gaulesa “que resiste ainda e sempre ao invasor”. (esta é para os amantes de Astérix). E vou terminar esta lengalenga sabendo que se alguém a ler e for crente, lançará sobre mim todos os anátemas, dependendo do seu grau de fundamentalismo. Assim poderei ser classificado apenas como um ignorante que se mete em assuntos de que nada percebe, ou ser votado à condenação eterna. Pelo caminho fico sujeito a penas mais leves, como insultos a minha mãe ou à minha mulher, ou ainda a preces pela salvação da minha alma. Mas como depois de morrer irei à presença de Deus para ser julgado, e por outro lado e segundo a Bíblia ressuscitarei para o mesmo fim quando o ”mundo acabar”, fico bastante baralhado quanto ao juízo que terá valor. Mas pode ser que o segundo actue como recurso ao Supremo Tribunal Divino da sentença proferida no primeiro. AMEN! Como lógico que sou, e não pensando apenas neste nosso planetazito, mas sim na extensão de um Universo que a astronomia cada vez dilata mais, desde há muito que sou agnóstico. E como gosto de aprender e também de ensinar o pouco que sei, e considerando que nem todos sabem o que significa agnosticismo, esclareço que é um termo arranjado por Thomas Huxley, biólogo inglês do século XIX, por oposição a gnosticismo, na palavra grega “ágnôstos” que significa «ignorante», «que é impossível conhecer». Por sua vez este adjectivo deriva do verbo da mesma língua “agnôein”, que se pode traduzir por «não saber», «ignorar». Huxley arranjou esta palavra para se opor ao dogmatismo da Igreja que sempre pretendeu ser a dona da verdade contra as realidades científicas. Assim trata-se de uma doutrina que defende como inacessíveis à compreensão humana os problemas postos pelas religiões ou pela metafísica, como a existência de Deus e do Universo, e a clássica interrogação de quem somos, porque somos, donde viemos, porque viemos, para onde vamos e porque vamos. Enfim, toda a razão de ser de tudo o que existe. Esta doutrina também foi seguida por Charles Darwin, outro proscrito. De um modo mais restrito pode enunciar-se assim: não acredito em Deus porque não posso provar a sua existência; não nego Deus porque também não posso provar que não existe. Isto no que se refere a um Deus que estará fora de qualquer religião, porque o Deus da Bíblia , Alá, Buda, Xiva e todos os que as religiões inventaram, não podem ter a mínima credibilidade. Seja como for a Igreja Católica se quiser conquistar ou, no mínimo, manter a sua clientela, terá de modificar muitas coisas, o que não parece muito do consenso do actual papa Bento XVI, que já foi acusado de ocultar padres pedófilos num documentário realizado pela BBC e transmitido há alguns anos pela SIC às quatro horas da madrugada, claro! Em 1971 no seu livro “Fátima Desmascarada", João Ilharco escreveu: Se a Igreja Católica pretende ser o guia espiritual de centenas de milhão de indivíduos, tem de rever os seus processos de acção e pô-los de acordo com a mentalidade do homem moderno. Ora desde esse já longínquo ano de 1971, o mundo mudou drasticamente no que respeita às Ciências e às Tecnologias. Só as bases como o amor ou o ódio, a paz ou a guerra, o perdão ou a vingança, continuaram e continuarão a manter-se por mais orações que as religiões façam a um Deus que se mostra totalmente indiferente ao mundo que dizem ter sido por ele criado. Sempre a tendência humana para explicar com divindades o que não consegue entender... E já que falámos deste livro lembremos que o autor lançou no final um desafio, por carta registada, a dois dos principais dirigentes de Fátima, o bispo de Leiria e o cónego Galamba de Oliveira. Nesse repto desafiou os seis teólogos mais abalizados em ciência fatimista para, perante as câmaras da RTP, contestarem as afirmações feitas em “Fátima Desmascarada”. Se não fosse aceite, todo o livro seria considerado verdadeiro, provando assim o embuste das aparições. Claro que não houve resposta, mas até sinto alguma pena da atrapalhação desses dois senhores perante tal desafio. Mas, na verdade, o calado é o melhor. Se o tivessem aceite e não soubessem defender convenientemente a sua dama, cairiam certamente na alçada dos seus patrões, ou sob a ira dos chamados “Doutores da Igreja”, entre os quais se encontra um monstro chamado Cirilo que acirrava a populaça cristã contra os que não seguiam o Cristianismo. Entre as múltimas vítimas desse possesso de Deus, conta-se a filósofa e matemática grega Hipácia, nascida em Alexandria em 370 D.C., e esfolada viva em 415 pela turba cristã. Pois esse monstro foi canonizado e proclamado "Doutor da Igreja", sendo hoje adorado como São Cirilo. No outro extremo destes estranhos "doutouramentos", "canonizações" e "beatificações" estão duas pobres e inocentes crianças, ignorantes, analfabetas e precocemente falecidas, metidas à força na fábula de Fátima. Chamavam-se Jacinta e Francisco. Como facilmente se depreende, a crueldade e a pureza andam de mãos dadas no seio da Igreja Católica. Mas disso não se fala, como é óbvio. Nero e outros imperadores romanos é que foram oa maus da fita. A história das represálias depois realizadas pela Cristandade, estilo olho por olho dente por dente, não consta das homilías dos funcionários do Vaticano.

Quanto à outra criança, uma tal Lúcia que julgava que a Rússia era uma senhora feia e má, tal como as madrastas das histórias dos irmãos Grimm, foi isolada até ao fim da sua longa vida. Nem sequer a deixaram ir ao enterro da mãe, e só podia falar a estranhos perante um funcionário da Igreja. Curiosamente as chamadas aparições aconteceram em 1917, ano da Revolução de Outubro ocorrida na Rússia. Para quem defende as leis e regras dessa sinistra instituição chamada Igreja Católica Apostólica Romana, não há como instituir uma espécie de PIDE ou KGB, com todos os Sousas Laras e Mários Davides à frente, não vá aparecer mais algum "herege" tipo Saramago a desmistificar as suas crenças absurdas. Apesar de tudo, e talvez devido a uma ligeira abertura, já não temos as fogueiras da Inquisição. Será por isso, por estarem fora de moda, ou porque a carne humana queimada irradia, para as narinas mais sensíveis, um cheiro nauseabundo? Seja porque motivo for, penso ficar livre desses horrores, o que não aconteceu a milhares de desgraçados. E digo penso porque, como não sou omnisciente, ignoro o que me espera no dia de amanhã. Se esse bom Deus que tudo perdoa e simultaneamente castiga com suplícios eternos, e gosta de ver aqueles que criou a sofrer e rastejar para conseguirem a "salvação", absolva-me ou condene-me à pena que entender. Pelo menos, e porque não sou rico, tenho algumas hipóteses de entrar no chamado Reino dos Céus e ficar junto aos pobrezinhos e remediados deste mundo, vogando com eles pelos caminhos da eternidade. Até porque qualquer pateta percebe que é impossível um camelo passar pelo buraco de uma agulha. (esta é para bom entendedor). Mas, se algum dia vier a acreditar num Deus, nunca se sabe, certamente que não será nesse. Talvez seja algo parecido com o Menino Jesus de Alberto Caeiro... E chega. A nada este texto vai conduzir mas, ao menos, fez-me bem ao fígado e, quem sabe, também a alguns órgãos externos, como os dedos por exemplo, que são capazes de fazer os mais variados gestos. P.S. Aos crentes no Deus da Bíblia que sejam lúcidos ou não se portem como avestruzes, sugiro que vejam na internet as encantadoras imagens dos instrumentos de tortura tão do agrado da “Santa” Inquisição, e aprovados (ou ignorados) pelo seu Deus infinitamente bom. Às vezes é melhor ver do que crer, quanto mais não seja para não morrermos estúpidos, ou o que é pior, ignorantes. Aos inventores e utilizadores desses instrumentos, envio um póstumo e comovido DEO GRATIAS!


06/11/2009

CAIM! CAIM! CAIM…! (1)

MAIS UMA DISPARATADA POLÉMICA
NESTE DISPARATADO PLANETA

“Caim! Caim! Caim”…! Esta onomatopeia de gritos de dor usada nas bandas desenhadas, não corresponde, decerto, aos que se ouviam nas sinistras caves da “Santa”Inquisição, instituída pela “Santa” Madre Igreja, quando arrancava, através das mais diabólicas torturas, as “confissões de heresia” àqueles que, com ou sem fundamento, caíam nas suas garras. Seriam certamente urros inumanos que as espessas paredes daquelas caves abafavam, ou que ecoavam pelos ares quando as primeiras chamas começavam a lamber os pés dos condenados à fogueira nos espectaculares “Autos-de-Fé “. E o deus da Bíblia permitiu que os homens por ele criados, à sua imagem e semelhança cometessem, em seu nome, actos mais próprios de um ser diabolicamente sádico do que de um Deus infinitamente bom e que tudo perdoa.
E, já agora, convém lembrar, e isto é apenas um pequeno exemplo da nossa História, que o garoto-rei D. Sebastião, digníssimo netinho e sucessor de D. João III ,“O Piedoso"(!), introdutor da Inquisição em Portugal, foi propositadamente a Évora assistir ao grandioso espectáculo da queima em vida de mais de uma dezena de hereges. Depois arvorou-se em D. Quixote lusitano, e lançou-se na paranóica aventura marroquina com as consequências que todos sabemos. Ao menos, o também demente personagem de Cervantes limitava-se a combater carneiros e moinhos de vento.
Erros humanos, justificarão os que crêem e seguem essa igreja. Mas como conciliar tamanhas monstruosidades com uma instituição que diz representar um deus com os maravilhosos predicados que apregoa ?
Vem isto a propósito da disparatada polémica que, mais uma vez, surgiu entre José Saramago e a dita igreja, com os seus actuais, dignos e respeitáveis inquisidores, surgidos da poeira do tempo, a defenderem e a impor os seus paradoxos e frustrações a que chamam fé.
Alguém se lembra ainda de um tal Kruz Abecassis, já falecido, e que enquanto presidente da Câmara Municipal de Lisboa mandou demolir o cine-teatro Monumental e ameaçou destruir (talvez por força do hábito) o cinema onde se ia estrear o filme “Je Vous Salue Marie?
E de Sousa Lara, antigo subsecretário de estado da cultura, que tirou “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” da lista dos concorrentes ao Prémio Literário Europeu porque, segundo esse fanático, a obra não representa Portugal?
Apareceu agora um senhor Mário David, deputado do PSD em Bruxelas, a pedir a Saramago que mude de nacionalidade. Só nos faltava mais esta. Ficávamos apenas com o Prémio Nobel atribuído, em 1949, ao Prof. Egas Moniz pela descoberta da leucotomia pré-frontal, há muito posta de parte, mas que na época permitiu um controlo razoável dos doentes com esquizofrenia. Talvez não fosse má ideia voltar a aplicá-la àqueles que pretendem ver e impor tudo como querem que seja, ignorando o mundo que os rodeia, a bem da “moral e dos (chamados) bons costumes”.
Temos assim três grandes Inquisidores do nosso tempo: um ex-presidente de câmara, um ex-subsecretário de estado da cultura, e um actual deputado a representar Portugal no Parlamento Europeu. Tivessem eles vivido uns séculos atrás e teriam feito inveja a Torquemada. O primeiro fazia a pira; o segundo lançava-lhe fogo, para gáudio do anterior; o terceiro erguia a cruz para mostrar ao condenado, contorcendo-se e lançando gritos lancinantes no meio das chamas, como a misericórdia e perdão do Deus da Igreja Católica funcionam. Talvez os gritos fossem psico-somáticos, servindo a cruz de anestésico.
Não sou comunista e, de um modo geral, a Política pouco me interessa, visto que tenho coisas muito mais interessantes em que pensar. Mas respeito os ideais desse génio da literatura que se chama José Saramago. Como escrevi no artigo anterior, sempre procurei no eclectismo, seja qual for o tema, um modo de viver neste mundo de contradições.
Quanto à existência de Deus sou agnóstico e, como tal, não perco tempo em debates inúteis. No entanto esclareço que fui educado e obrigado a crer nos ensinamentos da Igreja Católica, ser forçado a assistir à missa dominical, e ouvir o catequista sem poder fazer perguntas. Porém, ao olhar o mundo que me rodeava, muito cedo comecei a duvidar de tantas coisas disparatadas e paradoxais que me impingiam, e que tinha de aceitar sem protestar. Era o o todo poderoso dogma castrador das mentes! Não vou, para já, expor essas contradições aqui. São tantas que resolvi deixá-las para outro texto. No entanto, vou citar uma que, pela sua comicidade, ainda hoje me faz rir, bem como a alguns dos meus amigos aos quais tenho contado. Ouvi-a nos anos cinquenta da boca do prior da Igreja de S. João de Brito, situada no bairro de Alvalade, na altura o mais moderno de Lisboa. Durante a chamada “prática”, esse senhor não arranjou melhor coisa para dizer que, no Verão, Deus enviava as moscas para nos castigar!!!. Espantoso, não é? E eu, com os meus dez ou onze anos, olhava para todos aqueles adultos que, respeitosamente e sem protestar, engoliam semelhante patranha que tanto tinha de ridículo como de absurdo.
Mas voltemos a Saramago ao qual acrescento todos aqueles, crentes ao não crentes, que contestam o Deus da Bíblia.
Todos eles, embora em minoria num país assumidamente católico, mas cuja Constituição define como estado laico, armam um alarido se alguém toca na sua crença. Mas as minorias não têm direitos? Porque será que temos de ouvir os sinos das igrejas, mesmo que haja protestos de alguns moradores das proximidades? E as procissões que em algumas povoações bloqueiam as ruas? E a televisão pública a transmitir horas a fio cerimónias religiosas como as peregrinações a Fátima, ou a permitir que Dina Aguiar se despeça com o clássico “se Deus quiser”, violando assim o mandamento que diz "não invocarás o santo nome de Deus em vão".
E, aquando da morte do Papa João Paulo II, em que tivemos de aturar horas a fio vendo os fieis a rezar para que ele não morresse (mas afinal não ia ter com Deus?) e, dias depois, com os rostos já enxutos e expressões transbordantes de alegria, paz e felicidade, tornar a ver os mesmos fiéis a darem vivas ao novo Papa. Rei morto rei posto, como é costume dizer-se. E já que falamos de Papas, ocorre a muito boa gente perguntar porque é que depois do atentado contra João Paulo II, ele e o seu sucessor passaram a deslocar-se num veículo à prova de bala, e rodeados da maior segurança? Não será uma provocação à chamada protecção divina? Afinal, e citando José Saramago, parece que o Deus da Bíblia não é de fiar, e deve ser por isso que põem pára-raios nas igrejas e outras protecções similares, não vá o Deus do mal, perdão, o Diabo, fazer das suas e colocar o seu criador, o Deus do bem, numa situação que nada tem a ver com omnipotencia. Ora isto parece-me completamente absurdo já que, no caso de um atentado fatal, Deus teria mais uma ocasião para mostrar os seus dotes vingativos no homicida, conforme fez, segundo a Bíblia, matando os primogénitos egípcios como represália ao decreto de Herodes. A meu ver, este episódio da Bíblia é o mais vergonhoso de todas as suas páginas, repletas de maldade e contradições
A Igreja Católica, sempre parada no tempo, opondo-se por todos os meios, mesmo os mais cruéis, a tudo e todos que tentam apontar-lhe os seus erros, usando como defesa um Deus que tudo perdoa mas que, quando lhe não convém, passa a ser uma divindade castigadora com suplícios eternos, ou que para angariar clientela ameaça atirar as crianças não baptizadas para essa coisa ignóbil chamada Limbo, não pode ter credibilidade. Perdão! esqueci-me que João Paulo II acabou com o 'Limbo' e com o 'Inferno'. Portanto, das duas uma: ou Deus mudou de ideias, ou o seu lacaio na terra desobedeceu-lhe.


Instituição sectária, dogmática e intolerante, que entre outras coisas irracionais faz do hímen da mulher (também presente nas fêmeas de muitos animais, desde a chimpanzé à mosca da Malásia) um dos seus principais dogmas, não quer compreender que o mundo de hoje tecnológico e científico, com as suas naturais consequências, evolui tão rapidamente que se arrisca a perder uma grande maioria dos seus adeptos num futuro não muito longínquo. Mas o problema é dela. Bento XVIII, se quiser, resolva o assunto. Albarda-se o burro conforme o dono.
E por hoje fico por aqui. Prometo voltar a esta disparatado assunto, ainda que saiba que daí nada virá de novo, já que a maioria das pessoas, seja por fé, ignorância, crendice ou simples estupidez, prefere viver de mitos.
“Todos aqueles que não têm espírito de crítica sobre tudo o que julgam ser uma certeza ou uma finalidade, estão condenados a alimentar-se de sombras” (citação do escritor de ficção científica Alfred Elton van Vogt no seu livro “Xadrez Cósmico”, nº 31 da Colecção Argonauta, e que foi uma das delícias literárias da minha adolescência).
Agora vou sair e comprar o livro de José Saramago. Penso que só encontrarei nele uma análise racional do deus bíblico mas, mesmo assim, estou interessado em lê-lo.

PS. Acabo de receber uma mensagem enviada por um amigo com o artigo de Vasco Graça Moura intitulado “Melhor Crer do que Ler?” Os meus parabéns ao autor, embora ache que peca por um excesso de erudição, bem como do uso de palavras latinas e de português antigo, que aliás não condeno, mas que, infelizmente, torna difícil a compreensão para a maioria das pessoas. Mas fiquei a saber que a leitura da Bíblia já esteve proibida em Portugal! Comentários para quê?


10/10/2009

SERÁ QUE NO SÉCULO XX SÓ HOUVE UM HOLOCAUSTO?

SERÁ QUE NO SÉCULO XX SÓ HOUVE UM HOLOCAUSTO?


Quando o general Eisenhower visitou os campos de extermínio nazis, disse:
- "fotografem e filmem o máximo que puderem; recolham o maior número de testemunhos possíveis, não vá um dia aparecer algum idiota a dizer que nada disto aconteceu”.

Ora, passados mais de 60 anos, já apareceram vários idiotas tornando real a profecia do general.
Mas será que no século passado só houve um Holocausto? Será que toda a História da Humanidade não está repleta deles?
A palavra holocausto deriva do grego holókauton e significa “sacrifício em que se queima a vítima inteira”, não especificando se viva ou morta. Porém, seja pelo fogo ou por outro método qualquer, e houve-os horrendos, sendo muitos deles criados pela Inquisição instituída pela chamada Igreja Católica Apostólica Romana, em nome de um Deus que diz ser infinitamente bom, o resultado foi sempre o mesmo: A Morte. A hipocrisia dessa sinistra instituição, que provocou um holocausto de milhares de vitimas durante três séculos, chegava ao ponto de pedir ao braço secular, a quem entregava os condenados, muita ”justiça e misericórdia” para os que iam ser queimados! Tal como Pôncio Pilatos, que tanto critica, “lavava daí as suas mãos”. João Paulo II pediu desculpa dessas atrocidades e reabilitou Galileo, reconhecendo ao fim de 350 anos (!!) o sistema heliocêntrico!! Porém "esqueceu-se" do frade Giordano Bruno, queimado em 1600 por ter dito que cada estrela é um sol com planetas, podendo até alguns deles ser habitados. Olvidou também todas as outras vítimas anónimas (nem todas podem ser génios) torturadas até enlouquecerem, ou "confessando" o que não fizeram, acabando no Holocausto já referido. João Paulo II, "o Papa que mudou o mundo" (não sei em quê) teria feito muito melhor se tivesse distribuído as riquezas incalculáveis que enchem o Vaticano, e que foram roubadas às vítimas da “Santa” Madre Igreja, pelos milhões de carenciados deste mundo, como Jesus Cristo mandou. Até porque Jesus disse (ou inventaram que disse) ser mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus.
Segundo consta, o próprio Afonso Henriques, mesmo habituado às barbáries da época, tentou opor-se aos desmandos dos Cruzados que, em nome do tal Deus, cometeram toda a espécie de violências sobre os vencidos após a conquista de Lisboa. E isto é apenas um exemplo entre os inumeráveis factos idênticos que a História regista, seja em nome de um deus, de um diabo, ou de um manipanço qualquer. Mas, e respeitando o título deste comentário, voltemos ao século XX. Ninguém ignora, excepto os tais idiotas profetizados por Eisenhower, que o nazismo fez um autêntico holocausto sobre seis milhões de Judeus cremando os corpos, fazendo assim juz à etimologia da referida palavra. E os Norte-Americanos lançando sobre o Vietename napalm (de Na, símbolo do sódio mais palm, abreviatura de palmitato) e desfolhantes queimando pelo fogo ou por substâncias químicas todos os seres vivos atingidos, e cujos efeitos ainda hoje se fazem sentir? Para aumentar a eficácia do napalm, juntaram substâncias que o faziam aderir à pele e que nem a água apagava. É incrível ao que pode chegar a crueldade humana!!!
Mas troquemos holocausto por massacre, palavra derivada do francês, embora de origem obscura. Na prática significa o assassínio de pessoas sem defesa, seja por civis ou, mais frequentemente, por militares. Estes, se têm a coragem de reunir as vítimas e abatê-las olhos nos olhos, são considerados criminosos de guerra; se passam com um avião sobre elas lançando bombas incendiárias provcando também um holocausto são heróis e, muitas vezes, condecorados. Mas passando para o campo da política, esta “diferença”como pretendem alguns idiotas, encontra-se entre um Hitler, um Estaline ou um Mao-Tsé-Tung. O primeiro foi “o Mau da Fita”, o segundo “o Pai dos Povos” e o terceiro “o Grande Timoneiro”.
Perante isto parece haver um patológico complexo de extrema-direita que faz com que todos os políticos dessa facção sejam uns demónios enquanto que os chamados de extrema-esquerda, que cometeram os mesmos crimes, sejam considerados uns santos que só lutaram pelo bem estar dos dos seus povos. Mas Hitler também fez o mesmo pelos alemães, derrotados e humilhados na chamada Grande Guerra (1914-1918). Depois deu o resultado que todos sabemos. Mas adiante.
Durante o chamado Terror que Robespierre, em nome da “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, instaurou durante a Revolução Francesa, rolaram milhares de cabeças entre as quais a do químico Lavoisier e a do poeta André Chénier. Ao mesmo tempo a populaça delirante cantava uma versão de “La Carmagnole”, nome de uma dança rústica adaptada à Revolução com um texto que parodiava Maria Antonieta, e também sinónimo da jaqueta usada pelos “Sans-Culottes" (sem calções), a classe mais baixa dos trabalhadores, ou ainda “Ah! Ça ira, Ça ira”, outra canção revolucionária que pedia a morte pela forca de todos os aristocratas. Ambas as canções foram proibidas após a ascensão ao poder de Napoleão, outro tirano. Como sempre, os extremos tocam-se.
Conta-se que durante o “julgamento” de Lavoisier num “tribunal popular”, alguém gritou que a Revolução não precisava de sábios. Nós também tivemos vários idiotas após o 25 de Abril, entre os quais um tal capitão Paulino, que mostrando perante as câmaras da televisão as mãos calejadas de um trabalhador rural alentejano, afirmou que” não são precisos doutores para coisa nenhuma”. Isto ocorreu em 1975, durante o chamado "Verão Quente". Alguém se lembra ainda?
Ora entre o anónimo da Revolução Francesa e os mentores do chamado PREC (Processo Revolucionário em Curso) que se seguiu ao 25 de Abril , parece não haver muita diferença, exceptuando o facto do segundo caso ter ocorrido num país de “brandos costumes".
E que dizer da Revolução Cultural ocorrida na China sob o beneceplácito do “Grande Timoneiro” que, depois de massacrar dezenas de milhões de pessoas, até se virou contra os pardais, imitando um rei inglês que mandou massacrar estas aves porque desvastavam as searas? Mas, além dos grãos, os pardais também comem os insectos que infestam os campos. Depois, e tal como o rei inglês do qual não me lembro o nome, e que séculos antes teve a mesma “brilhante” ideia, necessitou de importar centenas de milhares daquelas aves para repor o equilibrio ecológico. Correram mundo as imagens chocantes do povinho estúpido e ignorante batendo com todos os objectos que tinha à mão, para impedir que as pobres aves poisassem até morrerem por exaustão. Depois, e devido à fome que reinava na China, fritaram-nas, o que provocou mais um Holocausto na verdadeira acepção da palavra, desta vez de pardais.
E que dizer também das deportações e execuções em massa de Estaline ou dos hospitais psiquiátricos de Brejnev na antiga União Soviética?
E das vítimas de Pol Pot na Birmânia, hoje Mianmar, cujos ossadas estão agora expostas para os turistas mal ou bem intencionados verem, tal como o campo de Auschwitz na Polónia?
E da “dinastia Kim Jong” na Coreia do Norte? E de Batista ou de Fidel, que apenas virou o esque ma da extrema-direita para a extrema-esquerda? E de Ceausescu na Roménia? E os Idi Amins, Bokassas e Mugabes da África Negra? E...?
Meus senhores: quando se compara nos livros de História do nosso ensino secundário o "macartismo” ao “maoísmo”, o que me obrigou a explicar à minha neta a verdadeira diferença, há qualquer coisa que não está bem na nossa Democracia. Porque será que se podem exibir as bandeiras com as carantonhas de Estaline e Mao, e não a de Hitler? E com a Foice e o Martelo e não a Cruz Suástica? E fechar o punho e não estender a mão direita, gesto que, aliás, foi importado da Roma antiga? Afinal onde estão as diferenças entre os dois sistemas políticos?
Pela minha parte eu, o ignorante, menciono as semelhanças:
1º - Ambos lutam pelo bem-estar dos seus povos, mas há um Chefe e uma classe dirigente que tem acesso ao luxo, enquanto o chamado povo trabalhador é nivelado pela base.
2º - Os dois defendem o direito de todos os povos à auto-determinação e independência, mas invadem-nos se eles se desviarem das ideologias pré-estebelecidas.
3º - Recusam o direito à greve.
4º - Criam uma polícia política para prender, torturar e até matar os opositores.
5º - Estabelecem a Censura.
6º - Proibem as manifestações populares, excepto se forem “organizadas” para apoiar os respectivos regimes.
7º - Só permitem a existência do seu Partido, ilegalizando todos os outros.
Francamente. Comparado com eles até Salazar foi um digno representante do “País dos Brandos Costumes”. Até houve, com o nosso clássico sentido de humor, quem chamasse à Ditadura do Estado Novo, a “Ditamole”.
Não sou defensor da política salazarista, para além do facto de ter salvo Portugal da bancarrota a que os politiqueiros da 1ª República iam levando mas, comparado com outros ditadores, quase foi um menino do coro, como é costume dizer-se.
E, para terminar faço uma recomendação: leiam o Livro Negro do Comunismo, porque a pior cegueira é a de quem não quer ver. Como disse Churchill, a Democracia é um sistema político péssimo, mas até agora não se encontrou melhor. No fim de contas parece estar no eclectismo uma maneira mais lógica de viver, ou sobreviver, neste Mundo disparatado.
Houvesse imagens reais de todos os holocaustos e massacres da História, dos campos de batalha com corpos despedaçados, mas ainda vivos, ou das torturas e autos-de-Fé da Inquisição, como as contemporâneas que hoje se vêem a todo o momento nos telejornais, e talvez não nos batessem à porta outra espécie de idiotas a proclamar o fim do mundo.

P.S. Porque será que nunca ouvi os senhores jornalistas perguntarem e exigir uma resposta concreta a Francisco Louçã ou a Jerónimo de Sousa como governariam Portugal se fossem eleitos primeiros-ministros? Fariam o mesmo que o bem intencionado Salvador Allende fez no Chile, com o resultado que se viu? Como sempre, o excesso até na virtude é defeito!


15/09/2009

TELEJORNAL DA RTP-1 'COM TOMATES' E 'COM OS PÉS'!!!

Tiques de todos os tipos, cerrar a boquinha, piscar um olhinho, gargalhadas histéricas, caneta e dedinhos espetados, e agora, finais de telejornais 'com tomates' ou 'com os pés', eis o suplício que temos de aturar quando esse jornalista, escritor e "apresentador", que dá pelo nome de José Rodrigues dos Santos, transforma o telejornal da RTP -1 numa palhaçada.

«Meu caro José Alberto Carvalho:

Havendo tão bons jornalistas/apresentadores na RTP, entre os quais o incluo, e agora que há telejornais que terminam "com os pés" e "com tomates", quando é que dá com os primeiros nesse pseudo-apresentador que se julga engraçado e não percebe que, em alguns casos, “uma imagem de marca” só revela falta de personalidade?
Francamente: sem querer denegrir os novos, como atrás dei a entender, até sinto saudades da sisudez de um Manuel Caetano ou da compostura de um Gomes Ferreira.
Nesse tempo havia respeito pelos telespectadores e até se pedia desculpa por qualquer anomalia que surgisse durante a emissão, o que hoje, infelizmente, quase nunca acontece.»

- E fico por aqui, pois tenho medo que "ESTEJAM A SOAR SIRENES EM BAGUEDADE", e não tenho pachorra para voltar a ouvir os gritos histéricos desse senhor jornalista.



25/07/2009

DISPARATE DE DEMOCRACIA

VASCO SANTANA E OUTROS GRANDES ARTISTAS DA CHAMADA «ÉPOCA DE OURO DO CINEMA PORTUGUÊS», OLVIDADOS OU CENSURADOS PELA RTP.

(Ou a guerra que travo há mais de um ano com o Ex.mo Director de Programas da RTP; guerra não, porque até agora só tem andado a fugir! «VANTAGEM DE CÁ».)

No dia 13 de Junho do ano passado, a RTP assinalou os cinquenta anos da morte desse gigante do Teatro, da Rádio e do Cinema Português, que se chamou Vasco Santana. E lá vieram os clássicos filmes que só não classifico de estafados porque, como muita gente, adoro-os: «O Páteo das Cantigas», «A Canção de Lisboa», «O Pai Tirano», «Camões» e, pasme-se, «A Vizinha do Lado» e «A Menina da Rádio» onde Vasco Santana não entra. E então «O COSTA d'ÁFRICA»???
Por correio electrónico enviado em 23 de Maio de 2008 ao Sr. Provedor do Telespectador, chamei a atenção para o facto de certos filmes e documentários nunca, que eu saiba, terem sido exibidos na RTP. São exemplos filmes polémicos como «Mundo Cão 1 e 2», exibidos no tempo da Censura com alguns cortes, «África Adeus», documentário sobre o resultado das independências concedidas às colónias da África Negra e que, obviamente, serviu a política ultramarina de Salazar, ou o programa da BBC sobre os escândalos sexuais do Vaticano branqueados pelo Papa Bento XVI. Só a SIC teve a coragem de exibir este último, mas às quatro horas da madrugada!
Obtive como resposta que «o Provedor não pode interferir previamente nas opções dos responsáveis dos conteúdos».
Posto isto enviei ao Director de Programas da RTP, em 21 de Novembro de 2008, uma mensagem em que solicitava uma justificação para o facto de «O COSTA d'ÁFRICA» não ter sido incluído na citada efeméride, e sugerindo que, uma vez por outra, mandasse substituir um filme de violência gratuita, em que a RTP é useira e vezeira, pela aludida película.
Como não obtive resposta, concluí que havia uma certa falta de educação além de uma estranha censura que, no que respeita ao citado filme português, parece atingir todos os directores de programas da RTP. Assim e, com o meu sentido de humor, prometi enviar-lhe uma cópia do filme em DVD que possuo graças à TVI, um lápis azul e uma tesoura para ele usar no caso de encontrar «cenas chocantes». Ora como continuou a não haver resposta, acabei mesmo por fazê-lo (tendo juntado à encomenda cinco comprimidos de um anti-ácido, não fosse o Exmº Director ter problemas de indigestão ao ver o filme), acrescentando que Censura conheci eu quando entrei para a Emissora Nacional em 1968, um mês antes de Salazar caír da cadeira.
Ironizei com frases consagradas nos filmes portuguêses, tais como «chapéus há muitos» mas filmes com Vasco Santana há poucos, e recordei o comentário de Henrique Santana aquando da gala dos 25 anos da RTP em 1982: «infelizmente quase tudo o que havia com o meu pai perdeu-se; talvêz o melhor arquivo ainda esteja no cinema».
Em face do exposto cabe perguntar: o que se passa com «O COSTA d'ÁFRICA»? Ou com «O Comissário de Polícia» onde Vasco Santana também entra, embora num papel secundário? Será que os Portugueses, pagantes da taxa, não têm o direito de ver esses filmes? O primeiro foi exibido há anos, como atrás disse, pela TVI e existiu em VHS. Quanto ao segundo, e que me lembre, foi apenas uma vez apresentado pela RTP há mais de vinte anos, e do qual possuo uma gravação no velho sistema Beta. Entretanto a chamada Televisão Pública vai exibindo até à exaustão sempre os mesmos filmes, desde «A Canção de Lisboa» até a «O Grande Elias».
E, já agora, uma pergunta para a Cinemateca Portuguesa: porque é que só foram restaurados os filmes, chamemos-lhes assim, mais comhecidos? ( a propósito:o som de «O Costa do Castelo» ficou um escândalo de distorção, que se pode provar comparando com a gravação em VHS!). Mas voltemos ao «COSTA d'ÁFRICA», sobre o qual vou dar algumas informações, já que a Televisão Pública continua pura e simplesmente a ignorar a sua existência.
Tendo sido originalmente uma comédia teatral, foi levada ao cinema em 1954 pelo realizador João Mendes. Nos principais papeis temos além de Vasco Santana, Laura Alves, Ribeirinho, Erico Braga, AnaPaula, Henrique Santana, Hortense Luz, Rogério Paulo, Aida Batista, Costinha e Tereza Gomes.
Segundo a opinião de quem viu a aludida peça teatral, a versão cinematográfica dá uma pálida ideia do argumento mas, e voltando a citar Henrique Santana, «o melhor arquivo de meu pai ainda se encontra no cinema». Será preciso mais alguma razão para «O COSTA d'ÁFRICA» não ter sido votado ao ostracismo? Mesmo sem ser perito em cinema julgo que não, pois trata-se de uma sátira ao período colonial da nossa História. e até porque Vasco Santana desempenha um papel totalmente diferente daquele a que nos habituou: o cómico. Se em «Fado, História de uma Cantadeira» desempenha, genialmente, um papel dramático, aqui representa um personagem grosseiro e um pouco brutal, parodiando uma boa parte dos colonos portuguêses que, como então se dizia, «saíam da Metrópole pedreiros, passavam o equador eram mestres-de-obras e, chegando a África, eram engenheiros».
Tudo isto rodeado de grande comicidade, com os habituais trocadilhos e aldrabices que tão bem caracterizaram o Cinema Português da época. E a juntar a estes há ainda deliciosos comentários «africanistas» tais como «que linda palhota que tu arranjaste», referindo-se à casa que julgava ser do sobrinho, ou chamando Bijagós ao suposto criado ou «macacuço» ao bebé.
É óbvio que só quem esteve em África pode compreender estes e outros termos usados mas, recuando no tempo, será que alguém entende hoje o quer dizer «sua silvana mangana de trazer por casa» ou «essa nega maluca»? Claro que só os mais velhos se podem lembrar, e cumpre a estes esclarecer os mais novos. Tal como as Revistas Teatrais, os filmes que retratam a época em que foram feitos, contêm muitos ditos e cenas muito limitados no espaço e no tempo, que impede muitas vezes a compreensão das gerações mais novas. A título de exemplo cito apenas este exraído de «O COSTA do CASTELO»: «Será que vossemecê deita água no leite? Eu?, a dois mil reis o metro, boa!»
Ora nessa época constou que os leiteiros, que levavam o leite em vasilhas metálicas a casa dos clientes, e à porta destes o mediam em púcaros, deitavam água para aumentar a quantidade. Porém, como os densímetros acusavam esta fraude, dizia-se que eles passaram a urinar no leite, mantendo assim a densidade deste. Se é verdade não sei, mas tempos depois apareceu o leite engarrafado com a sigla UCAL (julgo que queria dizer União das Cooperativas Abastecedoras de Leite). O português, porém, sempre «pobrete mas alegrete», substituiu logo a sigla por «Urina Com Algum Leite». Sempre o nosso inestimável espírito de humor, recheado de anedotas em que a política era, no tempo da Censura, o prato forte, e que já me levou a pensar em organizar com outras pessoas que ainda tenham algumas na memória, uma espécie de antologia da anedota política portuguesa.
E por hoje chega. Viva «O COSTA d'ÁFRICA ». Poder-se-á dizer que o tema já está ultrapassado, mas desta vez não são as tias que vêm de Trás-os Montes, nem a tia que vem do Brsil ou o tio que chega de Famalicão: é o tio que vem do Alto Lingoto, e o director de programas da RTP, que veio da TSF, deveria ir para as ilhas Desertas (arquipélago da Madeira) ou para qualquer outro recôndito cantinho do Território Português, meditar no que atrás foi dito. Talvêz desse aso à realização de um novo filme cómico português: «Um Director de Programas em Meditação Transcendental no Âmago da Natureza».
Entretanto, e como já disse graças à TVI, para a qual não pago taxa, vou divertindo os meus amigos com os Bijagós e as macaquices do filme, pleno das mais aberrantes ou caricatas «cenas de racismo e colonianismo», conforme o modo de ver de cada um.


27/06/2009

BÁRBAROS !


Foi inaugurado o Oceanário (perdão, SEA LIFE) no Porto (perdão, OPORTO)!!!
Ouve-se, lê-se, e pasma-se! Quem terá sido o renegado da LÍNGUA PORTUGUESA, o "genial" autor de semelhante nome, e quem será o bárbaro que tal aprovou?

Bárbaro era, entre os antigos gregos, a designação dada a todos aqueles que não falavam grego e, depois, pelos romanos a quem não falasse latim. Ora parece que esta gente usa e abusa de nomes e frases ingleses , ou porque é moda ou por simples petulância, o que é muito pior.
Meus senhores: sois a vergonha do nosso idioma e de toda a literatura produzida pela língua de Camões, uma das principais do mundo (e mesmo que o não fosse) e, por isso, só podeis ser classificados de bárbaros peneirentos (passe o calão), e responsáveis pelas crianças trocarem a palavra oceanário por «sea life».
Seria muito difícil ou impossível dar um nome português? Ou será que existem direitos contratuais que o impõem? Se, de facto, existem, será que se tentou chegar a acordo para uma possível tradução, com vista a não ofender os ouvidos daqueles portugueses que prezam a sua língua? Alguém se lembra ainda dos aviões construídos pela empresa francesa «Sud Aviation» denominados «Caravelle», e que ostentavam nos reactores dos exemplares adquiridos pela TAP a palavra CARAVELA? Se não houve tentativas para arranjar outro nome para o oceanário, a culpa continua a ser dos governos pós-25 de Abril que não defendem a Língua e a Cultura Portuguesas, tal como aconteceu antes do Estado Novo, em que a moda era o francês.
Não sou chauvinista ao ponto de condenar todos os estrangeirismos; eles só enriquecem qualquer língua, mas «uti, non abuti», principalmente quando não se trata da introdução de novas palavras, mas sim da substituição das originais por outras estrangeiras, o que muitas vezes faz com que as primeiras caiam em desuso ou até desapareçam.
Cito apenas «Resort»: Porque não utilizar a portuguesíssima palavra "estância" que já vem do Séc.XIII?
É claro que todos sabemos que o inglês se impôs como língua universal devido ao seu antigo Império, e hoje às novas tecnologias. Mas não será isto anti-democrático, já que os povos de língua inglesa ficam isentos da obrigatoriedade de aprender outro idioma, facto este já debatido na União Europeia?
O naturalista sueco do Séc.XVIII Carl Linneu, criador da classificação dos seres vivos, escolheu o latim para essa classificação por ser uma língua morta. Também os químicos adoptaram as palavras latinas ou latinizadas para os símbolos dos elementos. Assim, e como exemplos, menciono «canis lupus» e «Na». Qualquer cientista independentemente da sua língua sabe que o primeiro significa cão, e o segundo sódio (do latim natrium).
Mas será que pretendo pelo exposto ressuscitar o latim? De modo algum; e embora saiba que o que vou dizer é uma utopia, declaro ser absolutamente defensor de uma língua neutra e de fácil aprendizagem. E foi por isso que o médico e linguista polaco Ludwig Lazar Zamenhof inventou, em 1887, o Esperanto, língua internacional cuja gramática muito simples e regular, utiliza raízes das línguas europeias mais faladas, além dos clássicos radicais gregos e latinos. E até Albert Einstein caiu nessa utopia quando afirmou: «O Esperanto é a solução da ideia de Língua Internacional».
Mas estava-se no Séc.XIX. O Império Britânico era o maior do mundo e as modas (e até os bebés) vinham de Paris. Na Rússia czarista a aristocracia trocava a sua língua natal pelo francês! O Império de Napoleão fora efémero, o Otomano caíra e o Austro-Húngaro aproximava-se do fim. Na segunda metade do Séc. XX Salazar teimava "orgulhosamente só" em remar contra a História, e no leste europeu o Império Soviético, também chamado "O Paraíso dos Trabalhadores", caiu de um dia para o outro.
Hoje, com o planeta retalhado em mais de 200 países, temos o «Império da Tecnologia Baseada no Inglês», embora grande parte dela venha do Japão e também de outros lados, todos dominados por este idioma e pela gravata ocidental.
E pronto. Mais uma vez vou entrar em «stand by», mas antes vou ao «shopping», aproveito para comer um «hot dog» e volto cedo para casa, não vá ser vítima de «car jacking».
Uma vez no meu retiro, verifico se este não sofreu nenhum «home jacking» o que provocaria a utilização do «help phone».
Entretanto, fico à espera de algum «feedback».


05/06/2009

A MANIA DO GLOBAL, DO TERRENO, E MAIS ALGUNS DISPARATES


Hoje tudo é global! É o aquecimento, é a crise (desde que me conheço sempre ouvi falar nela), é o desemprego, é a pobreza (ou a riqueza, pois tudo é relativo), são as alterações climáticas, é a gripe suína (a última foi a das aves e a próxima talvez seja a asinina, sem ofensa aos burros, claro), enfim, é todo um conjunto de coisas ou situações em que o termo 'global' parece ter feito desaparecer dos dicionários palavras como mundial, geral ou total.
Até já ouvi num canal televisivo, não me lembro qual, chamar à guerra de 1939-1945, a Segunda Guerra Global!!.
E a deliciosa frase «estar no terreno»? A primeira vez que chamou a minha atenção foi quando da tragédia da ponte de Entre-os-Rios, em que uma jornalista dizia que «as buscas no terreno continuavam», embora estas estivessem a ser feitas no rio por mergulhadores apoiados por lanchas.
A partir daí, e tal como numa comunidade de papagaios, tudo passou a 'estar no terreno', seja qual for o sítio: terra, mar ou ar (e, quem sabe, qualquer dia no espaço).
A palavra 'local' e a expressão latina «in loco» desapareceram: «O ministro deixou o seu gabinete e foi para o terreno», «há três televisões no terreno a disputar a supremacia», (esta é de Marcelo Rebelo de Sousa), «os inspectores da ONU no terreno já abandonaram o país» etc., etc., etc..
Ora como já dei por mim a dizer em voz alta as palavras global e terreno, antecipando toda a verborreia que os senhores jornalistas despejam nos telejornais para preencher, seja de que maneira fôr, o excessivo tempo que lhes é concedido, começo a pensar seriamente em consultar um psiquiatra para tentar evitar que a minha pobre cabeça fique 'globalmente enterrada e aterrada no terreno global' !
Ora se é um facto que as línguas não são estáticas e, consequentemente, evoluem, pela minha parte considero que a repetição exaustiva de palavras provoca o desaparecimento de sinónimos, uma das riquezas de qualquer idioma.

Mas deixemos isto.

Segue-se mais uma pequena lista de algumas «pérolas» linguísticas apanhadas aqui e ali nos diferentes canais televisivos. A seguir a cada uma vai o meu comentário.
1º- Quadrigas de dois cavalos: Deve tratar-se de uma nova Diane criada pela Citroën.
2º- Golfinhos com formas aerodinâmicas: Que saudade eu tenho do tempo em que eles voavam em bandos no estuário do Tejo
3º- Sapinhos como filhos de répteis: Os batráquios (hoje chamados anfíbios) foram promovidos a répteis.4º- Pássaro aplicado a tudo o que seja ave: Ali vai um bando de avestruzes.
5º- As ventoínhas dos motores de avião: Como é fresquinho voar.
6º- Tigres de Benguela: De facto nunca alguém viu um tigre usar bengala
7º- Medicalização de doentes: Não lhes basta a situação patologica, têm de engolir pílulas de disparates.
8º- Pintos como filhos de todas as aves: Cuidado não pisem as crias dos colibris.9º- Avião estacionado na pista: Devido ao impedimento desta, os outros aviões passaram a descolar e a aterrar na placa.
10º- Cachalotes, narvais, golfinhos e outros mamíferos marinhos classificados como baleias: Deve ser mais um fruto da globalização.
11º- Nevão sobre Lisboa: Sempre os exageros da Comunicação Social.(perdão, dos midia, dos media, dos média... Como quiserem).
12º- 'Tsunami' como onda gigante: A tradução exacta do japonês é 'onda no porto'. Aliás, um maremoto não implica só uma onda, mas também uma subida muito rápida do nível das águas, como aconteceu nas costas orientais da Índia e do Sri-Lanka. Segundo aprendi no livro «Lições de Geologia» para o antigo terceiro ciclo do ensino liceal e do qual conservo um exemplar, este fenómeno denomina-se em português raz de maré.
13º- Fauna animal: Quando olho para uma planta fico na dúvida se esta pertence à flora vegetal.
14º- Navio infundável: Deve ter saído do estaleiro sem fundamento.
15º- Mamíferos de sangue quente: Depois de congelados perdem essa qualidade.
16º- Traças como todos os insectos alados: Os estupores das vespas roeram as minhas cuecas.
17º- Aerofobia como medo de viajar de avião: Quando se abre as janelas faz uma tremenda ventania.
18º- Quando é atacado o pangolim enrola-se ficando totalmente impregnável: Por isso é considerado a melhor esponja que existe.
19º- O general Eisenhower, sargentos e praças a tratarem-se por tu: No exército norte-americano sempre houve uma grande camaradagem, principalmente quando se trata de invadir outros países.
20º- Todos os comandos reunidos num único, permite ao piloto fazer o avião virar, subir, descer e andar para trás: O problema é a falta de espelhos retrovisores.
21º- Tempestades de gelo: Ainda havemos de ter granizo em cubos.
22º- Mamíferos fazendo o ninho: Finalmente vamos ter ovos de vaca, de coelha e de porca, já que de burros e de burras temos com fartura.
23º- Dromedários chamados de camelos: Basta comparar umas fotos para distinguir as diferenças entre uns e outros: Só os "camelos "é que não notam.
24º- Após tantos cuidados com aqueles animais, o resultado foi dramático: salvaram-se todos: Com a mania do "dramático" e de outras palavras traduzidas literalmente do inglês, qualquer dia teremos qualquer coisa do género: o resultado do acidente foi dramático, já que todas as pessoas se salvaram!!!
25º- Quem foi o autor da Sexta Sinfonia? Esta disparatada pergunta foi feita num concurso da RTP. Como amante de música e antigo funcionário da Antena 2 lembrei-me logo de uma dúzia de compositores que escreveram seis ou mais sinfonias. Mas pergunto: será que daria muito trabalho, e até porque a RDP e a RTP se encontram agora juntas, perguntar a quem sabe quando se trata de alusões à chamada música clássica?
26ºA ave pernalta grou rebatisada de "gru": Será que as vogais juntas "ou" passaram a ser lidas à francesa?
27º- Altura como altitude e vice-versa. Cuidado! Quando subirem a um ponto alto poderão ficar sem oxigénio a poucos metros de altura.
28º- "Xitina" como parte integrante do exoesqueleto dos insectos. Sabem tanto inglês mas desconhecem que "chitin" se lê como começasse por"K" e que em português é quitina.

E fico por aqui, mas "o programa segue dentro de momentos". Vou entrar em «stand by» (leia-se setandebai), o que traduzido dá qualquer coisa como «fica por»! Entretanto vou vendo mais um pouco de televisão, mas não muito, não vá a lista anterior chegar ao milhar.

'INGRAVIDEZ'

«INGRAVIDEZ»

Na data em que escrevo, 15 de Maio de 2009, há quatro pessoas que não estão grávidas. Trata-se dos astronautas que estão em órbita a reparar o telescópio Hubble.
O resto da Humanidade encontra-se no chamado estado interessante. (nunca percebi porque é que esse estado reprodutivo tem mais interesse do que outros).

Parece absurdo ou anedota, não é? Mas eu explico:
No primeiro programa sobre montanhas russas transmitido pelo canal Odisseia, com tradução e legendagem feitas pela empresa Via-Satélite, assiste-se a uma demonstração dos efeitos de ausência de gravidade a bordo de um velho Boeing 707 que, para consegui-los, faz uma curva parabólica.
Enquanto os voluntários passageiros se divertem com a ausência de peso, surge na legenda a palavra ?!INGRAVIDEZ!!!. Perante isto, o que é que passsou pela minha cabeça? Li mal, é claro, mas vou aguardar até ao fim do programa para verificar, na gravação que estou a efectuar, se foi dos meus olhos, dos óculos ou de uma estranha maleita que, momentaneamente, me atacou.
Mas não! Vista a gravação ela lá está, desafiante, com um certo ar grotesco na sua horrível fealdade gráfica e consequente fonética: INGRAVIDEZ!
Mas, Deo gratias, desta vez o locutor não foi papagaio, pois disse "gravidade zero". Parabéns!

Embora passar horas a ver televisão não seja um dos meus passatempos favoritos, gosto de ver programas onde, apesar dos meus sessenta e seis anos, posso aprender mais alguma coisa. O problema é ter de suportar estoicamente o suplício de ouvir tantas asneiras num único programa. Assim, e cumprindo o que há dias escrevi, vou extraír mais algumas da já extensa lista que, semana a semana, vou tirando dos programas televisivos.

1º- No canal «Travel» uma tradutora chamada Luísa Lopes escreve o número dos séculos com algarismos árabes, quando este deve ser feito com numeração romana, e põe toda a gente a tratar-se por tu, quando esta forma não é natural entre os portugueses, que só a usam quando têm uma relação próxima com o interlocutor. No entanto tenho que fazer justiça a esta senhora que , para além de se identificar, faz traduções para um português correcto e fluente.
2º- É frequente serem mencionadas na Terra temperaturas de muitas dezenas de graus (por exemplo 90º). Claro que é impossível na escala centígrada ou de Celsius. Será que custa muito dizer Fahrenheit (imploro que não pronunciem em inglês!) ou consultar uma tabela de conversões?
Para quem não saiba, a mais alta temperatura registada na Terra, desde que há medições, ocorreu em El-Aziziá na Líbia, onde os termómetros atingiram 57,8ºC à sombra em 1922.
3º- Esquadra, esquadrilha e esquadrão. Segundo o que aprendi no tempo em que fui militar à força, o que fez com que passasse dois estúpidos anos em Angola, 'esquadra' aplica-se a navios, 'esquadrilha' a aviões e 'esquadrão' à cavalaria que, apesar de se ter tornado motorizada, manteve a tradição nominal. E, mais uma vez para quem não saiba, esclareço que o Exército Português utilizou verdadeiras cargas de cavalaria no leste de Angola em 1966, provocando debandadas gerais entre os indígenas que, nunca tendo visto cavalos, chamaram-lhes «palancas sem cornos».
4º- 'Capitão' como sinónimo de 'comandante de avião', é mais uma tradução à letra do inglês. Será que alguém ao viajar de avião ouviu alguma vez dizer: "o capitão (fulano tal) e a sua tripulação dão as boas-vindas aos seus passageiros"...etc?
Embora no Brasil exista o posto de capitão-aviador, não significa obrigatoriamente que seja este a comandar o avião. Em Portugal 'capitão' é um posto do Exército situado entre tenente e major e, na Armada, há vários postos formando combinações tais como 'capitão de mar e guerra' ou 'capitão de fragata', mas quem manda é o 'comandante', qualquer que seja sua patente, tal como na aviação, seja esta militar ou civil.

Pelo exposto peço aos excelentíssimos tradutores que evitem o suplício de ter de ouvir ou ler constantemente «o capitão do avião» ou «o capitão do navio». Está bem? Muito obrigado!


10/05/2009

Uma breve história daquilo a que chamo tradutores ignorantes e locutores/papagaios


Esta história não é de agora. É evidente que desde que o Homem começou a falar, aconteceu a inevitável consequência: o disparate linguístico, que se agravou com a tentativa de transmitir os seus pensamentos para outros idiomas, até porque cada um contém expressões e palavras intraduzíveis que provocam muitas vezes o disparate e até a hilariedade quando traduzidas à letra.

Mas avancemos até ao início dos anos 80 do século passado. Alguém se lembra, ainda, da série “A Vida na Terra” de David Attenborough, e da qual possuo todos os episódios, gravados no velho sistema"beta"? O consagrado Eládio Clímaco, por quem aliás tenho muita admiração como apresentador, seguiu à letra dezenas de disparates devidos a má tradução. Talvez o melhor de todos seja aquele em que diz, no 7º episódio: “…a certa altura os répteis desenvolveram na cabeça saliências ósseas em forma de barretes dramáticos”. É espantoso, não é? Espantoso e dramático não saber que este adjectivo não tem o mesmo significado em português e, que pode e deve ser substituído por espectacular, assinalável, notável, conspícuo, etc. Espantoso é também o facto de se tratar de uma locução feita em estúdio, e não em directo onde qualquer disparate pode acontecer. Como fui profissional da RDP na Antena-2, sei quantas paragens são necessárias para corrigir inevitáveis erros e enganos; e isto no tempo em que não existiam computadores e tudo era gravado em fita magnética, onde os operadores de som faziam autênticos milagres para intercalar ou omitir qualquer palavra ou frase.

Ora actualmente é muito difícil admitir que empresas como “Pátio das Cantigas”, “Pim-Pam-Pum”, “Ideias e Letras”e outras que de momento não me recordo, não ponham mais cuidado nos disparates dos tradutores com que depois os locutores-papagaios nos supliciam.
Ver um programa que dura cerca de 50 minutos e ouvir constantemente que “um relâmpago caiu”, “um relâmpago atingiu fulano...”, “um relâmpago fendeu uma árvore”, etc, não será um suplício? Não saberão que relâmpago é a luz emitida pelo raio e que este, e só este, pode provocar as situações atrás descritas? Ou então termos de aturar “a progenitora isto” ou “o progenitor aquilo” durante todo um programa? Embora não esteja errado, uma das grandes riquezas da língua portuguesa é evitar a repetição de uma palavra na mesma frase. Porque não alternar de vez em quando com pai, mãe, ou pais?

Aquando do 11 de Setembro, a jornalista da RTP Andreia Neves repetiu vezes sem conta que “as torres gémeas colapsaram”, papagueando o que ouvia em inglês. Mas o verbo colapsar, não se aplica normalmente a edifícios. Para isso, e em bom português, temos desmoronar, ruir, cair, desabar, abater, etc. Mas, claro, o que dá menos trabalho é traduzir certas palavras à letra e não consultar fontes técnicas para evitar disparates. Depois termos de ouvi-los pela voz de locutores, alguns até com excelente dicção e voz radiofónica, mas que parece seguirem à risca o que lhes pôem diante dos olhos. Mas o que é mais importante é pronunciar com uma ênfase exagerada a língua inglesa, idioma que já por si é enfático e que possivelmente provocaria num cidadão britânico a exclamação típica “I beg your pardon!”, mesmo que fosse de Oxford. Os outros povos não se preocupam com isso, a começar pelos próprios ingleses. Todos sabemos como eles pronunciam Mourinho, por exemplo.

Mas o cúmulo do ridículo acontece quando se pronunciam em inglês nomes que nada têm a ver com a Inglaterra. Que o digam o astrónomo alemão Kepler que já foi apelidado de ‘kipler’, ou o também astrónomo de nacionalidade dinamarquesa Tycho Brahe, quase sempre pronunciado como 'Táicau'. Também a Bielorrússia já foi chamada de ‘bielorrâxia’. Ora, o nome do país provém do russo 'bielo' (branco) mais Rússia e isto, para quem não saiba, deve-se ao facto de os seus habitantes terem o cabelo, os olhos e a pele muito claros. Portanto, traduzido à letra seria Rússia Branca. E, entre dezenas de exemplos, vou citar ainda o caso da pobre ninfa Io, que deu o nome a um dos satélites de Júpiter, e é tão conhecida dos amantes de palavras cruzadas. Pasme-se, mas a dita ninfa já foi chamada de “Aiôu”. Coitada! Já não lhe bastou ter sido violada por Zeus e por ele transformada em vaca. Agora mudaram-lhe a nacionalidade, e qualquer dia são capazes de lhe chamar ‘the cow Aiôu'.
E, já agora, para os curiosos que tenham a paciência de me ler, e sem querer entrar em mais pormenores sobre esta figura mitológica, esclareço que foi ela que deu o nome ao mar Jónico (Iónico) e, depois de atravessar o estreito que separa o mar Negro do mar de Mármara, e que hoje divide a cidade de Istambul, lhe deu o nome de Bósforo, o que em grego significa ‘estreito da vaca’.
Meus amigos: quando não sabemos a que língua pertence uma palavra, o melhor é pronunciá-la em português. O meu saudoso pai contava que uma vez na Espanha, pediu ao empregado do hotel uma "escueva". Sem entender o pedido, o espanhol solicitou-lhe que falasse português, já que talvez fosse mais fácil compreender. Depois de ouvir, exclamou: "Si, una escova"!

Concluindo: é melhor falar e pronunciar na nossa língua, do que cometer erros grosseiros só para mostrar que falamos todos os idiomas do mundo.

E por hoje fico por aqui. Para a próxima vou elaborar uma lista de ‘pérolas’ em que as empresas atrás aludidas são férteis.


10/04/2009

OS DISPARATES NÃO SÃO DE AGORA...


Na gala das comemorações dos 25 anos da RTP, realizada no Casino Estoril em 1982, o cineasta António Lopes Ribeiro, ao recordar a figura do padre Raul Machado e as suas inesquecíveis “charlas linguísticas”, leu um texto, escrito não sei por quem, que começava assim: - “Na minha óptica, e ao nível dos ouvintes, etc, etc …” Quando concluiu a leitura, exclamou: - “se o venerando padre Raul Machado fosse vivo, pregava-me uma grande descompostura, e tinha toda a razão”. Aludiu também ao facto do uso e abuso de palavras inglesas tais como ‘pub’, ‘snack-bar’ e à novidade que era o ‘videotape’. Visto isto, e passados mais 27 anos sobre o que atrás ficou dito, resolvi, quanto mais não seja para me divertir, escrever um texto “actualizado”. Aqui vai: “Na minha óptica, e porque me encontro globalmente "seqüéstrado" por motivos de reforma voluntária, o que de modo algum é dramático, verifico como os canais de televisão no terreno contribuem para o colapso letal da Língua Portuguesa. E como não há no terreno qualquer entidade forense que evite tal colapso, receio ser eu próprio a colapsar no terreno perante tantos e "massivos" disparates. Ora, e falando global, tenho de concluir que o meu "know-how"(leia-se nâuáu) nesta matéria poderá parecer um "fait-divers"(leia-se fédivér) ou um "fair play"(leia-se férplâi). Embora saiba e compreenda que as línguas evoluem no terreno, mantenho que há regras dramáticas que não podem ser alteradas no terreno sem uma entidade forense que as aprove sob pena do colapso definitivo da língua. Até porque a nível global, a globalização vai englobando as pessoas numa linguagem global que, no terreno, acaba por se tornar global.” E "prontos"! Vou entrar em "stand by" (leia-se setandebái) Vou voltar ao meu "seqüestro" voluntário e entrar em meditação, porque tudo isto soa muito mal na minha 'acústica'. Além disso, já "esgotâmos" o nosso tempo, como diz Judite de Sousa, e não quero, por hoje, que este assunto se torne “perpétuo para toda a vida” como disse Sandra Felgueiras em relação à pena a aplicar ao chamado ‘monstro da Áustria’. Para a próxima, irei expor uma lista de disparates na qual locutores-papagaios repetem, até à exaustão, as asneiras dos tradutores. Começarei por Eládio Clímaco e os seus ‘barretes dramáticos’. Será que alguém se lembra da série ‘A Vida na Terra’ transmitida na RTP no início dos anos 80? Eu tenho a gravação integral e vou recordar alguns dos disparates que infestaram essa esplêndida série de David Attenborough.
- Até à próxima.

27/03/2009

Tradutores/Locutores/Papagaios

O que se ouve nos canais televisivos, e muito especialmente nos da TV por cabo, onde imperam empresas como “O Pátio das Cantigas”, “Pim-Pam-Pum”, “Ideias e Letras” etc, cada qual mais apostada em erros de português e cultura geral, é de pasmar.
É óbvio que ninguém pode saber tudo, mas manda a honestidade e o respeito pelo telespectador que os tradutores e os “papagaios” que lêem os textos, se documentem antes de falar daquilo que não sabem.
Para quando um Governo que crie uma comissão constituída por linguistas e consultores técnicos, que imponham a essas empresas uma disciplina didáctica que não possuem?
De facto, o que se ouve hoje através dos meios de comunicação social (os chamados media) é de pôr os cabelos em pé a qualquer pessoa que se preocupe com a língua portuguesa, ou com assuntos básicos da cultura geral.

Comecemos, e apenas por hoje, pelo nome do livro sagrado dos muçulmanos: Corão, ou Alcorão?

Tendo dúvidas sobre esta questão, e devido a ela ter dormido muito pouco, resolvi passar o fim de semana em ‘Bufeira, no ‘Garve.
Assim, cedo abandonei as ‘mofadas, vesti uma camisola de ‘godão, meti algum dinheiro na ‘gibeira e lá fui na minha carripana. Passei o vale de ‘Cântara, atravessei a ponte dita 25 de Abril, e deixei ‘Mada para trás.
Chegado a ‘Cácer’ do Sal, parei para comer umas ‘môndegas de ‘catra, acompanhadas com salada de ‘face temperada com um excelente ‘zeite. Prossegui viagem, e tendo parado em ‘Justrel, aproveitei para beber uma cerveja sem ‘cool e ver uma antiga 'zenha. Finalmente cheguei a ‘Bufeira, onde, para meu espanto, não encontrei nenhum odor relacionado com essa palavra, a qual me parece mais empestar a língua portuguesa do que as narinas dos cidadãos!

Este seria um texto que os defensores de 'Corão? teriam de utilizar se fossem coerentes. Mas já que insistem nesse disparate, esclareço:
O artigo árabe ‘al’ ou ‘az’, conforme a consoante seguinte seja lunar ou solar, distinção própria do alfabeto árabe, entrou na Península Ibérica aquando da invasão muçulmana em 711. Os povos que então a habitavam, começaram a ouvir o referido artigos ligado aos substantivos, pelo que o primeiro se tornou parte integrante dos segundos. Como tal, quase todas as palavras começadas por 'al' ou 'az' (exceptua-se por ex., almoço, que vem do latim), mantêm o artigo como fazendo parte integrante da palavra. Se a consoante seguinte for lunar será 'al': al-qaçr; se for solar o 'l' passa a 'z': az-zait.
Logo, o termo correcto é Alcorão, e não Corão como alguns nos vêm tentando convencer, seja para mostrar uma erudição que não possuem ou, pior aímda, imitando os franceses, ingleses, e outros povos que nunca estiveram sob a dominação árabe. Sempre o nosso complexo de inferioridade!

Quem não estiver de acordo comigo, peço o favor de consultar o prefácio do Presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, publicado na edição do “Alcorão” pela editora Europa América, ou ainda, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa e o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado.

- E por hoje é tudo! Prometo mais, e muito mais…